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Ontem os jogadores do Benfica foram anjinhos, o Governo pediu-nos para "fazermo-nos" de anjinhos nos próximos anos e, segundo a minha mãe, há 25 anos tinha ela um anjinho de 4 quilos e 200 gramas para deitar cá para fora – o que veio a acontecer na data de hoje, dia 30. O último ano não foi dos melhores: fiquei desempregado, parti o pé (sem grandes consequências até hoje), um diagnóstico de cancro veio abalar a minha família, este país não anda para a frente e parece que nada é feito nesse sentido. Daqui a pouco, o IVA está mais velho do que eu e estaremos os dois a jogar dominó ou à sueca ali no café da esquina, enquanto tomamos café com cheirinho e trocamos impressões sobre futebol.
O que aconteceu com Oliver Stone? Onde está aquele realizador politizado, agressivo e pessimista de outrora? O responsável por filmes polémicos como Platoon – Os Bravos do Pelotão, JFK ou Assassinos Natos? Aparentemente, deu lugar a um sujeito mais optimista, mais pacato e menos conflituoso, como comprovam obras como Um Domingo Qualquer, Alexandre, O Grande (um grande fiasco, isso sim) e World Trade Center. Mesmo obras de cariz político comoW.revelam uma postura mais leve e simpática que em nada lembram o realizador de ideologias liberais e em constante ruptura com o sistema.
Em Wall Street, Stone produziu uma obra que servia como denúncia dos excessos da década de 80 do século passado e que funcionava maravilhosamente naquele contexto: eram os tempos dos “yuppies”, do crédito fácil, da ostentação, do status quo mediante o poder económico. O filme era um conto sobre a moralidade e a ambição, antecipava a escalada de eventos que levaria a variados colapsos económicos e das consequências da falta de regulamentação dos mercados e apresentava Gordon Gekko, um antagonista memorável na pele de Michael Douglas. Wall Street tinha uma narrativa fechada e não necessitava de uma continuação – e, no entanto, esta sequela, com o subtítulo de O Dinheiro Nunca Dorme (retirado de uma das falas do original), funciona exactamente pela mesma razão que datou o primeiro: o contexto social e económico. E também, obviamente, pela figura de Gekko, que permanece fascinante.
Começando a história em 2000 com a libertação de Gordon Gekko da prisão, Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme logo salta oito anos no futuro, quando os primeiros indícios da recessão económica eram já difíceis de ignorar. O Mundo é agora um lugar diferente: é a era dos smartphones, a Internet é uma realidade comum a todos, as Torres Gémeas já não surgem imponentes no céu de Nova Iorque (há um plano do Ground Zero que remete para o colapso – literal – da economia), mas em Wall Street ainda é o dinheiro que domina. É neste ambiente que Gekko pretende relançar-se no mercado. Para isso, alia-se a Jake Moore na tentativa de abalar a carreira de Bretton James, cujas acções poderão ter levado o mentor de Moore ao suicídio. Em troca, Gekko deseja que o novato o ajude a restabelecer a relação com a sua filha, não por acaso, a namorada de Moore, que culpa o pai e as suas actividades por terem destruído o núcleo familiar.
Família, vale dizer, é algo que move toda a narrativa. Se, no original, Bud Fox (que aparece por breves minutos) encontrava na figura paterna a bússola moral que mantinha a sua integridade, aqui é Winnie Gekko que serve de orientação para Jake e, consequentemente, para Gordon. No meio da ambição desmedida e da vingança, ambos desejam a estabilidade familiar – só que estas facetas dificilmente se complementam: Jake é um jovem que acredita no investimento na indústria das energias renováveis, mas será isto devido ao seu idealismo ou à sua sede de poder de uma economia em expansão? E Gekko quer realmente aproximar-se da filha ou está a usá-la (e ao namorado) como meros peões no seu fortalecimento?
É este tipo de questões que permeia Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme e, se Shia LaBeouf faz um trabalho discreto como Jake, é Michael Douglas quem leva tudo à frente no papel que lhe valeu um Oscar. Perverso e cínico, ele é como uma raposa que se movimenta facilmente na floresta e conhece todos os meandros do incerto jogo da alta finança. Antes, ele tinha atingido um estatuto que não deixava margem para dúvidas do seu brilhantismo, mas agora ele começa na mó de baixo e terá de usar toda a sua astúcia a seu favor. Capaz de convencer o pupilo a fazer algo arriscado sem que ele perceba que foi manipulado, Gekko só não é mais perigoso que Bretton James por que já não dispõe do mesmo poderio económico deste último, uma vez que a sua retórica sobre os males daqueles que detêm o dinheiro não só é real (e assustadora) como, nas entrelinhas, Douglas tem a inteligência de mostrar que aquele é um posto que um falido e ganancioso Gekko inveja.
Se no elenco pouco há a apontar (todos estão correctos, desde o trágico bancário vivido pelo excelente Frank Langella à avarenta mãe de Jake interpretada por Susan Sarandon), é na câmara de Oliver Stone que começam os grandes problemas. Mais relaxado que nunca, Stone perdeu uma oportunidade única que fazer um ataque cerrado aos verdadeiros culpados da crise económica de 2008 e muitas das suas opções técnicas revelam-se desastrosas, como os grandes planos que revelam brincos, pulseiras e outros adereços de luxo numa tentativa fácil e desnecessária de mostrar a superficialidade daquele meio ou os flashbacks e “aparições” que apenas martelam o que já estava entendido. Porém, nada se compara ao telefonema que Jake recebe e cujo interlocutor aparece uma espécie de “balão de pensamento” que substitui a face da sua acompanhante, algo tão deselegante que nem numa comédia adolescente seria aceitável.
Para piorar, o que mais decepciona é a falta de garra e o sentimentalismo barato com que Stone encerra o filme. Ainda que seja perspicaz ao ponto de deixar sempre Gekko como componente periférica (a história é sobre Jake Moore, tal como o original era sobre Bud Fox), o realizador encena uma redenção que não se condigna com o carácter de determinado indivíduo (além de alongar a duração mais do que deveria). Parece algo escrito às três pancadas depois de uma exibição-teste negativa, o que, implicitamente, retrata que a mensagem inicial é certeira: a ganância pelo dinheiro comanda tudo.
Qualidade da banha: 11/20
Depois de escorraçar Carlos Queiroz em consequência do falhaço do seu "projecto", Gilberto Madaíl desloca-se a Madrid para convencer Mourinho a juntar-se aos milhares de trabalhadores precários neste cantinho à beira-mar. Dois jogos, nada de especial, elevar a moral do povo, quiçá ganhar os seis pontos, toma lá recibo verde, adeus e até à próxima. Consta que Paulo Bento não faz parte dos planos e eu, do alto da minha inteligência (e, posso garantir, que neste espaço não encontram ninguém mais sábio), desaprovo que o ex-treinador do Sporting não seja levado em conta.
Paulo Bento seria mel para a Federação. Não estou a falar das apostas nas camadas jovens, de trabalhar e apresentar (poucos) resultados com recursos limitados, nem tão pouco do seu penteado sui generis. Não. O que me leva a aconselhar Bento ao posto de seleccionador nacional é o facto de ele dar a cara, de saber trabalhar sem uma estrutura eficiente que o apoie e, caso a coisa dê para o torto, ele (e só ele) assumir as culpas. Enquanto Madaíl e a corja que o rodeia não se meter no cara*** mais velho e deixarem de trocar de cargos como se brincassem à dança das cadeiras, a Federação só pode estar bem servida com Paulo Bento. Esperto como Mourinho é, a resposta ideal seria a mesma de Figo: "quando quiser problemas, regresso a Portugal". Na mouche!
Entretanto, o SC Braga, um clube que se quer "grande", entrou em grande na alta roda europeia: 6-0! Já que goleadas lá fora acontecem a todos, podemos assumir que o clube minhoto já é um "grande", afinal já leva na boca como os outros. Uma praxe previsível que isto de ir ganhar a Londres, na casa do Arsenal, não é paraqualquer um. Coitado do Domingos...
De certa forma, Predadores consegue o queOs Mercenáriosfalhou em tentar: homenagear satisfatoriamente o cinema de acção da década de 80 do século passado. Povoado por heróis sem grandes traços de personalidade que não a virilidade, a expressão fechada e os absurdos músculos, essa década foi fértil em películas na quais as sequências de acção faziam sombra a tudo o resto. Neste aspecto, o novo capítulo da saga Predador acerta em cheio, já que a acção praticamente ininterrupta é o mote de todo o argumento. Longe de ser uma refilmagem, Predadores respeita o original (cujos eventos são referenciados) e, ao mesmo tempo, desenvolve uma nova história independente dos filmes anteriores (nomeadamente, aquelas porcarias que metiam os Aliens ao barulho).
Produzido por Robert Rodriguez, Predadores estabelece logo nos primeiros minutos a sua premissa: um grupo armado composto por mercenários e soldados cai de pára-quedas numa selva e, em poucos minutos, já estão a ser caçados pelos nossos queridos monstros. Cabe-lhes enfrentar o ambiente hostil e delinear estratégias que possibilitem a sua sobrevivência e a fuga daquele lugar. Sem perder tempo com apresentações das personagens, o filme atira o espectador para a acção contínua que quase não o deixa respirar – o que é uma bênção, uma vez que, quando se dedica a desenvolver minimamente aqueles indivíduos, o cheiro que atinge o público é bafiento. Relacionando-se com curtas frases de efeito que (claro!) são precedidas de uma pausa enorme para (tentar) aumentar o efeito dramático, o grupo inclui o líder que (só podia...) é norte-americano, o mexicano brutamontes (Danny Trejo, que até tem direito a um plano só dele a exclamar "Isto é o Inferno!"), o franzino que serve de alívio cómico, o russo que tem saudades da família, um condenado à morte com cara de lunático e um asiático que (obviamente!) é um especialista com espadas.
Improvável como herói de acção, Adrien Brody é uma completa surpresa no papel de protagonista de um filme puramente voltado para o entretenimento. Não que essa surpresa venha pela sua actuação, que está no piloto automático, mas sim pela sua entrega a este tipo de filmes. Ainda assim, ele (e os seus músculos) fazem um trabalho mais eficaz a carregar o filme às costas que Jake Gyllenhall no recentePríncipe da Pérsia. Juntamente com a brasileira Alice Braga, eles são o mais próximo de uma personagem tridimensional, ainda que ela se destaque no papel da israelita amargurada pela sua vida de violência. Não que isto interesse muito, pois estes traços são meros detalhes no filme que, como já referi, se dedica a explorar a acção – e, neste aspecto, o filme não decepciona. Bem orquestradas (com a excepção de uma luta que envolve espadas), as sequências de acção estabelecem uma dinâmica de presa-caçador que se mantém até ao fim e, se é estranho os Predadores fazerem muita cerimónia em matar os oponentes já que contam com tecnologia para os aniquilar em três tempos, é por que o prazer não está em matar, mas sim em como se atinge o adversário – e só o facto de este pormenor não ser escancarado ao público por uma personagem já é algo digno de aplausos num filme tão óbvio e derivativo.
Com uma banda sonora decalcada da partitura de Alan Silvestri para o original, Predadores acerta também ao estabelecer os obstáculos que esperam os heróis que, além de contarem com a fúria assassina dos alienígenas, ainda têm de enfrentar o habitat imprevisível do campo de batalha, onde a selva cerrada imensa dá lugar a um deserto rochoso ou a uma floresta mais ampla. No entanto, o filme perde-se na coerência: é no mínimo estranho que se ninguém se lembre de usar lama para se camuflarem dos Predadores já que alguém os informa disto ou que algumas personagens se movam quase sem dificuldade mesmo após de sofrer ferimentos graves. Claro que isto não é tão grave quanto as expectativas deixadas pela conclusão do filme : ao deixar a porta totalmente aberta para uma sequela e a fazer fé no trajecto da saga anteriormente, é de crer que o próximo filme destruirá o que de bom se conseguiu agora.
Qualidade da banha: 12/20
Nada como uma boa comédia para esquecer o estado depressivo da última temporada de Nip/Tuck (cujo pico de forma já passou há muito) e logo com uma série na qual não depositava grandes esperanças. Porém, os elogios e os prémios desataram a chover e não tive outro remédio que não render-me a The Big Bang Theory. O conceito é batidíssimo, mas a execução é primorosa. Quatro geeks com claros problemas de relacionamentos sociais e uma beldade que surge como um terramoto na outrora sossegado quotidiano do grupo. Um deles, Leonard, desenvolve uma paixoneta por ela e aqui está um dos grandes trunfos da história: longe de ser uma loira estereotipada pouco dada à inteligência e dedicada a causas fúteis, Penny surge com uma personalidade vivaz que contrasta de modo perfeito com a falta de traquejo social do quarteto. Ao mesmo tempo, Leonard não é um daqueles "falsos nerds" que Hollywood tanto gosta de criar, já que ele não se tornará automaticamente num Adónis com um truque de magia (leia-se, uma mudança drástica de visual como tirar os óculos ou mudar de penteado). Assim, é uma surpresa bem-vinda que ele vá conquistando a moça com a sua gentileza, timidez e insegurança, tornando-se atraente à sua própria maneira aos olhos de Penny.
No entanto, o grande destaque de The Big Bang Theory é mesmo Sheldon Cooper (Jim Parsons, que levou o Emmy para casa há uns dias). Egocêntrico, arrogante e obsessivo, Sheldon é um espectáculo à parte dentro da série. Ao contrário dos demais, ele não dá prioridade aos relacionamentos e a sua preocupação é satisfazer o seu inchado ego, nem que para isso tenha de levar à loucura quem o rodeia. Tal como Barney Stinson em How I Met Your Mother, Sheldon é a alma da série, uma mistura de Mr. Bean com um Spock elevado à décima potência. A complementar este trio, há os secundários Howard, o único sem Doutoramento e com uma (péssima) tirada de engate sempre na ponta da língua, e Raj, um indiano patologicamente incapaz de falar com alguém do sexo feminino - excepto se estiver alcoolizado -, e aparições esporádicas de Leslie, rival de Sheldon pelas luzes da ribalta (ou seja, a atenção dos colegas), cuja extrema racionalização sobre o sexo tira todo o interesse que o acto poderia despertar.
Atulhado de referências à cultura pop (apanhá-las a todas é um desafio para qualquer um), The Big Bang Theory é uma comédia hilariante e, mesmo sem ser a lufada de ar fresco que caracteriza a narrativa de How I Met Your Mother, a estrutura de um The Office ou as alfinetadas de um Entourage, contém fartos motivos para ser acompanhada. Geeks e nerds de todo o Mundo, sintam-se vingados!