Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Ahhh, o belo do cinema português...

por Antero, em 09.02.10

 

"Já ninguém liga aos clássicos!" - diz a personagem de Nuno Markl na primeira cena de A Bela e o Paparazzo, mas eu vou mais longe e reformulo: já ninguém liga ao cinema português. Acusado de ser demasiado intelectual, recheado de 'panelinhas', asneirento, que nunca é comercial e, quando o inverso ocorre, oferecer ao grande público exercícios trash e amarrado a dispositivos televisivos, é certo que o cinema cá do burgo já viu melhores dias. Porém, ainda há um indivíduo a remar contra a maré (Joaquim Leitão parece ter desistido de tentar e Leonel Vieira foi areia atirada aos nossos olhos): António Pedro Vasconcelos, um dos poucos que ainda consegue aliar o cinema dito 'inteligente' a uma vertente mais popular, sem resvalar para a chungaria digna de objectos como Corrupção, O Crime do Padre Amaro ou Contrato. Vasconcelos sabe contar uma boa história, sabe dirigir actores e, o melhor de tudo, sabe como utilizar o contexto social a favor da sua obra. Uma pena que a sua filmografia seja tão escassa: apenas três longas-metragens nos últimos dez anos.

 

Escrito por Tiago Santos, que já se aliara ao realizador no anterior Call Girl, A Bela e o Paparazzo pretende ser uma comédia romântica sofisticada, em que o mundo das celebridades e da imprensa cor-de-rosa são objecto de sátira. Mariana Reis é uma actriz à beira de um colapso nervoso: a sua personagem perde espaço na novela em que participa e a sua vida pessoal é sempre motivo de capas nas revistas sociais. A culpada é Gabriela, nome fictício de João, um fotógrafo que a persegue para todo o lado para satisfazer os objectivos da sua ávida editora, sempre disposta a publicar o próximo escândalo. Um dia, devido a uma série de mal-entendidos, Mariana e João envolvem-se sem ela saber a profissão dele. A partir daqui o óbvio acontece: promessas de amor, desentendimentos, obstáculos que atiram no caminho do casal, enfim... nada que alguém que já tenha visto comédias românticas não saiba.

 

O final é conhecido, mas é o percurso que interessa nos filmes do género e é aqui que A Bela e o Paparazzo começa a marcar pontos: a direcção e a fotografia são elegantes, aproveitando os cenários de uma Lisboa glamurosa, romantizada, mas ao mesmo tempo palpável; as afinetadas aos bastidores da fama são certeiras (embora pudessem ser mais ácidas); e a galeria de secundários é excelente, destacando-se o realizador agastado de Nicolau Breyner e a viperina editora de Maria João Luís que merecia um filme só dela. No entanto, todas as cenas da narrativa paralela da independência do prédio só servem para desviar o foco principal, uma vez que parecem saídas de outro filme e nunca se enquadram organicamente na história do casal. Percebem-se as boas intenções deste arco (recuperar a tradição das comédias clássicas do cinema português) e as personagens são bem defendidas por Nuno Markl e Pedro Laginha, mas tudo parece caído do céu e pouco desenvolvido.

 

Tão importante como o percurso é o casal de protagonistas e Soraia Chaves e Marco D'Almeida exibem uma óptima química e, principalmente no caso dele, um bom timing cómico como pode ser atestado na sequência do restaurante japonês. É de lamentar que o seu talento tenha que ser desperdiçado em telenovelas sem expressão. Quanto a Soraia Chaves, continua a percorrer um bom caminho depois da surpresa de Call Girl e vem-se revelando como uma actriz cada vez mais madura, inteligente e menos um corpo escultural a passear no ecrã. Mesmo não estando ao nível denso d' Os Imortais, A Bela e o Paparazzo é um filme agradável de acompanhar, com boas piadas e bons actores. Longe dos objectos deprimentes direccionados para o grande público que o cinema português nos tem brindado, posso afirmar que este é o feel good movie que Portugal precisava. Pode ser que outros aprendam.

 

Qualidade da banha: 13/20

 

publicado às 15:10


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

Pesquisar

  Pesquisar no Blog

Últimos vendidos


Armazém

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D