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Terra Nova
Benvindos a Terra Nova, a solução para um planeta sobrepovoado, demasiado poluído e tantos outros clichés futuristas. Uma colónia na pré-história para onde uns quantos (in)felizes são enviados numa viagem no tempo, cujas circunstâncias são explicadas num único diálogo pela inteligente filha do meio dos Shannons, a aborrecida família que acompanhamos desde o início. Basicamente, eles não podiam ir para o próprio passado e arriscarem a alterar o futuro deles: eles são enviados por um portal emprestado de Stargate para outra linha temporal e esquecem-se que o tal Efeito Borboleta que eles tanto queriam evitar não se limita à sua realidade, e nada impede que o novo futuro já não esteja estragado. Isso, porém, só saberemos se Terra Nova for renovada para muitas temporadas, algo que eu desejo fortemente que não aconteça.
Produzida por Steven Spielberg (que já havia emprestado o seu "selo de qualidade" à intragável Falling Skies que, de tão má, mal passei do piloto), Terra Nova é um logro do início ao fim: o lugar é comandado pelo ator que fez de vilão em Avatar e aqui surge como o vilão de Avatar, apenas mais bonzinho; os cenários são providenciados por paupérrimos chroma keys e os dinossauros, além de tecnicamente vergonhosos, mal aparecem e devem passar fome, visto que nunca comem ninguém. Os construtores da colónia devem ter lido os argumentos e acharam que poderiam facilitar na segurança do local, já que a bicharada nunca dá as caras mesmo, e fizeram uma cerca tão baixa e com troncos de madeira cilíndricos que qualquer T-Rex destruiria num sopro. Eu não consigo culpar os animais: talvez eles tenham medo de encontrar os Shannons e extingam de tédio. Mais vale aguardar pelo asteroide e rezar para que não seja tão doloroso.
Ah, os Shannons... que família feliz! O pai é um ex-polícia, a mão é médica, o filho mais velho é um adolescente revoltado, a filha do meio é uma geek de primeira e a mais nova é apropriadamente adorável. Tão amorosos que eles são que parecem saídos de um anúncio de detergente, no qual o pai transpira no trabalho, o filho sua-se todo a jogar futebol, a filha verte sumo na camisola, a mais nova suja-se no parque e lá vem a mãe resolver a situação o último grito do pó para a roupa, para todos acabarem sorridentes e asseados. Depois temos os Outr... digo, os Sextos, grupo que se rebelou de Terra Nova e vive no meio da selva sem qualquer problema mesmo com o perigo jurássico ali à porta (daí eu achar que os dinossauros são anoréticos). Há muita intriga pelo meio, situações mal resolvidas, muitos efeitos especiais embaraçosos, mil personagens desinteressantes e o sono é uma constante. Terra Nova é, acima de tudo, um drama familiar. E dos piores!
A série foi-me aconselhada por um amigo que me disse que era "tipo LOST!" e os últimos anos têm-nos ensinado que qualquer comparação com a maravilhosa série da Ilha deserta mais povoada de sempre é meio caminho andado para o descalabro. Visto cinco episódios, rendo-me ao sofrimento e abandono Terra Nova sem olhar para trás. Não há guilty pleasure que salve isto, nem para acompanhar só uma temporada. Já tive a minha dose de Heroes, FlashForward e The Event. Sofri muito nesses tempos e até eu tenho os meus limites. Chega!
Terra Nova começou a ser exibida aos domingos à tarde na TVI. Não deixem de perder!
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.