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O efeito Bourne

por Antero, em 07.11.08

 

Que 007 - Quantum of Solace poderia ser inferior que 007 - Casino Royale já seria de esperar. Afinal, o segundo caracterizou-se por fazer um recomeço na série, aproximando o agente às suas origens e o filme a outra série de espionagem que fez bastante sucesso nos últimos anos: a do agente Jason Bourne. Porém, o que eu não esperava era que o novo 007 empalidece tanto em comparação com o seu antecessor, uma vez que em nenhuma altura atinje o seu brilhantismo, apesar de manter quase toda a equipa principal (os realizadores mudaram). O filme mais parece a segunda parte de uma trilogia preocupada em encher chouriços e estabelecer uma ponte entre o primeiro e o terceiro filme, embora os responsáveis digam por aí em entrevistas que a história iniciada em Casino Royale terminou por aqui.

Sem fazer nenhuma recapitulação (por isso é melhor irem com Casino Royale bem fresco na mente), Quantum of Solace começa no exacto ponto que o anterior acabou: traído pela amada Vesper, Bond está em Itália no encalço da organização oculta que o quis eliminar e acaba por descobrir que essa organização é muito mais complexa e perigosa que o MI-6 previa. De forma a acabar com ela, Bond encontra um membro influente da mesma, Dominic Greene, que pretende originar um golpe de estado na Bolívia e contará com a ajuda de Camille que também tem contas a ajustar com o vilão. Primeira impressão: Camille está longe, muito longe, de Vesper como Bond Girl, seja na interpretação da actriz seja na personagem (esta última até é desculpável: dificilmente se igualaria o peso dramático de Vesper em Bond). Segunda impressão: a história é mais do mesmo, só que aqui foi embalada numa jornada de vingança já vista anteriormente em 007 - Licença Para Matar (só que neste, a amizade por Felix Leiter era o mote da mesma).

 

Sendo o mais curto de todos os filmes da série lançados no cinema até agora, Quantum of Solace peca num quesito que o anterior se revelou exímio: o desenvolvimento das personagens. Não há uma única pausa em que isso acontece e poucas vezes temos direito aos maravilhosos diálogos que caracterizaram e destacaram o anterior. Basicamente, o filme tem acção do início ao fim e alguma dela é de cair o queixo, como a perseguição de carros que abre o filme e a perseguição a pé também no início. Só que, a partir da metade, as cenas de acção (parece haver uma a cada 5 minutos) soam desconexas e evidenciam a história por vezes confusa do filme (o clímax ocorre num hotel... no meio do deserto?). É como se as pausas do filme estivessem lá para o espectador respirar antes de embarcar em mais um banho de sangue promovido pelo agente. E isto é decepcionante tendo em conta o equilíbrio sólido alcançado em Casino Royale: as cenas de acção pura e dura eram poucas, mas deixavam uma marca forte num filme que apostava imenso nas personagens (o objectivo principal era apresentar o Bond de Daniel Craig às plateias).

 

Falando em Daniel Craig, e usando uma frase que toda a gente diz sobre o filme, ele carrega-o às costas. Oscilando entre a frieza de um agente no cumprimento do dever e a cólera em obter vingança, Craig assenta como uma luva no papel e mostra um Bond mais mundano, mais astuto, que transpira e sangra quando luta e que está longe da subtileza e da finura de Bond's anteriores. Aqueles que não o queriam no papel devem estar a morder a língua. O vilão Dominic Greene não chega aos pés da galeria que a série já ofereceu e já se sabe que, nestes filmes, um bom vilão eleva sempre a qualidade da obra. Quantum of Solace ainda consegue arranjar referências à própria série que vão deixar os fãs loucos, como a morte de determinada personagem (que remete para 007 - Goldfinger) ou a promoção de Felix Leiter a um cargo na CIA, embora Moneypenny e Q (ainda) não dêem as caras.

 

Marc Forster, uma escolha inusitada para a realização, aproxima o seu trabalho do ideal da saga Bourne: cenas de acção realistas (ou, vá lá, menos absurdas), câmara trepidante e montagem frenética, embora as comparações com essa saga parem por aí. É que Casino Royale também já havia feito isso, mas tinha um argumento de peso atrás de si tal como os filmes de Jason Bourne. Este não e as comparações são inevitáveis. Quantum of Solace seria melhor se não estivesse na sombra do seu antecessor. O efeito Bourne saiu ao contrário.

 

Qualidade da banha: 12/20

 

Off-topic: no outro dia acrescentei dois novos links ao blog, mas, por lapso da minha parte, não adicionei o blog/site/tudo-e-mais-alguma-coisa do meu ex-colega de faculdade Bruno Abrantes. Um erro imperdoável que já foi reparado.

 

publicado às 20:45


1 comentário

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De Joana a 11.11.2008 às 10:46

Olá!
Antes de mais parabéns pelo destaque!
Vou ter de discordar ctg quanto ao novo filme do Bond , pelo menos quanto á pontuação, eu daria um 17, pelo menos.
Achei o filme espectacular, é verdade que ás vezes dava jeito umas cenas para respirar e organizar as ideias, mas é também por isso que adorei. É um filme que nos mantém agarrados aos écran do principio ao fim, a forma de filmar é excelente, os actores tb principalmente o Daniel Craig mas tb ele é o principal por isso... e a M é simplesmente genial). Sendo o primeiro filme de Bond que é uma sequela, pode perder um bocado por isso se não tivermos o outro fresco mas é uma boa desculpa para revermos Casino Royal ) no entanto é um excelente complemento para o desenvolvimento de Bond que começou no anterior. Dá umas boas dicas para os mais atentos. =)

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Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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