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Agadir, sul de Marrocos, verão de 2002. Estava de férias com a minha família. A certa altura, aproxima-se de nós um vendedor ambulante que logo nos topou como turistas e que, pelas nossas características físicas, percebeu que éramos do sul da Europa. "Espanhóis? Italianos?" – perguntou. "Não. Portugueses." – respondemos. "Ah, Portugal! Figo, Benfica, Eusébio!" – exclamou com um imenso sorriso. Reparem só: estávamos em 2002, Figo brilhava no Real Madrid campeão europeu, o Benfica penava na lama há anos e Eusébio reformara-se há uns 25 anos.
É com histórias como esta que percebemos a dimensão dos símbolos. Tal como muitos que hoje escrevem, eu não vi Eusébio a jogar, mas conhecia o legado, nutria admiração e respeito. Nenhum dos meus avós era benfiquista, mas a maioria dos meus tios (tanto da parte da mãe como de pai) é adepta do Benfica – e tudo graças à fabulosa geração de 60 que contava com o Pantera Negra nas suas fileiras. Mesmo os meus familiares simpatizantes de outras cores afirmam, sem complexos, o prazer que foi ver Eusébio a espalhar magia por mil e um relvados e a semear o pânico com aquele portentoso remate de pé direito. A sua luz era tão brilhante que conseguia ofuscar os seus valiosos companheiros de equipa, mas os mitos funcionam assim mesmo: a figura cola-se no imaginário coletivo e é alçada ao divino. Tudo o resto (até o homem) é secundário.
O que Eusébio fez por um Portugal cinzento, pobre e ignorado é imensurável, mas o que ele fez pelo Maior é indizível. O Benfica não seria metade do que é hoje sem ele. Muitos de nós somos orgulhosos benfiquistas graças a Eusébio.
Numa altura em que se criam verdadeiras batalhas com discussões inúteis sobre se Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do Mundo e quiçá o melhor jogador português de sempre, o Rei deixa-nos com a certeza que até podia não ser o Melhor para todos, mas era Enorme todos os dias. Os mitos são assim: intocáveis. Maradona até pode ser o melhor, mas antes dele houve Pelé. E antes dele houve Garrincha. E isto só para pegar nos exemplos mais básicos e objetivos, já que a discussão daria pano para mangas. Por mim, todos terão sempre lugar no Olimpo que, mais uma vez, desviou do mundo dos vivos uma nova contratação de peso.
Até sempre, Campeão!