Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Dia de Halloween e nada como ver dois filmes violentos acabados de estrear. Não, não estou a falar de Saw 5 - A Sucessão (nem o primeiro vale a pena, fará os seguintes) ou High School Musical 3, embora tendo em conta as qualidades (ou falta delas...) dos mesmos, o seu visionamento também se adequasse à ocasião. Ainda pretendo ver A Turma hoje ou amanhã, mas só lá para segunda o textinho vem cá parar (e para a semana temos o novo 007!). Então vamos lá.
Em Bruges
In Bruges
Ray e Ken (Colin Farrell e Brendan Gleeson, respectivamente) são dois assassinos profissionais que vão parar à cidade Belga de Bruges esperar por um novo serviço. Na verdade, eles estão lá porque Ray fez burrada da grossa em Londres (na cena mais sádica - e hilariante - do filme) e precisa de desanuviar, mesmo que seja contra a sua vontade. Sem terem muito que fazer, vão visitanto os pontos turísticos da cidade e cruzando-se com personagens caricatas. Contar mais do que isto é pecado. Tudo porque o argumento de Martin McDonagh (que também assina a realização) tira tantos coelhos da cartola que, apesar de ir buscar temas já abordados por Tarantino, os Irmãos Coen ou até mesmo Guy Ritchie, consegue soar refrescante à sua maneira.
Recheado de humor negro, Em Bruges não poupa estereótipos: o perfeccionismo britânico, a obesidade norte-americana, as prostitutas holandesas, anões e nem a cidade do título sobrevive: afinal, aquilo é uma pasmaceira. Tudo isto embalado pela realização de McDonagh que oscila entre o drama e a comédia com muita elegância, o que também é facilitado pelos diálogos afiados que fazem graça com a redundância presente nos discursos coloquiais. É aquela velha história: quando uma personagem é atingida nos olhos e não pára de se queixar, aparece outra que remata: "Claro que não consegues ver, levaste com um balázio nos olhos". E por aí vai.
Mostrando que se divertem a valer, o trio composto por Farrell, Gleeson e Ralph Fiennes funciona na perfeição. Principalmente o primeiro que se redime aqui de tantos passos em falso na carreira: cheio de tiques nervosos (por exemplo, as alterações no seu olhar) e com um carregado sotaque irlandês, Farrell impressiona com a jornada existencial (sim, isso mesmo) que se opera em Ray e que fecha o filme naquele bem sacado desenlace. Diferente das propostas que costumam vir de Hollywood, Em Bruges é um filme difícil de catalogar, o que não o prejudica em nada. Olho neste Martin McDonagh que o rapaz tem futuro.
Qualidade da banha: 16/20
Busca Implacável
Taken
Há mais de 14 anos (desde Leon - O Profissional) que Luc Besson não vê o seu nome associado a um bom filme. Lançado para a fama no início dos anos 90 em que foi adjectivado como o expoente máximo do cinema europeu "com cabeça" aliado aos meios de Hollywood, Besson deixou-se levar pelos piores vícios deste último: argumentos vazios, acção disparada (e disparatada) e nomes sonantes como protagonistas. No entanto, parece que ele ainda dispõe de algum poder negocial no meio, uma vez que só assim se percebe a inclusão de Liam Neeson neste Busca Implacável, que mais parece uma daquelas películas de acção brutamontes que os anos 80 foram férteis (e o título português parece querer mesmo resgatar esse espírito). E a sua escolha foi acertada: Liam Neeson vai muito bem, sendo aliás a única razão de ser deste filme.
Bryan é um antigo espião que abandonou a profissão para estar mais perto da filha de 17 anos, Kim (Maggie Grace, a Shannon de LOST), até que esta vai numa viagem a Paris e, enquanto telefona ao seu pai, é raptada por uma gangue do Leste Europeu de tráfico de mulheres. Então, Bryan parte para França para libertar a filha e matar os culpados, munido de toda a sua experiência de anos de serviço. E assim temos a velha fórmula do "herói-exército" tão usada há 20 anos atrás quando um só individuo faz frente a dezenas deles. Só que aqui o grande diferencial é Liam Neeson que, com uma carreira acumulada de papéis de homens confiantes e mentores, confere grande segurança, intensidade e inteligência a um papel que nas mãos de um Steven Seagal qualquer levaria o filme ao desastre total. Vai daí, o que realmente interessa é o banho de sangue e este não desaponta, embora não atinja os níveis de "obras" anteriores.
No entanto, a acção está longe de conseguir compensar o fiapo de história: há algumas lutas bem coreografadas (apesar de curtas), mas as perseguições de carros são confusas e, a partir da metade, o filme assume a velha manha da "cena de acção a cada 5 minutos", o que até é perdoável visto que não há história alguma para contar. Imperdoável é a actuação de Maggie Grace como Kim: muito mais velha que os 17 anos que a personagem que interpreta, a actriz deve achar que uma moça rica, virgem e tão nova só pode ser mimada, desajeitada e infantil. Incluindo ainda uma participação nada memorável de Holly Valance, Busca Implacável é um filme fraco que, mesmo com uma proposta tão pouco ambiciosa, não soube contornar as suas falhas mais que evidentes.
Qualidade da banha: 7/20