Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Sim, eu sei que tenho quatro episódios de Fringe em atraso, mas nada temam: não abandonei a série nem estou desiludido com a mesma – muito pelo contrário. Tirando o terceiro capítulo com aquela foleirada de povo que registava tudo naqueles cubos e tomava uma atitude passiva perante os acontecimentos (como qualquer historiador) e cujo sacrifício daquele pai ao ajudar a Divisão Fringe já se antecipava a milhas do fim, os rumos tomados nesta reta final estão a agradar-me e muito.
A questão das cassetes de vídeo ainda me causa arrepios (eu pensei que elas estariam espalhadas pela cidade e não que estariam todas presas no âmbar), mas quanto menos pensar nisso melhor. A morte de Etta nas mãos dos Observadores foi surpreendente por acontecer tão cedo e por ser o estopim da revolução que Peter opera em si mesmo. Como Olivia já referira em conversa com o marido, o desaparecimento da filha de ambos fez com que Peter se agarrasse à ideia de a reencontrar e Olivia, já sem esperanças, preferiu reunir forças pela Resistência. Assim, não admira que ela adote uma postura mais distante durante o luto (totalmente condizente com a sua personalidade) e Peter embarque numa jornada de vingança e fúria com consequências imprevisíveis – e potencialmente desastrosas.
Claro que isto faz com que Anna Torv ande meia apagada, o que é compensado pelo show dado por Joshua Jackson na sua cruzada contra os Observadores: ao implantar o dispositivo que os torna tão poderosos, Peter é provavelmente o primeiro de todos os Observadores, algo que reforça ainda mais a sua importância no "grande esquema das coisas" e justifica a sua salvação quando quase se afogava logo após Walter o ter raptado do Lado B e o facto de ter "regressado" na quarta temporada. Desta forma, Fringe parece investir numa lógica circular tão comum em narrativas que lidam com viagens no tempo (e que tanto me fascinam) e parece mesmo disposta a fechar as pontas soltas de maneira coerente (o que pode ser comprovado com o ressurgimento daquele rapaz visto na primeira temporada e que, sabemos agora, sempre era um Observador).
Sempre disponível para mergulhar em ideias intrigantes, Fringe introduz o conceito de um pocket universe (ou mundo compacto para quem, como eu, leu banda desenhada a mais), um universo inserido nos limites de outro maior, mas que não pode ser acedido pelos meios normais e onde as regras da Ciência não funcionam da mesma forma (um exemplo famosíssimo é a Ilha de LOST), embora escorregue na tolice de fazer-nos acreditar que Walter guardaria exemplos de casos arquivados e confidenciais na cave do laboratório, apesar de a ideia de os usar contra os Observadores tenha a sua piada. E ainda que eu ache que a busca pelas cassetes não funciona na perfeição, tenho de tirar o chapéu pelo facto de a série conseguir equilibrar a sua continuidade narrativa com um aspeto que sempre a caracterizou: os casos da semana que acabam por ter uma ténue relação entre si.
No entanto, é o lado humano da série que ainda se destaca e se Peter faz uma jogada perigosa para derrotar os Observadores, é provável que isso lhe custe a sua humanidade – o reflexo do próprio Walter que, ao recolocar as partes do cérebro que lhe faltavam, vê-se a voltar a ser o homem que tanto abominava. Mais do que isso: ao tornar-se no potencial primeiro Observador, Peter percorre o mesmo caminho que Walter que, por motivos passionais (a morte do filho), tomou uma decisão catastrófica e deixou dois universos em pé de guerra. É um Peter moralmente dividido entre a sua integridade e a possibilidade de salvar tudo o resto que acompanhamos agora – um lugar onde Walter já esteve tantas vezes e que demonstra um dos temais preferidos de Fringe: a relação entre pais e filhos. Peter, inadvertidamente, está em vias de cometer os mesmos erros do pai.