Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Não há coisa pior do que escrever sobre estes filmes: Confronto de Titãs está longe de ser um bom filme, mas também não é nenhum lixo. Certamente que há mais defeitos a apontar (como irei fazer de seguida) do que qualidades a enaltecer, porém, como obra de entretenimento puramente escapista, tem o mérito de divertir o espectador por uma hora e meia com as suas sequências de acção e grandiosos efeitos visuais, embora o resultado seja indiferente ao final da projecção. Se há palavra para definir este tipo de filmes, ela é indiferença.
Refilmagem do filme de culto de 1981 Choque de Titãs (que não vi), Confronto de Titãs conta a história do mito de Perseus (Sam Worthington), um semideus filho de Zeus (Liam Neeson), o rei dos deuses do Olimpo, e da mortal Danae. Ele é criado por dois mortais quando o encontram ainda bebé à deriva com a mãe. Anos mais tarde, os humanos revoltam-se contra os deuses e estes, com o propósito de puni-los, encarregam o maléfico Hades (Ralph Fiennes), deus do submundo e irmão de Zeus, de soltar o terrível monstro marinho Kraken caso os humanos não voltem a respeitá-los. Perseus junta-se a um grupo de soldados com o intuito de derrotar Hades e Kraken, ao mesmo tempo que a sua jornada revelará mais sobre o seu passado.
Como qualquer épico que se preze, Confronto de Titãs conta com um rol de indivíduos feitos à medida da produção. Assim, os homens são corajosos e sempre dispostos a discursar eloquentemente, o que até calha bem num filme que mais parece uma metralhadora pronta a disparar frases de efeito a cada cinco minutos - e não deixa de ser cómico que, minutos depois de se gabar da morte de vários soldados pela guerra contra os Deuses, o Rei Cefeu se oponha ao sacrifício da própria filha para acabar com o conflito (pragmatismo não é com ele). E claro que podemos contar com a boa vontade de Hollywood: todos os seres do sexo masculino (deuses incluídos) têm fartas cabeleiras e barba abundante excepto o nosso herói, que conta com feições mais definidas, cabelo rapado e deve usar uma Gillette de última geração, provando que Hollywood já ditava modas na Antiga Grécia.
Eu tenho uma teoria que é neste tipo de filmes que se vê os grandes actores. Salários milionários são pagos a actores de renome para darem vida a personagens secundárias que, na maioria das vezes, não requerem muito dos seus intérpretes. Marlon Brando inaugurou o filião em Super-Homem - O Filme e, de lá para cá, muitos têm seguido os seus passos. Uma actuação no piloto automático e cheque gordo no bolso. Todos saem a ganhar excepto o filme que leva com personagens unidimensionais por natureza: Liam Neeson interpreta Zeus como um ser poderoso, sábio, o mentor com que todos podem contar e Ralph Fiennes é o deus mauzão, rancoroso e com ódio para dar e vender. Basta vê-los em cena para percebermos todas as suas motivações, uma vez que eles não interpretam personagens, mas sim arquétipos. Eles são grandes actores, o filme é que não o melhor atestado dos seus talentos.
Quanto a Sam Worthington (que,mais uma vez, faz o papel de alguém que não é inteiramente humano), o actor carrega bem o filme nas costas, embora o seu Perseus não lhe dê a oportunidade de explorar a dualidade de um semideus criado por humanos. Worthington é carismático e isso é o suficiente para não arruinar o filme, embora, por vezes, pareça canastrão mas aí prefiro culpar os diálogos do argumento. Além disso, ele surge como um herói de acção convincente nas diversas sequências de acção que pontuam a narrativa e, por falar nelas, resta dizer que elas são meramente divertidas e só. Sem qualquer sentido de espectacularidade, o realizador Louis Leterrier encena-as de forma eficaz para que o público não pare um segundo para pensar (e, convenhamos, se Zeus faz tanta questão de ter os humanos a adorá-lo, porquê seguir com a chacina avante? E porquê dar a Perseus meios para que ele seja bem sucedido na sua missão?).
Esquemático ao extremo (há a cena da promessa de vingança, a cena do treino do herói, a cena em que o herói prova o seu valor em campo, a cena em que alguém às portas morte fala como se estivesse numa palestra,...), Confronto de Titãs não oferece motivos suficientes para classificá-lo como satisfatório, apesar de não ser um filme terrível de assistir. Com a ressureição do género épico nos últimos anos (com Gladiador, para ser mais preciso), um filme tão sensaborão e inchado de efeitos especiais sem qualquer critério acaba por empalidecer frente a obras anteriores que, surpresa ou não, não tinham à disposição tantos recursos. Actualiza-se a forma e seca-se o miolo, a bem dizer.
Qualidade da banha: 9/20
PS: consta que a versão 3D de Confronto de Titãs é deplorável: com o sucesso deAvatar, veio uma nova vaga de filmes 3D e este foi convertido em plena pós-produção. Como se sabe, a exibição em 3D é mais cara e obviamente que as produtoras foram atrás da moda. Eu não posso confirmar a informação sobre as cópias 3D, uma vez que assisti à versão 2D. Depois deAlice no País das Maravilhas(que também passou pelo mesmo processo de conversão), decidi que só verei a versão 3D de filmes que foram desenvolvidos para o efeito (como o referido Avatar) ou caso não haja mesmo outra hipótese. Até porque, a continuar assim, ver uma cópia em 2D será quase como encontrar uma sala que exiba filmes animados com versão original legendada.