Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Ler Watchmen, a mais celebrada graphic novel de sempre, depois de ter assistido àadaptação cinematográficapoderia ser uma experiência monótona, uma vez que já conhecia a história de uma ponta à outra, as personagens já não eram novidade, as surpresas já estavam previstas. Surpreendentemente, o facto de já conhecer a história acabou por jogar a favor dos 12 capítulos que constituem a obra: acompanhar a acção a desenrolar-se lentamente, deliciar-me com detalhes que não aparecem no filme, perceber algo que ficou implícito na transposição para o grande ecrã (toda a trajectória de Ozymandias) ou sequências que foram melhor desenvolvidas no cinema (por exemplo, o libertação de Rorschach que tem muito mais acção e menos paleio no filme, mas deve ter sido opção de Zack Snyder para dar uma mexida nas coisas porque o livro tem muito pouca pancadaria e muito, mas muito falatório).
Fascinante também é perceber toda a construção narrativa que Alan Moore concebeu: nada é deixado ao acaso; até a informação mais insignificante pode revelar-se crucial mais à frente. Há capítulos inteiros dedicados a aprofundar cada personagem, como se a história fizesse uma pausa para respirar e dar-nos a conhecer o interior daqueles seres. A arte de Dave Gibbons, longe de querer destacar-se como ponto forte da obra, alcança um equilíbrio assombroso entre o realismo e a fantasia daquele 1985 alternativo, mas sem nunca rejeitar o facto de que aquele seria um local deprimente para se viver, seja nas ruas imundas de Nova Iorque, na apatia do laboratório do Dr. Manhattan ou nos majestosamente inócuos edifícios de Ozymandias (é como se cada local fosse como uma janela para a alma das personagens). Quanto ao final, confesso que, após ter visto o do filme, o do livro já surge meio fantasioso demais, embora a intenção da ameaça externa que unirá o Mundo esteja lá toda. Agora compreendo perfeitamente quando diziam que esta era a obra "infilmável". Snyder fez um esforço meritório, mas nada se compara à força e à complexidade do original. Uma obra-prima.