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Os melhores (e piores) filmes de 2009

por Antero, em 30.12.09

Mais um final de ano, mais uma listinha inútil para juntar à colecção. Desta feita com os melhores e os piores filmes de 2009, segundo a minha opinião. Um ano recheado de bastantes surpresas e algumas desilusões. Comecemos então pela nata do ano que agora termina:

 

1

O Wrestler

The Wrestler

Quando já todos davam Mickey Rourke como acabado, o actor dá a volta por cima e oferece uma interpretação visceral e comovente como Randy "The Ram" Robinson, um wrestler caído em desgraça que procura um nova oportunidade de redenção. Mas nem só de Rourke vive este filme: Marisa Tomei está fenomenal, Aronofsky filma com uma pujança ímpar e toda a trajectória do seu anti-herói é perfeitamente construída.

Crítica

 

2

Sacanas Sem Lei

Inglorious Basterds

Tarantino exagera nos planos, escreve diálogos prolixos e mete palha por tudo o que é cena. Mas é inegável que é um prazer ver os seus filmes. Então, se levarmos com um vilão como Hans Landa (tudo o que Bill queria ser e não foi), só ficamos a ganhar.

Crítica

 

3

Estado de Guerra

The Hurt Locker

Um dos favoritos nesta altura de prémios cinematográficos, o regresso de Kathryn Bigelow à sua melhor forma foi muito injustiçado a nível de público. Porém, é o melhor filme já feito sobre a Guerra do Iraque e um impressionante estudo das consequências da guerra no ser humano. Jeremy Renner está assombroso como o perito em explosivos viciado na adrenalina do combate.

 

4

Star Trek

Star Trek

A grande surpresa do ano. Em pézinhos de lã, J.J. Abrams chegou e fez uma diversão espectacular capaz de agradar ao fã mais devoto bem como ao público mais leigo, sem desrespeitar a obra original e captando toda a sua essência. Pode estar aqui o (re)início de uma grande saga.

Crítica

 

5

Revolutionary Road

Revolutionary Road

Injustiçado por público e crítica, o filme de Sam Mendes sobre um casal amordaçado pelas amarras socias dos 'perfeitos' anos 50 é um filme doloroso de assistir, onde cada diálogo é um dardo envenenado atirado a um casamento cadavérico. Kate Winslet e Leonado DiCaprio estão sublimes, mas quem se destaca é Michael Shannon como o John, um lunático que abraça a loucura para atingir a liberdade.

 

6

Deixa-me Entrar

Låt den rätte komma in / Let the Right One In

Esqueçam a saga Twilight. Esta é a verdadeira reinvenção da figura dos vampiros modernos e um belo conto sobre as agruras da adolescência.

 

7

Up - Altamente!

Up

O que seria de nós sem as animações da Pixar? Up continua o estado de graça da companhia, capaz de nos fazer rir e chorar nas mesmas doses (aqueles primeiros minutos são de cortar o coração) e sempre com o melhor que a tecnologia digital tem para oferecer.

Crítica

 

8

500 Dias com Summer

(500) Days of Summer

Comédias românticas há aos montes e, de certa forma, acabam por ser previsíveis. O que diferencia este género é mesmo a abordagem e 500 Dias com Summer consegue ser original, comovente e brutalmente honesto, mesmo jogando com as regras já conhecidas.

 

9

O Rapaz do Pijama às Riscas

The Boy in the Striped Pyjamas

O Holocausto já foi abordado de todas as formas e feitios, mas este surpreendente filme adopta praticamente a visão de uma criança para celebrar a inocência infantil por oposição ao negrume do mundo adulto. O final é chocante e permanece na memória durante muito, muito tempo.

 

10

Avatar

Avatar

Anos de antecipação e James Cameron não desiludiu: Avatar é uma experiência de tirar o fôlego e quase não há adjectivos para classificar o avanço tecnológico que Cameron e companhia atingiram. Um marco que será lembrado por anos e anos.

Crítica


Outros destaques de 2009, por ordem alfabética:

A Ressaca

A Troca

Bem-vindo à Zombieland

Distrito 9

Dúvida

És o Maior, Meu

Funny People

Homem no Arame

Ligações Perigosas

Maldito United

O Casamento de Rachel

O Lago Perfeito

Transiberiano

Watchmen - Os Guardiões

 

Quanto aos piores filmes de 2009, a selecção foi penosa: incluir tanta e tão diferentes bostas lançadas este ano não é tarefa fácil. E há de tudo: cinema tuga (e chunga), sequelas, filmes baseados em jogos de vídeo, filmes baseados em bonecos, comédias românticas fedorentas,... enfim, um fartote. Para quem gostar de merda, é prato cheio. Venham eles! (eu sei que a numeração está errada e que -1 é um valor mais alto que -10, mas não deixem que essa pintelhice desvirtue o tema deste post, está bem?)

 

-10

ABC da Sedução

The Ugly Truth

Heigl e Butler exibem química, mas o filme é tão desnecessariamente asneirento e tão pouco ofensivo na sua visão machista que se redime no fim que acaba por ser mais um no meio da multidão de comédias românticas que invadem as salas todos os anos.

 

-9

Lua Nova

New Moon

Um equívoco praticamente do início ao fim, onde não há romance, não há acção, não há nada. Apenas um grupo de adolescentes emo apaixonados e um bando de fãs histéricos do lado de cá. Deprimente.

Crítica

 

-8

Noivas em Guerra

Bride Wars

Credo, o que dizer deste filme? Poucas vezes vi um filme protagonizado por pessoas tão detestáveis, fúteis ao extremo e sem um pingo de discernimento. Mais um empurrão ladeira abaixo na carreira da antes adorável Kate Hudson, embora Anne Hathaway se salve por muito pouco (e não devido a esta... coisa).

 

-7

Dragonball: Evolução

Dragonball: Evolution

É... é tudo aquilo que se esperava. Só por isso conseguiu não estar no Top 5 desta lista.

Crítica

 

-6

Street Fighter: A Lenda de Chun-Li

Street Fighter: The Legend of Chun-Li

E quando pensamos que as adaptações de jogos de vídeo não podem descer tanto, eis que levamos na tromba com um filme pedestre, poupadinho na acção e com personagens a fazer de corpo presente. Recomendo para quem acha que não há tão mau como o primeiro filme.

 

-5

G.I. Joe: O Ataque dos Cobra

G.I. Joe: Rise of Cobra

Este filme só é melhor que o seguinte da lista porque é mais curto, logo a tortura é menor.

Crítica

 

-4

Transformers - Retaliação

Transformers - Revenge of the Fallen

À segunda só cai quem quer... e o filme foi um sucesso estrondoso! Celebração de tudo o que a indústria de Hollywood tem de mais podre, ofensivo ao extremo (eu tenho a certeza que, no meio de tanto corte e movimento de câmara, Bay meteu um letreiro a chamar-me de burro) e os excelentes efeitos especiais é quase como ver dinheiro a arder em pleno ecrã gigante.

Crítica

 

-3

Contrato

Contrato

Não! O cinema Português armado ao pingarelho e a querer imitar os filmes de Bond, Bourne e outros espiões? Seja. O vilão é um mafioso chamado Thanatos? Ugh!... mas vá, está bem. Mamas da Cláudia Vieira? Alinho! Não temos grande orçamento? Apostem na história. O argumento não faz muito sentido e tem uma reviravolta final trash? Ok, aceito isso tudo mas quero ver mais do que os peitos da Vieira.

 

Não vemos.

 

-2

The Spirit

The Spirit

Poucos deverão saber, mas Frank Miller escreveu os argumentos de Robocop 2 e 3, que ele jura a pés juntos terem sido desvirtuados pelos produtores. Depois disso retirou-se das lides cinematográficas, cheio de ódio a Hollywood. A vingança é um prato que se serve frio e eu diria que este The Spirit foi a forma que Miller arranjou para servir a sua. Eu quero acreditar nisto para não dizer que o homem está senil de vez, uma vez que este filme é inqualificável.

 

-1

Second Life

Second Life

Este filme é um crime, alguém devia ir preso por ele e deviam haver leis contra obras como Second Life, indubitavelmente a coisa mais abjecta de 2009 e um tremendo OVNI a aterrar nas salas portuguesas este ano. Alguém lembrou-se de brincar à David Lynch, contratou malta conhecida para chamar o público às salas, encheu tudo de sexo gratuito para chamar ainda mais público e esqueceram-se da coerência em casa. O protagonista morre no início e leva o argumento para o Além. Destaque para a participação de Malato que só larga o casaco para dizer as falas e, ainda mais incrível, Luís Figo a fazer de director de casting, com direito a uma vergonhosa table dance com resultados bem piores que um vermelho directo. E pensar que alguém achou que este era o caminho a seguir pelo cinema Português.

 

Outros destaques (pela negativa) de 2009, por ordem alfabética:

2012

À Noite, no Museu 2

Ano Um

As Minhas Adoráveis ex-Namoradas

Correio de Risco 3

Gamer - Jogo

Gran Torino

O Barco do Rock

O Corpo de Jennifer

O Solista

Olho Para o Negócio

Underworld - A Revolta

X-Men Origens: Wolverine

 

publicado às 19:20

Pior mês de sempre!

por Antero, em 30.12.09

É o que promete até dia 28 de Janeiro.

 

Andava eu todo contente a escrever o texto sobre os melhores e piores filmes do ano (a publicar hoje mesmo), quando estatelei-me no chão da cozinha enquanto fazia o jantar. Nestas alturas de humidade, um chão de tijoleira é fatal. Torci o pé, pus gelo e não me chateei muito. Uma hora depois, já tinha um valente inchaço, mas não me fiz rogado e fui para o café, como sempre faço.

 

É então que as dores tornam-se insuportáveis, quase como se a sapatilha me estivesse a apertar o pé (embora eu lhe tenha dado folga para não me magoar tanto) e decido vir embora mais cedo. Chego ao carro e fico em choque ao ver o inchaço, que estava enorme. Corri para o hospital, fiz uma radiografia e o diagnóstico deitou-me ao chão: osso fracturado e pé engessado durante um mês.

 

A dois dias da passagem de ano.

Quando estava prestes a voltar para o ginásio.

Vou ficar preso à cama agora que estou mais folgado de tempo.

Sem saídas à noite.

Sem conduzir.

A andar de muletas e dependente de outros.

 

Bela forma de acabar o ano...

 

publicado às 02:04

Bom Natal a todos...

por Antero, em 23.12.09

...e que seja recheado de prendas. Eu cá já pedi o meu presente à mamã: um pijama de flanela que é o que vem a calhar para estes dias de frio sibérico!

 

publicado às 11:41

Prenda de Natal antecipada!

por Antero, em 21.12.09

 

Obrigado, Menino Jesus!

 

(sim, eu sei que estou em atraso com o texto sobre Avatar que segue já amanhã/hoje, sem falta. Sei também que são quase 6 da matina e ainda estou acordado...)

 

publicado às 05:45

Admirável mundo novo

por Antero, em 18.12.09

 

James Cameron é um visionário, um cineasta que parece estar sempre um passo à frente do seu tempo. A sua filmografia é relativamente curta (apenas 6 filmes anteriores - descontando Piranha 2, que o próprio não reconhece), mas todos os seus filmes são espectáculos visuais recheados de adrenalina, um dos expoentes máximos do cada vez mais raro "entretenimento com cérebro". Guardado na gaveta à espera dos avanços na área dos efeitos especiais, o argumento de Avatar voltou a chamar a atenção de Cameron nos últimos anos e após longos meses de produção, elogios que o consideravam 'revolucionário' e como o 'futuro do cinema', e grande antecipação depois de ter afundado o Titanic e estourado as bilheteiras, chega agora as salas o filme que traz o planeta Pandora como cenário principal. A experiência é realmente revolucionária: o detalhe na criação, o foto-realismo e a quase imersão que o espectador experiencia é algo do outro mundo. Pandora existe aos nossos olhos e isso é o que basta para contornar qualquer defeito.

 

Ou quase. Escrito por Cameron, o argumento vai buscar elementos de filmes como Pocahontas (a certa altura pensei que ia ouvir o Quantas Cores o Vento Tem...), Danças Com Lobos, O Último dos Moicanos ou A Missão para contar a história de Jake Sully, um paraplégico chamado para substituir o falecido irmão gémeo numa missão em Pandora, no ano 2156. Ele terá de controlar um corpo artificial (um avatar) desenvolvido para simular o povo Na'vi que habita o planeta e, uma vez enviado para aquela atmosfera tóxica para os humanos, terá de ganhar confiança com o povo nativo e convencê-los a deixar as suas terras serem exploradas pelos terráquos, que tem interesse num metal valioso. Chegado àquele mundo fascinante, Sully é acolhido pelos Na'vi e passa a conhecer a sua cultura através de Neytiri (por quem se apaixona), o que o fará pôr em causa os seus objectivos. Se a nível técnico Avatar é um passo gigantesco para o Cinema, a nível narrativo não podia tresandar mais a mofo.

 

Não que isso seja um grande problema: a trajectória de Sully é terrivelmente previsível e as personagens não fogem muito a estereótipos, mas isso não é um empecilho desde que estes sejam bem usados. Não seria num filme arriscadíssimo como este que se pediria para não se jogar pelo seguro. Porém, como realizador, Cameron continua em grande forma e o planeta Pandora, totalmente saído da sua imaginação, é a maior prova disso: retratando nos mínimos detalhes aquele ecossistema cheio de cores vibrantes e cujos habitantes vivem em comunhão com a Natureza, o realizador reserva os dois primeiros actos de Avatar para apresentar ao público um mundo imaginativo e hipnotizante. Poucos são aqueles que sabem utilizar efeitos especiais em benefício da narrativa, mas Cameron nunca vai contra os seus princípios e, apesar dos fartos efeitos gerados por computador, estes surgem sempre integrados na história e, o melhor de tudo, altamente realistas e quase simulando na perfeição a percepção do olho humano.

 

No entanto, é nos Na'vi que está o grande trunfo de Avatar: ao contrário de obras como Final Fantasy, Polar Express ou Beowulf, as personagens digitais - emoludas a partir das interpretações do elenco no processo conhecido como performance capture - movem-se com total fluidez e são incrivelmente expressivos (os olhos estão repletos de vida, por oposição ao olhar "morto" das personagens dos filmes acima enunciados). Os avatares de Jake Sully e Grace contêm todas as expressões faciais do seus intérpretes humanos, respectivamente, Sam Worthington e Sigourney Weaver. Isto facilita imenso a identificação do espectador com aqueles seres estranhos, uma vez que o trabalho de composição do actor acaba por ser fulcral em todo e processo e, neste particular, Zoë Saldana oferece uma estupenda actuação como a decidida, mas terna, Neytiri (algo diferente não se podia esperar de James Cameron, basta ver as mulheres duras, audazes e que rejeitam o rótulo de sexo fraco da sua filmografia: a Tenente Ripley de Aliens, a Sarah Connor de T2 ou a Helen Tasker de A Verdade da Mentira, entre outras).

 

Porém, como eu já referi, o argumento deixa a desejar em alguns momentos: apesar da louvável mensagem ecológica e a alegoria com vários momentos da História norte-americana (a colonização dos índios; o metal valioso remete à procura pelo ouro e, mais recentemente, ao petróleo) e não só (a época dos Descobrimentos), Cameron comete alguns deslizes em certos diálogos pavorosos e situações mal resolvidas, como o ponto de viragem numa importante batalha perto do final do filme. Por outro lado, o filme merece aplausos pela mensagem anti-Guerra e por não ter medo de retratar as forças militares norte-americanas como bestas sem escrúpulos, capazes do pior em prol de benefícios económicos.

 

Obrigatória a visualização a versão 3D para ter a sensação de imersão mais apurada (algo que perder-se-á com o lançamento para o mercado de vídeo e exibições televisivas), Avatar tem uma meia hora final recheada de acção trepidante, a grande especialidade do realizador afinal de contas. E apesar da tão publicitada experiência transcendental estar mais relacionada com a forma e menos com o conteúdo, Avatar é um filme que merece ser visto no cinema e, se Cameron avançar com a sequela, eu quero estar na fila da frente para voltar a Pandora.

 

Qualidade da banha: 16/20

 

publicado às 04:32

O assassino familiar

por Antero, em 17.12.09

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Dexter - quarta temporada

No início, conhecemos Dexter Morgan, um pacato funcionário do Departamento de Homicídios de Miami com um segredo: ele é um serial killer nas horas vagas. Na adolescência, o seu pai adoptivo reconheceu as suas tendências sociopatas e instruiu-o para que direccionasse os seus instintos para matar aqueles que não eram punidos pelo sistema judicial e, acima de tudo, que tivesse cuidado para não ser apanhado. Fomos apresentados à equipa do Departamento e a Rita, o seu interesse amoroso; basicamente, disfarces sociais para de Dexter passasse despercebido. Assistimos à sua origem, ao seu Código moral ser posto em causa (numa segunda temporada fenomenal que, ao contrário de muitos, achei ainda melhor que a primeira), à sua necessidade de contacto social e aprovação de uma figura paterna, naquele que é o menos bom dos quatro anos.

 

Agora, Dexter é um homem casado, com um bebé em mãos e dois filhos adoptivos. Conciliar as suas funções "profissionais" com as obrigações familiares não é tarefa fácil. E surge sempre a dúvida: Dexter oculta as suas actividades para proteger os que o rodeiam (em último caso, dele mesmo) ou para se proteger a si mesmo? Não é uma questão fácil e por isso Dexter é uma série fascinante: a carga dramática investida no protagonista divide-o a ele e também o espectador, que se vê na delicada posição de torcer por um assassino sem escrúpulos. Para tornar a identificação mais fácil, nada como humanizar o vilão ao máximo e agora vimos o pico desse processo e a potencial destruição do mesmo, com a morte de Rita, o grande elo de ligação entre o Monstro e o Homem.

 

Mas nem tudo foi perfeito: o relacionamento amoroso entre Laguerta e Angel parece surgir do nada e, por vezes, quebrava o andamento da narrativa, bem como fazerem de Rita uma esposa demasiado controladora e irritante. Porém, tudo isto passa para segundo plano com um vilão como Trinity, o melhor a série já ofereceu. Com uma interpretação fabulosa de John Lithgow - a fazer lembrar os melhores momentos de Blow Out - Explosão e Em Nome de Caim - Arthur é um indivíduo sinistro e calculista que guarda algumas semelhanças com Dexter. Este, como é apanágio da série, apoia-se na sua figura como substituto para a ausência dos ensinamentos do pai, intenções essas que acabam por ser frustradas porque, por muito que Dexter tente relacionar-se com um semelhante seu (a sua falta de traquejo social é notória mesmo quando ele finge estar à vontade) não há lugar para encobrimentos entre pares.

 

Fechando a temporada de forma chocante, Dexter abre novas possibilidades para o seu protagonista e estabelece-se como um dos melhores estudos de personagem já vistos na Televisão.

 

9 potes de banha

 

publicado às 19:11

 

Depois de tanta antecipação, publicidade massiva e citações como 'é o novo LOST', posso dizer, após o visionamento dos 10 primeiros episódios, que a montanha pariu um rato. FlashForward tem um conceito bombástico (bem mais interessante que 'sobreviventes de desastre de avião numa ilha deserta') e um episódio piloto fabuloso, mas o desenvolvimento é do mais pedestre que há. A narrativa, pura e simplesmente, empanca nos capítulos seguintes e enrola até chegar ao melodrama do mais piegas que existe. As personagens são desinteressantes e interpretadas de forma burocrática por actores com provas dadas, o que compromete desde logo a identificação com elas. Não há pachorra para o casamento em crise do casal principal, para o ex-alcoólico com a filha de volta ao mundo dos vivos e agarrada à bebida, para o policial irritante que acha que vai morrer, para o enfermeiro que não se matou (que pena!) e viaja para Tóquio atrás da amada que ainda não conhece (oohh...), e outros tantos. Os episódios dão voltas e voltas e não levam a lugar algum. E o que falar da selecção musical em momentos dramáticos? Lixo total.

 

Eu nem queria abordar o elenco da série, mas cá vai: é o conjunto de actores pior escalado em muito tempo. Todos concorrem com o Mohinder de Heroes pelo prémio 'personagem e intérprete mais chato de sempre'. Joseph Fiennes anda sempre a mesma cara aparvalhada, esteja triste, alegre, deprimido, eufórico, ansioso ou com dor de dentes; Dominic Monaghan (o Charlie de LOST) está canastrão ao extremo e muito mal no papel; é impossível levar a sério o actor que faz de Wedeck, porque o próprio actor não se parece levar muito a sério mesmo nas cenas mais dramáticas. Enfim... todas as personagens são aborrecidas e a constante insistência em mostrar os apagões (eu já não podia ver aquela a chamar pelo britânico sentado no sofá, que vira a cara e puff!, lá se foi a visão...) só realça a sensação de tempo perdido. É inacreditável como uma premissa tão engenhosa é atirada pela janela para dar espaço a um dramalhão sem fim e recheado de clichés vivido por personagens sem carisma. Que seca de série!

 

Durante o meu apagão, FlashForward não é renovada para uma segunda temporada.

 

publicado às 01:38

Sonos trocados

por Antero, em 10.12.09

5 da manhã...

 

...e ainda acordado...

 

...e sem sono...

 

Notas mentais:

- mudar o meu CV para vigia nocturno;

- deixar de cobiçar os produtos das televendas;

- usar a net móvel só na happy hour (9-16h);

- começar a despachar séries atrasadas (Dexter, Damages, Weeds, Entourage, ...);

- tratar de procurar um emprego a sério;

- ou um a brincar, só para ocupar o tempo;

- comprar ou não comprar prendas de Natal: o dilema;

- vigia nocturno seria porreiro;

- ...

- parar de divagar e ir dormir.

 

publicado às 05:05

Debaixo de água

por Antero, em 08.12.09

Domingo à noite fui à bola. Coisa combinada em cima do joelho, assim à maluqueira. Mesmo com uma baixa de última hora, lá nos metemos a caminho logo a seguir ao almoço. Qualquer ida à Luz implica o mesmo de sempre: duas horas e tal de viagem até às portagens de Alverca, trânsito infernal entre o Aeroporto e Benfica, arranjar estacionamento no primeiro buraco disponível, comer qualquer coisa, entrar no recinto (o que pode ou não demorar, tendo em conta a enchente) e esperar. Só que desta vez tivemos vento e (muita) chuva a fazer companhia, o que acarretou um realojamento voluntário de meia bancada, e ficámos atrás dos caramelos da Benfica TV, aqueles moços que estão no meio do público a fazer o "relato televisivo" do jogo em questão com um televisor ao lado. Ou seja, paguei bilhete e ainda tive direito às repetições na hora.

 

Como qualquer adepto de sofá, ver um jogo ao vivo não é algo que me empolgue por aí além. Por isso, tento sempre ficar num anel superior, se possível numa bancada central, de forma a ter o mais próximo de uma perspectiva de telespectador. Em casa (ou no café, seja) estamos limitados àquilo que a TV nos mostra, ela é rainha e senhora de nós. No estádio, a atenção pode dispersar-se a cada momento - e pelas coisas mais mundanas - e, olha, golo do Benfica que eu perdi. Outra coisa de ver jogos ao vivo: já se sabe que a antecipação acaba por ser, maioritariamente, melhor do que o jogo em si. O tempo passa num instante: num minuto estamos a saudar a equipa e, logo a seguir, recolhem aos balneários. Se estivermos a perder, pior ainda.

 

De qualquer forma, não posso dizer que tenha saído chateado: 4 golos, boa exibição e uma tendência a mudar na minha condição de azarado benfiquista (já tínhamos ganho em Paços de Ferreira). Saviola marcou um golão, algo que eu pude assistir in loco quase em câmara lenta, e Cardozo fez um hat-trick. Com a chuva a empapar o terreno não deu para mais, mas já deu para ficar satisfeito. E do jogo, tirei as seguintes ilações:

  • a águia Vitória precisa de um GPS;
  • o Sérgio não sabe cantar o Ser Benfiquista, nem que a letra esteja escarrapachada nos ecrãs gigantes;
  • a Raquel derrete-se toda com o Javi Garcia e diz que o César Peixoto deve ter algum talento escondido para fisgar a Figueira e a Chaves, porque ele é uma anta. Se calhar, sabe cuzinhar bem (que piada tão fácil, pffff...);
  • o jogo não deu para grandes polémicas, então deixei o árbitro descansado;
  • a malta deve ter algum problema crónico, uma vez que chingaram tanto o árbitro, chegando ao ponto de berrar por um amarelo para um jogador... do Benfica!;
  • as inocentes crianças na fila atrás de mim devem ter chegado à escola com todo um novo vocabulário;
  • os acessos rodoviários ao Estádio da Luz continuam a ser uma merda;
  • com o que choveu, Alvalade deve ter ficado sem relvado;
  • o jogador do Benfica mais ovacionado no aquecimento foi... Jorge Jesus.

Agora fiquei com o bichinho para voltar lá dia 20 (ó Sinuhé, tu avisa se queres ir e a gente trata disso, homem!), mas não sei se devo arriscar a testar novamente a minha crónica maré de azar em jogos ao vivo. Este ano foram dois jogos e duas vitórias esmagadoras, mas ainda não estou convencido: tendo em conta o adversário, seria para me chatear imenso, ficar rouco e tudo o que me sairia da boca seria de 'filho da puta!' para baixo.

 

E todos sabem como eu sou um rapaz pacato e pouco dado a espectáculos de baixo nível...

 

publicado às 02:03

Maldito hype

por Antero, em 04.12.09

 

Rodado por tuta e meia em poucos dias e tendo rendido mais de 100 milhões de dólares só nos Estados Unidos (graças a uma bem montada estratégia de marketing), Actividade Paranormal chega aos cinemas com uma recepção entusiástica e com críticas que o definem como o novo clássico do terror moderno. Emprestando a estética de obras como O Projecto Blair Witch, My Little Eye, Cloverfield e [REC], o inexperiente realizador Oren Peli recorre a todas as soluções possíveis para esconder os seus parcos recursos e contar a história do casal amedontrado por um demónio na sua nova casa. Tudo o que fez a fama dos filmes anteriores está presente aqui: o registo documental, elenco desconhecido, ameaça sobrenatural, investigações que não levam a lado nenhum, montagem e publicidade do material como se algo real se tratasse. No entanto, como exercício de tensão e medo, o filme é um fracasso, onde o choque é substituído pela frustração.

 

Actividade Paranormal começa com Micah a adquirir um equipamento de filmagem de alta definição para que ele e a esposa, Katie, possam estudar os estranhos fenómenos que têm acontecido na sua casa. Com a visita de um especialista em acontecimentos sobrenaturais, logo ficamos a saber que Katie já sentia os mesmos, em maior ou menor grau, desde os 8 anos de idade e que poderá estar a ser perseguida por uma entidade demoníaca. É desta forma económica e eficaz que Peli encontra de situar o espectador na história, embora o papel do especialista venha a ter pouca ou nenhuma relevância no decorrer da narrativa. E este é um dos males do filme: apesar de construir tensão de maneira brilhante em duas ou três cenas, elas pouco ou nada contribuem no desenrolar da acção. O resultado é óbvio: uma história repetitiva e, ocasionalmente, episódica, onde cada cena nocturna (as mais tensas) é analisada pelo casal no dia seguinte. Quando voltam para o quarto, reinicia-se a rotina. No dia seguinte, analisam e as coisas pioram. Noite outra vez. Barulhos e cenas estranhas. Ver filmagens pela manhã. Basicamente, é isto.

 

Não ajuda também as personagens não serem nada simpáticas e pouco dadas a que o espectador se identifique com elas: Micah, por exemplo, passa todos os limites do cepticismo ao aguentar a situação por demasiado tempo e sempre com comentários engraçadinhos, o que o torna irritante. Por outro lado, Katie revela-se um pouco mais sensata e responsável, embora acate praticamente todas as decisões do companheiro, mesmo que estas sejam as mais equivocadas possíveis. O certo é que Katie e Micah são personagens imbecis: por muito que tentem, eles merecem passar por aquele inferno. Depois de assistirem a eventos altamente improváveis – e de terem tudo filmado – eles fazem o que qualquer pessoa sã faria: mantêm-se em casa e mal pedem ajuda a terceiros (o único disposto a ajudar, o médium, revela-se um inútil naquela que é a cena mais patética do filme, onde Micah quase implora pelo seu auxílio quando, segundos antes, gozava com a sua presença).

 

Ainda assim, o filme assusta quando acerta em cheio, o que me faz lamentar o potencial perdido de uma obra assim. Situando as cenas mais tensas no quarto do casal quando estes dormem (logo, quando estão mais desprotegidos), Peli faz com que o espectador fique tenso por ter a grande ideia de, basicamente, dividir estes planos em duas metades distintas, onde a direita inclui o casal a dormir e a da esquerda tem a porta do quarto aberta e o corredor ao fundo envolto em sombras. Esta divisão faz com o que espectador fique alerta de onde e como o perigo irá aparecer e a estar atento a todo e qualquer movimento. Claro que o impacto destas sequências é diluído pela sua curta duração e com a consequente discussão no dia seguinte, sem resultados práticos. De qualquer forma, há duas ou três cenas aterradoras, com destaque para a sequência do sótão e quando uma das personagens é arrastada pela entidade.

 

Porém, o que prejudica gravemente o resultado de Actividade Paranormal é o seu desenlace: sem criar uma tensão crescente que leve o espectador a colar na cadeira, ele é anti-climático ao extremo e, pior de tudo, rendido aos piores clichés de Hollywood, como comprovam os últimos segundos. Ao contrário dos minutos finais de O Projecto Balir Witch, Cloverfield ou [REC] que rebentavam com os nervos do público, o filme atira o espectador para fora de sala com uma sensação de desapontamento e tempo perdido. Já aqui manifestei por diversas vezes que ter muitos milhões não significa ter um bom filme, como se pode ver pelas bostas que todos os anos invadem as salas de cinema. Pois bem, o inverso também se aplica: não basta ter uma boa ideia para se fazer um filme de sucesso.

 

Basta um bom departamento de marketing.

  

Qualidade da banha: 8/20

  

publicado às 14:39

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Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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