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Mais um final de ano, mais uma vez a já tradicional lista de melhores e os piores filmes de 2010, segundo a minha opinião. Um ano recheado de bastantes surpresas e algumas desilusões. Comecemos então pela nata do ano que agora termina:
1
Toy Story 3
Toy Story 3
A Pixar tem a mania de superar-se e, após tantos soberbos filmes, achava eu que, no máximo, ela poderia equivaler-se. Grande erro! Toy Story 3 foi ao infinito e mais além, tornando-se na melhor obra da casa. Emocionante, divertido, tenso, cheio de acção e aventura. Todos os filmes deveriam ser assim. A Pixar bem pode fechar portas depois desta obra-prima (mais uma!). Mas o mais certo é que ela nos surpreenda novamente. E isso é maravilhoso.
2
A Origem
Inception
Engenhoso e inteligente como poucas ou quase nenhumas grandes produções conseguem ser, o mais recente filme do cada vez mais impressionante Christopher Nolan é a prova que, num tempo onde se joga pelo seguro e já tudo se inventou, é possível ser criativo sem desrespeitar o espectador e render milhões. Brilhante.
3
A Rede Social
The Social Network
Os primorosos diálogos funcionam como sequências de acção trepidantes e as interpretações são de topo, mas o que mais impressiona é o fenomenal estudo de personagem sobre Mark Zuckerberg. O Facebook é uma mera desculpa num filme intenso que marca o regresso à boa forma de David Fincher.
Crítica
4
José e Pilar
José e Pilar
Comovente documentário que permite ao espectador mergulhar na relação íntima entre José Saramago e a sua esposa, Pilar del Rio, ao mesmo tempo que acompanha o processo criativo de um génio com as palavras. Um olhar muito humano (e, ocasionalmente, divertido) sobre a figura de Saramago e a afeição entre a sua companheira de mais de vinte anos.
5
Mary e Max
Mary and Max
Animação em stop-motion que não precisa de grandes preciosismos técnicos para mostrar o seu valor. Com uma palete cinzenta e fria e conseguindo a proeza de resgatar humor de situações quase macabras, o filme é uma comovente dissertação sobre a vida, a amizade e as relações humanas.
6
Nas Nuvens
Up In the Air
Intimista e sensível, a melhor obra do filho de Ivan Reitman traça um protagonista falho e vulnerável debaixo da sua carcaça de profissionalismo (excelente George Clooney), ao mesmo tempo que desenvolve situações com potencial ora dramático, ora alegre, com que qualquer um se identifica.
7
Shutter Island
Shutter Island
A história pode não ser a última bolacha do pacote e o final é mastigado demais, mas a garra com que o mestre Scorsese filma este suspense e constrói a tragédia do seu protagonista, tornam Shutter Island uma das películas do ano. Seja no meio mais comercial ou à margem do sistema, Scorsese ainda consegue brilhar.
8
Um Homem Singular
A Single Man
Belissimamente filmado pelo antigo estilista Tom Ford (os planos parecem fotografias em movimento), o filme acompanha o processo de luto de um professor homossexual a caminho do suicídio e que oferece a Colin Firth a interpretação da sua vida. Simplesmente esmagador.
9
Scott Pilgrim Contra o Mundo
Scott Pilgrim vs. The World
Imaginativo como poucos filmes conseguem ser, o novo filme de Edgar Wright é o único exemplar cinematográfico a captar a estética dos jogos de vídeo, apesar de basear-se numa banda desenhada. Com uma montagem sensacional que cria gags sem deixar o espectador respirar, Scott Pilgrim Contra o Mundo faz o que nenhuma adaptação directa de um jogo de vídeo conseguiu e, infelizmente, foi desprezado pelo público.
10
Kick-Ass - O Novo Super-Herói
Kick-Ass
Outra adaptação de uma banda desenhada, Kick-Ass é uma sátira não só ao meio no qual se inspira, mas também às adaptações que fizeram a fortuna de Hollywood nos últimos anos. As cenas de acção são intensas e o gozo é total, mas o grande trunfo é a explosiva Hit Girl, a heroína de dez anos que dilacera os mauzões ao mesmo tempo com os insulta com a sua boca suja.
Outros destaques de 2010, por ordem alfabética:
Agentes de Reserva
Cela 211
A Cidade
Como Treinares o Teu Dragão
É Muito Rock, Meu!
Entre Irmãos
O Escritor Fantasma
A Estrada
Eu Amo-te Phillip Morris
Green Zone: Combate pela Verdade
Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 1
Invictus
O Laço Branco
Precious
Uma Outra Educação
Destaque ainda para dois filmes que ainda não estrearam em Portugal, mas que merecem atenção: Easy A e Splice – Mutante, bem como para a temporada final deLOSTque, apesar de ser um produto televisivo, atingiu um patamar de qualidade que a esmagadora maioria das produções cinematográficas não consegue alcançar.
Quanto aos piores filmes de 2010, a selecção foi penosa: incluir tanta e tão diferentes bostas lançadas este ano não é tarefa fácil. Este ano foi-me extremamente difícil escolher o fundo do poço, talvez por que me vacinei e decidi deixar passar em branco coisas como Ponha Aqui o Seu Dentinho ou Skyline – O Alvo Somos Nós, o que poderia facilitar a selecção. Mesmo assim, o ano ofereceu-nos bons exemplares de cinema medíocre e aqui estão eles! (eu sei que a numeração está errada e que -1 é um valor mais alto que -10, mas não deixem que essa pintelhice desvirtue o tema deste post, está bem?)
-10
Gru – O Maldisposto
Despicable Me
Awwww, o vilão mau como as cobras afinal tem bom coração! Awwww, as crianças são irritantes, mas são tão fofas! Awwww, os minions não têm piada nenhuma, mas ficam tão bem nas prateleiras das lojas de brinquedos! Gru – O Maldisposto é super original, hiper engraçado e mega, mega, mega, mas mesmo mega… piegas!
-9
A Saga Twilight: Eclipse
The Twilight Saga: Eclipse
A história das criaturas místicas mais enfadonhas de todo o sempre mais a insossa e insuportável humana continua. E continua a história que, três capítulos volvidos, não sai da cepa torta. O nome correcto seria A Saga Twilight: A Elipse.
-8
Pesadelo em Elm Street
A Nightmare on Elm Street
Se Freddy Krueger fosse real, talvez pudesse usar este aborrecido e nada criativo filme de terror para adormecer as suas vítimas e, de seguida, mutilá-las sem dó.
-7
Dia dos Namorados
Valentine’s Day
Imaginem um O Amor Acontece sem o charme da escrita de Richard Curtis e o humor tipicamente britânico. Adicionem açúcar em doses cavalares, narrativas paralelas sem interesse e actores reputados com pouco tempo de antena (basicamente, eles vão dar um “olá!” e fogem). Resultado: um contentor de lamechice e uma noite mal passada por indigestão.
-6
Soldados da Fortuna
The A-Team
A série já pouco mais serve como exercício de nostalgia, mas o filme providenciou-lhe um enterro digno. Histérico na acção, poupado no desenvolvimento narrativo e com uma história que mais parece uma manta de retalhos, Soldados da Fortuna trata o espectador como um débil mental, onde inacreditáveis sequências paralelas aparecem para explicar tudo o que acontece. Nem um extra da edição em DVD faria melhor.
-5
Kiss & Kill – Beijos e Balas
Killers
Antes tínhamos Uwe Boll para nos ensinar o que era mau cinema. Agora temos as vergonhosas comédias românticas semestrais com Katherine Heigl a dar-nos aulas.
-4
Ex-Mulher Procura-se
The Bounty Hunter
Jennifer Aniston, querida, tu tens talento e continuas uma graça, mas as tuas comédias estão cada vez piores e este planeta só aguenta com uma Katherine Heigl. Gerard Butler, filho, tu não tens grande talento, mas tens presença e (algum) carisma. Não tornem a fazer outra destas, está bem?
-3
Visto do Céu
The Lovely Bones
Depois deste filme, é bom que Peter Jackson se refugie novamente na Terra Média. Esquizofrénico, inchado de efeitos digitais sem razão aparente e patético na resolução feliz que tenta impor a uma história que pedia um drama sombrio, é um valente tiro no pé do realizador que já revelava uma perigosa insolência em King Kong.
-2
O Sexo e a Cidade 2
Sex and the City 2
Quem diria que, após seis temporadas e um filme, acompanhar novamente Carrie e as amigas seria uma tortura indizível? Ainda por cima a pregar compras, roupas, botox, luxos e futilidades como modo de vida no Médio Oriente. Não admira que os Estados Unidos sejam tão mal vistos por aquelas bandas.
-1
Miúdos e Graúdos
Grown Ups
Produzido, escrito e protagonizado por Adam Sandler. Não chega? Tem ainda Rob Schneider, David Spade e Chris Rock. Também não? Malta como Salma Hayek, Steve Buscemi e Kevin James a passar vexame. Querem mais? Realizado por Dennis Dugan, o mesmo deNão Te Metas Com o Zohan… ah, estava a ver que não.
Outros destaques (pela negativa) de 2010, por ordem alfabética:
[REC] 2
Cartas Para Julieta
Comer Orar Amar
O Demónio
É a Vida!
Hachiko – Amigo Para Sempre
McGruber – Licença Para Estragar
Não Chamem a Polícia!
Nove
Pandorum – Universo Paralelo
Um Cidadão Exemplar
ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Fringe - temporadas 1 e 2
Várias são as comparações entre Fringe, mais uma criação do prolífero J. J. Abrams ao lado da dupla Roberto Orci e Alex Kurtzman (capazes domelhore dopior) e o fenómeno dos anos noventa, Ficheiros Secretos. De certa forma, a primeira temporada vive muito à base dos louros da finada e celebrada série de Chris Carter: departamento mais ou menos secreto do FBI que trata de casos do foro paranormal, uma conspiração que serve de pano de fundo para o desenrolar da série, protagonista feminina e de traços fortes e profissionais, episódios isolados que pegam na velha fórmula do "monstro da semana". O primeiro ano de Fringe segue assim irregular ao tentar libertar-se das amarras da comparação com outros produtos e, aos poucos, a série começa a caminhar pelo próprio pé.
Os méritos de Fringe são muitos. A ficção científica é tratada com imenso respeito, incluindo histórias intrigantes, eficazes do ponto de vista dramático e com "explicações" (assim mesmo, entre aspas) para tornar tudo, senão mais plausível, menos absurdo. Sem depender de mistérios que se arrastam por episódios a fio (algo que, bem trabalhado, consegue bons resultados, o que é raro), a série vai dando respostas que encerram certas questões, mas que acabam por abrir outras possibilidades. Assim, o facto de Walter ter raptado o filho do universo paralelo levou a uma escalada de eventos que fecha a segunda temporada de maneira coesa, embora pouco surpreendente. Sim, fiquei surpreso por saber que Peter não era desta realidade, porém logo percebi que, no final do segundo ano, era Walternate quem perseguia Peter, que a "nossa" Olivia havia sido aprisionada no outro lado ou que William Bell tinha permanecido "desaparecido" para remediar os estragos das acções impensadas de Walter no passado.
Com finais de temporada de grande nível (principalmente na segunda, onde a construção narrativa é primorosa), Fringe ainda conta com um elenco competente, onde Joshua Jackson deixa para trás o estigma da xaropada Dawson's Creek e a lindíssima Anna Torv abraça uma personagem feminina forte e determinada que, aos poucos, torna-se mais sensível e menos distante para com o restante da equipa (réplicas da traição do seu ex-parceiro de armas e de cama, John Scott). No entanto, quem se destaca mesmo é John Noble como o alucinado e inteligentíssimo Walter Bishop que, marcado por traumas passados, revela uma postura infantil e dependente de outros, naquela que é a personagem mais fascinante e complexa da série.
Uma pena, portanto, que a Fox tenha sobrestimado o potencial da série e a tenha metido como atracção nas concorridas noites de Quinta e, agora, Fringe corre sério risco de cancelamento com a já anunciada mudança para o "horário da morte", as malditas Sextas à noite. É bem provável que já só tenhamos mais meio ano na companhia de Olivia, Peter, Walter, Broyles e respectivas contrapartes.
[Actualização 14/12/2010]
Comecei a ver a terceira temporada e confesso-me rendido a Fringe. Incrível como a série consegue desenvolver dois núcleos distintos (os episódios alternam entre "este" lado e o "outro") com o mesmo nível de interesse, sem que nenhum anule o outro, o que dá um prato cheio para o elenco esbanjar talento ao compor as mesmas personagens, mas com perfis diferentes. A série, aliás, não se furta de explorar todas as possibilidades oferecidas pela guerra de mundos paralelos (guerra esta com motivações bem estabelecidas, já que não dá para ignorar o estrago feito pela passagem de Walter na realidade alternativa) e isto atinge o auge no episódio quatro, Do Shapeshifters Dream of Electric Sheep?, que deixaria o mestre Isaac Asimov inchado de orgulho. Fringe não acalma na totalidade o meu coração saudoso por LOST, mas é um oásis na actual e decepcionante temporada de séries.