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Os Jogos da Fome

por Antero, em 22.03.12

 

The Hunger Games (2012)

Realização: Gary Ross

Argumento: Gary Ross, Suzanne Collins, Billy Ray

Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Stanley Tucci, Lenny Kravitz, Liam Hemsworth
 

Qualidade da banha:

 

Até recentemente eu nunca ouvira falar de Os Jogos da Fome, o livro que deu origem a uma trilogia bem-sucedida e que li por aí (com o aproximar da estreia da aguardada adaptação para o grande ecrã) que se compara a Twilight a nível de fenómeno mediático – e foi com este pensamento em mente que me sentei para ver o filme e suspirei esperando o pior. Duas horas e meia depois, saí da sala satisfeito por perceber que nos pontos onde Os Jogos da Fome poderia falhar, o realizador Gary Ross acertara em cheio.


Baseado no livro de Suzanne Collins (que também deu uma mãozinha no argumento), Os Jogos da Fome situa-se num futuro pós-apocalíptico onde existe Panen, uma nação administrada por um governo totalitário que domina os seus 12 distritos. Todos os anos, para comemorar uma rebelião fracassada contra o Capitólio, cada distrito envia dois adolescentes entre os 12 e os 18 anos para participar nos Jogos da Fome, competições de vida e morte em que apenas um sairá vencedor. Katniss Everdeen (Lawrence) é uma jovem de 16 anos que se voluntaria para substituir a sua irmã no evento e, juntamente com o seu conterrâneo Peeta Mellark (Hutcherson), terá de usar as suas habilidades e o treino providenciado pelo antigo campeão Haymich (Harrelson) para sobreviver e voltar para a sua família.

Quem já viu meia dúzia de filmes do género, não ficará surpreendido pela proposta. Assim de cabeça, consigo enumerar alguns com os quais Os Jogos da Fome tem bastantes semelhanças: do japonês Battle Royale vai buscar a ideia da arena onde jovens duelam até à morte (quase a raiar o plágio); de Rollerball e O Gladiador (aquele com o Schwarzenegger) pede emprestado o espetáculo televisivo e os patrocinadores que comandam o evento; e de todos estes e incontáveis outros está a sociedade distópica e opressora. Isso, porém, são problemas que vêm do livro aos quais o filme não pode fugir e fá-lo com extrema eficácia.

Dividido em três partes distintas, Os Jogos da Fome começa no Distrito 12, lar de Katniss, onde reina a pobreza e a fome, passando depois para o Capitólio, com os seus cenários faustosos, cores berrantes (e onde os efeitos especiais surgem mais irregulares) e uma componente satírica do capitalismo desenfreado e da alienação promovida pelos meios de comunicação que, nada original, ao menos mantém-se interessante ao apresentar a discrepância entre a miséria da periferia e a riqueza do centro urbano. Isto tudo a preparar terreno para a competição em si que ocupa grande parte da projeção e que é o grande destaque da película não por querermos saber o que vai acontecer à protagonista (isso é fácil), mas sim como vai acontecer.

Este interesse em Katniss não é despropositado: graças a uma prestação sólida de Jennifer Lawrence (Despojos de Inverno,X-Men: O Início), a jovem é delineada como uma mulher forte e determinada que, à conta dos obstáculos que se atropelaram na sua vida, aprendeu a cuidar de si a qualquer custo e que desperta a nossa admiração pelo seu olhar triste de alguém que sabe que, para se fazerem coisas boas, há que cruzar certos limites pelo caminho. Mais do que isso: Katniss facilmente ocupa o lugar de heroína e relega Peeta ao posto de "donzela em perigo", não obstante este também ter os seus méritos na hora do combate (embora não esteja à altura da jovem). Por outras palavras, Katniss é a anti-Bella Swan.

 

Suavizado na violência (o que se compreende pelo público-alvo), Os Jogos da Fome mantém uma aura melancólica e de grande impacto emocional (uma das mortes é particularmente dolorosa não pela personagem em si, mas sim pelo que representa para Katniss) – e mesmo figuras burlescas como o apresentador vivido por Stanley Tucci e a assistente de Elizabeth Banks servem mais como curiosidades engraçadas naquele universo e não tanto como alívio cómico. Por outro lado, Woody Harrelson e Lenny Kravitz aproveitam ao máximo o pouco tempo que têm de antena e compõem seres que oscilam entre o carinho que demonstram pelos seus protegidos e o cinismo que a ocasião inspira (afinal, são crianças a matar crianças).

 

No fundo é isto que torna Os Jogos da Fome acima da média: a maneira nada infantilizada com que lida com uma situação extrema e como aqueles indivíduos reagem perante as adversidades. Gary Ross assegura um ritmo empolgante a partir do momento que se inicia a competição e nem precisa da violência gráfica para causar grande impressão, recorrendo a gritos, golpes de armas e pequenos jorros de sangue para sugerir o horror dos acontecimentos (e, muitas vezes, sugestão é o que basta). Contudo, a sua inexperiência ao leme de sequências de ação quase estraga o duelo final, com a sua câmara tremida e cortes confusos e o final pode não satisfazer toda a gente pela maneira ambígua com que acaba e por deixar uma pontinha aberta para a já anunciada sequela.

 

Se o forem ver, não pensem nisto como o novo Twilight: isto é todo um outro campeonato.

 

publicado às 19:23


1 comentário

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De Pedro Calheiros a 07.04.2012 às 01:09

Por acaso a coisa que me desiludiu no filme foram as sequências finais de acção (luta final)... não se percebe nada! Não me identifico com esta forma de filmar cenas de luta, que infelizmente parece popular nos dias de hj :S A verdade é que já vi filmes que usam outras formas de filmar para esse tipo de cenas e resultam, daí não perceber este "género".

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Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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