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No futebol (e em quase tudo), o mito é algo que supera qualquer negatividade. Nele, a parte humana é relegada para segundo plano: nenhum homem é um santo, por isso, o mito estabelece e celebra os seus feitos, as suas competências, o seu talento. O ser humano é imperfeito por natureza, mas no mito não há espaço para imperfeições. Diego Maradona é o exemplo máximo: fabuloso jogador de futebol com uma história pessoal perturbada pelo consumo de drogas. No entanto, ele é considerado mítico porque o seu talento e as suas proezas ultrapassaram em muito os factores negativos que rodearam (e rodeiam) a sua pessoa. Dissocia-se o talento do homem, porque não convém estar a enaltecer defeitos. Uma vez estabelecido, é difícil fazer cair um mito: o povo segue tão cegamente as suas crenças que a mudança das convenções é quase uma utopia.
Esta pequena reflexão vem a propósito de Cristiano Ronaldo. Considero Ronaldo um nabo. Um saloio exibicionista que é extremamente talentoso dentro dos relvados. Por outro lado, a sua conduta fora deles deixa a desejar: colecciona namoradas, já esteve envolvido em escândalos sexuais (alguns sem culpa própria), é mimado, já teve atitudes pouco profissionais condimentadas com declarações infelizes e, acima de tudo, não é humilde. Admito que a sua parca modéstia me irrita profundamente: a forma como ele se promove para o prémio de melhor do Mundo da FIFA enoja-me. A comunicação social também tem culpas no cartório, ao babar-se a cada movimento do rapaz (muitas vezes sem razão aparente) e com perguntas insistentes para pescar declarações sobre o prémio. Mas aí, Ronaldo mostrar-se-ia cheio de personalidade se fosse mais humilde. E já se sabe que o português médio se dá mal com pretensiosismos, por isso até é natural que ele não reúna consenso cá no burgo.
Dificilmente, Ronaldo será um mito. Pelo menos ao nível de Pelé, Maradona, Eusébio, Di Stéfano, Cruijff e muitos outros. Falta-lhe um je ne sais quoi capaz de criar admiração nas massas. Num mundo em constante mudança, em que o que está na berra hoje, amanhã entra em desuso, isto é fatal. O mundo funciona à base de modas e terá Ronaldo o estofo para ser mais que uma moda? E com o culto de celebridades que hoje em dia rodeia os futebolistas, é praticamente impossível separar o homem do talento. Eu até acho, e qualquer pessoa também, que ele merece o prémio de melhor do Mundo: o Europeu foi para esquecer, mas este ano a concorrência esteve a milhas. E o prémio da FIFA laureia o melhor entre todos, mesmo que seja "o menos mau" de todos. Para melhor personalidade, já temos prémios Nobeis da Paz e quejandos. Dêem lá o prémio ao rapaz que tanto suspira por ele. Ou então teremos de aturar outro dos seus amuos.