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The Tree of Life (2011)
Realização: Terrence Malick
Argumento: Terrence Malick
Elenco: Brad Pitt, Jessica Chastain, Hunter McCraken, Tye Sheridan, Laramie Eppler, Sean Penn
Qualidade da banha:
A Árvore da Vida é mais do que um filme: é uma experiência sensorial única, exigente e arrebatadora. O obreiro é Terrence Malick, um realizador que conta com apenas cinco longas-metragens ao longo de quatro décadas, conhecido pelas suas "extravagâncias", de trabalhar à margem do sistema dos grandes estúdios e, como não podia deixar de ser, de não se reger pelo convencionalismo – e serão muitos aqueles que acusarão este A Árvore da Vida de ser pretensioso, inócuo e limitado na mensagem religiosa que pretende transmitir. Afinal do que trata o filme? A resposta não é fácil e poderá variar consoante o espectador. Tal como nas obras de Kubrick, as avaliações dependerão muito da bagagem emocional e intelectual que a própria pessoa leva na visualização do filme. O certo é que o filme faz uma analogia espiritual entre o núcleo da família O'Brien na América dos anos 50 e o nascimento e desenvolvimento do Universo, a começar pelo Big Bang.
Introspectivo e com um ritmo lento (o que levará os menos pacientes ao desespero), A Árvore da Vida dá-nos a conhecer Jack O'Brien na actualidade: sujeito distante e amargurado, ele relembra a sua infância junto dos pais e dos seus dois irmãos mais novos, um dos quais viria a falecer aos 19 anos. Criado num lar dominado com mão de ferro por Mr. O´Brien, Jack entra em rota de colisão com o progenitor devido ao seu carácter disciplinador que, aos poucos, vai drenando qualquer traço de espontaneidade e criatividade das crianças que encontram o seu porto seguro na figura da mãe. Ao mesmo tempo, somos apresentados à evolução do Universo até ao surgimento do planeta Terra e das primeiras formas de vida.
Profundamente religiosos, os O'Brien agarram-se às suas crenças como forma de extravasar o seu luto pelo filho falecido e tentar encontrar uma justificação para a tragédia. O que eles não parecem interiorizar (algo natural) é a aleatoriedade do Universo: assim como o Big Bang simplesmente aconteceu (ou seja, não tem uma explicação concreta), não há resposta ao "porquê?" da tragédia que se abateu sobre eles. Faz parte da natureza humana procurar razões para o desconhecido (foi com base nestes pressupostos que nasceu a Ciência) e, no entanto, o ser humano ainda tenta preencher os buracos deixados pelo que não se consegue explicar: acreditar numa entidade superior (seja Deus, Alá ou outro qualquer) dá um certo alívio e compreensão para a nossa existência. Daí até às contradições vai um salto: como alguém tão bondoso pode causar tanto mal? Porque é que me aconteceu isto, logo eu que sigo todos os desígnios?
Estes questionamentos encontram reflexo a um nível microscópico na família O'Brien: da alegria do casamento aos nascimentos dos filhos, o ambiente familiar antes saudável dá lugar à autoridade e à severa educação de Mr. O'Brien quando Jack começa a entrar na adolescência. Aos poucos, a revolta vai tomando conta dos filhos (com o mais velho à cabeça) ao passo que Mrs. O'Brien se torna cada vez mais apática e receosa do marido. Contudo, nem por um momento duvidamos do amor de Mr. O'Brien pela família (graças à sensível prestação de Brad Pitt), mesmo que isto não o impeça de cometer actos cruéis para com estes por achar que a esta é a forma mais válida de os preparar para a vida adulta.
Tal como o cosmo é demasiado complexo para ser reduzido a uma simples explicação, também o ser humano é capaz de ter comportamentos contraditórios: ao ser repreendido pelo pai por uma tarefa mal executada, a reacção de Jack é dar-lhe um abraço sentido que denota a carência do rapaz por calor humano – uma acção que o pai reprime numa tentativa de não se vergar ao sentimentalismo. Ao lidar com a notícia da morte do filho e com o choque da esposa, ele não consegue soltar mais do que um arrastado "era um bom rapaz" que denota toda a destruição interior vivida na altura. São estes pequenos momentos que dão profundidade e relevância à relação entre os integrantes da família e como isto se revelará determinante no crescimento emocional dos filhos.
Filmado espectacularmente por Malick, a narrativa de A Árvore da Vida é composta por memórias e fragmentos das recordações de Jack: não admira que muitas cenas sejam extremamente curtas e revelam apenas detalhes como sombras, paisagens e objectos (a reconstituição da época é primorosa), como se fossem pormenores dispersos na mente de Jack. Ainda assim, é na sequência que retrata a evolução do Universo que o filme atinge um grau de fascínio e arrebatamento total, com as suas belas e elegantes imagens (seriam elas recordações do Criador?) e a evocativa banda sonora que faz com que tudo pareça um bailado plenamente orquestrado o que, claro, potencia ainda mais as imagens.
Capaz de provocar intensas e produtivas discussões filosóficas sobre o ser humano, o filme de Terrence Malick abre a porta a inúmeras possibilidades e mesmo que o desfecho possa desagradar a alguns pela tendência cristã do mesmo, eu encaro-o de acordo com o perfil daquela família e da sua idealização do que seria aquele momento em particular. No final, tal como a Terra, o Sistema Solar e até Universo, todos iremos falecer um dia, cumprindo aquilo que se espera: que nasçamos, que cresçamos, que morramos. Eventualmente todos conhecemos um fim e, mesmo assim, continuamos a viver.
Há uns meses atrás, o Chelsea liderava folgadamente a Premier League enquanto o Manchester United perdia pontos atrás de pontos. Falava-se do pior Manchester dos últimos anos, da ausência de Cristiano Ronaldo e que Alex Ferguson estaria mais preocupado com a sucessão do que em reconstruir uma nova equipa. O bom e velho Fergie puxou dos galões, deu coesão à defesa, fez explodir Rooney, desatou a acelerar para a liderança do campeonato ao mesmo tempo que o Chelsea colapsava inexplicavelmente e só não fez esquecer Ronaldo por que... bem... é o Ronaldo. E por que trago à memória o "pior" Manchester da época? Por que no jogo desta noite, onde United e Barcelona almejavam a quarta Taça de Campeões Europeus, e por largos momentos, a equipa de Pep Guardiola reduziu o adversário ao "pior" da época, quando muitos (entre eles, eu) afirmavam que dificilmente Ferguson seria campeão com esta equipa.
Claro que não há vergonha nenhuma perder para este Barcelona, um autêntico carrossel que, bem oleado, não dá hipóteses a ninguém. Os jogadores do United entraram sem medo, mas logo os catalães os meteram em sentido e apontaram flechas à baliza de Van der Sar. Uma primeira parte bem disputada e digna da partida máxima do futebol europeu valeu um golo para cada lado, com o Manchester a apostar em contra-ataques mortíferos e o Barcelona empenhado a encostá-los às cordas. Na segunda parte, foi o verdadeiro festival blaugrana e nunca os reds ameaçaram efectivamente o golo, sendo que do meio-campo para trás foi o pânico total a cada investida de Messi, Pedro, Iniesta e David Villa. Voltando ao "pior" Manchester, o que antes parecia incompetência e altivez, hoje foi mesmo inferioridade. Ferguson merece todo o crédito do Mundo pelo que já fez (e ainda fará) pelo United, mas este Barcelona não é deste Mundo. É uma equipa a roçar a perfeição!
Uma palavra final para o futebol dos catalães: quer-me parecer que o mesmo parou no tempo e não afirmo isto como uma crítica. Com os seus jogadores formados na casa ou que já lá estão há muito tempo, logo em sintonia com a cultura do clube, um treinador para vários anos e conquistas sucessivas, um futebol de encher o olho e que fala à essência do mesmo como espectáculo de massas, este Barcelona parece descendente directo de gerações que nos deram Real Madrid, Benfica, Ajax, Bayern Munique ou Liverpool: equipas que, a determinada altura, dominaram a Europa a seu bel-prazer, com duelos memoráveis, impunham respeito onde quer que fossem, eram o paradigma do glamour futebolístico e que, além de terem a história factual do seu lado, levam consigo o estatuto de lendas. A equipa de Guardiola caminha a passos largos para isso, algo notável para um futebol comandado por interesses económicos – e a nós, meros espectadores, só nos resta sentar e admirar a magia que emana dos pés de Messi, Xavi, Iniesta, Villa e restantes companheiros.
Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides (2011)
Realização: Rob Marshall
Argumento: Terry Rossio, Ted Elliot
Elenco: Johnny Depp, Penélope Cruz, Geoffrey Rush, Ian McShane, Kevin McNally, Sam Claflin, Astrid Berges-Frisbey
Qualidade da banha:
Johnny Depp sempre foi um actor respeitado, mas até ao primeiro Piratas das Caraíbas não era um nome sonante para arrasar nas bilheteiras. Com críticas favoráveis, nomeação para o Oscar no bolso e muitos milhões rendidos, Depp passou a ser sinónimo de dinheiro em caixa e a sua carreira disparou até à estratosfera. E tudo graças a Jack Sparrow, o pirata afectado, de andar trôpego, com uma lata descomunal e uma energia inesgotável que elevou a outro nível um entretenimento razoável como A Maldição do Pérola Negra. Como tudo o que faz dinheiro é para repetir, as sequelas não se fizeram esperar e se em O Cofre do Homem Morto a prestação de Depp já não tinha a mesma frescura do original, o filme ainda conseguia injectar mais espectacularidade e surrealismo à série, além de trazer novas e fascinantes personagens – e a qualidade da mesma só veio a decair com o terceiro capítulo, Nos Confins do Mundo, que trazia uma história desnecessariamente complexa, uma infinidade de personagens e uma overdose de efeitos especiais a inchar a película até ao insuportável. Uma queda que se verifica em maior grau neste aborrecido e desinspirado Por Estranhas Marés.
Sem incluir muitas das personagens da trilogia original, o novo Piratas das Caraíbas traz mais uma vez Jack Sparrow (Depp) em busca da mítica Fonte da Juventude que também é almejada por espanhóis e britânicos - além do pérfido Barba Negra (McShane), cuja alegada filha, Angelica (Cruz), é uma ex-amante de Sparrow. Ambos terão de unir forças (e trocar farpas) para atingirem os seus objectivos que também são partilhados pelo capitão Barbossa (Rush), agora um corsário ao serviço da Coroa Britânica, e que tem contas a ajustar com Barba Negra, responsável por arrancar-lhe a perna direita.
Cientes dos problemas das duas obras anteriores, os argumentistas repetentes Ted Elliot e Terry Rossio constroem um enredo mais simplista e directo e o incrível é que, nas mais de duas horas de duração, não há um único detalhe que não seja dissecado até à exaustão pelas personagens, num cansativo e repetitivo exercício de exposição de novas informações sobre a missão em causa. Chega a ser cómico: há uma sequência de acção a cada 15 minutos e, nos tempos "mortos", ocorre uma verborreia colossal sobre o que fazer, como fazer, quando fazer, o que evitar, que faz aquele, o que está ali, por que faz aquilo, por que não faz de outra maneira, o que pode acontecer, o que acontecerá, o que aconteceu (esta é fácil: escritores preguiçosos)... enfim, uma costura de dados relevantes a comentar o que acontece em vez de estabelecer a acção que não deixa margem de imprevisibilidade para o espectador. Inacreditável é que, no meio de tanto esforço para não deixar nada de fora, a dupla se esqueça de responder a questões importantes, tais como: quem é aquele indivíduo que surge no início, que profecia é aquela que reside sobre Barba Negra ou o porquê de "esquecer" a armada espanhola durante grande parte da história para os ir resgatar no momento mais conveniente ou o porquê de um soldado (preparem-se!) abandonar as suas armas numa mesa enquanto persegue Sparrow que prontamente pega nelas e segue a sua fuga.
Preguiçoso até nas cenas de acção, Por Estranhas Marés encena os duelos de forma burocrática, confusa e ofensivamente desleixada: quando Sparrow e Angelica se lançam contra vários oponentes, torna-se quase impossível perceber como eles derrotam os adversários ou como o pirata se desenvencilha tão facilmente de estar atado a uma árvore (as cordas parecem ter folga mais do que suficiente para... bingo!). Além disso, as coreografias das lutas surgem pouco imaginativas e com zero de tensão graças à direcção de Rob Marshall, um realizador sempre pronto a comprovar a sua falta de talento (já vista nos fraquíssimos Memórias de uma Gueixa e Nove). Incompetente ao ponto de deixar que o vilão vá amenizando com o avançar da narrativa, deixando de soar a ameaça que deveria, Marshall não aproveita nem as boas ideias presentes neste novo episódio (como os barcos engarrafados), cometendo ainda o erro de não extrair o mínimo de grandiosidade do trabalho do design de produção, já que o navio do Barba Negra empalidece comparado com o Pérola Negra ou o Holandês Voador.
A trabalhar no mais puro dos pilotos automáticos, Depp substitui a graça e a impetuosidade de Sparrow por trejeitos calculados e tiradas frágeis, num reflexo do filme em que está inserido, onde a genuína inspiração dos anteriores (Kraken, Davy Jones, a catarata do fim do mundo, a batalha entre o Pérola e o Holândes) deu lugar ao comodismo e ao enfado (a única excepção é a cascata invertida). Enquanto isso, Penélope Cruz não pode fazer mais do que estar bonita em cena, uma vez que o papel dela não vai além de ser a metade do típico casal que discute a toda a hora mas que se ama, e McShane, com uma entrada cheia de classe, parece ficar constrangido lá para o final, ao passo que Geoffrey Rush até diverte com os modos mais aristocráticos de alguém que responde a um monarca. Para ocupar as vagas deixadas pelo casal formado por Orlando Bloom e Keira Knightley, temos um casal chato até ao tutano formado por um pregador cristão e uma sereia cujas lágrimas activarão a Fonte da Juventude (não perguntem!) – e Sam Claflin revela-se um óptimo substituto para a inexpressividade de Bloom emparelhado com a jovem Astrid Berges-Frisbey num trabalho tão pobre que eu só pensava como o filme beneficiaria com a injecção de carisma e personalidade de Knightley.
Surpreendentemente longo e entediante apesar de ser o exemplar mais curto dos quatro e polvilhado de conceitos absurdos mesmo numa série que já viu um polvo gigante (agora temos sereias com toques vampíricos e algo que só posso apelidar de "zombies conscientes"), Piratas das Caraíbas por Estranhas Marés é como uma pastilha elástica mascada eternamente: o primeiro impacto é um sabor adocicado e refrescante mas, em pouco tempo, a mesma torna-se sensaborona e incomodativa.
PS: há uma cena adicional após os créditos.
ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Fringe 3x22: The Day We Died
Acabou a terceira temporada num episódio que fez justiça à fama que Fringe tem em acabar os seus anos de maneira estonteante. No entanto, uma ressalva: este foi um final que pode elevar a série a novos patamares ou que marque o auge da mesma e, a partir de agora, seja sempre a descer. Diz-se por aí que o material filmado ascendia a cerca de uma hora e cortes foram exigidos pelos produtores, o que pode explicar o ritmo acelerado de informações relevantes que foram disparadas. Há mais respostas (algumas subliminares) e novos dados para processar nestes 43 minutos do que numa mão cheia de capítulos de The Event, por exemplo.
Quando Peter entrou na Máquina do Apocalipse no episódio anterior, seria de supor que iríamos assistir à sua escolha e qual dos universos seria o afectado. Porém, ao levar-nos para 2026, este episódio situa-nos num ponto onde tudo isso já aconteceu. O Lado B foi completamente destruído e a sua contraparte ressente-se desse facto, já que ambos os universos estão intrinsecamente ligados. Peter e Olivia são agentes veteranos da Fringe Division e vivem felizes e casados; a sobrinha desta é uma novata na agência que foi ganhando importância com a sucessão de fenómenos inexplicáveis (à semelhança do que aconteceu no Lado B após o rapto de Peter enquanto criança); Broyles é senador e tem uma velha rixa com Peter (o que lhe terá acontecido ao olho direito?) e Walter foi responsabilizado, julgado e condenado pelo caos no qual o universo mergulhou e sofreu um AVC na prisão (metade dos músculos da cara estão paralisados). Enquanto isso, Walternate encontra-se a monte no Lado A e financia um grupo de terroristas que se dedicam a despoletar wormholes (buracos de minhoca), o que agrava a situação já de si dramática da "nossa" realidade.
É neste ambiente que sabemos que Olivia acabou por aceitar e controlar os seus poderes psicocinéticos ou que as Primeiras Pessoas são Walter e restante equipa e partiu dele a ideia de enviar para a pré-história os vários componentes da Máquina do Apocalipse (o que, particularmente, foi uma bênção pois aquela lengalenga de profecias milenares não casa bem com Fringe). Como? Através de um dos wormholes. Ao aperceber-se que está diante de um paradoxo temporal, Walter sabe que terá de enviar a Máquina para o passado para que a continuidade temporal seja respeitada, mas com uma adenda: ele poderia programar a mesma para que transportasse a consciência de Peter para o futuro actual (2026) para ele tivesse noção do que acontecerá e pudesse tomar outra escolha. Daí que Walter afirme que o paradoxo pode estar já a acontecer (e está, já que se trata de uma lógica circular) e a consciência de Peter seria a forma de o quebrar. Não deixa de ser curioso que, ao tomar conhecimento que todos estão envolvidos num paradoxo, Walter acabe por o criar. De modo mais linear, seria mais ou menos isto:
Assim, quando Peter regressa e vê Olivia vivinha da silva, ele tem a decisão de unir ambas as Estátuas da Liberdade, criando uma ponte que ligaria os dois universos para ambas as equipas possam engendrar um plano conjunto para curar os dois universos. Só que há repercussões para esse acto: Peter deixa de existir (segundo Setembro, um dos Observadores, ele nunca existiu), o que é diferente de morrer. O que isto significa? Que ninguém mesmo se lembra de Peter? Que tudo o que aconteceu antes não faz sentido? Se não, como é que eles estão naquele ponto, uma vez que foi por Peter que passaram muitos dos acontecimentos? E o filho de Altivia? Deixa de existir também? (para esta eu sei a resposta! hehehehe!) E foi só mesmo aquela sala que ficou como ligação entre os universos? Qual era o propósito de Peter? Quebrar o paradoxo e remediar a linha temporal? E porque ele deixou de existir? Que motivações terão Walter e Walternate para continuarem inimigos? E Olivia e Altivia?
É óbvio que Peter voltará na quarta temporada; resta saber é como irão resolver este imbróglio. Novas janelas se abrem para o provável último ano de Fringe e apesar de adorar ter o cérebro a fervilhar durante meses (algo que não acontece desde LOST. Snif, snif...), não consigo deixar de pensar que a série comece a meter os pés pelas mãos ao lidar com um assunto delicado como viagem no tempo. Embora, a avaliar pelos resultados anteriores e o crescendo que Fringe passou nos últimos meses, não podemos deixar de atribuir crédito aos argumentistas por elevarem as nossas expectativas como assuntos intrigantes, complexos e memoráveis naquele que passou a ser um produto de excepção numa indústria que tende a repelar qualquer programa que desafie minimamente o espectador.
Cá estaremos em Setembro!
Vou ser sincero: a Supertaça, os 5 a zero, o campeonato dado de mão beijada na Luz ou a derrota para a Taça não me custaram tanto como esta eliminação ao pés do Sp. Braga. Hoje acabou a época 2010/2011. Ela já estava ligada à máquina à espera de um milagre que a despertasse com estrondo e glória, mas hoje desligaram a ficha da tomada. Uma final europeia, algo que nunca tive o prazer de desfrutar, desvaneceu-se frente a uma equipa que fez o jogo que lhe competia e o Benfica pouco ou nada fez para o contrariar. Quando o Sp. Braga marcou, num lance de bola parada que, com este Benfica, mais parece uma grande penalidade, pensei logo "Já fomos..." e o resto do jogo mostrou o filme do costume: uma equipa sem vontade, sem raça, a falhar passes em demasia, que avança aos repelões, sem sorte (bola no poste) e sem arte nem engenho para contrariar a adversidade.
Se, por momentos, me passou pela cabeça que a jogar assim nem valia a pena marcar presença na final, logo vinha ao de cima aquela fé tão benfiquista que martelava "Quero lá saber! Quero é estar na final!". Porém, estava mais que visto que, com esta equipa numa forma tão miserável, tão profunda crença não tinha a mínima sustentação. Andou-se a poupar os meninos para os jogos importantes e a resposta foi a pior possível. Temo que aquele forcing que originou 18 vitórias consecutivas e que permitiu recuperar – vejam só! – dois pontos para o FC Porto no campeonato tenha sido fatal. Com Amorim e Sálvio no estaleiro, um banco entregue a nulidades como Peixoto, Menezes e Kardec e jogadores que são a antítese da época passada (Cardozo, Saviola, Carlos Martins), o pragmatismo tinha mesmo de prevalecer sobre o lirismo.
Quanto a Jorge Jesus, receio que o seu tempo acabou. Já não consegue motivar, as suas ideias parecem paradas no tempo (mais precisamente em Maio do ano passado), o discurso está recheado de tiros no pé, leva banhos tácticos de toda a gente e demora séculos a perceber o que os inenarráveis comentadores da SIC perceberam na hora. No entanto, se for para continuar com ele que seja mesmo para continuar e apoiar. Já se espera um novo arranque de época em total desalento (como no Bessa em 2007) e, se for para fazer o mesmo que Vieira (um dos mentores desta época desastrada*) fez com Fernando Santos, mais vale deixar Jesus ir à sua vida até que seja resgatado por Pinto da Costa.
Provavelmente não verei a final. Não estou na disposição de assistir a um jogo com o pensamento de "o Benfica devia estar ali" ou, pior ainda, como aconteceu na final da Taça em 2008, na qual um super-favorito FC Porto mamava dois golos do Tiuí (quem?) no prolongamento e eu só pensava "o meu Benfica, treinado pelo Chalana, quarto classificado e goleado pelo Sporting, já tinha resolvido isto.". Eu, que ansiava pela final em Dublin, que até tinha já um texto em mente para a final desejada a enaltecer o momento histórico, a trajectória dos rivais e como esse jogo singular parecia estar destinado a ser uma prova dos nove quanto aos dois clubes sobre o olhar atento de toda a Europa do futebol, nem a isso tive direito. Nem vocês, caros leitores, com muita pena minha.
Para o ano haverá mais, certamente. Mas mais do mesmo, deste benfiquinha dos pobres e sem ambição, mal planeado e pior executado, tenham santa paciência (ó palavra maldita), não!
* estive para usar o termo "desastrosa", mas quem já assistiu aos 7-0, a um sexto lugar, dois anos sem ir à Europa e a ver o seu clube a bater no fundo do poço, não pode, em nome da relatividade e da proporção, classificar esta época de desastrosa. Frustrante, sim; desastre parece-me um exagero.
ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Fringe 3x21: The Last Sam Weiss
No final da primeira temporada, Olivia atravessava para o "outro" lado e encontrava-se pela primeira vez com o desaparecido William Bell. O público era brindado com as icónicas Torres Gémeas intactas e o Lado B apresentou-se de maneira bombástica. Duas temporadas depois, Fringe pega nesse pormenor e faz algo semelhante: ao entrar na Máquina do Apocalipse, Peter viaja para o futuro e depara-se com uma inscrição de 2021 referente aos atentados de 11 de Setembro e vê o novo World Trade Center (que deverá ser concluído em 2013). O ano não é 2021 como inicialmente poderíamos pensar, mas sim 2026 – 15 anos no futuro como indica a promo do episódio final. É de mim ou o Peter assemelha-se a um John Connor a lutar pela Humanidade? Além disso, atenção à mão esquerda: ele está casado no futuro!
Para que Peter pudesse interagir com o dispositivo foi necessária a ajuda de Sam Weiss, cujo mistério foi descortinado: ele provém de uma linhagem milenar de seres com pouca criatividade para nomes e que estão munidos de conhecimentos que podem ajudar a que os eventos aconteçam da forma que estão "previstos". Com o Mundo a sofrer tempestades eléctricas e destruição por todos os lados, cabe a Olivia e a um semi-amnésico Peter (que começou a ter recordações de factos do "outro" lado) tentar parar a Máquina a partir "deste" lado. Ela com a sua habilidade de psicocinese já usada para desactivar aquela bomba com luzes lá na primeira temporada (já nem me lembrava disto, vejam só) e ele a ter a finalmente a oportunidade de entrar no aparelho, com consequências imprevistas: o destino é uma futura Nova Iorque em guerra. Com quem e como se chegou àquele ponto, só saberemos no próximo e último episódio desta sensacional temporada.