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A melhor obra da Pixar

por Antero, em 28.11.10

Quem me acompanha sabe que eu tenho uma adoração imensa pelos filmes da Pixar, cujos lançamentos já se tornaram tradição anual de idas ao cinema (de todos, só o primeiro Toy Story é que não vi no grande ecrã). Além disso, a Pixar participa em acções de solidariedade e, como só lhe fica bem, não faz bandeira disso para se auto-promover, já que muitas delas são divulgadas muito depois dos lançamentos dos filmes*.

 

Agora, a Pixar une-se ao movimentoIt Gets Bettere divulga um vídeo com uma mensagem de apoio aos homossexuais, numa altura em que o suicídio de jovens gays vitimas de bullying atinge números alarmantes nos Estados Unidos. É preciso ser muito frio, preconceituoso e tacanho para não se comover com isto.

 

 

* Podem argumentar que a Pixar está em campanha para queToy Story 3leve para casa o Oscar de Melhor Filme e isto até pode ser feito nessa onda, mas convenhamos: a conservadora Academia preocupada com vídeos direccionados a homossexuais? Aliás, só ficaria bem ao Oscar ter Toy Story 3 como um dos vencedores do prémio máximo e não o contrário.

 

publicado às 01:14

Pesadelo no mundo da magia

por Antero, em 20.11.10

 

A saga Harry Potter é um pequeno milagre nas grandes produções de Hollywood e não é preciso gostar da mesma para reconhecer méritos como a consistência mantida ao longo de sete longas-metragens, seja no núcleo de actores ou na condução da narrativa. Num meio em que a qualidade do produto é muitas vezes sabotada em prol do lucro fácil, é um regalo ver como a saga trata com imenso respeito os livros de J. K. Rowling bem como os espectadores que investiram tempo e dinheiro a acompanhá-la. Obviamente há obras melhores que outras, mas não há um exemplar realmente mau e a coesão desta extensa jornada é um dos pontos fortes das adaptações cinematográficas que, não por acaso, começaram de forma infantil (e isto não é um defeito) e, aos poucos, foram evoluindo para terrenos mais ambiciosos e sombrios. Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 1 é o culminar desta evolução: nunca os nossos heróis estiveram tão perto do perigo e em constante conflito interno, nem o Mal esteve tão próximo de atingir os seus intentos.

 

Após a morte de Dumbledore emO Príncipe Misterioso, Lorde Voldemort e o seu exército obtém o controlo de Hogwarts e do Ministério da Magia. Não é só o mundo mágico que está ameaçado e os Devoradores da Morte patrulham o mundo dos muggles em busca de Harry. Este, Ron e Hermione decidem terminar o trabalho de Dumbledore e encontrar os restantes horcruxes (objectos nos quais a essência de Voldemort ficou aprisionada) para derrotar o senhor das trevas. Assim, partem numa missão arriscada e desgastante que os levará ao limite das suas forças.

 

Dividido em duas partes por razões claramente comerciais, esta Parte 1 acaba por beneficiar com a divisão, já que dá a oportunidade de desenvolver certas situações e tornar a narrativa menos episódica (algo que afligiu a grande maioria dos filmes anteriores que sacrificavam o desenvolvimento a favor da narrativa). Desta forma, cabe ao trio de protagonistas carregar com o filme às costas e a tarefa revela-se uma tremenda vitória: todos eles se vêm afectados com os acontecimentos anteriores e aquele mundo mágico há muito que deixou de ser uma fonte de alegria e brincadeiras. Neste aspecto, Daniel Radcliffe destaca-se como nunca no papel de um Harry que acusa o peso da responsabilidade de ser o Escolhido e o quanto isso custou àqueles que ele amava (Sirious, Dumbledore) e as consequências que a sua missão tem naqueles que o rodeiam, ao passo que Rupert Grint abandona o cargo de alívio cómico renegado a Ron e adopta uma postura mais explosiva, digna de alguém que se cansa das tragédias que passaram a pontuar a sua vida e os seus.

 

No entanto, é Emma Watson que demonstra um colossal avanço dos filmes anteriores, recheando a sua Hermione de detalhes que a tornam ainda mais interessante. Longe da marrona de outrora, Hermione tenta sempre manter o controlo em ocasiões desesperadoras, mas vai esmorecendo aos poucos com o passar do tempo e a falta de progresso da missão (a sua entrega ao choro após um teletransporte é comovente). Neste particular, Os Talismãs da Morte: Parte 1 é eficaz ao retratar o isolamento e o cansaço em planos amplos que descortinam a tenda do trio como um ponto minúsculo no mapa e muitos serão aqueles que reclamarão da falta de acção destes momentos, sem perceberem que poucas vezes em toda a saga houve um desenvolvimento tão denso das personagens, como comprova a sensível cena da dança ao som de Nick Cave que serve como escape para todas as fatalidades que se abateram sobre o grupo.

 

Correctamente mergulhado numa paleta de cores escuras, frias e sem vida (obra do português Eduardo Serra), Os Talismãs da Morte: Parte 1 mais uma vez aproveita o potencial da sua história para fazer alegorias políticas ao trazer o Ministério da Magia tomado por um governo ditatorial que, como sempre acontece, usa os media como meio de propaganda e alienação de massas enquanto reprime a mínima oposição. Isto não é de admirar num realizador como David Yates: habituado a obras de cariz político, ele conduz a narrativa com a fluidez necessária, alternando cenas mais calmas com sequências mais tensas onde o perigo é cada vez mais palpável, das quais se destaca aquela passada no Ministério da Magia que é absolutamente sensacional. Ainda assim, ele não consegue evitar que a história se torne confusa para os pouco familiarizados com a saga, mesmo aqueles que só tenham acompanhado os filmes (por exemplo, a aparição de Dobby pode soar gratuita para alguns, embora isto não aconteça nos livros).

 

Irrepreensível nos seus aspectos técnicos, desde o design de produção (o tribunal com uma arquitectura opressora é um achado) aos efeitos especiais que, de tão bons, quase passam despercebidos, Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 1 tem o seu calcanhar de Aquiles no desfecho que, ainda que conte com um bom cliffhanger, soa abrupto e anti-climático, uma vez que todas as decisões ficam adiadas para o último capítulo, a ser lançado no Verão de 2011. Fica assim impedido aquele que poderia ser o melhor filme da saga, mas que poderá proporcionar uma óptima sessão dupla no próximo ano e um maravilhoso encerramento para Harry Potter nos cinemas.

 

Qualidade da banha: 16/20

 

publicado às 03:09

A verdade social

por Antero, em 05.11.10

 

Quando A Rede Social foi anunciado há cerca de um ano, poucos devem ter sido aqueles que depositaram grandes expectativas no filme que retrataria a gestação do Facebook, uma das redes sociais mais utilizadas do Mundo. Nas mãos de Aaron Sorkin, renomado argumentista na Televisão, a pouco promissora história torna-se num conto sobre moralidade, ética, ambição e poder. O facto de ser sobre o Facebook é o que faz a acção seguir adiante, mas é um mero detalhe e poderia ser substituído perfeitamente por outro fenómeno da Internet como o Google, o YouTube ou o Twitter. O que interessa aqui são os efeitos dos actos na interacção entre Mark Zuckerberg e o seu parceiro Eduardo Saverin tanto no fenómeno que se tornou o referido website, bem como nas acções legais que o sucederam.

 

Baseado no livro The Accidental Billionaires, A Rede Social aproveita factos dispersos para ficcionar sobre eles, num esquema semelhante ao adoptado por Peter Morgan em A Rainha. Muito do que é descrito no ecrã não é verdade (aposto que as festas académicas estejam longe de ser aquilo que Hollywood nos costuma mostrar) ou, pelo menos, não aconteceu daquela maneira. No entanto, esta dramatização dos eventos não deprecia o filme, já que tudo ali soa verosímil e o belíssimo argumento de Sorkin permite-nos acompanhar tudo com a maior das clarezas: há códigos para aqui, gírias tecnológicas para ali, mas nada que permita que o espectador comum se perca entre as cenas de tribunal e os brainstormings de Mark Zuckerberg, o criador do Facebook.

 

Rejeitado pela namorada, Mark decide criar uma rede para o circuito de Harvard intitulada “FaceMash” que, em poucas horas, se torna um sucesso, mas sem que ele deixe de sofrer um castigo da Direcção. É aí que os gémeos Winklevoss o contratam para criar um site chamado Harvard Connection. No entanto, Mark une-se ao seu melhor amigo, Eduardo Saverin, e avançam com a criação de uma rede social, o “thefacebook”. Em meio a festas e estudos, a rede torna-se num fenómeno cada vez mais global, o que acarretará consequências para a vida de ambos e, em poucos meses, são accionados mecanismos legais que põem em causa a fortuna recentemente conseguida por Zuckerberg.

 

Anti-social ao extremo, Zuckerberg é o grande destaque do filme. Interpretado brilhantemente por Jesse Eisenberg, Mark é um tipo que revela um grande intelecto debaixo de um aspecto jovial que, como bem salienta o futuro sócio Sean Parker, ninguém leva a sério no mundo dos negócios. Ingénuo ao ponto de pensar que manter uma conversa com a namorada com base em deduções lógicas não deveria ser interpretado como um sinal de arrogância, Mark é um ser imensamente reprimido: ao ver a ex-namorada rejeitá-lo novamente e pouco interessada no seu projecto, ele decide avançar com a expansão do mesmo; ao saber que o seu melhor amigo foi aceite numa república universitária, a sua primeira reacção é lançar um comentário depreciativo; ao ser confrontado com factos que põem em causa a sua lealdade, a sua resposta é focar-se no trabalho. Desta forma, Mark surge não como um vilão, alguém detestável, mas sim como um indivíduo com que facilmente nos identificamos. No fundo, ele busca a aceitação social, ser acolhido pelos seus pares, mesmo que esse objectivo seja virtual, pouco palpável.

 

Contudo, o inteligente roteiro de Sorkin (aliado à composição de Eisenberg) delineia traços da personalidade de Zuckerberg que o tornam ainda mais fascinante. Seria ele assim tão ingénuo e influenciável? Afinal, ele não andou semanas a evitar os gémeos e o projecto de Harvard para se dedicar exclusivamente ao Facebook? Aquando a digressão para angariar investidores, Mark sabota todas as entrevistas com o seu jeito desleixado, só ficando entusiasmado com a reunião com Parker, o criador do Napster. Seria isto um acaso ou ele realmente pretendia juntar-se a Parker, já que ambos partilham traços em comum (inteligentes, alcançaram a fama jovens e são uns párias da sociedade)? No fundo, ainda que não alinhe no estilo de vida de Parker, Mark inveja o seu estatuto e acaba por sentir-se atraído pela sua trajectória rumo ao sucesso e, neste aspecto, há que realçar a prestação enérgica de Justin Timberlake como alguém que conhece os meandros daquele mundo, ao mesmo tempo que o peso do reconhecimento público lhe trouxe devaneios paranóicos.

 

Claro que o perfil do nosso anti-herói não estaria completo sem a sua relação com aqueles que lhe são mais próximos e aqui reside a grande surpresa do filme: Andrew Garfield. Como Eduardo Saverin, ele estabelece uma amizade com Mark que soa genuína e acompanhar a deterioração da relação entre eles está entre os pontos altos de A Rede Social. O certo é que Saverin não seria a melhor pessoa para ocupar o cargo de Director Financeiro (cuja nomeação por parte de Mark pode ter sido um impulso do momento ou uma recompensa pela ajuda inicial) e, num mundo implacável como é o empresarial, ele nunca manteria as funções por muito tempo. Porém, a forma como o processo é conduzido levanta muitas dúvidas sobre a afeição entre ambos: Mark só o queria por perto devido à conta bancária em seu nome ou preocupava-se realmente com ele? Garfield tem uma interpretação estupenda ao retratar um Saverin ansioso e que mal consegue conter a alegria de ser bem sucedido, ao passo que a expressão extasiada dá lugar à confusão e a uma desilusão cada vez mais maior com o passar do tempo (e o seu olhar de remorso para o ex-colega contrasta de forma perfeita com a frieza deste).

 

Longe de ser uma película pró-Facebook, A Rede Social dedica grande parte do seu tempo a retratar a ascensão de Zuckerberg e as consequências do sucesso na sua vida. A crítica velada às redes sociais por oposição às relações pessoais está lá, mas apenas nas entrelinhas, sem nunca fazer a apologia do slogan “o Facebook mudou o Mundo!” (algo que temi aquando o anúncio da produção), mas mantendo sempre presente que a Internet alterou a forma como nos relacionamos e que, como tudo na vida, tem aspectos a favor e contra. E mesmo que David Fincher tenha um trabalho discreto aqui, ele sabe bem o ouro que lhe foi parar às mãos e faz com que a narrativa flua naturalmente, condimentando-a com pequenos momentos de humor (como o relato sobre a galinha ou a reunião com o Reitor de Harvard). Outra excelente (e subtil) opção de Fincher é alternar entre os espaços fechados e acolhedores de Harvard com lugares mais amplos e claros dos escritórios, como se o sucesso do Facebook levasse a impessoalidade das corporações a invadir e a modificar o habitat daquelas personagens.

 

Numa indústria cada vez mais dedicada a lançar filmes acéfalos para audiências que até os justificam, é um prazer ver que A Rede Social não precisa de elaboradas cenas de acção ou de uma montagem "frenética" para prender o público, atingindo o mesmo efeito através dos seus primorosos diálogos que são debitados com imensa elegância e acidez. Apesar de poder ser acusado de ser historicamente impreciso, o grande mérito do filme é o seu argumento e o seu trágico protagonista: um indivíduo à procura do seu lugar na sociedade e que, ironicamente, criou uma das ferramentas de relacionamentos actualmente mais usadas por esse Mundo fora.

 

Qualidade da banha: 18/20

 

publicado às 00:04


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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