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ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Dexter: temporada 6
Oh, God! – exclama Dexter antes de encerrar o seu sexto ano. Que bosta de final! E de temporada! – acrescento eu.
Seria de esperar que a série quisesse recuperar-se da fraca temporada anterior e os rumos até apontavam nesse sentido: a discussão sobre religião trazia um seguimento lógico a uma personagem que busca algum tipo de redenção e de integração numa sociedade na qual tem de ocultar e redirecionar constantemente a sua essência. A figura de Brother Sam, um indivíduo que encontrou na Fé a salvação para um passado criminoso, oferecia o contraponto necessário para a postura cética do nosso anti-herói enquanto Travis e Geller estabeleciam-se como vilões eficientes, mas nada digno do Trinity de John Lithgow (já lá vamos à grande "revelação" da temporada). Nisto, Brother Sam é assassinado e, ao vingá-lo num momento de raiva absoluta, Dexter é acometido pelo lado negro do seu Passageiro Sombrio, antes suavizado pela figura paterna, e agora controlado pela imagem do seu irmão, o Ice Truck Killer. Pena que durou tão pouco.
Em tantos aspetos que me incomodaram, este foi um deles: a tendência da narrativa não mergulhar a fundo nas suas ideias. A discussão religiosa ficou pela superfície, talvez por receio de irritar uma parcela do público, e mesmo o facto de ver um Dexter tomado na íntegra pelo seu instinto homicida foi resolvido num capítulo. Pior que isto, só deixar narrativas pelo meio, num puro desperdício de tempo e de talento do elenco: o imbróglio de Matthews serviu para provar a idoneidade de Debra e o jogo sujo de LaGuerta, mas e daí? Batista e Quinn pareciam saídos de uma comédia policial, o novo detetive não serviu para nada, a irmã do Batista e o estagiário do Masuka ocuparam mais tempo do que deveriam e nem quero pensar que este está a ser preparado para ser o próximo vilão apenas por... não conseguir impressionar o Dexter! Até atentados terroristas tivemos este ano. Cruzes!
Nada disto se compara à imbecilidade de criar uma trama romântica entre os irmãos Morgan. Tudo bem que eles não irmãos biológicos, mas – que caraças! – eles foram criados juntos desde cedo! E nada disto foi minimamente abordado nos últimos anos. De onde surgiu isto, então? Ora, da necessidade de estabelecer um conflito em Debra aquando a sua descoberta do segredo do irmão, talvez por que amor fraternal não seria suficiente nas cabeças acéfalas de quem idealizou tamanha cretinice. E dá-lhe sessões com a terapeuta menos articulada da História (deu saudades de In Treatment) capaz de convencer a pobre Debra que a sua dependência do irmão é... amor! E dá-lhe quase orgasmos na presença de Dexter! Chiça, penico!
Quanto à revelação que Gellar é uma alucinação de Travis, bem... desconfiei logo no primeiro capítulo. Afinal, se Dexter tem o seu pai para o auxiliar, não seria descabido pensar que um novo assassino poderia ter um semelhante. No entanto, uma mera suspeita tornou-se algo ridiculamente óbvio ao arrastarem a questão semanas a fio e tornou-se vergonhoso perceber que Travis, desenvolvido como um sujeito normal levado a cometer atrocidades em nome da Fé (um tópico corajoso e ambicioso), logo foi transformado num psicopata esquizofrénico caricatural igual a tantos outros - uma solução covarde e preguiçosa. E que me perdoem aqueles que gostaram de Debra ter descoberto que o irmão é um assassino, mas eu gostaria que a situação tivesse sido construída com mais cuidado e não que ela decida, do nada, declarar-se para o irmão... e numa cena do crime! Ou seja, isto veio com uma temporada de atraso, o que aumenta mais a minha irritação com os caminhos que Dexter tomou nos últimos dois anos.
Não posso deixar de referir aqui os numerosos momentos constrangedores que rechearam esta temporada e cá vão eles:
Acho que já chega.
Não nego que a próxima temporada tem um potencial enorme, mas receio que os produtores vão arranjar novas formas de estragar tudo em vez de levá-la a bom porto. O Dexter que conheciamos está agora no Paraíso das Séries juntamente com LOST, Seinfeld, Friends e Os Sopranos. Amputada de dois membros, é certo, mas eu estou em crer que lá em cima também se preocupam com questões de acessibilidade.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.