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ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Fringe 4x21/4x22: Brave New World
Se este fosse o final da série, eu ficaria frustrado. Como final de temporada não foi dos melhores e deixa um sabor amargo na boca, mas há razões para olhar para os 13 episódios finais com esperança e pensar que isto foi apenas um acidente de percurso num produto tão inventivo e atento aos detalhes. Temo que a indecisão da FOX quanto à renovação deixou os produtores com uma enorme bota para descalçar e, assim, tentaram agregar tudo num desfecho que satisfizesse o público fiel, até por que os dois capítulos fecham várias pontas e poderia, sim, ter sido o encerramento previsto. O tal episódio em 2036 ficaria como um sinal do que eles teriam feito caso a machadada final fosse dada pela estação, o que não aconteceu e ainda bem. O que me irritou foi a maneira corrida e trapalhona como tudo foi encadeado.
Na primeira parte, vemos que é William Bell a figura por detrás dos planos de David Robert Jones e este era um mero peão das suas maquinações. Primeira escorregadela: uma temporada inteira a desenhar Jones como o grande vilão e traçam-lhe uma despedida inglória numa das maquinações mais absurdas que já acompanhei (sim, até mesmo para Fringe): uns nanorobots disseminados num espaço público que matam por combustão espontânea todos aqueles que se encontram em movimento. Os sobreviventes ficam ali parados à espera de ajuda da Divisão Fringe e estes levam APENAS UMA pessoa como amostra (Rebecca Mader, mais uma a fazer-me suspirar por LOST) quando o FBI facilmente arranjaria meios para ajudar todos os outros que se mantinham imóveis (quanto mais não fosse para deitá-los). Jessica, a cobaia, tem um peripaco enquanto Walter sintetiza o antídoto e é Olivia, com os seus superpoderes, que a estabiliza numa ótima cena que antecipava um excelente rumo para o final.
Nada disso: um raio de luz solar projeta-se sobre Boston e ameaça destruir um reservatório de petróleo sob a cidade. Peter e Olivia seguem no encalço de Jones que estava a controlar o fenómeno e deparam-se com duas antenas no topo dois prédios e que devem ser desativadas AO MESMO TEMPO! Olivia para um lado, Peter para o outro e este é atacado por Jones num mano a mano indigno de uma inteligência superior como o nosso vilão que, certamente, deve ter uma mão cheia de ajudantes mais habilitados para o confronto. Eis que, no outro prédio, Olivia superpoderosa controla o corpo de Peter a ajuda-o a eliminar o "grande vilão" numa cena tão mal conduzida que pensei que estava a assistir Heroes. E tudo isto para quê? Ora, para desviar Peter e Olivia do caminho de Bell e fazer com que Walter reencontrasse o cientista. Como Bell conseguiu planear e executar cuidadosamente tantas variáveis em jogo é um mistério para mim, mas talvez ele já contasse com a inépcia jamais vista de Jones que nem um jogo de xadrez sabe interpretar (era óbvio que o bispo seria ele) e recebe o sermão sobre o jogo como uma lição divina, quando aquilo não é mais do que baboseiras incorretas sobre algo milenar (a peça mais valiosa é o rei e nunca, em momento algum, se sacrifica – ou o jogo termina por desistência!).
A segunda parte não foi tão fraca; foi apenas mediana. Começamos com Astrid baleada sabendo que ela estará viva e de boa saúde no futuro, mas ao menos não tentaram criar tensão com o assunto. Talvez desagradado com as escolhas da FOX, o grande plano de Bell é ter uma segunda temporada de Terra Nova à força toda, nem que para isso tenha de destruir dois universos e criar um novo. A tal de Jessica pede ajuda a Olivia, mas era tudo um logro e ela trabalha para Bell. Aqui temos a melhor cena de ambos os episódios: Setembro encurralado a intercetar as balas disparadas por Jessica. No entanto, não consegue evitar o disparo de uma arma mais sofisticada (obra de Bell), o que explica como ele apareceu ferido no laboratório de Walter há uns capítulos atrás. Mais uma vez é Olivia, a Mulher-Maravilha, a conseguir fazer ricochete com as próprias mãos e mata a aliada de Bell. O Observador desaparece depois de declarar a Olivia que a conversa que tiveram sobre o facto de ela estar destinada a morrer de qualquer maneira ainda não havia ocorrido, numa daqueles maravilhosos nós no cérebro que só as viagens no tempo proporcionam.
A seguir, tivemos direito à sequência mais bizarra de toda a série e olhem que a concorrência é enorme: o cérebro de Jessica é brevemente reativado através de equipamentos da Massive Dynamic e revela de forma enigmática a localização de Bell e Walter. Estes têm uma conversa onde o primeiro tenta convencer o segundo sobre a validade dos seus planos, afinal a ideia inicial era de Walter antes de este ter removido partes do seu cérebro por temer a pessoa que se estava a tornar. Os universos começam a entrar em colapso e Peter e Olivia chegam mesmo a tempo de impedir Bell, só que este assegura que o processo é irreversível graças aos poderes "cortexiphianos" de Olivia – então, Walter dá-lhe um tiro em cheio na testa e interrompe a destruição das realidades. O resto foi previsível: Bell desaparece ao tocar num sino (momento vergonha alheia) e Walter acaba por "ressuscitar" Olivia, vide as capacidade regenerativas do medicamento vistas no episódio anterior lá com o bolo de limão. Apesar de tudo, a cena foi bem conduzida e deu para sentir o desespero de Peter e o pragmatismo de Walter.
A encerrar, a Divisão Fringe recebe um aumento de verbas pelos serviços prestados e Olivia descobre no hospital que está grávida (nas séries, toda a gente descobre que carrega um feto depois de passar por perigo de vida). Seria o desfecho satisfatório se Setembro não aparecesse de rompante no laboratório a avisar que "eles estão a caminho" – "eles" são, naturalmente, os Observadores que preparam-se para tomar conta do Mundo. Nota-se que esta é a cena que distingue o desfecho planeado caso a série fosse cancelada e aquele que faria a ponte para a quinta temporada.
No geral, gostei muito da temporada e deram bem a volta à situação do "desaparecimento" de Peter. Abriram novas possibilidades, puseram os dois universos em colaboração total (e todo o elenco foi formidável neste aspeto) e responderam a um monte de perguntas. Já o final foi apressado, mal trabalhado (os poderes de Olivia cresciam consoante os intervalos comerciais) e muito previsível. Brochante seria o termo ideal. Assim, Fringe despede-se este ano abaixo daquilo que nos proporcionou na estupenda terceira temporada, mas é de acreditar que, com 13 episódios, não deverá haver espaço para enrolações nem margem de manobra para soluções enfiadas a martelo.
Vemo-nos em setembro!