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O horror!

por Antero, em 12.09.08

 

Adam Sandler é daqueles fenómenos inexplicáveis que Hollywood cria uma vez por outra. Comediante fraco originado no Saturday Night Life, os seus filmes acumulhavam milhões nas bilheteiras ao mesmo tempo que mostravam a secura de ideias que ia por aqueles lados, resignando-se ao humor de casa de banho e argumentos pavorosos. No entanto, muita boa gente via em Sandler um bom actor, tanto para o drama como para a comédia, só que não lhe eram dadas as devidas oportunidades. Até que alguém se lembrou dele para Embriagado de Amor e Sandler, finalmente, pode mostrar ao mundo a fibra de que era feito. E depois?

 

Bem, depois a festa continuou a mesma de sempre: Terapia de Choque, A Minha Namorada Tem Amnésia, Os Quebra-Ossos, Click e Declaro-vos Marido... e Marido. Tudo filmes que vão do medíocre ao péssimo. Ou seja, Sandler não soube agarrar a oportunidade que lhe foi dada (as interpretações em Espanglês e Reign Over Me podem ser boas, mas não apagam o "currículo" do actor) e se pensarmos que muitos desses filmes foram produzidos e até escritos pelo próprio, a desculpa de que "não lhe são dadas as devidas oportunidades" cai em saco roto. Logo, a cada nova comédia do actor não se pode esperar grande coisa, mas nada, repito nada, me preparou para o fundo do poço que é Não Te Metas Com o Zohan, que, mais uma vez, traz Sandler como produtor, co-argumentista e co-protagonista.

 

Leram bem: Adam Sandler é co-protagonista do filme, uma vez que Dennis Dugan, realizador do filme e cuja carreira cinematográfica é abaixo de cão, dá tanta atenção ao chumaço genital que Sandler enverga ao longo da película, que se torna injusto não incluir o mesmo nos créditos do filme (e ao salário devido, já agora). Sandler é Zohan Dvir, um agente da Mossad, os serviços secretos israelitas, que se farta da guerra interminável com a Palestina e decide simular a própria morte, fugindo para os Estados Unidos para realizar o seu sonho: ser cabeleireiro num salão de beleza. Ao chegar a Nova Iorque, acaba por ir trabalhar para o salão de uma bonita palestiniana e verifica que, longe do Médio Oriente, ambos os povos acabam por se dar relativamente bem.

 

Começando o filme com cenas escabrosas que retratam Zohan como um agente implacável (aliás, todas as cenas de acção parecem saídas de um desenho animado... e isto não é um elogio!), o filme logo investe em piadas de baixo nível e em comentários racistas e homofóbicos, principalmente quando o foco do filme muda para Nova Iorque. Aí, Sandler massaja o próprio ego, ao mostrar Zohan como um indivíduo cheio de energia sexual, que satisfaz as mulheres ao mesmo tempo que lhes arranja o cabelo, o que o torna ainda mais irresistível para o sexo oposto (querem coisa mais sexista que esta?). Todo o elenco se expõe ao ridículo a certa altura, mas se isto já seria prevísivel num elenco recheado de actores com clara falta de talento como Rob Schneider, Dave Matthews, Chris Rock e Mariah Carey (a interpretação desta é digna de um filme pornográfico), o mesmo não pode ser dito de gente do calibre de John Turturro e Kevin James, que deveriam envergonhar-se de aparecer numa porcaria destas.

 

No entanto, é Adam Sandler e o seu chumaço (a César o que é de César) que se tornam o verdadeiro buraco negro de Não Te Metas Com o Zohan. Mais parecendo uma cópia contrafeita de Borat, o Zohan de Sandler é ingénuo, acha-se irresistível, faz comentários sexuais nada oportunos, fala baixo (hábito irritante em Sandler) e com sotaque pesado. Porém, se em Borat a caricatura tinha a intenção de parecer genuína, aqui o máximo que Sandler consegue é passar vexame e quase arruinar o filme. Este só é arruinado de vez quando tenta mostrar a sua (in)consciência política quanto ao conflito entre Israel e a Palestina, espalhando-se ao comprido. Há uma cena em que o filme parece que vai revelar um traço de inteligência, quando Bor... perdão, Zohan e mais uns quantos começam a criticar a administração Bush quanto ao conflito, mas logo desviam o assunto para uma discussão sobre qual primeira dama seria a mais "comestível".

 

Penoso de assistir, Não Te Metas Com o Zohan é um desastre absoluto: não faz rir, as sequências parecem não ter ligação entre elas, é ridículo, é absurdo, é constrangedor (o torneio entre israelitas e palestinianos). E como Zohan tão bem me ensinou, vou reduzir o meu último comentário a uma piada bem fácil: pela vossa sanidade mental, não se metam com este filme.

 

Qualidade da banha: 2/20

 

publicado às 02:00



Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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