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A cada filme da Pixar Animation Studios que é lançado, cresce a ansiedade e o receio. Afinal, a empresa estabeleceu um patamar de qualidade tão elevado nas suas animações, que é impossível não pensar em desiludir-nos com um novo filme. E como no ano passado a Pixar lançou Ratatoille, que é, sem dúvida, um dos melhores filmes de animação de sempre, as expectativas e os receios estavam nos píncaros. Mais uma vez, a Pixar troca-nos as voltas e consegue o impensável: WALL•E é tão magnífico como Ratatouille (e Toy Story 2, já agora); uma obra arriscada que surpreende tanto na premissa quanto no desenvolvimento da acção. Uma experiência apaixonante a jornada do robot solitário que há 700 anos limpa um planeta Terra desabitado devido aos altos níveis de poluição e acaba por desenvolver uma personalidade humana. Com a chegada ao planeta do robot EVA, WALL•E entusiasma-se por encontrar um semelhante seu, sem saber que ambos estão prestes a embarcar numa aventura que poderá definir o futuro da Terra.
Na primeira metade, WALL•E praticamente não tem diálogos (o primeiro surge só aos 20 minutos), investindo todo o peso do desenvolvimento da história nas imagens. E que imagens! Panorâmicas de tirar o fôlego do planeta Terra deserto, seco, com lixeiras empilhadas como se fossem edifícios. Mais à frente, há um belíssimo bailado no espaço e é incrível constatar a antropoformização dos vários robots que vão surgindo no filme (melhor, só mesmo o efeito conseguido em Carros). Aliás, a nível visual, o filme é um regalo para os olhos, como já é hábito da Pixar. Os efeitos sonoros também são formidáveis, ou não fossem do mesmo técnico de Star Wars. O perfeccionismo técnico é algo que hoje já não é tão difícil de atingir e os magos da Pixar sabem isso, uma vez que nada se sobrepõe a algo tão descurado nos dias de hoje: o argumento. E o argumento de WALL•E é, numa palavra, perfeito.
A história de amor entre WALL•E e EVA é das mais belas que o Cinema já nos ofereceu: ele vê nela algo que o completa, ela tenta lutar contra as directrizes que lhe foram estabelecidas e, se a princípio ela o encara como uma anomalia do ecossistema terrestre, é comovente assistir ao surgimento gradual do afecto entre os dois. E depois temos a caracterização da raça humana no futuro: subjugada a uma vida de luxos e poucos esforços (os robots fazem tudo... mesmo tudo!), os humanos tornam-se obesos, vitimas do consumismo e de um estilo de vida fútil. O humor do filme é outro ponto alto: descendente directo da comédia clássica que fez história no Cinema, o filme homenageia Chaplin, Disney, Keaton, Spielberg (Wall•E tem semelhanças com ET) e até Kubrick (a inteligência central AUTO parece primo de Hal de 2001 - Odisséia no Espaço). E não de forma descarada e metida a martelo como em tantos outros filmes (tipo Shrek), mas de maneira orgânica e puramente dentro do contexto.
Mas o grande destaque acaba mesmo por ser o robot WALL•E: carismático ao máximo, ele age como uma criança, plena de curiosidade e inocência. E num filme com tanta coisa para arrebatar os sentidos, a melhor sequência é mesmo aquela que é a mais minimalista, hilariante e reveladora ao mesmo tempo: quando WALL•E leva EVA ao seu refúgio e ambos partilham várias experiências com objectos que ele foi recolhendo ao longo do tempo. Depois, ele tenta conquistá-la da mesma maneira como assiste repetidamente num velho VHS do filme Hello, Dolly!, porque, no seu entender, é assim que os humanos se relacionam.
Com uma mensagem ecológica que só engrandece a película, WALL•E é a prova da vitalidade da Pixar (se é que eram precisas mais), que não tem medo de ser ousada, desafiando a criatividade e não seguindo fórmulas feitas a pensar no lucro fácil. Que o Joker me perdoe, mas o posto número um do ano já tem dono. Podem fechar as contagens. Uma obra-prima inesquecível!
Qualidade da banha: 20/20
PS: é favor não chegar tarde à sessão, pois antes passa a costumeira curta-metragem da Pixar e desta vez é a hilariante Presto, que mais parece ter sido realizada por Chuck Jones com a tecnologia actual. E, se não for muito incómodo, fiquem para assistir aos créditos finais que fazem uma inventiva e bela homenagem à evolução da animação ao longo da História. E versão original, se possível.