Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Duro. Violento. Polémico. Necessário.

por Antero, em 08.07.08

 

Assim é Tropa de Elite, controverso filme brasileiro de 2007, que estreia esta semana em Portugal. Lançado em Outubro do ano transacto, a sua estreia teve de ser antecipada em várias semanas devido a uma cópia pirata que vazou na Internet, criando imenso hype à volta da película. Resultado: filme mais visto no Brasil nesse ano, fenómeno social que levou a intensas discussões (desde acusações de fascismo ao realizador passando por condenações da situação que relata) e uma mão cheia de prémios arrebatados. Primo afastado do sublime Cidade de Deus, o seu grande problema foi ter sido lançado depois deste. As comparações são inevitáveis, principalmente ao nível da temática. Mas, ainda assim, Tropa de Elite é um dos melhores filmes do ano.

 

Começando a narrativa num momento-chave da mesma, levando o público a pensar que todas as histórias irão desaguar naquele final, o que não acontece, Tropa de Elite aborda a guerra entre as brigadas do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e os traficantes de droga dos morros do Rio de Janeiro. Focando a sua história, num batalhão chefiado pelo eficiente e inteligente capitão Nascimento (Wagner Moura, que carrega o filme às costas), que, devido a uma visita do Papa ao Brasil, tem de manter aquelas zonas de risco calmas. Prestes a ser pai e frequentemente sofrendo ataques de ansiedade, Nascimento ouve os pedidos da mulher e prepara a sua reforma do BOPE. Mas, antes disso, terá de arranjar um substituto para o seu lugar e vê dois candidatos a esse papel: Matias, cauteloso e inteligente, e Neto, corajoso e decidido. Estes dois serão treinados e testados até seguirem para o campo, acompanhando missões do batalhão e terem as suas verdadeiras provas de fogo.

 

Retratando a violência da situação a que chegou a sociedade brasileira de forma crua (há duas execuções numa colina que são extremamente chocantes), mas não menos realista, Tropa de Elite é um filme complexo, muito mais profundo do que aquilo que aparenta. A abordagem mais superficial seria a da brutalidade dos métodos utilizados pelas duas facções na guerra contra a droga, mas o filme mete o dedo na ferida ao expôr a hipocrisia da classe média/alta que tanto dá a cara em iniciativas de reabilitação e manifestações públicas como alimenta o problema ao comprar droga ao mesmo sistema que dizem pretender abater. Outro tema abordado é a da corrupção que existe nas estruturas governamentais, que se mostram tão lestas em querer combater o tráfico, mas que não se mostram muito afectas em corrigir problemas dos recursos utilizados nesse combate.

 

Acusado de glorificar a violência como meio de combate aos males da sociedade, Tropa de Elite promove mais a reflexão do que propriamente a adopção de um ponto de vista. Se ocorre uma celebração da violência (e da figura do capitão Nascimento), tal estará mais relacionado com as experiências e ideias do espectador comum do que com a mensagem que o filme deseja transmitir. A frustração social quanto a esta guerra, cujos resultados práticos são escassos, leva a que o público "perdoe" as acções violentas de Nascimento. Sim, ele é violento e recorre a métodos cruéis para obter o que quer, mas ao menos alguém faz alguma coisa – pensarão os espectadores e, neste aspecto, o filme funciona quase como uma catarse. No entanto, na situação actual, a figura do capitão Nascimento é um mal menor e não a solução final. Numa guerra, não há inocentes. Só culpados.

 

Qualidade da banha: 17/20

 

publicado às 21:29



Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

Pesquisar

  Pesquisar no Blog


Armazém

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D