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Considerações iniciais:
1
00:30 A Hora Negra
Zero Dark Thirty
Com mais de duas horas e meia e um final que toda a gente conhece, a realizadora Kathryn Bigelow e o argumentista Mark Boal (do oscarizado Estado de Guerra) vai aos bastidores das guerras modernas e mostra que a desumanização da mesma não ocorre somente no campo de batalha. Tenso, fascinante e com Jessica Chastain a carregar o filme nas costas, 00:30 A Hora Negra é também a melhor obra sobre o pós-11/09 por não ter receio de retratar uma América que, ferida no seu orgulho, não olhou a meios para capturar Osama bin Laden – mas a que preço?
2
Gravidade
Gravity
Um injeção de esperança nas capacidades do Cinema como fábrica de sonhos capaz de transportar o público para uma experiência de imersão total, Gravidade é também um entretenimento de altíssima qualidade que só pode ser devidamente apreciado no grande ecrã.
3
The Master - O Mentor
The Master
Menos um filme sobre as polémicas dos fundamentos da religião (qualquer uma!), O Mentor é, sim, um absorvente estudo de personagens com os sensacionais Joaquin Phoenix, Phillip Seymour Hoffman e Amy Adams no topo das suas formas e a imagética irrepreensível do sempre excelente Paul Thomas Anderson.
4
The Hunt - A Caça
Jagten
Uma cuidada e apavorante análise sobre a histeria coletiva que faz perguntas difíceis sem medo de as encarar de frente, A Caça traz Mads Mikkelsen numa poderosa interpretação digna de todos os prémios.
5
Raptadas
Prisioners
Intenso e visceral, Raptadas propõe um desgastante exercício moral ao espectador enquanto acompanha a investigação minuciosa e as consequências devastadoras do maior pesadelo para um pai: o rapto de uma filha.
6
Além da Escuridão: Star Trek
Star Trek Into Darkness
A sequela do fabuloso Star Trek de 2009 é tudo o que se pede num blockbuster: inteligente, pleno de aventura, divertido, personagens cativantes e um vilão sensacional que Benedict Cumberbatch interpreta com vigor. E, claro, um sentido de espetáculo que nunca perde de vista a história que quer contar.
7
Efeitos Secundários
Side Effects
Penúltima obra do prolífero Steven Soderbergh que deixaria Alfred Hitchcock inchado de orgulho. Um thriller que começa com um casal fraturado, passa pela indústria farmacêutica e dá tantas voltas no argumento que acaba em... bom, quanto menos souberem melhor.
8
Não
No
Reconstituição da campanha para o referendo que destituiria Augusto Pinochet e filmado com fitas de vídeo U-Matic tal como se fazia nos anos 80, Não atinge um nível quase documental duma altura em que o Mundo tinha os olhos postos no Chile e ainda oferece uma trajetória dramática impecável ao seu ambíguo protagonista.
9
Rush - Duelo de Rivais
Rush
O melhor filme de Ron Howard em ano (quiçá o seu melhor até), Rush é um trepidante mergulho na temporada de 1976 da Fórmula 1 e que capta o fascínio e os perigos da prova mesmo para aqueles que nunca foram fãs (como eu). Além disso, os carismáticos James Hunt e Nikki Lauda encontram os intérpretes perfeitos nas peles de Chris Hemsworth e do incrível Daniel Brühl.
10
Django Libertado
Django Unchained
Não é Tarantino vintage, mas basta ao realizador trabalhar bem para deixar a concorrência a milhas. Django Libertado é meramente estilo dos pés à cabeça – mas, bolas, que estilo!
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-10
Gru - O Maldisposto 2
Despicable Me 2
O anterior já era uma porcaria que ripava sem dó o que de melhor tem a Pixar, mas este conseguiu a proeza de descer ainda mais baixo. História? Não existe. Momentos engraçados? Um ou dois. Personagens? Chatas. Os Minions? São fofos, mas a qualidade de um filme não se mede pela fofura do elenco secundário que existe clara e somente para vender bonecos.
-9
Os Estagiários
The Internship
Aí está: o primeiro anúncio publicitário em forma de longa-metragem que tenta estabelecer o Google como uma corporação paradisíaca, benevolente e utópica e que até pode funcionar como peça de marketing, mas, como comédia, comete um erro fatal: não tem piada.
-8
Assalto à Casa Branca
Olympus Has Fallen
Uma espécie de Die Hard na Casa Branca que não descansa enquanto não atingir os níveis mais ridículos de violência, barulho e patriotismo possíveis.
-7
A Ressaca - Parte III
The Hangover Part III
Isto era mesmo necessário?
-6
Só Deus Perdoa
Only God Forgives
O dinamarquês Nicolas Winding Refn pegou nos créditos conseguidos com Drive e aplica a mesma fórmula, embore aqui nada funcione. Os visuais imersivos e as músicas envolvem ocasionalmente e, quando estas falham (e falham muito!), somos abandonados numa história de vingança inócua, violenta apenas porque sim e um elenco completamente perdido em cena (sim, até Ryan Gosling parece não saber o que fazer).
-5
Depois da Terra
After Earth
Projeto de vaidade da parte de Will Smith para alavancar o filho como estrela, Depois da Terra até teria algum potencial não fosse pelo cada vez mais desastroso M. Night Shyamalan que é incapaz de alterar o seu estilo consoante as necessidades de cada trabalho. O resultado é o costume: um ritmo lentíssimo, prestações constrangedoras, diálogos atrozes debitados com uma opulência hilariante e um desperdício de recursos que só não chateia por percebermos que Shyamalan provavelmente já não dará mais do que isto.
-4
Hansel e Gretel: Caçadores de Bruxas
Hansel and Gretel: Witch Hunters
Até poderia ter resultado como paródia, mas o balanço final é tão agressivamente mau (em tudo: elenco, história, efeitos especiais, cenas de ação) que eu só queria apagá-lo da minha memória mal o acabei de ver.
-3
Die Hard - Nunca É Bom Dia para Morrer
A Good Day to Die Hard
Em condições normais, Die Hard 5 não estaria tão baixo nesta lista. Em condições normais, eu não teria sequer visto este filme e iria ignorá-lo como tanto lixo lançado diretamente para o mercado de vídeo. John McClaine, porém, ainda tem o poder de atrair povo à salas e lá fui eu assistir à destruição de um ídolo. Tudo o que tornava McClaine tão caro a nós (a sua vulnerabilidade e pragmatismo) é atirado janela fora num argumento que o mete a destruir metade de Moscovo atrás do aborrecido filho em intermináveis e incompreensíveis sequências de ação.
-2
Miúdos e Graúdos 2
Grown Ups 2
Um clássico cá do estaminé: Dennis Dugan atrás das câmaras e Adam Sandler à frente delas. Os dois – a prova máxima que Hollywwod inverte as leis de seleção natural – orgulhosamente desenvolvem "piadas" que envolvem urina, dejetos, homofobia, misoginia, preconceitos e tudo o que há de mais vulgar e infantil em comédia enquanto promovem valores familiares!
-1
Comédia Explícita - Movie 43
Movie 43
Eu hei-de estar até ao fim da minha vida a tentar esquecer este filme. Ou então a tentar recordá-lo para que nunca mais o veja. Todos os envolvidos direta e indiretamente com este monte de estrume recheados de estrelas a fazer as piores figuras das suas carreiras deviam estar envergonhados. Até os irmãos Lumière.
Listagem de filmes estreados em Portugal em 2013 e respetivas estrelas:
Os Miseráveis (Les Misérables)
Eu, Alex Cross (Alex Cross)
Decisão de Risco (Flight)
Guia Para um Final Feliz (Silver Linings Playbook)
00:30 A Hora Negra (Zero Dark Thirty)
Seis Sessões (The Sessions)
Django Libertado (Django Unchained)
O Impossível (Lo Imposible)
Hansel e Gretel: Caçadores de Bruxas (Hansel and Gretel: Witch Hunters)
Lincoln (Lincoln)
Parker (Parker)
Hitchcock (Hitchcock)
The Master - O Mentor (The Master)
A Descida - Parte 2 (The Descent: Part 2)
Aguenta-te aos 40 (This Is 40)
Bestas do Sul Selvagem (Beasts of the Southern Wild)
Die Hard - Nunca É Bom Dia para Morrer (A Good Day to Die Hard)
Cidade Dividida (Broken City)
Comédia Explícita - Movie 43 (Movie 43)
Força Anti-Crime (Gangster Squad)
O Último Desafio (The Last Stand)
Efeitos Secundários (Side Effects)
Mamã (Mama)
Oz: O Grande e Poderoso (Oz: The Great and Powerful)
The Hunt - A Caça (Jagten)
Jack, o Caçador de Gigantes (Jack, the Giant Killer)
Vigarista à Vista (Identity Thief)
Sete Psicopatas (Seven Psychopaths)
G.I. Joe: Retaliação (G.I. Joe: Retaliation)
Terra Prometida (Promised Land)
Esquecido (Oblivion)
Regra de Silêncio (The Company You Keep)
Um Homem a Abater (Dead Man Down)
Homem de Ferro 3 (Iron Man 3)
Não (No)
Transe (Trance)
A Noite dos Mortos-Vivos (Evil Dead)
O Grande Dia (The Big Wedding)
Viagem de Finalistas (Spring Breakers)
Assalto à Casa Branca (Olympus Has Fallen)
O Grande Gatsby (The Great Gatsby)
O Outro Lado do Coração (Rabbit Hole)
Velocidade Furiosa 6 (Fast & Furious 6)
A Ressaca - Parte III (The Hangover Part III)
Antes da Meia Noite (Before Midnight)
Além da Escuridão: Star Trek (Star Trek Into Darkness)
Mestres da Ilusão (Now You See Me)
Os Estagiários (The Internship)
Monstros: A Universidade (Monsters University)
WWZ: Guerra Mundial (World War Z)
Homem de Aço (Man of Steel)
Imperador (Emperor)
Gru - O Maldisposto 2 (Despicable Me 2)
Depois da Terra (After Earth)
Batalha do Pacífico (Pacific Rim)
Miúdos e Graúdos 2 (Grown Ups 2)
Só Deus Perdoa (Only God Forgives)
Wolverine (The Wolverine)
A Gaiola Dourada (La Cage Dorée)
O Mascarilha (The Lone Ranger)
Elysium (Elysium)
Percy Jackson e o Mar dos Monstros (Percy Jackson: Sea of Monsters)
Dá & Leva (Pain and Gain)
Jobs (Jobs)
Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos (The Mortal Instruments: City of Bones)
Kick-Ass 2: Agora É a Doer (Kick-Ass 2)
Trip de Família (We're the Millers)
Armadas e Perigosas (The Heat)
R.I.P.D.: Agentes do Outro Mundo (R.I.P.D.)
Ataque ao Poder (White House Down)
A Evocação (The Conjuring)
Isto É o Fim (This Is the End)
Rush - Duelo de Rivais (Rush)
A Chamada (The Call)
Gravidade (Gravity)
Raptadas (Prisioners)
Capitão Phillips (Captain Phillips)
Fuga (Mud)
Thor: O Mundo das Trevas (Thor: The Dark World)
The Hunger Games: Em Chamas (The Hunger Games: Catching Fire)
O Hobbit: A Desolação de Smaug (The Hobbit: The Desolation of Smaug)
Bom ano e bons filmes!
The Hobbit: The Desolation of Smaug (2013)
Realização: Peter Jackson
Argumento: Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson, Guillermo del Toro
Elenco: Martin Freeman, Richard Armitage, Ian McKellen, Orlando Bloom, Evangeline Lilly, Lee Pace, Luke Evans, Ken Stott, James Nesbitt, Stephen Fry, Benedict Cumberbatch
Qualidade da banha:
O desespero em justificar a divisão de O Hobbit em três filmes de quase três horas cada é notório em A Desolação de Smaug que, tal como o anterior, revela-se longo e arrastado para uma simplória história que consiste em levar um grupo de indivíduos do ponto A ao B. Daí que quando Bilbo vislumbra uma caverna recheada de ouro e objetos preciosos, não consegui conter o pensamento de que aquilo é o que realmente guia os produtores deste filme numa nova incursão à Terra Média.
Continuando a partir do momento em que Uma Viagem Inesperada se encerrou, A Desolação de Smaug pega novamente em Bilbo (Freeman) e nos 13 anões para levá-los basicamente ao reino dos elfos, à cidade de Esgaroth e, finalmente, à Montanha Solitária onde mora o tal Smaug (Cumberbatch), o dragão que se apoderou do reino e dos bens dos anões e que está a pedir uma vingança à medida. Enquanto isso, Gandalf (McKellen) vai para sabe-se lá onde investigar sabe-se lá o quê ao lado do insuportável feiticeiro Radagast, o que o leva a estar ausente na maior parte do tempo já que esta película sente a necessidade de fazer alguma ponte com a trilogia de O Senhor dos Anéis.
Não que precisássemos de sermos lembrados da relação entre ambas, uma vez que o compositor Howard Shore faz acompanhar os conhecidos acordes a cada aparição do Um Anel – e até Smaug se refere ao objeto como "precioso" (e Peter Jackson não se contém e repete a expressão em eco: "Precioso! Precioso! Precioso!"). O dragão, aliás, surge como o vilão ideal para a megalomania de Jackson: adepto de longos discursos e incapaz de derrotar os oponentes com facilidade, Smaug até pode ser tecnicamente impecável e contar com a voz imponente de Cumberbatch, mas não tem um décimo da densidade de Gollum ou da ameaça de Sauron – e é triste perceber que quando ele está prestes a mostrar porque é tão temido, Jackson simplesmente interrompe a película e obriga-nos a voltar daqui a um ano. Bom, ao menos isto fará com que o terceiro capítulo entre a matar e não inclua uma introdução sonolenta... a não ser que a autoindulgência de Jackson leve a melhor.
Cometendo o crime de deixar a personagem que dá título ao filme em segundo plano para dar relevância a uma mão cheia de indivíduos aborrecidos, A Desolução de Smaug perde tempo precioso (não resisti) com o ridículo Radagast, o egoísta rei-elfo Thranduil (que serve para nada) e desperdiça a boa ideia de trazer uma guerreira elfa que não existia no livro apenas para limitá-la ao mais cliché dos triângulos amorosos. Entretanto, só dois ou três dos treze anões ganham destaque de facto, com o líder Thorin (Armitage) à cabeça – e mesmo a impressão que este deixa não é das melhores visto que mostra-se um comandante de homens irritante e pouco digno do trono que almeja – enquanto os restantes só estão lá para fazer número. Já o carismático Martin Freeman tem a ingrata tarefa de carregar o filme nas costas (e consegue) mesmo sendo uma figura periférica na sua própria história.
Impressionante nos aspetos técnicos, A Desolação de Smaug conta com um design de produção espetacular que transforma Esgaroth numa espécie de Veneza de madeira e cria soluções visuais inventivas como a escadaria esculpida numa estátua imensa ou a primeira aparição do vilão sob uma montanha de moedas de ouro. Contudo, os bonecos digitais que substituem os atores são meramente passáveis e dá para perceber a sua artificialidade, o que prejudica particularmente a enérgica sequência dos barris. Neste ponto, Jackson faz plena questão que admiremos os faustosos valores de produção que teve ao seu dispor tantas são as vezes que investe no movimento de afastar a câmara para que admiremos os cenários e as paisagens – isto ao som da excessiva banda sonora que se mostra disposta a nunca dar descanso aos nossos ouvidos.
Beneficiado por ter um ritmo mais regular do que Uma Viagem Inesperada (que só ganhava vida quando Gollum entrava em cena) ainda que não disfarce o seu objetivo de "encher chouriços", O Hobbit: A Desolação de Smaug reforça a impressão que estamos a pagar para assistir a um Terra Média: As Sobras. Se o anterior, porém, era fraco, este é somente razoável – e, quem sabe, o próximo até possa ser algo memorável. É, eu sei, sou um otimista.
Mas que estes filmes precisam de umas versões reduzidas, ai isso precisam!