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O Artista

por Antero, em 03.02.12

 

The Artist (2011)

Realização: Michel Hazanavicius

Argumento: Michel Hazanavicius

Elenco: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell, Missi Pyle, Penelope Ann Miller
 

Qualidade da banha:

 

Homenagem sincera a uma maneira extinta de se fazer Cinema ou simples réplica dos filmes mudos dos anos 20, o certo é que O Artista é uma obra corajosa: apresentado em preto e branco, praticamente sem diálogos e sons diegéticos (orgânicos à narrativa) e com uma equipa relativamente desconhecida, até custa a acreditar que um dos filmes mais badalados da temporada reúna estas condições. O que outros poderiam encarar como limitações, o realizador Michel Hazanavicius usa-as a seu favor para criar uma experiência envolvente, nostálgica e única. Mais do que isso: um memorável esforço artístico.

George Valentin (Dujardin) é uma estrela cinematográfica que tem tudo: sucesso, fama, milhões de fãs, um motorista fiel (Cromwell), a confiança do estúdio, uma esposa mimada (Miller) e um cão que é o seu companheiro dentro e fora dos ecrãs (o adorável Uggie). Certo dia, Valentin cruza-se com a jovem e bela Peppy Miller (Bejo) que tenta a sua sorte em Hollywood e o ator, claramente fascinado por ela, acaba por lhe servir como rampa de lançamento. Pouco depois, o som revoluciona a indústria e Valentin vê a sua carreira desmoronar enquanto Peppy dispara rumo ao estrelato.

Obviamente inspirado por Assim Nasce Uma Estrela (a queda de um mito e a ascensão da sua "protegida") e pelo maravilhoso Serenata à Chuva (a transição do cinema mudo para o sonoro), O Artista incorpora vários elementos da época em questão: a proporção do ecrã é a chamada "janela clássica" (1.33:1); a evocativa banda sonora serve para pontuar a narrativa; as transições de cenas são feitas com recursos típicos da altura (fades, transição em íris, ...); vários close-ups das caras dos atores; a iluminação e a fotografia remetem para a Hollywood dos anos 20 com eficiência (embora o filme tenha sido gravado a cores). Mesmo os entretítulos usados para os diálogos são utilizados com inteligência para que apareçam o mínimo possível e informando apenas o essencial – cabe pois ao elenco a tarefa de transmitir tudo o que se passa no ecrã.

Tarefa esta aparentemente simples, mas acreditem que não é. Caracterizado por intérpretes que faziam "caretas", o cinema mudo valia-se do exagero das expressões e dos movimentos digno do Teatro, visto que esta era a única forma de comunicar emoções à plateia. Hazanavicius inicia O Artista com a apresentação do filme mais recente de Valentin, numa boa opção que prepara o espectador para o que virá a seguir, mas o realizador também percebe que o público atual está condicionado por décadas e décadas de Cinema onde o excesso de outrora já não tem lugar – e como a história acompanha as personagens "fora dos ecrãs", as suas composições não podem cair neste erro, o que sem o auxílio do som e com poucos diálogos, não é nada fácil.

Desta forma, a linguagem corporal dos atores assume um papel fulcral que, mal trabalhada, arruinaria tudo. Felizmente, Jean Dujardin e Bérénice Bejo exibem uma química exemplar e fazem um par notável. Ele capta a aura que rodeava os galãs da época, bem como o carisma e a canastrice de um Rudolph Valentino, mas também comove com a sua decadência e conquista a nossa admiração pelo seu espírito lutador, além de ter um timing cómico impecável. A atriz, por outro lado, faz um autêntico milagre: linda e graciosa, Peppy rapidamente desperta a nossa atenção e torcemos pelo seu sucesso – e ainda que pudesse tornar-se numa pessoa egoísta e detestável devido a fama recém-conquistada (ela refere-se a romances pontuais como "brinquedos"), ela mostra uma genuína preocupação em não renegar as suas origens e em quem a inspirou.

Mas é Hazanavicius que, em última instância, é o responsável máximo por fazer todos estes elementos funcionarem na perfeição e que, à parte da previsível história amorosa de ascensão e queda, vai ao baú do Cinema para nos relembrar de uma lição vastas vezes esquecida: não adiantam elaborados e dispendiosos recursos à disposição se o espectador não for capaz de se comprometer emocionalmente com o que se passa no ecrã. Mesmo que a história seja apresentada a preto e branco, sem som e com desconhecidos. Pormenores técnicos, dirão alguns, mas O Artista funciona magistralmente por que estes trabalham em conjunto para um objetivo comum: divertir o público.

Não é para isto que serve a Sétima Arte, afinal?

publicado às 03:20


3 comentários

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De João Pina a 11.02.2012 às 02:23

Eu fui ver O Artista, pois estava curioso em relação a um filme mudo e a preto e branco nos dias de hoje. Não fazia ideia do que iria encontrar quando me sentei na sala de cinema, até porque nem vi o trailler...portanto fui mesmo à descoberta. Devo confessar que superou quaisquer espectativas que pudesse ter! É verdade que é estranho estarmos numa sala de cinema a vermos um filme e não ouvirmos ninguém a falar. As pessoas ao pé de mim (e eu próprio) riam-se timidamente e baixinho em cenas mais cómicas, parecendo ter medo de fazer barulho e pertubar os outros...até nisso achei esta experiência fenomenal. Mas o que mais me agradou no filme, além da brilhante interpretação dos protagonista (cão incluído :D) foi o facto da película fazer uma transição perfeita entre o cinema mudo e falado. A caminho da sala de cinema comentava com uma amiga que o filme seria mais interessante se fizesse a transição dos dois estilos, e eis a minha surpresa quando reparo que o filme faz isso mesmo. Adorei!! É claramente o meu favorito aos Óscars. Tem cenas fabulosas e consegue transmitir um misto de emoções ao longo de todo o filme. Tem pormenores fantásticos como quando a mulher de Valentin lhe diz "Precisamos de falar!!" quando até aí eles não se tinham dirigido uma única vez um ao outro...foi de chorar a rir. Já para não falar da cena do "BANG". Brutal!!
O comentário que fazes aqui ao filme, assemelha-se a muito do que eu próprio penso. De facto este filme serve bem o seu propósito: divertir o público.
Apraz-me dizer umas das poucas palavras faladas do filme - PERFECT!!
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De Frederico Daniel a 03.05.2016 às 02:44

"O Artista": 4*

O filme "O Artista" é uma lufada de ar fresco para a época em que estreou.
Mas este "The Artist" não é perfeito e tem uma grande falha que é perdermos parte do que os personagens disseram.

Cumprimentos, Frederico Daniel.
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De Frederico Daniel a 03.05.2016 às 02:46

Apesar de vermos os personagens a mexer os lábios muitas vezes não sabemos o que disseram, pois as frases que aparecem ao longo do filme algumas vezes nem aparecem.

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Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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