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Coisas fofas e belas

por Antero, em 10.01.10

 

Quem diria que o Spike Jonze dos surreais e metalinguísticos Queres Ser John Malkovich? e Inadaptado seria o homem do leme na adaptação cinematográfica de um conto infantil? Pois o certo é que o realizador dos dois excelentes filmes anteriores faz um bom trabalho em O Sítio das Coisas Selvagens, um filme que dirá pouco a crianças, mas que tocará bem fundo a qualquer adulto, uma vez que o tema que percorre toda a película acontece a todos nós: o assumir de responsabilidades, a maturação do indivíduo e descobrirmos o nosso lugar na sociedade que, sem as lentes inocentes da infância, revela-se bem menos perfeita do que pensávamos.

 

Max é uma criança solitária e irrequieta que, após uma discussão com a mãe, foge de casa e vai parar a uma ilha onde encontra uma comunidade de criaturas conhecidas como as Coisas Selvagens. É acolhido por elas, nomeado "rei" e decidem contruir um forte onde possam habitar. Vividas através de técnicas como a animatrónica, efeitos de computador e actores num fato desenvolvido para o efeito, as Coisas Selvagens são o grande destaque da produção: na contramão das recentes tendências de utilizar fartos efeitos especiais para atingir um maior realismo, é o ar mais artesanal nos movimentos e comportamentos das criaturas que se torna o grande charme do filme. Isso não significa que elas não consigam ser bastante expressivas, mesmo presas a uma técnica que, convenhamos, é rudimentar.

 

Assim, acaba por ser um feito espectacular que o espectador se identifique e se comove com as Coisas Selvagens: exemplos de estereótipos da sociedade (há o impulsivo, o agressivo, o discriminado, o solitário ,...) elas são como uma prova de fogo ao carácter de Max que, repentinamente, se torna líder delas. Então, O Sítio das Coisas Selvagens torna-se numa alegoria ao crescimento e à perda da inocência característica das crianças, uma vez que vários obstáculos aparecerem levando a conflito de personalidades e Jonze retrata este processo natural com bastante sensibilidade, salientando a pureza das atitudes de Max e as consequências cinzentas que daí podem surgir.

 

Com um final comovente e conscientemente triste, O Sítio das Coisas Selvagens apenas peca em ocultar certas informações que poderiam fornecer mais complexidade às criaturas: porque elas são tão infelizes? Quais são as experiências de vida delas? Max seria o primeiro a "infiltrar-se" na comunidade? O que levou a certas rupturas no seio delas? De qualquer forma, estas falhas não afectam o resultado final e o filme, mesmo sem estar ao nível de obras anteriores, leva a desejar que Jonze não fique mais sete anos sem realizar uma longa-metragem. O Mundo precisa da sua imaginação.

 

Qualidade da banha: 15/20

 

publicado às 19:29



Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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