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Seguem as impressões sobre dois filmes que assisti ontem.

 

Brincadeiras Perigosas

Funny Games U.S.


 

Nova versão do austríaco Funny Games (1997), realizado pelo mesmo cineasta, Michael Haneke, porém toda a história é estabelecida nos Estados Unidos (daí a adição do “U.S.” no nome original). No fundo, Haneke acabou por refilmar a sua própria obra praticamente plano-a-plano, o que levará a questões sobre a validade de realização de uma obra que mais não será uma cópia da original e cuja história não se desvia nem um milímetro da anterior. Assim, os resultados desta nova versão terão de ser analisados consoante as reacções que provoca e, neste aspecto, o filme não desilude: apesar de soar redundante, Brincadeiras Perigosas é, tal como o original, um filme perturbador e um interessante ensaio sobre a relação do espectador com a violência, tendo os media como intermediários.

 

A calma das férias de uma família é interrompida com a chegada de dois indivíduos que se dispõem a fazer cruéis jogos psicológicos, apostando que Ann, George e o filho de ambos, Georgie, estarão mortos na manhã do dia seguinte. A objectiva de Haneke retrata, nos minutos iniciais, a família idílica, cuja estabilidade será abalada: assentando todo o seu filme em longos planos sequência que servem para carregar a tensão no espectador (a princípio, há a ideia de que algo horrível irá acontecer; mais tarde, tememos o que poderá vir a seguir), o filme estabelece que a violência psicológica provocada na audiência consegue ter efeitos mais nefastos que a violência gráfica. E tudo isto é executado numa obra cujas cenas violentas ocorrem fora do ecrã: o espectador apenas imagina (por sons ou expressões nas restantes personagens) o horror que sucede naquela casa, o que torna tudo mais assustador.

 

Fazendo da audiência sua cúmplice naquilo que mostra (um dos psicopatas, Paul, interage directamente com o público, quebrando a “quarta parede”), Haneke concede-nos o estatuto de voyeur (como já havia feito no aborrecidíssimo Caché – Nada a Esconder), sem no entanto fazer um exercício de perversão, como no recente Hostel. Aqui, a intenção é clara: mostrar à plateia a curiosidade absurda que, hoje em dia, o ser humano tem para com a violência, nos diversos meios de comunicação. Actualmente, há uma certa banalização da violência: basta assistir aos telejornais com as suas notícias sensacionalistas ou ver filmes de Hollywood que acabam por glorificar a violência, seja como meio para se atingir um fim ou seja para fins de entretenimento.

 

Os actores cumprem visceralmente os seus papéis, com destaque para Naomi Watts no papel de Ann, Brady Corbet, que transmite uma certa ingenuidade e imprevisibilidade a Peter, e Michael Pitt no papel de Paul, que, com os seus discursos plenos de sadismo, revela-se o mais perigoso dos dois. O grande problema do filme é mesmo o facto de não trazer nada de novo: quem viu o original, escusa de assistir a este e vice-versa. Mas, para os recém-chegados, a viagem vale muita a pena.

 

Qualidade da banha: 15/20

 

 

Hancock

Hancock


 

John Hancock (Will Smith, com o carisma de sempre) é o único super-herói do mundo actual. Afundado na bebida e sempre mal-humorado, as suas acções acabam por resultar numa opinião pública negativa que o obriga a retratar-se. Depois de salvar um relações públicas fracassado, Ray (Jason Bateman, o costume), acaba por aceitar a sua ajuda de modo a melhorar a sua imagem. Como comédia, o filme deixa muito a desejar: a partir da metade, a família de Ray e a busca pelas origens de Hancock passam a ser o foco principal da película; como filme de acção, também não é lá grande coisa, com cenas de acção espalhafatosas e cujos efeitos especiais por computador podiam ser mais caprichados.

 

O argumento, no meio de tanta coisa a abordar (a recuperação, a origem, a vingança dos vilões, o impacto de uma revelação sobre a mulher de Ray, Mary), acaba por andar aos solavancos e diluir todos os enredos numa resolução sem muita chama. Ao menos, somos poupados da velha história do herói que, novamente nas boas graças do público, se deixa consumir pela fama, descobrindo o valor dos laços familiares e de amizade mais tarde (não é que o desenvolvimento seja brilhante, mas, se fosse este, abandonava o filme a meio). O certo é que Hancock tem boas ideias; executá-las é outra história. E o filme perde-se.

 

Recheado de furos (como os vilões sabiam da fraqueza de Hancock? Porque este não foge do hospital, se a sua presença lá põe em risco a vida de outra pessoa? Porque é que, a certa altura do filme, os seus poderes oscilam, quando deveriam diminuir gradualmente?) e situações mal explicadas (Ray parece aceitar a situação da esposa muito facilmente; um noticiário informa da fuga dos vilões da prisão, e mal; Mary, a certa altura, não quer que se saiba o seu segredo, mas, logo a seguir, participa numa cena de acção com centenas de pessoas a assistir!), o filme até consegue entreter razoavelmente, graças ao carisma de Smith e Bateman. Ao passo que Charlize Theron cria uma personagem séria demais para um filme deste género, eles os dois divertem-se a valer nos seus papéis. Um filme esforçado e só.

 

Qualidade da banha: 9/20

 

publicado às 13:07



Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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