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Antes de falar de Procurado, filme de acção que estreou ontem, gostaria de fazer umas explicações que poderão servir para o futuro. Sempre gostei de cinema e leio revistas de banda-desenhada desde os meus 7/8 anos. Nos últimos anos temos assistido a uma proliferação de obras cinematográficas baseadas em BD's, principalmente comics norte-americanos. Isto só prova a secura de ideias que anda por Hollywood: basta ver a quantidade de sequelas, prequelas, adaptações de livros, remakes e outras ideias para disfarçar aquilo que está à vista de todos. Mas, divago. O certo é que não sou daqueles espectadores que se irritam com a mínima coisa num filme baseado numa BD. Há que ter em conta que são medias diferentes, com linguagem distintas e públicos mais ou menos homogéneos (e aqui entra a questão do pilim), e alterações devem ser feitas. Desde que se capte a essência da obra original e se faça um bom filme (ou BD) com isso, estamos conversados. Que me interessa que o Homem-Aranha não tenha os atiradores de teia? Eu quero é ver as agruras de Peter Parker com tudo o que o rodeia! Isto só para dar um exemplo. E se há pessoas que reclamam (muitas vezes, sem razão) de filmes baseados em comics, deviam ver era o oposto. Garanto que não dormiam dias a fio.
Serve isto para dizer que Procurado tinha mais a ganhar se fosse mais fiel ao comic que o originou. O filme acaba por ser um típico entretenimento de Hollywood e é uma pena constatar aquilo que poderia ter sido. Baseado muito levemente na obra de Mark Millar e J.G. Jones, a história começa com a apresentação de Wesley Gibson (James McAvoy, excelente no papel), apelidado pelo próprio de gajo mais fracassado à face da Terra. A namorada trai-o com o melhor amigo, o seu trabalho é um tédio, a sua chefa é uma víbora e ele precisa constantemente de comprimidos para ataques de pânico. Isto até ser recrutado por Fox (Angelina Jolie, esquelética que até mete dó) para um grupo de super-assassinos, apelidado de Fraternidade, e descobre ser o filho do melhor assassino que por lá passou, recentemente morto. No comic, tratava-se de super-vilões, o que dava para fazer imensas referências ao mundo das BDs (e picardias com o universo da DC Comics) e a Fraternidade era melhor explorada, com as suas sub-divisões e rivalidades entre os seus mentores. A primeira alteração ainda se justifica, a segunda não.
O filme mantém a irreverência da BD (embora não chegue tão longe) e nunca se leva muito a sério (basta ver a caracterização do universo de Gibson antes da recruta). E como o argumento abraça o absurdo logo desde o ínicio (o disparo de uma determinada arma a muitos quilómetros de distância), o espectador sente-se à vontade para se divertir com as exageradas (exageradíssimas) sequências de acção, com destaque para a primeira perseguição de carros e o segundo trabalho de Gibson (a do comboio, por ser menos divertida, já soa mais ridícula). A violência é tão estilizada e tão descompromissada que se torna inevitável o riso com o absurdo da cena.
E aqui entram os defeitos da máquina de Hollywood: a história previsível e telegrafada para o espectador; a necessidade de fornecer um passado triste para que nos identifiquemos com determinada personagem; a redenção do herói e por aí vai. O realizador russo Timur Bekmambetov (outra mania de Hollywood: ir buscar realizadores de sucesso europeus e transformá-los em tarefeiros de serviço) emprega todo o seu estilo na condução da narrativa: cortes rápidos e secos, voltas de 360º com a câmara e uso da câmara lenta, que aqui é contextualizada como a "percepção" das personagens (só vendo o filme para ter a explicação) e até nem se sai mal. Bom entretenimento, mas prefiram a banda-desenhada, se tiverem oportunidade de ler.
Qualidade da banha: 13/20