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Assim é Tropa de Elite, controverso filme brasileiro de 2007, que estreia esta semana em Portugal. Lançado em Outubro do ano transacto, a sua estreia teve de ser antecipada em várias semanas devido a uma cópia pirata que vazou na Internet, criando imenso hype à volta da película. Resultado: filme mais visto no Brasil nesse ano, fenómeno social que levou a intensas discussões (desde acusações de fascismo ao realizador passando por condenações da situação que relata) e uma mão cheia de prémios arrebatados. Primo afastado do sublime Cidade de Deus, o seu grande problema foi ter sido lançado depois deste. As comparações são inevitáveis, principalmente ao nível da temática. Mas, ainda assim, Tropa de Elite é um dos melhores filmes do ano.
Começando a narrativa num momento-chave da mesma, levando o público a pensar que todas as histórias irão desaguar naquele final, o que não acontece, Tropa de Elite aborda a guerra entre as brigadas do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e os traficantes de droga dos morros do Rio de Janeiro. Focando a sua história, num batalhão chefiado pelo eficiente e inteligente capitão Nascimento (Wagner Moura, que carrega o filme às costas), que, devido a uma visita do Papa ao Brasil, tem de manter aquelas zonas de risco calmas. Prestes a ser pai e frequentemente sofrendo ataques de ansiedade, Nascimento ouve os pedidos da mulher e prepara a sua reforma do BOPE. Mas, antes disso, terá de arranjar um substituto para o seu lugar e vê dois candidatos a esse papel: Matias, cauteloso e inteligente, e Neto, corajoso e decidido. Estes dois serão treinados e testados até seguirem para o campo, acompanhando missões do batalhão e terem as suas verdadeiras provas de fogo.
Retratando a violência da situação a que chegou a sociedade brasileira de forma crua (há duas execuções numa colina que são extremamente chocantes), mas não menos realista, Tropa de Elite é um filme complexo, muito mais profundo do que aquilo que aparenta. A abordagem mais superficial seria a da brutalidade dos métodos utilizados pelas duas facções na guerra contra a droga, mas o filme mete o dedo na ferida ao expôr a hipocrisia da classe média/alta que tanto dá a cara em iniciativas de reabilitação e manifestações públicas como alimenta o problema ao comprar droga ao mesmo sistema que dizem pretender abater. Outro tema abordado é a da corrupção que existe nas estruturas governamentais, que se mostram tão lestas em querer combater o tráfico, mas que não se mostram muito afectas em corrigir problemas dos recursos utilizados nesse combate.
Acusado de glorificar a violência como meio de combate aos males da sociedade, Tropa de Elite promove mais a reflexão do que propriamente a adopção de um ponto de vista. Se ocorre uma celebração da violência (e da figura do capitão Nascimento), tal estará mais relacionado com as experiências e ideias do espectador comum do que com a mensagem que o filme deseja transmitir. A frustração social quanto a esta guerra, cujos resultados práticos são escassos, leva a que o público "perdoe" as acções violentas de Nascimento. Sim, ele é violento e recorre a métodos cruéis para obter o que quer, mas ao menos alguém faz alguma coisa – pensarão os espectadores e, neste aspecto, o filme funciona quase como uma catarse. No entanto, na situação actual, a figura do capitão Nascimento é um mal menor e não a solução final. Numa guerra, não há inocentes. Só culpados.
Qualidade da banha: 17/20