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"Esta cidade está cada vez pior. Mas eu não a trocava por nada deste Mundo!"
Quem me conhece sabe que eu repito esta expressão inúmeras vezes. Gosto de Espinho, sempre gostei. Nasci aqui e sempre vivi cá. Quando era mais novo e sempre que ia para fora, costumava dizer que o momento alto da viagem era ver a primeira placa a dizer "Espinho". Não há nada como voltar a casa. Mas como se pode gostar tanto de um local que perde o interesse a cada dia que passa? Simples: comodismo. E agora que penso no assunto, se calhar o comodismo guiou os rumos da minha vida mais vezes do que imagino.
Sempre que tinha de mudar de escola, ia sempre para onde estudavam o meu irmão e os meus primos. Era mais cómodo. Quando escolhi a Universidade de Aveiro para estudar (embora não fosse a primeira opção) era porque queria voltar a casa todos os dias. Não há nada como a comodidade do lar. Mais tarde, acabei por ir morar para Aveiro por pura necessidade, mas não sem antes de estudar lá há um ano e conhecer os cantos à casa. Acabados os estudos, voltei para casa. Arranjei trabalho em Espinho, a poucos minutos de casa. Mais cómodo, impossível.
Dificilmente me atiro às coisas de cabeça. Lido bem com a rotina. Qualquer mudança deixa-me de pé atrás. Mesmo qualquer alteração ao estado normal das coisas é bem ponderada. E sempre com pessimismo. Altos voos nunca foram para mim. Acho piada às pessoas que se lançam numa empreitada apenas para fugir à rotina. Confesso que sinto uma ponta de inveja desses corajosos, mas depois penso que todos perseguimos uma rotina, mesmo que ela seja "não ser rotineira". Típico da espécie humana esta necessidade de se sentir cómoda. Não será por isto que temos os nossos grupos de amigos, que andamos pelos mesmos sítios, que trabalhamos todos os dias, que nos afeiçoamos e amamos alguém? Perseguimos a estabilidade pelo que ela nos oferece ou pelo que podemos oferecer aos outros?
Egoísmo ou altruísmo?
ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
LOST 5x13: Some Like It Hoth
Para além dos mistérios, LOST é um óptimo estudo de personagens: a sua narrativa fragmentada, em que o passado se funde com o presente, permite que o espectador se torne mais próximo das personagens, bem como compreender os seus comportamentos, angústias e alegrias. Este foi um dos grandes chamarizes da série, fazendo com que cada pequeno evento se tornasse logo relevante num determinado contexto (Kate era uma fugitiva, Locke era paraplégico, Sawyer era um vigarista, Charlie era viciado em heroína, e por aí fora). Esta estrutura também possibilita que vislumbremos as evoluções no carácter das personagens, traçando um "antes" e um "depois" de um determinado momento: antes de cair na Ilha, já os sobreviventes andavam perdidos, sem rumo. Foi na Ilha que eles encontraram camaradagem (Hurley), um carácter generoso e afável (Sawyer), uma figura paterna para o seu filho (Claire e Charlie), um sentido para a vida (Locke) ou a reconstrução de uma relação aparentemente desfeita (Sun e Jin). Neste episódio conhecemos um pouco do percurso de Miles que durante toda a vida ressentiu a falta do pai, naquele que é o conflito mais evidenciado por LOST: a relação tumultuosa entre pais e filhos.
No entanto, é na Ilha que Miles vê-se perante o seu pai que é, nem mais nem menos, do que Pierre Chang (ou Marvin Candle), um dos promotores da Iniciativa Dharma e aquele que aparece nos misteriosos vídeos das escotilhas. Ou seja, é a Ilha, mais uma vez, que permite que o reencontro entre os dois e oferece a possibilidade de redenção para a relação entre Miles e o pai. Porque, no fundo, a Ilha mais não é do que um lugar onde a redenção acontece, quanto mais não seja na morte (Charlie, por exemplo). Ainda assim, Miles não toma a iniciativa de conhecer o pai, embora a tentação esteja presente (e se isto poderia afectar o rumo normal dos acontecimentos é algo que eu não posso responder). Nesse aspecto, foi óptimo ver a interacção entre ele e Hurley, com este último a mandar as melhores tiradas do episódio (aquela d' O Império Contra-Ataca foi impagável).
O restante episódio foi fértil em plantar pequenas sementes do conflito que se avizinha, seja com a cada vez mais crescente desconfiança com Sawyer/LaFleur e os novos recrutas ou através da noção de que poderá haver um terceiro grupo na Ilha, que não pertence nem a Widmore nem a Ben. Isto foi algo que me deixou surpreendido, principalmente por saber que realmente há algo na sombra da estátua e que a expressão não era nenhum tipo de código. Genial também o momento em que os números malditos são cravados na porta da escotilha. No final, surge o desaparecido Faraday e o próximo episódio - o centésimo - será centrado nele e descobriremos o que se passou nestes últimos 3 anos. Pena é que só daqui a duas semanas.
8 potes de banha
Comecei ontem a ver (e acabei hoje de manhã) Dead Set, a mini-série britânica de terror que fez furor no Outono passado. A história é um mimo: em plena noite de expulsão do programa Big Brother UK (com a participação mais do que especial da apresentadora verdadeira do mesmo) dá-se um ataque de zombies vindo do nada que torna a casa do Grande Irmão numa fortaleza improvisada para os poucos que conseguem escapar à furia assassina dos mortos-vivos. Desengane-se quem espera uma comédia satírica com toques de horror: Dead Set é um terror puro e duro, recheado de cenas impróprias a cardíacos, à boa maneira das histórias de zombies contemporâneas como 28 Dias Depois ou O Renascer dos Mortos. Para acalmar a tensão e o caos que se instalam, a mini-série (que bem podia ser um telefilme, pois tem quase duas horas e meia de duração) lança farpas afiadas aos reality shows, ao culto das celebridades, à futilidade da televisão moderna e à alienação das massas (os zombies são atraídos às instalações do programa, numa metáfora perfeita do público ávido por vedetas de meia tigela). As tiradas satíricas são inseridas de forma tão subtil no contexto, sem deixar de emperrar a acção, que fazem com que Dead Set alcance um equilíbrio tremendo, sem nunca deixar cair o pique. Urge descobrir. Para os fãs do "gore" ficarem de barriga cheia... os restantes duvido que aguentem com alguma coisa no estômago até ao final.
Assim a modos de recapitulação:
ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
LOST 5x12: Dead Is Dead
Contratado na segunda metade da segunda temporada, Michael Emerson só deveria fazer 6 episódios. No entanto, a sua personagem e interpretação agradaram tanto ao público e à crítica que os produtores de LOST não tiveram outra remédio que não incluí-lo no elenco fixo da série, o que se veio a revelar um grande acerto. Poucas personagens são tão ambíguas como Benjamin Linus: ninguém pode garantir ao certo quais as suas intenções no meio de tantas mentiras e, apesar de tudo, Ben revela-se como um vilão tridimensional, daqueles com o qual o público se identifica facilmente. Rodeado de mistérios, não admira que os episódios centrados em Ben estejam entre os melhores da série, algo que mais uma vez foi comprovado por este magnífico Dead Is Dead, que enfoca uma faceta de Ben raras vezes vista: o seu arrependimento e as suas fraquezas.
Tivemos a oportunidade de ver como ele "adoptou" Alex, a dinâmica entre ele e o líder da época, Charles Widmore, que poderá ter sido banido por influência de Ben, e vimos a tal promessa que Ben disse que cumpriria (matar Penny, onde não foi bem sucedido). Também vimos como Ben está, neste momento, um degrau abaixo de John Locke quanto a certos aspectos da Ilha, e o orgulho deste último em inferiorizar Ben é inegável (aliás, a química entre Terry O'Quinn e Michael Emerson é fabulosa, algo que vem desde o final da segunda temporada). O certo é que a liderança de Ben foi imposta pelo próprio ao assumir o lugar de Widmore, enquanto que a liderança de Locke é genuína, e Ben inveja essa ligação transcendente estabelecida entre Locke e a Ilha. Quando Ben se dirige ao Templo para ser julgado, a mensagem da Ilha é clara: ele tem de se sujeitar, a partir de agora, à influência de Locke e se isto faz parte de um plano maior que poderá levar (ou não) à redenção da personagem só o tempo dirá.
Entretanto, Ben continua a manter as incertezas do público: saberia ele que Locke ressuscitaria ou não? Eu creio que não: ao acordar e vê-lo vivinho e de boa saúde, Ben deu-se conta que perdeu o controlo da situação (eu acredito que ele também não esperava que os losties fossem parar aos anos 70). Quanto à pergunta "o que está na sombra da estátua?", creio que seja um código para identificar a equipa que Widmore enviou à Ilha depois de saber que Ben pretendia voltar, o que pode explicar o facto de Ilana ter capturado Sayid (lembrem-se que Widmore também tinha espiões a vigiar os Oceanic 6). Episódio brilhante, com alto destaque para Michael Emerson que bem pode contar com uma nomeação para os principais prémios da televisão norte-americana.
10 potes de banha
Trabalhar aos Sábados é:
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LOST 5x11: Whatever Happened, Happened
Reparem só: se os Oceanic 6 não tivessem voltado à Ilha, Sayid não teria disparado sobre o jovem Ben; Jack não se recusaria a fazer a cirurgia nele; e Kate e Sawyer não teriam se arriscado por ele. Ou seja, todos eles fizeram parte da "criação" do Ben que todos conhecemos: tudo o que acontece agora, já aconteceu. O ponto de vista dos losties (e, consequentemente o nosso) indica-nos que, actualmente, eles vivem o presente, mas para os restantes aquilo é passado. Isso foi bem explicado na conversa entre Miles e Hurley, com evocações à trilogia Regresso ao Futuro e uma pergunta deste último - porque Ben não se lembrava de Sayid - que revela um possível furo na história do primeiro (o que siginifica que os argumentistas estão atentos aos enigmas que consomem a cabeça do espectador e que, a seu tempo, as respostas virão).
Por ser um episódio centrado na Kate, temi que fosse mais um descartável, mas enganei-me. Gostei de como foi tratado o tema do pedido de Sawyer no helicóptero e da confirmação da entrega de Aaron à avó materna. Gostei também de ver Kate voltar a acção e tomar atitudes pela sua cabeça depois do luto auto-imposto (a sua atitude apática nos últimos episódios era devido à perda do "filho" e ainda bem que Evangeline Lilly não perdeu o tom). Também é óptimo ver a evolução das personagens de forma nada forçada: desde Sawyer (do qual já falei) a Jack que, mesmo nunca perdendo uma oportunidade de assumir as rédeas da situação, surge mais introspectivo que nunca, passando por Juliet que vê a sua tão almejada estabilidade na Ilha ameaçada com a chegada dos Oceanic 6.
Assim, segundo as regras estabelecidas, tudo o que vemos é o passado, os losties sempre estiveram lá. Richard Alpert referiu que Ben, ao entrar no templo, iria ser "alterado" e se tornaria um deles, num processo semelhante (presumo eu) aos companheiros de Rousseau que invadiram o local. Agora fica a dúvida se Ben sempre soube que Jack e companhia estiveram na Dharma nos anos 70 ou se ele sempre se esquecerá de tudo o que se passou. A primeira opção é a mais interessante, até porque potenciaria a mentalidade já de si genial da personagem. E o próximo episódio é centrado no Ben, o que me faz salivar ainda mais pela próxima semana. Maldita série que me tira o sono...
9 potes de banha