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Este ano não há parabéns para ninguém: este título foi literalmente oferecido pelo Benfica ao FC Porto. Não houve mérito de quem ganhou, mas sim demérito de quem não soube ganhar. A cereja no topo do bolo: os dragões nem tiveram de jogar para selar o campeonato. Em tudo o que vou vendo e lendo, fala-se mais de como o Benfica perdeu a liga e não como o FC Porto a ganhou. Ou como a ganhou sem treinador. Ou com meio treinador, se preferirem.
O jogo com o Rio Ave foi o espelho das últimas jornadas do campeonato e teve de tudo: substituições erráticas e uma força física lamentável para quem quiser atirar-se ao treinador; uma falta de vontade e de concentração gritantes para aqueles que optam por deitar a culpa sobre os jogadores; uma arbitragem insana que poupa dois penalties ao Rio Ave para aqueles que se escudam nos árbitros quando nada corre bem e desatam a comparar com outros jogos, onde um sopro basta para o apito soar. Destes três, é só escolher o ingrediente e aplicá-lo na máxima força. Ou então juntá-los a todos na receita da Liga Zon Sagres 2011/2012. E isto remetendo apenas ao que se passa dentro das quatro linhas: se for para escalar na hierarquia, este texto nunca mais acabava.
Último apontamento para Jorge Jesus: enfim, vai lá à tua vida. Já não acrescentas nada, és teimoso, arrogante, achas-te infalível e deve haver jogadores que nem te podem ver à frente. Fecha com chave de ouro aquilo que melhor sabes fazer e vende o Gaitán por mais de 20 milhões de euros. E leva o Emerson contigo. Vai lá para o FC Porto ter muito sucesso. Se até um macaco amestrado como Vítor Pereira é campeão, tu, que és muito melhor, também o poderás ser. Não te podemos é ter como refém com medo que vás para um rival. Muito mal estará o Benfica se achar que não arranja melhor do que tu neste momento. Mas eu já nem digo nada...
The Avengers (2012)
Realização: Joss Whedon
Argumento: Joss Whedon
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, Cobie Smulders, Clark Gregg, Stellan Skarsgård, Gwyneth Paltrow
Qualidade da banha:
Homem de Ferro1e2.O Incrível Hulk.Thor.Capitão América: O Primeiro Vingador. Cinco longas-metragens a pavimentar o caminho para este Os Vingadores e agora temos uma perceção clara da confiança depositada pela Marvel Studios nos heróis da casa e na criação de um universo unificado com histórias relacionadas entre si. Claro que isto significa que os não-iniciados poderão ter algumas dificuldades em acompanhar a narrativa (e convém ver os filmes supracitados), embora o filme reestabeleça as personalidades dos seus heróis de maneira económica – afinal, estamos a falar de uma obra feita por fãs e para fãs. E dificilmente haveria fã mais indicado para comandar a empreitada que Joss Whedon.
Dono de uma carreira que abarca a televisão, os comics, a Internet e o cinema, Whedon meteu as mãos no roteiro inicialmente escrito por Zak Penn (e baseado nas personagens criadas por Stan Lee e Jack Kirby há 50 anos) e desenvolve uma história de origem onde os super-heróis reunem-se para combater uma ameaça genérica: Loki (Hiddleston), o pérfido irmão de Thor (Hemsworth), deita as mãos no Tesseract, um artefacto poderoso visto em Capitão América: O Primeiro Vingador que, uma vez dominado, dará ao seu portador o poder de abrir um portal entre dois Mundos. É então que a SHIELD, a organização de contraespionagem a manutenção da paz mundial comandada por Nick Fury (Jackson), decide avançar com a Iniciativa Vingadores e recruta Tony Stark/Homem de Ferro (Downey Jr.), Steve Rogers/Capitão América (Evans), Thor, Bruce Banner/Hulk (Ruffalo), Natasha Romanoff/Viúva Negra (Johansson) e Clint Barton/Gavião Arqueiro (Renner) para neutralizar os planos de Loki.
Consciente de estar a lidar com uma história que facilmente resvalaria para o camp, Whedon abraça aquele universo com uma mistura saudável de seriedade e irreverência que diverte o público sem cair na comédia involuntária. Para isto contribuem os diálogos afiados e situações inteligentes que refletem as personalidades de cada um dos super-heróis – e como estas já foram, de certa forma, apresentadas anteriormente, Whedon sente-se à vontade para brincar com elas, como no momento em que Steve Rogers paga uma aposta feita com Fury ou a alegria incontida do Agente Coulson (Gregg) na presença do seu ídolo de infância. Ao mesmo tempo, Whedon é bem-sucedido ao manter um clima de desconfiança e tensão sempre que os super-heróis se juntam, o que é mais do que adequado quando reunimos um arrogante bilionário com uma poderosa armadura, uma relíquia da 2ª Guerra Mundial, um semideus, dois espiões de elite e uma verdadeira bomba-relógio prestes a explodir caso não seja contida.
É do choque de personalidades e génios fortes que provém os melhores momentos de Os Vingadores e Whedon mostra que tem a lição estudada ao equilibrar o tempo de antena de cada um para possa brilhar sem ofuscar os colegas – e praticamente todos eles combatem entre si num dado momento da projeção, o que deverá dar pequenos orgasmos nos fãs, e mostram as suas valências quando a ocasião surge. Enquanto isso, o realizador orquestra as sequências de ação de maneira empolgante e com uma escala crescente de espetacularidade, com destaque para o ataque à base da SHIELD e a batalha final em Nova Iorque que deixam os disparates feitos por Michael Bay no bolso com a sua edição clara sem deixar de ser trepidante e uma bem-vinda coerência numa guerra travada em várias frentes.
Mostrando os poderosos seres como figuras quase míticas, tudo em Os Vingadores é feito com a palavra "grandioso" em mente, seja na escala da ação, nos cenários imponentes, na banda sonora pujante, nos faustosos efeitos visuais e até no ego dos seus protagonistas, com o excêntrico e sempre cativante Tony Stark à cabeça, sem esquecer a malevolência de Loki e – a surpresa do filme – o Bruce Banner de Mark Ruffalo. Encarnado pelo terceiro ator em menos de uma década, a complicada personagem é assumida por Ruffalo como um ser mentalizado da sua condição trágica e que tenta manter o controlo a qualquer custo e que, paradoxalmente, usa a figura de Hulk para sua própria defesa ao avisar que soltará o monstro caso seja necessário. Mesmo a Viúva Negra tem a oportunidade de fazer mais do que passear o seu corpo atlético, o que vem no seguimento de Whedon ser adepto de figuras femininas autónomas e fortes (o que é ótimo numa película dominada por seres do sexo masculino).
Sem ter a densidade deO Cavaleiro das Trevas, a sensibilidade de Homem-Aranha 2 ou a complexidade temática deX-Men: O Início(o que o torna emocionalmente vazio), Os Vingadores diverte e impressiona à sua maneira e isto é mais do que o suficiente. Os outros que fiquem com os dilemas e os questionamentos; aqui o que interessa é o sentido de espetáculo – e nisso o filme é irrepreensível.
PS: há uma cena adicional durante os créditos finais.
Battleship (2012)
Realização: Peter Berg
Argumento: Jon Hoeber, Erich Hoeber
Elenco: Taylor Kitsch, Alexander Skarsgård, Brooklyn Decker, Rihanna, Liam Neeson, Tanadobu Asano, Hamish Linklater
Qualidade da banha:
Depois de cometer a trilogia Transformers e o pavoroso G.I. Joe: O Ataque dos Cobra, a produtora Hasbro regressa com mais um atentado às memórias de infância de muito boa gente com este medonho Battleship - Batalha Naval, a adaptação (?) do jogo em dois jogadores tentam afundar os navios de guerra do adversário desenhados numa folha de papel. A ideia, por si só, é idiota, mas boas obras já foram feitas a partir de idiotices, o que não é o caso. Resta dizer que o próprio jogo é mais empolgante e tenso que este esterco monumental – e para isso basta-me apenas papel e caneta ao passo que os produtores gastaram 200 milhões de dólares nesta extravagância de efeitos especiais.
Escrito (e uso este termo por falta de melhor) pelas mesmas criaturas que assinaram Red - Perigosos e Inferno Branco (curiosamente duas transposições de bandas desenhadas para o cinema, o que prova que adaptações não é mesmo com eles), Battleship - Batalha Naval traz uma frota internacional em exercício naval no Pacífico que é surpreendida com a súbita visão de uma nave extraterrestre que emerge do oceano. Os alienígenas depressa revelam um objetivo específico, decididos a destruir tudo o que se lhe atravesse pelo caminho. A bordo do cruzador de guerra norte-americano USS John Paul Jones, o jovem oficial Alex Hopper (Kitsch) e o almirante Shane (Neeson) terão de pôr de parte as suas quezílias pessoais e, com o apoio de toda a frota, encontrar uma forma de destruir o inimigo antes que nada mais possa ser feito.
Em tempos politicamente corretos, o melhor que a dupla de argumentistas (e uso este termo por falta de melhor) conseguiu arranjar como antagonistas foi uma invasão de extraterrestres cuja missão é receber uma transmissão da NASA, aterrar no Oceano Pacífico e destruir tudo por onde passam enquanto tentam - e juro que não estou a brincar - telefonar para casa! Para abrilhantar a coisa, a dupla que foi paga para assinar a história sob pena do Sindicato de Argumentistas instaurar um processo mete ali pelo meio uns indivíduos com dramas pessoais mais do que batidos: Alex é um irresponsável que faz com que o irmão (Skarsgård) o leve para a marinha com o objetivo de ganhar juízo e, no processo, apaixona-se por Samantha (Decker), filha do almirante interpretado por um Liam Nesson a ganhar o cheque mais fácil da sua carreira. E como este tem a cara marcante de Neeson, o almirante Shane não vai nada à bola com Alex e acha-o indigno da sua filha, a fisioterapeuta mais inverosímil da galáxia, já que a falta de talento de Brooklyn Decker só é equiparável ao seu corpo escultural.
Num ano em que Michael Bay nos poupou das suas atrocidades, Peter Berg (O Reino, Hancock) ocupa o lugar com distinção: a sua noção de condução de narrativa passa por fazer alguém explicar o que está a ver ou o que vai fazer a seguir e enche-la de piadinhas infames e diálogos execráveis (Rihanna diz invariavelmente duas frases: "Sim, senhor." e "Bum!"), além de demonstrar um desleixo de amador para com a história ao incluir uma cena na qual Alex é tocado por um dos aliens saídos do jogo de vídeo Halo e tem um vislumbre de sequências que, sou capaz de apostar, ficaram no chão na ilha de montagem. Por outro lado, Berg não cai no erro dos "mil cortes por segundo" tão caro a Bay, mas estamos a falar de cenas de ação que se resumem a navios de guerra a disparar sobre naves alienígenas que retaliam de seguida num exercício repetitivo que se esgota em pouco tempo.
A encabeçar um elenco de prestações homogeneamente péssimas, Taylor Kitsch mostra toda a sua inexpressividade e falta de carisma ao encarnar Alex como um sujeito agressivo e com tendências racistas no início da projeção, o que compromete desde logo a nossa simpatia para com ele (e, estupidamente, o filme não percebe isto), mas sempre faz melhor figura que o desastroso Alexander Skarsgård que nunca convence como figura de autoridade (ainda que fraternal). Decker e Rihanna estão lá para serem caras bonitas numa película dominada pela masculinidade e Hamish Linklater é responsável pela personagem mais irritante de todas (o analista Cal), ainda que com o diálogo mais inspirado ("Quem fala assim?!", questiona ele depois de ouvir um cliché dos filmes de ação). Já o veterano paraplégico de Gregory D. Gadson não serve outro propósito que não o de ser um meio de recrutamento para a marinha norte-americana – e se levarmos em conta que Battleship - Batalha Naval contou com o apoio das forças armadas, esta impressão sai ainda mais reforçada.
Contudo, há que dar o mérito ao filme por não ter medo de incorporar a mecânica do jogo numa cena em que os soldados tentam acertar numa nave aos saltos pelo mar (não adianta olhar-me com essa cara) e que, justiça seja feita, será imortalizada no Panteão de Cenas Ridículas do Cinema. A este ritmo, no futuro teremos a adaptação do jogo do galo, na qual as espécies extraterrestres rivais das Cruzes e dos Círculos combatem entre si e usam a Terra como campo de batalha.
ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Fringe 4x18: The Consultant
Não é uma maravilha quando Fringe mete os dois universos a trabalhar em conjunto para resolver um caso? Foi isto que senti falta em alguns momentos da temporada, mas agora não posso reclamar: nesta reta final, a série tem usado com engenho este recurso para nos levar a um encerramento de temporada (ou mesmo da série) que promete ser bombástico.
O caso da semana deu uma nova luz sobre o que poderá ser o grande plano de David Robert Jones: chocar ambas as realidades que entrariam em rutura e apenas sobrariam aqueles que não têm uma contraparte do outro Lado (Jones e os seus experimentos, Peter, o filho de Broyles). Provavelmente isto explica como o Broyles B cooperava com o vilão na medida em que este ajudava na doença do seu filho, mas, ao fim e ao cabo, talvez não seja boa ideia tentar salvar a vida de um filho se este não tiver um mundo onde viver. Assim, depois de receber instruções para ativar um aparelho na (esquecida) Máquina do Apocalipse que sincronizaria os dois universos na mesma frequência (levando-os ao colapso), Broyles B decide entregar-se.
Já antes, Broyles B auxiliara Olivia a regressar ao Lado A quando esta o ajudara no caso das crianças raptadas (3x07: The Abducted) e, agora, volta para o lado dos bons após remoer-se com outra situação que envolve uma criança – nada mais que o seu filho. Gostei de saber que Broyles não é um metamorfo 2.0 e que pode ser uma mais-valia à Divisão Fringe. O que mais gostei, porém, foi da interação entre Walter e Altivia quando o cientista lhe dá a entender que, com a ameaça de uma toupeira, todos são suspeitos e devem ser investigados - sem esquecer, claro, os ovos mexidos, a piada da acompanhante (não prostituta!) e o facto de o café ser o equivalente ao caviar no Lado B.
Enfim, tudo aquilo que a série prometeu no final da terceira temporada (os dois Lados em cooperação mútua) está a ser-nos mostrado de forma elegante, criativa e inteligente – três adjetivos que podem descrever perfeitamente a narrativa de Fringe ao longo destes quatro anos.
ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Fringe 4x17: Everything In Its Right Place
Abram alas para Lincoln Lee, a personagem periférica de Fringe que ganha aqui um episódio inteiro dedicado a ele e agarra a ocasião com unhas e dentes. Sentindo-se como peixe fora de água ao lado de Olivia, Peter e Walter, o mais novo agente da equipa aproveita para ir ao Lado B para fazer um ponto de situação sobre os metamorfos 2.0 de David Robert Jones e depara-se com um dos primeiros e mal-sucedidos experimentos do cientista e que dedica-se a matar criminosos de meia tigela enquanto espera que o seu criador o reencontre e corriga os seus defeitos. Como quase sempre, é ver a série a refletir os casos policiais com o drama dos protagonistas: tal como Lincoln, o metamorfo tenta dar algum sentido à sua existência e, como tem de matar para sobreviver, mais vale assassinar escumalha e poupar inocentes até que a sua situação melhore.
Enquanto isso, Lincoln A mostra o seu valor diante da equipa do lado de lá ao mesmo tempo que estabelece uma dinâmica peculiar com a sua contraparte ao tentarem descobrir onde os caminhos de ambos se desviaram (o que faz com que um seja contido e metódico e o outro mais solto e impulsivo). Ao passo que aqui Lincoln sente-se como aquela peça de Tetris que não se encaixa e atrapalha tudo o que vem atrás, é no Lado B que ele (re)encontra o seu lugar, ainda que à custa da morte de Lincoln B e depois de garantir um proveitoso reforço para a Divisão Fringe ao trazer a versão inicial do metamorfo para ser estudada por Walter e ajudar a eliminar um dos braços essenciais aos planos de Jones ao desmascar a Nina Sharp do outro lado. Entretanto, Alt-Broyles vai passando por entre as gotas da chuva, embora seja estranho como ainda ninguém começou a desconfiar de que existe uma fuga de informação, já que é a segunda vez que uma captura é sabotada e o próprio Lincoln B refere isso mesmo antes de falecer.
American Reunion (2012)
Realização: Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg
Argumento: Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg
Elenco: Jason Biggs, Alyson Hannigan, Thomas Ian Nicholas, Chris Klein, Sean William Scott, Eddie Kay Thomas, Eugene Levy, Tara Reid, Mena Suvari, Jennifer Coolidge
Qualidade da banha:
American Pie vale apenas pelo divertido primeiro filme; tudo o resto que veio a depois limitou-se a repetir a fórmula com mais ou menos escatologia (e nem me vou debruçar sobre os derivados lançados para o mercado de vídeo). Treze longos anos depois, alguma mente iluminada teve a ideia de reunir o elenco e ressuscitar as personagens com preocupações mais adultas, mas nem por isso mais ajuizadas. E o filme até arranca bem com a curiosidade de rever todo o grupo, embora isto se desvaneça em pouco tempo: afinal, carinho e saudade são duas emoções que as personagens da série dificilmente evocam.
A história anda à volta de um reencontro entre os finalistas da turma de 1999. Jim (Biggs) tem um filho pequeno com Michelle (Hannigan) e ambos ressentem-se de uma vida sexual estagnada; Kevin (Nicholas) também tem um filho e trabalha a partir de casa; Oz (Klein) apresenta um programa desportivo e namora com uma beldade, apesar de nunca ter esquecido a sua antiga paixão; Finch (Thomas) aparenta ser o que menos mudou - isto se descontarmos o incontrolável Stifler (Scott) que continua incrivelmente imaturo e sempre à espreita da próxima queca. Todos eles voltam para o cenário onde desesperavam por perder a virgindade e – vejam só! – reavaliarão as suas trajetórias.
Assistir a American Pie: O Reencontro é como ver um museu do final de década de 90 no qual estão expostos atores que, em algum momento da História, ousaram tornar-se estrelas cintilantes no firmamento de Hollywood – e a experiência é nada mais que mórbida. Se Biggs, Hannigan e Scott ainda conseguiram alguma visibilidade no cinema e na televisão (embora nada do outro mundo e sempre no mesmo registo), já Chris Klein, Thomas Ian Nicholas e Eddie Kay Thomas são resgatados do limbo e bem podem agradecer a American Pie a sua pouca exposição. O filme, no entanto, não deixa margem para dúvidas das medíocres carreiras que os acompanham, uma vez que, como atores, eles não são nada de especial – e ver Klein em cena é particularmente doloroso de tão mau que ele é. E o que dizer de Mena Suvari e Tara Reid? Duas péssimas atrizes merecidamente esquecidas que regressam e tentam forçosamente mostrar que os anos foram benéficos para com elas e que apenas se embaraçam, especialmente a última.
Numa altura em que Judd Apatow provou que é possível uma comédia ter piadas porcas e ser também inteligente e madura, chega a dar pena ver os esforços inglórios da dupla Hurwitz/Schlossberg em investir em situações onde nada parece funcionar: desde a "vingança" levada a cabo por Stifler sobre um grupo de jovens, passando pela fogosa vizinha de Jim e acabando na reencenação da famosa cena da tarte (onde até temos direito a um momento de nudez frontal, algo impensável há 13 anos), todas as piadas conseguem ser antecipadas pelo espectador mais experiente tal é a construção precária das mesmas e o déjà vu que elas despertam. Basta referir que não só temos a situação da "tarte", como também Jim a ser apanhado em flagrante e a cena em que o grupo invade uma moradia e vê-se em risco de ser apanhado. Não adianta vir com a desculpa da nostalgia; isto é trabalho de argumentista preguiçoso.
Quanto à parte da inteligência e da maturidade, American Pie: O Reencontro também fraqueja das pernas. É o típico: as personagens reavaliam as suas vidas e percebem que não são tão infelizes quanto pensavam ou as personagens reavaliam as suas vidas e percebem que, sim, são infelizes e algo tem de mudar. Nada tenho contra este esquema, mas pedia-se mais sofisticação e menos obviedade, até por que inúmeras comédias abordaram estes temas com melhores resultados. O ridículo é que o filme trata-os como um bando de anormais que, para contrariar as vicissitudes da vida adulta, decide abraçar o adolescente idiota que ainda vive neles sem perceber que não estabelece nenhuma âncora emocional que nos leve a compreender os seus dilemas. Com isto, o potencial cómico fica irremediavelmente comprometido, visto que não nos revemos nas suas atitudes imaturas (o que não acontece na maioria das comédias de Judd Apatow ou até mesmo dos Irmãos Farrelly).
Há, porém, um elemento que providencia os pontos altos do filme (e da franquia): o pai de Jim (Levy) e a sua absurda honestidade e abertura em relação a tudo o que envolva o filho. A química entre ambos continua impecável e é nos seus diálogos e nos seus momentos (nomeadamente aquele durante os créditos finais) que se vislumbra a sensibilidade que falta em tudo o resto e que, por isso mesmo, se tornam nas cenas mais engraçadas. De resto, soa tudo muito forçado e estranho como se aquela gente se reunisse não por que são amigos uns dos outros, mas sim por interesses financeiros.
E, de certa forma, é isso que acontece.
ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Fringe 4x16: Nothing As It Seems
Em The Transformation, 13º episódio da primeira temporada, a Divisão Fringe lidava com um vírus que transformava humanos em criaturas animalescas. Três anos depois, o mesmo caso volta à baila, mas com contornos ligeiramente diferentes: a mesma pessoa que se mutava num porco-espinho gigante durante um voo consegue aterrar em segurança para depois ser morto pelas autoridades. No universo repaginado da atual temporada, Peter e Olivia usam as suas lembranças do caso anterior (ela a meio-gás) para iniciar investigação e, no processo, descobrem que é David Robert Jones que está por detrás das aberrações – e vários são os experimentos mantidos em cativeiro pelo vilão com um propósito ainda por esclarecer.
No início, Fringe era composta por casos isolados sem grande paralelo com a história principal; tudo o que sabíamos era que a equipa era designada a desvendar casos que iam além da compreensão humano e estes estariam conectados a algo obscuro denominado de Padrão. Depois vieram as realidades paralelas, as versões alternativas, o passado de Walter, o cortexiphan e o Padrão foi esquecido, deixado para trás como a rampa de lançamento da mitologia da série. Pois agora esse conceito é resgatado e é-lhe dado o seguimento que antes era impossível: se Jones sempre esteve ao leme de toda esta conspiração, a sua morte no final do primeiro ano da série acabou com os seus planos.
Curioso que Fringe use esta "nova" realidade para abrir novas possibilidades sobre algo que achávamos satisfatoriamente resolvido: já foi dito que Jones sofre de complexo de Deus e nada como saltar entre universos e misturar o ADN de humanos e animais (tal como o Dr. Moreau da obra de H. G. Wells) para denotar esta característica. Se Peter não tivesse sido apagado e Jones tivesse morrido, não saberíamos nada disto e jamais perceberíamos a ligação. Como todos os grandes vilões, Jones tem um intelecto só equiparável a Walter, um dos nossos heróis.
No mais, perceberam como a dinâmica do laboratório parece estar a voltar ao que era antes de Peter ter desaparecido? Walter mais solto, Peter a emocionar-se com o pai, Astrid a ser alvo de novas alcunhas? Será que, aos poucos, também eles poderão lembrar-se do que era e do que fizeram anteriormente? Claro que a peça que não se encaixa é Lincoln, magoado por se ter deixado encantar por uma Olivia que não lhe estava destinada. E por falar nela, compreendem-se as dúvidas do FBI, mas, como Broyles bem apontou, mais vale uma Olivia a perder as suas memórias do que não ter uma Olivia de todo. E o desconforto na presença de Nina Sharp? Ui, ui...