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Um rápido rescaldo dos Oscars 2011*

por Antero, em 28.02.11

Para uma instituição que se orgulha de premiar a excelência da Sétima Arte, a Academia devia arriscar mais um pouco quer na execução da cerimónia quer na atribuição dos prémios. A festa foi mais do mesmo, sem nenhum rasgo de vitalidade e só a cumplicidade entre James Franco e Anne Hathaway foram salvando, aqui e ali, as mais de três horas e meia do espectáculo. Quanto aos prémios, vê-se mais uma vez o conservadorismo da Academia em acção e este ano até tinha muito por onde inovar: O Discurso do Rei é um bom filme, sem dúvida, mas é “certinho” e previsível demais, daqueles que quase todos somos obrigados a gostar. Num ano que contou com obras assombrosas como Toy Story 3, A Origem, Cisne Negro e Indomável, premiar o “jogo seguro” da história do Rei Jorge VI e o trabalho do seu realizador (cuja categoria não incluía o nome de Christopher Nolan – uma heresia, portanto) é algo injusto e, diria eu, cobarde.

 

Salvam-se as categorias de interpretações, todas elas merecidas e esperadas, e o reconhecimento (mínimo) do trabalho de Aaron Sorkin em A Rede Social e dos aspectos técnicos de A Origem, onde mais uma vez faltou a nomeação para Melhor Montagem (e, convenhamos, tirar a estatueta de Melhor Fotografia a Indomável também não me pareceu muito acertado. Dá para ver o baixo nível de entretenimento de uma cerimónia quando o maior destaque da mesma é o “fucking” dito por Melissa Leo. Talvez se lembrem de Ricky Gervais para o próximo ano. E depois expulsam-no de Hollywood.

 

* Crónica publicada no jornal Maré Viva, de Espinho, na edição de 01 de Março de 2011.

 

publicado às 18:35

Oscars 2011 - previsões

por Antero, em 27.02.11

 

MELHOR FILME

Vai ganhar: O Discurso do Rei

Devia ganhar: A grande disputa será entre O Discurso do Rei e A Rede Social, mas este tem vindo a perder gás nas últimas semanas. Será praticamente impossível, mas ficaria radiante se ganhasse Cisne Negro ou A Origem. E acordaria toda a gente cá em casa se Toy Story 3 ganhasse.

 

MELHOR REALIZAÇÃO

Vai ganhar: David Fincher (A Rede Social)

Devia ganhar: o único pesar desta categoria é não incluir uma nomeação para Christopher Nolan, mas os restantes são merecidos. Lá no fundo, uma pontinha de esperança na vitória de Darren Aronofsky.

 

MELHOR ACTOR

Vai ganhar: Colin Firth (O Discurso do Rei)

Devia ganhar: não é o melhor trabalho de Firth (esteve sublime em Um Homem Singular, o ano passado), mas esta categoria está praticamente garantida para o britânico. E merecidamente.

 

MELHOR ACTRIZ

Vai ganhar: Natalie Portman (Cisne Negro)

Devia ganhar: o mais certo é ninguém conseguir parar o furacão Portman, que tem colecionado prémios e mais prémios.

 

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO

Vai ganhar: Christian Bale (The Fighter - Último Round)

Devia ganhar: o único que me parece capaz de ultrapassar o favoritismo da Bale é Geoffrey Rush, arrastado pela onda de O Discurso do Rei. A ganhar que não Bale, será extremamente injusto, já que o actor, além de talentoso, é respeitado pelos seus pares quanto à sua entrega.

 

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA

Vai ganhar: Melissa Leo (The Fighter - Último Round)

Devia ganhar: é provável que Leo ganhe apesar da sua campanha agressiva para o prémio (até no preconceito da idade ela chegou a pegar) que a poderá deixar em desvantagem. Por mim, o Oscar ficaria bem entregue a Haille Steinfeld, sensacional em Indomável.

 

MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL

Vai ganhar: O Discurso do Rei

Devia ganhar: A Origem

 

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO

Vai ganhar: A Rede Social

Devia ganhar: Toy Story 3

 

MELHOR FILME LÍNGUA NÃO-INGLESA

Vai ganhar: Biutiful

Devia ganhar: não vi nenhum dos nomeados.

 

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

Vai ganhar: Toy Story 3

Devia ganhar: é preciso ter lata!

 

MELHOR DIRECÇÃO ARTÍSTICA

Vai ganhar: O Discurso do Rei

Devia ganhar: A Origem

 

MELHOR FOTOGRAFIA

Vai ganhar: Indomável

Devia ganhar: Indomável do respeitadíssimo Roger Deakins

 

MELHOR MONTAGEM

Vai ganhar: A Rede Social

Devia ganhar: já que A Origem não está nomeado nesta categoria (uma vergonha), torço por A Rede Social ou Cisne Negro.

 

MELHOR BANDA SONORA

Vai ganhar: O Discurso do Rei

Devia ganhar: A Origem

 

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

Vai ganhar: We Belong Together (Toy Story 3)

Devia ganhar: tanto faz, mas mais um prémio para Toy Story 3 era bem pensado.

 

MELHOR GUARDA-ROUPA

Vai ganhar: Alice no País das Maravilhas ou O Discurso do Rei

Devia ganhar: ficará bem entregue a qualquer um dos nomeados.

 

MELHOR CARACTERIZAÇÃO

Vai ganhar: O Lobisomem

Devia ganhar: dos três nomeados, só vi mesmo O Lobisomem.

 

MELHOR MISTURA DE SOM

Vai ganhar: A Origem

Devia ganhar: A Origem

 

MELHOR MONTAGEM DE SOM

Vai ganhar: A Origem

Devia ganhar: A Origem

 

MELHORES EFEITOS VISUAIS

Vai ganhar: A Origem

Devia ganhar: A Origem

 

MELHOR DOCUMENTÁRIO

Vai ganhar: Inside Job - A Verdade da Crise

Devia ganhar: não vi nenhum, mas Inside Job - A Verdade da Crise é o favorito juntamente com Waste Land, mas eu acredito que a actualidade do primeiro vai favorecer as suas probabilidades.

 

MELHOR DOCUMENTÁRIO (curta-metragem)

Não vi nenhum dos nomeados

 

MELHOR CURTA-METRAGEM

Não vi nenhum dos nomeados

 

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

Vai ganhar: Dia & Noite
Devia ganhar: só vi mesmo a inventiva curta que acompanhou Toy Story 3 e já sabem: nunca descartar a Pixar como favorita.


Logo veremos se estive longe ou perto de acertar...

 

publicado às 15:29

127 Horas

por Antero, em 24.02.11

 

127 Hours (2010)

Realização: Danny Boyle

Argumento: Simon Beaufoy

Elenco: James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Treat Williams, John Lawrence

 

Qualidade da banha:


Aron Ralston é um alpinista que, na Primavera de 2003, ficou com o braço direito preso entre duas rochas durante uma caminhada no Blue John Canyon. Por mais de cinco dias (daí as 127 horas do título), Aron desesperou com a sede, a fome, o cansaço e a falta de ajuda (ele não tinha informado ninguém sobre o passeio), lutando pela sobrevivência com todos os meios disponíveis. Esta impressionante história é levada agora às telas pelos oscarizados Danny Boyle e Simon Beaufoy (do sobrevalorizado Slumdog Millionaire) e a árdua tarefa de manter uma longa-metragem focada numa única personagem e situada praticamente num só cenário é cumprida com bons resultados, ainda que com alguns percalços.

 

Incluindo uma introdução que delineia Aron com um sujeito de espírito aventureiro e amante da natureza, 127 Horas consegue a proeza de manter o espectador preso à cadeira com o drama vivido pelo protagonista. Inicialmente, Aron reage com um surpreendente racionabilidade ao acidente e só aos poucos o desespero toma conta dele, o que, obviamente, faz com que o jovem reavalie as atitudes que tomou até àquele ponto (e se...?), passando pela introspecção sobre a sua vida (principalmente quando ele começa a delirar) e não demora muito até que se revolte contra Deus, berrando a plenos pulmões que não merece tal destino.

 

Estes comportamentos raivosos dizem muito do ser humano envolvido em situações limite e o filme consegue levar-nos a identificar com a situação de Aron, uma vez que este é retratado como uma pessoa comum, com família, amigos e preocupações triviais – nunca o filme o tenta pintar como um herói, mas como alguém vulnerável numa posição extrema. Assim, o facto de Aron filmar depoimentos ao longo dos dias (o que realmente aconteceu) é como uma janela aberta para a sua alma e para os relacionamentos que ele mantém com outros indivíduos que aparecem em desnecessários e intrusivos flashbacks durante a projecção. Esta foi uma das formas arranjadas por Boyle para manter o público interessado no filme (e esticar a duração) e o que ele parece não perceber é que 127 Horas torna-se um verdadeiro murro no estômago graças ao clima de urgência da condição de Aron e não ao facto de perdermos tempo com a ex-namorada ou com momentos de infância ao lado do pai. Em contrapartida, as alucinações e a inserção de imagens como bebidas e comida salientam, sem nenhuma subtileza (e ainda bem), o desequilíbrio físico e psicológico do alpinista.

 

No entanto, nenhum filme destes se sustentaria sem uma interpretação que não tivesse a força de carregar a narrativa às costas, e 127 Horas conta com um James Franco que revela uma capacidade espectacular em demonstrar não só a degradação de Aron, mas também a sua imensa força de vontade em (sobre)viver. É quando ele deve tomar uma atitude drástica que o filme alcança o patamar de intensidade e crueza que vinha a ameaçar desde o início; e se a sequência em questão funciona é, em parte, graças a Boyle pela forma como a encena (com uma edição agitada, mas nada "michaelbayana"), mas principalmente devido à actuação visceral de Franco que retrata, sem eufemismos, a hesitação, a coragem e o extremismo a que Aron tem de chegar para lutar pela sua vida.

 

Impactante estudo sobre a persistência do ser humano, 127 Horas pode cometer os seus erros aqui e ali, mas também tem a sua quota de acertos (o plano que revela gradualmente o isolamento de Aron é de tirar o fôlego) e conta também com um James Franco em estado de graça, o que desequilibra a balança claramente a favor de Boyle.

 

publicado às 01:47

The Fighter – Último Round

por Antero, em 22.02.11

 

The Fighter (2010)

Realização: David O. Russell

Argumento: Scott Silver, Paul Tamasy, Eric Johnson

Elenco: Mark Wahlberg, Christian Bale, Melissa Leo, Amy Adams

 

Qualidade da banha:

 

The Fighter – Último Round é um filme duro e realista não sobre o boxe, mas sim sobre alguém que decide sair da sombra dos seus familiares, numa típica narrativa de ascensão - queda – reviravolta, cinematográfica por natureza. Esse alguém é Micky Ward (Whalberg), um pugilista que durante anos participou em combates menores até que decidiu dar uma volta de 180º à sua vida depois de se envolver com uma rapariga da sua cidade. Irmão do decandente Dicky Eklund (Bale), cujo maior no boxe feito foi ganhar um combate à estrela Sugar Ray Leonard, e filho mais novo de uma numerosa família (ele tem sete irmãs!) encabeçada pela enérgica Alice (Leo), manager dos dois, Micky assumia uma postura passiva nos ringues até abater o adversário cansado, algo a que ele dava seguimento na sua vida privada até se fartar dos abusos da família e perfazer o seu próprio caminho.

 

Produzido graças aos esforços do seu protagonista, The Fighter – Último Round oferece um olhar deprimente sobre uma sociedade tomada pelas drogas e a pobreza – e esta imagem é personificada pela figura de Dicky, uma celebridade na localidade de Lowell, que parece não perceber que o seu auge terminou há muito, estando agora entregue ao consumo de estupefacientes e a uma glorificação dos seus próprios (e longínquos) feitos. Interpretado com um magnetismo sensacional por Christian Bale, Dicky é magro ao ponto de gerar preocupação e revela todos os trejeitos associados a um toxicodependente, mas nunca deixa de transparecer uma genuína preocupação com o irmão, embora as suas acções o prejudiquem mais do que o ajudem. Além disso, ele é capaz de aconselhar Micky sobre a melhor maneira de vencer o seu oponente, o que, de certa forma, redime (e explica) o fascínio que ele exerce no protagonista.

 

Micky, por outro lado, mostra-se um verdadeiro saco de pancada psicológico da família, principalmente da sua mãe. Abusando da boa fé do filho, Alice investe a sua dedicação no problemático Dicky e prefere submeter Micky a combates perigosos pelas contrapartidas financeiras que daí podem surgir. Cínica e agressiva, ela encontra uma rival à altura na namorada de Micky, Charlene (Adams), que não tem receio em opor-se à sua influência no caminho do amado – e ver duas fabulosas interpretações femininas como estas é mais uma das virtudes do filme. No epicentro das convulsões familiares está Micky: leal à família e cheio de boas intenções, é com desconforto que ele assiste ao colapso do irmão que ele considera um ídolo, ainda que falho. Mark Whalberg, um actor subvalorizado, surge adequadamente discreto, num perfeito contraste com as personalidades explosivas daqueles que o rodeiam.

 

Dono de uma curta mas rica filmografia, o realizador David O. Russell imprime realismo e discrição à história ao usar a desculpa do documentário que está a ser filmado em Lowell (e que realmente passou na HBO em 1995) e recorrer a uma fotografia pouco estilizada para ditar o tom do seu trabalho ao longo do filme (o que acaba por ser salientado ao usar habitantes reais de Lowell e a notáveis do mundo do boxe). No entanto, os combates vistos ao longo da película são demasiado curtos e pouco inventivos para se destacaram de outros filmes do género – e como The Fighter – Último Round acaba por amarrar a (previsível) trajectória de Micky com o duelo que o tornou famoso, o filme ressente-se deste final quase anti-climático.

 

Não que isto seja um grande problema, já que o filme faz questão de valorizar mais as suas personagens do que os combates: condimentado com cenas sensíveis como a repercussão da exibição do tal documentário sobre Dicky, está mais que visto que as verdadeiras lutas em The Fighter – Último Round são entre Micky e todos os infortúnios que se atropelam no seu caminho.

 

publicado às 23:43

Indomável

por Antero, em 20.02.11

 

True Grit (2010)

Realização: Joel e Ethan Cohen

Argumento: Joel e Ethan Cohen

Elenco: Hailee Steinfeld, Jeff Bridges, Matt Damon, Josh Brolin, Barry Pepper

 

Qualidade da banha:


Em Velha Raposa (1969), John Wayne mandou às urtigas a imagem que tinha cimentado durante décadas (a do cowboy norte-americano, heróico por natureza, destemido e honrado) no papel do Marshal Rooster Cogburn, velho, beberrão e com um código de valores bastante distorcido. Na época, esta inversão do estereótipo associado a Wayne valeu-lhe o Oscar de Melhor Actor e, actualmente, não há uma estrela de Hollywood que tenha uma carreira solidificada para uma irónica interpretação como a de Wayne (Clint Eastwood há muito que desconstruiu o seu ícone). Desta forma, esta nova refilmagem baseada no livro True Grit de Charles Portis não tem a carga satírica que permeava o anterior, preferindo dar um tempo de antena equivalente às demais personagens e, com isto em mente, os Irmãos Coen filmam um belo e espectacular tributo ao western.

 

Responsáveis também pelo argumento, os Coen contam a história de Mattie (Steinfeld), uma jovem de 14 anos de idade que, determinada a vingar a morte do pai, morto pelo imprestável Tom Chaney (Brolin), contrata o caçador de recompensas Rooster Cogburn (Bridges) para encontrar e levar o assassino à justiça – que também está a ser perseguido pelo texano LaBoeuf (Damon). Os três acabam por unir forças e formar uma equipa relutante que terá de invadir os perigosos territórios índios em busca de Chaney (que poderá ter sido capturado por um bando de criminosos).

 

Moralmente ambíguos, as personagens de Indomável oferecem um prato cheio aos Coen para que estes possam dar azo à sua predilecção por sujeitos caricatos e situações de humor negro. Rooster, apesar de ser um agente da Lei, mata e tortura quando acha necessário e não é por acaso que Mattie o escolhe ao saber que ele é "implacável e sem modos". Constantemente ébrio, Rooster fala e move-se maneira trôpega, mas nem por um momento a divertida actuação de Jeff Bridges nos faz esquecer o profissionalismo daquele Marshal que conta com anos e anos de carreira e uma sagacidade ímpar. Por outro lado, a devoção à Lei por parte de LaBoeuf mistura-se com o pedantismo dos seus discursos, o que leva a tiradas irreverentes de Rooster e ao desespero de Mattie.

 

Revelando-se a maior surpresa do filme, a jovem Hailee Steinfeld é a verdadeira protagonista de Indomável: capaz de discutir taco a taco com homens muito mais velhos e experientes que ela, Mattie não é uma moça ternurenta à espera da nossa simpatia. Obrigada a sustentar a família com apenas 14 anos devido à morte do pai e à invalidez da mãe, ela revela uma maturidade e um pragmatismo precoce sem deixar de ser uma criança aos nossos olhos – e, se o seu desejo de vingança move o filme, é a sua carência de uma figura paterna que encerra-o de forma poética e magistral. Num pequeno papel, Josh Brolin surpreende por inverter as nossas expectativas sobre um vilão como Chaney, vaga esta ocupada por Barry Pepper como Lucky Ned, um vil fora-da-lei, mas com um apurado código de honra.

 

Primorosamente fotografado por Roger Deakins, parceiro habitual dos Coen, Indomável conta com o esmero visual da dupla e, como não poderia faltar, momentos de bom humor aqui e ali, como o tratamento reservado aos índios numa cerimónia de enforcamento ou como quando a violência estilizada explode no ecrã. Além disso, os realizadores orquestram sequências tensas como o tiroteio nocturno numa cabana (cujos disparos revelam-se como ruídos secos, num óptimo trabalho da equipa de efeitos sonoros) ou o confronto num rio e até mesmo o rápido duelo final não desaponta na sua eficiência.

 

Repleto de diálogos escritos e falados com imensa elegância, Indomável é um filme insólito na filmografia dos Irmãos Coen – e percebermos que o desafio é superado com distinção é só mais uma prova da competência e versatilidade da dupla.

 

publicado às 20:14

Fringe: a quebra

por Antero, em 19.02.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 


Fringe 3x14: 6B

Sempre achei estranho que, em Fringe, "este" lado nunca tenha sofrido os danos colaterais do rapto de Peter em 1985. No Lado B, o tecido estrutural do universo sofreu vários colapsos que foram resolvidos com uma medida extrema: a quarentena dos espaços afectados com âmbar. Agora, é o Lado A que começa a ver as interferências estre os dois Mundos, numa interessante hipótese de que um estado emocional de profunda dor, perda e reflexão pode levar a um cruzamento das duas dimensões. Cabe a Walter desenvolver o mesmo recurso inventado pela sua contraparte, mesmo sabendo dos riscos que afligem o "outro" lado (histeria em massa e, consequentemente, paranóia e confinamento), mas tal não se revela necessário: Peter e Olivia resolvem a situação quando eu já estranhava não haver nenhuma acção equivalente por parte da equipa Fringe do "outro" lado, algo que os minutos finais vieram esclarecer.

 

No entanto, enquanto o universo começa a quebrar e a perder a sua unidade, a relação entre Olivia e Peter solidifica-se de vez (isto até descobrirem que Altivia está grávida e que Peter terá de tomar uma decisão). Reconhecendo que tem problemas de confiança – facto que já vem desde a traição de John Scott – ela decide passar por cima das dúvidas que os distanciavam e opta por dar uma oportunidade aos sentimentos (confusos, diga-se) dele. Gostei de ver Walter a forçar uma conversa entre os dois, declarando que a felicidade de Peter também é a dele. Mal sabe ele que quanto mais Peter e Olivia se envolverem, pior será para eles no futuro quando o conflito atingir o seu auge. O que poderá render óptimos momentos na série, claro.

 

publicado às 21:21

Os Miúdos Estão Bem

por Antero, em 15.02.11

 

The Kids Are All Right (2010)

Realização: Lisa Cholodenko

Argumento: Lisa Cholodenko, Stuart Blumberg

Elenco: Annette Bening, Julianne Moore, Mark Ruffalo, Mia Wasikowska, Josh Hutcherson

 

Qualidade da banha:

 

Há coisas que não se entendem: certos filmes chegam até nós com completamente sovados pela crítica e não se percebe o porquê de tanto vexame; outros aparecem embalados por elogios e aplausos sem que vislumbremos motivos para tal. Os Míudos Estão Bem pertence a esta última categoria.

 

Nic e Jules são um casal lésbico com dois filhos adolescentes, Joni (de Joni Mitchell) e Laser (do raio). À medida que Joni se prepara para partir para a Universidade, Laser, com 15 anos, pressiona-a para que lhe faça um grande favor: que o ajude a encontrar o pai biológico de ambos – foram concebidos através de inseminação artificial, embora ele seja filho de Jules e ela de Nic. Embora algo contrariada, Joni honra o pedido do irmão e consegue entrar em contacto com Paul, um bem-disposto empresário da restauração. Este reencontro despoletará uma verdadeira crise no outrora saudável ambiente familiar.

 

Destaque no Festival de Sundance em 2010, Os Miúdos Estão Bem é cinema independente dos pés à cabeça: apesar de abordar uma temática que não traz nada de novo (o conceito de família e a dinâmica dos seus integrantes), a realizadora Lisa Cholodenko pontua as suas personagens com características peculiares. No entanto, estes detalhes têm como único propósito tornar o filme mais sofisticado na sua proposta, já que falham em tornar aqueles seres mais interessantes – e o facto de percebermos esta obviedade do argumento revela não só falta de sensibilidade na condução da narrativa, mas também um certo preconceito. Paul, por exemplo, é convenientemente dono de uma plantação de alimentos orgânicos e namora com uma afro-americana.

 

Sem ter a algo a que se agarrar, Cholodenko encena um conflito dramático de maneira artificial com o envolvimento gratuito entre Jules e Paul, já que o aparecimento do pai biológico não parece afectar a relação que Joni e Laser têm com as mães. Desta forma, cabe ao excelente elenco carregar o filme às costas e é por eles que Os Miúdos Estão Bem não se torna um desastre total: Annette Bening consegue salvar a caracterização falha de Nic como mulher ansiosa sem razão aparente, recorrendo a uma postura de "lésbica masculinizada" sem resvalar para a caricatura, assim como Julianne Moore mostra-se insegura e carente (também sem motivo aparente) como a típica figura feminina obrigada a abandonar a carreira em prol dos filhos, enquanto Mark Rufallo confere simpatia e segurança a Paul. Que estas personagens soem autênticas de algum modo é por que têm um talentoso elenco a dar-lhes corpo e alma.

 

Longe de também poder ser classificado como comédia, Os Miúdos Estão Bem ainda perde um tempo considerável com os amigos de Joni e Laser sem que estes exerçam função alguma na história. Para quê mostrar Laser a consumir drogas com o seu amigo problemático se isto não será abordado adiante? Para mostrar como ele é "atípico"? É a forma como estes assuntos são atirados e depois largados na narrativa que enerva no filme, como se quisesse chamar a atenção à força toda – e, a bem da verdade, há apenas um momento genuinamente sensível e hilariante na mesma medida em toda a projecção: quando Nic e Jules explicam a Laser o porquê de preferirem filmes pornográficos com homossexuais do sexo masculino.

 

Surpreendente vencedor do Globo de Ouro de Melhor Comédia ou Musical (o que diz muito do prémio e não do filme), Os Miúdos Estão Bem ainda falha ao concluir de maneira pouco satisfatória os "conflitos" criados anteriormente. Numa obra que tenta a todo o custo mostrar-se pouco convencional e inteligente, nada pior do que acabar com um lugar-comum covarde e deselegante.

 

publicado às 23:49

Fringe: o herdeiro

por Antero, em 14.02.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 


Fringe 3x13: Immortality

Confirma-se aquilo que meio mundo suspeitava: Altivia está grávida de Peter. Neste regresso ao sempre instigante Lado B, Fringe oferece-nos um episódio cujo tema central não é propriamente a imortalidade do tipo viver para sempre, mas sim o legado que deixamos para gerações futuras e que gravará o nosso nome na História. Tal como Armand Silva queria curar milhões através da morte de seres humanos usados como cobaias, Walternate deseja descobrir os efeitos de Cortexiphan, mas não a qualquer preço (usar crianças nos experimentos), revelando uma postura profissional que, em tempos, faltou a William Bell e a Walter. Assim, o episódio discute temas como os limites da ciência, até onde estamos dispostos a ir em nome do "progresso" e, aliado aos sacrifícios que Altivia teve de fazer pela sua missão, o preço que pagamos por certas acções que consideramos benignas. Em suma: uma questão de Ética.

 

Seria muito fácil para nós (e para Fringe) encarar os indivíduos do "outro lado" como os vilões, aqueles que querem destruir o "nosso" mundo e que deverão perecer no futuro. Só que, para crédito dos argumentistas, eles possuem motivações próprias e válidas que nos levam a identificar com eles e a não olhá-los como "falsos". Desta forma, ver a vivaz Altivia assustada com a sua gravidez e com o que isso implicará na guerra dos Mundos ou Walternate disposto a usar o seu neto como arma após ter recusado o uso de crianças nos seus experimentos serve para tornar as personagens (e, consequentemente, a série) mais complexas e tridimensionais. Aparte os mundos paralelos, os Observadores, os casos bizarros e toda a (óptima) mitologia que rodeia Fringe, há algo mais a ser celebrado: as suas personagens.

 

Que isto seja resultado de um produto de ficção científica é algo que os detractores do género terão de comer e calar.

 

publicado às 22:55

O Discurso do Rei

por Antero, em 10.02.11

 

The King's Speech (2010)

Realização: Tom Hooper

Argumento: David Seidler

Elenco: Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham Carter, Guy Pearce, Michael Gambon, Timothy Spall

 

Qualidade da banha:

 

O realizador britânico Tom Hooper parece ter uma queda para dramas históricos: depois de mergulhar no reinado de Isabel I em Elizabeth I, ele comandou a campanha de Lord Longford no Partido Trabalhista em Longford, passando depois pela mini-série sobre John Adams (todos eles para a televisão) e terminando com a ascensão do treinador Brian Clough no óptimo e ignorado Maldito United. Assim, não é uma surpresa que ele tenha produzido um dos filmes mais badalados da actual temporada de prémios que, para não variar, retrata um momento importante da história da monarquia britânica: a renúncia ao trono de Eduardo VIII para se casar com a norte-americana Wallis Warfield (que, duplamente divorciada e o facto de ser uma plebeia, poderia despoletar uma crise diplomática nas rígidas e milenares convenções da Família Real) e a subida ao poder do seu irmão mais novo, Jorge VI, cuja gaguez revela-se um entrave às suas ambições de ser um monarca digno para o Império e para uma Europa ameaçada pela sombra de Hitler.

 

Condensando cerca de 15 anos em questão de meses, O Discurso do Rei inicia com a apresentação pública do Príncipe Alberto (Firth) no Estádio de Wembley quando este deve fazer um discurso que se tornará embaraçoso e patético devido ao seu defeito na fala. A sua esposa, a futura Rainha-Mãe (Carter), não mede esforços para ajudar o marido e, após várias experiências fracassadas, ela decide consultar Lionel Logue (Rush), um peculiar terapeuta da fala australiano, que recorre a métodos pouco ortodoxos, mas eficazes. Aos poucos, Bertie (alcunha do futuro rei) progride, mas não sem vários atritos com Logue que levarão a um estreitamento da amizade entre ambos - e todo este processo será posto à prova com a renúncia de Eduardo VIII e o início da Segunda Guerra Mundial.

 

Inseguro e ridicularizado pelo pai, Bertie está longe da figura que o povo exige de um monarca, o que realmente nunca poderia ser um problema não fosse por uma inusitada conjugação de factores externos – e Colin Firth oferece uma actuação poderosa como um indivíduo que enfrenta sérias dificuldades em expor-se publicamente, seja pelo problema que o aflige ou pelas rigorosas normas de conduta a que está sujeito (que vêm à tona numa cena em que ele desabafa sobre a sua infância, na qual uma educação severa ocultava qualquer traço de inocência ou criatividade). Obviamente desconfortável com a postura informal de Logue, Bertie parece viver num casulo onde cada comportamento é pensado ao pormenor e não admira que ele encare as sessões de terapia como uma humilhação (ainda que em privado), já que é obrigado a manifestar e a tentar superar o seu problema ao mesmo tempo que tem de aturar as tiradas sarcásticas do seu instrutor.

 

Não que Logue seja um mau profissional: de início, o facto de tratar um Príncipe pela sua alcunha poderia mostrar uma faceta arrogante e, quiçá, anti-monárquica (afinal, ele é oriundo da Austrália, colónia do Império Britânico), mas logo se percebe que o ambiente mais descontraído que Logue imprime nas sessões tem como objectivo manter o governante mais à vontade e vincar a sua pouca disposição em rebaixar-se perante a enorme responsabilidade de tratar alguém superior a ele (algo que poderá ter acontecido noutras ocasiões e que o filme deixa implícito). Desta forma, a actuação divertida de Geoffrey Rush oferece um excelente contraste com a inflexibilidade e altivez de Bertie; uma batalha de temperamentos que atinge o auge na sequência do ensaio da cerimónia de coroação, quando uma revelação intíma de Bertie é rebatida com uma acção ousada (e hilariante) do terapeuta.

 

Num filme recheado de primorosas interpretações, destaque para Helena Bonham Carter como a esposa genuinamente preocupada com o problema do marido e compreensiva para com as suas inquietações e o estado da Nação, ao passo que Guy Pearce demonstra, no pouco tempo a que tem direito, o carácter boémio e descomprometido de Eduardo VIII – enquanto Timothy Spall é o único a desapontar com uma caricatura de Wiston Churchill, deixando que a memória da figura já de si estranha do mítico Primeiro-ministro faça todo o trabalho de composição. Por outro lado, Tom Hooper oferece um trabalho sem nenhum rasgo de originalidade, apesar da condução eficiente da narrativa até ao discurso final e de algumas opções acertadas (ainda que óbvias) como recorrer a planos contra-picados para retratar a inadequação social de Bertie ou demonstrar paralelismos entre os aposentos grandiosos da Família Real e o calor humano que exala do escritório/casa de Logue, o que diz muito sobre o futuro Rei: enquanto os primeiros o oprimem e intimam, os segundos fornecem-lhe a paz e o conforto que ele necessita.

 

Alicerçado num elenco em grande forma e em perfeita sintonia, O Discurso do Rei resume-se às suas interpretações, já que a sua história previsível e pouca ambiciosa poderia ter sido adaptada para a Televisão sem qualquer problema – e saber que o filme resiste a este percalço e que isto pouco ou nada reduz a sua força, é algo que deve ser fartamente elogiado e não desprezado.

 

publicado às 20:22

Fringe: a escolha

por Antero, em 06.02.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 


Fringe 3x12: Concentrate and Ask Again

Depois de uma sensacional sequência de óptimos episódios, confesso-me desiludido com este capítulo. Não só pelo caso da semana (que achei mal aproveitado), mas também pelas questões que levanta para o futuro da série. Atribuir a eficácia da Máquina do Apocalipse à escolha sentimental de Peter não deixa de ser algo piegas e ridículo. Claro que esta é uma questão que poderá ter muito por onde render (eu sou daqueles que suspeita que Altivia está grávida), mas é decepcionante pensar que a grande premissa da segunda metade da temporada será resolvida com uma opção amorosa.

 

Por outro lado, o facto de haver crianças afastadas dos experimentos com Cortexiphan é intrigrante por, mais uma vez, insistir nos erros que Walter cometeu ao longo da sua carreira e o descontrolo que tomou conta de certas situações, que nem mesmo mentes brilhantes como Bishop ou Bell souberam antecipar. Já o autor de As Primeiras Pessoas ser Sam Weiss é algo já previsto há muito, uma vez que os produtores de Fringe foram lançando pequenas pistas aqui e ali (como o anagrama do final da segunda temporada, "Don't Trust Sam Weiss") que, implicitamente, transmitiam que a participação do instrutor de bowling nos acontecimentos seria maior e fundamental. Longe de soarem anti-climáticas, estas "surpresas" só demonstram a admirável coesão narrativa da série, quase como uma corrente metálica onde cada elo está ligado ao outro e assim sucessivamente, formando uma cadeia de eventos cuja elegante construção pudemos acompanhar a par e passo.

 

publicado às 18:55

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Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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