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Puss in Boots (2011)
Realização: Chris Miller
Argumento: Tom Weeler, David H. Steinberg, Brian Lynch
Vozes: Antonio Banderas, Salma Hayek, Zach Galifianakis, Billy Bob Thornton, Amy Sedaris
Qualidade da banha:
Depois de artisticamente secar a teta da série Shrek, a Dreamworks Animation volta à carga com um derivado protagonizado pela emblemática personagem surgida no segundo capítulo daquela franquia: o Gato das Botas. Apesar de não chegar aos calcanhares das animações computorizadas da casa (os dois primeiros Shrek e Como Treinares o Teu Dragão), é reconfortante perceber que o filme está muitos furos acima de disparates como Madagáscar ou Monstros vs. Aliens. O Gato das Botas é divertido e empolgante e, no fundo, isso é o que basta, talvez por que as expectativas não eram as melhores.
Como já se tornou habitual em Hollywood, a narrativa é uma história de origem: no país dos contos de fadas, vive o lendário Gato das Botas (Banderas), um corajoso felino possuidor de um génio peculiar e de uma coragem sem limites. Apesar da sua reputação em todo o reino, o seu carisma e sedução são postos à prova quando conhece Kitty Patas Fofas (Hayek), uma misteriosa gata mascarada, que não tenciona deixar-se levar em conversas e que ele descobre estar ligada a Humpty Alexander Dumpty (Galifianakis), um seu amigo de infância. Os três acabam assim envolvidos num plano de assalto a Jack e Jill (Thornton e Sedaris), dois terríveis bandidos na posse de um antigo poder que ameaça o mundo.
Sem contar a ambição temática e adulta que caracteriza as maravilhosas longas-metragens da Pixar, O Gato das Botas investe num clima de aventuras que homenageia os velhos filmes protagonizados por Errol Flynn ou Douglas Fairbanks ao mesmo tempo que ressuscita aquilo que fez a fama de Shrek (e consequentemente esquecido as sequelas): a subversão das histórias de encantar. O maior exemplo disto vem na personagem de Humpty Dumpty: solitário e com uma imaginação fértil (dois traços de personalidade engenhosamente desenvolvidos a partir do seu isolamento em cima de um muro), é dele que parte o plano mirabolante de usar os feijões mágicos como forma de dar relevância à sua existência e, mesmo que o filme não consiga estabelecer um arco dramático profundo, a personagem torna-se querida pela sua condição de rejeitado e pelo certeiro casting de voz de Zach Galifianakis que lhe fornece um misto de comicidade e drama que cai como uma luva.
Cheio de piadas referentes a gatos (sendo a da fixação por luzes a melhor), O Gato das Botas conquista o espectador com personagens carismáticas como o já citado Humpty Dumpty, a arisca Kitty Patas Fofas e, claro, o protagonista vocalizado por Antonio Banderas – e se o efeito 3D é bem trabalhado na profundidade dos cenário, embora parta para o óbvio (leia-se objetos lançados para o público), o filme encontra espaço para gags visuais inspiradas como aquela que envolve abutres e a divisão do ecrã ou a cena em que o vilão revela os seus planos e temos um rápido flashback que o situa em momentos-chave da história, numa paródia a tantos outras obras que usam este artifício.
Contando com sequências de ação bem montadas (a do Pé de Feijão chega a ser alucinante), O Gato das Botas surge como uma mistura de Zorro com d'Artagnan, exatamente como ele havia sido imaginado aquando a sua aparição em Shrek 2. E não posso deixar de salientar como aspeto positivo o facto deste filme me ter lembrado o divertimento e o charme que se viu nas duas primeiras aventuras do ogro verde. Só isto já faria de O Gato das Botas uma obra recomendável.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.