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Nas décadas de 30, 40 e 50, a Universal investiu numa série de filmes série B que apresentavam ao público seres monstruosos que fizeram as delícias dos espectadores e a fortuna do estúdio. Nos últimos anos, a onda de refilmagens tomou conta de Hollywood e a Universal foi ao fundo do baú acordar os seus Monstros Clássicos que agora contam com as mais recentes tecnologias de efeitos especiais para lhes dar mais realismo e acção. No entanto, o estúdio não sabe tratar bem a prata da casa: depois do divertido A Múmia, seguiram-se as inevitáveis (e intragáveis) sequelas chegando ao fundo do poço com o pavoroso Van Helsing. O Lobisomem não chega ao nível deste último, mas é uma diversão descartável. Não adianta refazer as coisas para o público do século XXI se não se vai acrescentar algo de novo a não ser efeitos digitais (que nem são nada por aí além).
Após uma fraca e dispensável introdução, O Lobisomem começa com a chegada de Lawrence Talbot (Benicio Del Toro) à sua terra natal, para o enterro do irmão que foi assassinado em circustâncias estranhas. O ano é 1891 e estamos na Inglaterra vitoriana. Talbot decide investigar a morte do irmão apesar dos avisos do distante pai (Anthony Hopkins) e da aproximação à ex-futura cunhada (Emily Blunt) e depara-se com... um... vejam lá se acertam... lobisomem. Tão óbvio como aparecer um lobisomem no filme é o desenrolar da trama e com 10 minutos corridos eu já antecipava todos os acontecimentos que iriam ocorrer dali em diante - e qual não foi o meu espanto quando as revelações surgem a meio da película e não no final, o que poderia abrir novas possibilidades narrativas.
O que não acontece. Benicio Del Toro passa ao lado dos 100 minutos do filme: o seu Lawrence Talbot não percorre nenhum arco dramático envolvente, nem consegue se tornar numa personagem trágica, amaldiçoada (para além do óbvio claro). Nunca sabemos muito sobre ele nem o filme parece querer aprofundá-lo e não é de admirar que o seu romance com Gwen seja tão artificial e cliché. Por falar nela, Blunt faz figura de corpo presente numa mulher fraca que, em período de luto, não hesita em atirar-se aos braços do irmão do noivo após uma embaraçosa cena em que Lawrence lhe ensina a atirar pedras na água, ao passo que Anthony Hopkins não parece levar muito a sério o que está a fazer à frente das câmaras.
E é uma pena que ninguém tenha aprendido com Hopkins que o descompromisso só favorecia O Lobisomem e, em vez disso, temos uma obra que cai no ridículo com diálogos fracos ("Só o amor o salvará!") e cenas estúpidas como o inquérito do detective Alberline (ele desconfia imediatamente de Talbot porque este é...um actor consagrado!) ou quando determinada personagem rasga a camisa sem motivo aparente antes de uma luta feroz (resposta: para que o público pudesse identificar os intervenientes. Fica a dica para Michael Bay.). Assim, os pontos fortes de O Lobisomem são os seus aspectos técnicos como a fotografia escura e a fazer bom uso das sombras e dos tons cinzas e o design de produção que retrata a propriedade dos Talbot como um lugar decadente, sujo, sombrio, mas majestoso.
Quanto à maquilhagem usada para criar o lobisomem, esta é boa mas nada de excepcional, enquanto que a transformação (usando efeitos digitais e próteses) não causa impacto algum, embora nada se compare ao efeito do lobisomem a correr sobre 4 patas que é quase amador de tão artificial. Mais impactantes são os efeitos sonoros, mas pelas piores razões: nada como saber dar acordes altos em alturas fulcrais para que o espectador salte da cadeira, o que acaba por se tornar quase um exercício de sadismo tantas são as vezes que este recurso é usado para oferecer um susto falso (por outro lado, o filme não faz cerimónias quanto ao gore nas cenas mais violentas, o que é de louvar). Como se pode ver, O Lobisomem é um filme inconsequente e pouco envolvente, deixando ainda uma porta aberta a uma sequela de forma pouco subtil, o que me leva a pensar que não é a prata que mata esta fera mas sim a falta dela.
Qualidade da banha: 7/20