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Homeland: a melhor série do ano

por Antero, em 19.12.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Homeland: temporada 1

Há várias semanas que queria escrever sobre Homeland, sobre o prazer que ela me devolveu em acompanhar uma série todas as semanas, isto numa altura em que as estreias não chamam a atenção (American Horror Story?! Terra Nova?!), em que as de longa data apresentam imenso desgaste (How I Met Your Mother, House) e ainda outras que vão ladeira abaixo (Dexter foi particularmente penoso de assistir, mas isso fica para outro texto). Esfriei os ânimos e decidi esperar pelo final, não fosse desapontar-me a valer. Felizmente, isso não aconteceu. Pode ser difícil de acreditar, mas desde o primeiro ano de LOST que eu não via uma temporada de estreia tão absorvente, intensa e viciante.

 

Baseado num original israelita, Homeland começa com o regresso do sargento Nicholas Brody de regresso aos EUA após um cativeiro de oito anos no Iraque como prisioneiro de guerra da Al-Qaeda. De regresso a uma família que já havia seguido o seu rumo sem o patriarca, Brody é encarado como um herói por todos exceto a agente Carrie Mathison, que tem a informação de que um militar norte-americano foi convertido ao Islamismo e aos dogmas da organização terrorista. Trabalhando diretamente com Saul Berenson, que serve como mentor, Carrie fará tudo para provar que um ataque aos EUA é iminente ao mesmo tempo que lida com questões pessoais que podem pôr em causa a sua competência profissional e, pior ainda, a sua sanidade.

 

Ou seja, Brody pode ou não ser um terrorista, Carrie pode ou não estar certa ou, pelo menos, não completamente. Assim, somos atirados de cabeça num jogo de gato e rato, cheio de reviravoltas, traições e onde nada é o que parece. Se isto não soa especialmente inovador para quem já viu Prison Break ou 24 (com a qual divide alguns produtores), Homeland mergulha fundo na mente daqueles indivíduos e percebemos os seus desejos, os seus medos e as suas contradições. Carrie é astuta, determinada e inteligente, mas não será a sua instabilidade psicológica acentuada por anos e anos de trabalho árduo na CIA? Ou é a sua particularidade que a torna numa profissional tão competente? Por outro lado, Brody vê-se num mundo onde não se encaixa, rompe com a dinâmica familiar estabelecida na sua ausência e tem comportamentos estranhos. Será mesmo um terrorista? Ou terá se convertido como mecanismo de defesa?

 

Ao desenvolver as suas personagens cuidadosamente, Homeland faz com que nos preocupemos com cada uma delas e as consequências dos seus actos, enquanto aumenta a tensão em cenas compostas por confrontos verbais ou um simples teste do polígrafo. Além disso, a série não pinta a CIA como uns santos em defesa da pátria e ilustra bem as motivações dos terroristas bem como as ações destrutivas de ambas as partes em conflito – e é este clima de ambiguidade, em que nada é preto no branco em diferentes escalas, que torna a série tão fascinante e adulta. Mas o que realmente faz desta temporada de Homeland algo tão memorável é a sua ousadia em cruzar linhas que dávamos como certas e, deste modo, abrir toda uma janela de possibilidades – e, volto a repetir, este texto está cheio de spoilers, por isso é melhor parar de ler por aqui. Eu estou a avisar.

 

Eu avisei.

 

Continuando...

 

Quando Carrie e Brody se envolvem romanticamente no brilhante sétimo episódio, a narrativa faz aquilo a que poucas se atreveriam ou, pelo menos, não tão cedo. Sem o auxílio da vigilância ilegal que instalara na casa do sargento, Carrie vê-se obrigada a revelar-se e a conviver com o suspeito que logo se revê no seu caráter autodestrutivo, já que ele próprio está em vias de perder tudo aquilo que tinha. Ela, no entanto, vê nele alguém que preencha o vazio da sua carência emocional e ambos estabelecem um vínculo fugaz, mas marcante. Ela comete um erro, abre o jogo e a série responde a um monte de perguntas que outro produto televisivo arrastaria durante semanas. Aquele fim de semana, contudo, fornece dados que Carrie usará no último episódio para indiretamente (e sem saber) prevenir o ataque terrorista que Brody levara a cabo. A história pode tomar algumas direções bizarras e improváveis, mas, se formos a pensar bem, elas surgem lógicas e condizentes com as personalidades daqueles indivíduos.

 

A encabeçar um elenco de prestações homogéneas, Claire Danes dá um verdadeiro espetáculo como a decidida Carrie ao dominar todas as facetas da personagem: o génio forte, a instabilidade, a inteligência, a sagacidade, o descontrolo e uma certa vulnerabilidade (e a atriz é inteligente ao abraçar os traços menos atraentes de Carrie sabendo que o sucesso desta não depende da simpatia irrestrita do espectador). Dispensava-se era a narração sobre a sua ineficácia em impedir o 11 de Setembro, uma vez que custa acreditar que a jovial Carrie fosse um agente influente aos vinte e poucos anos, mas em tudo o resto Danes é dinamite pura. E mais: com o carismático Mandy Patinkin, ela estabelece uma dinâmica de pai e filha genuína e que nos leva a temer pela mesma devido às ações impensadas dela. Damian Lewis também brilha a grande nível como o ambíguo sargento Brody e Morena Baccarin destaca-se como a sofrida esposa que tenta endireitar a vida com a chegada do marido desaparecido.

 

No final, com Brody em direção à política e Carrie a submeter-se a um tratamento de choque, Homeland planta as sementes do já anunciado segundo ano. Porém, tirando uns pozinhos aqui e ali, este seria o final perfeito caso estivesse a falar de uma minissérie, já que os arcos dramáticos deles foram, de certa forma, satisfatoriamente resolvidos: ele em relação à família e à sua missão; ela em relação à doença. Posso até apostar que a próxima temporada não estará ao nível desta, mas estou em pulgas para saber que cartas é que os argumentistas têm na manga. Mesmo assim, fica a memória de 12 maravilhosos capítulos que fazem da temporada algo envolvente, instigante, conciso e perfeito.

 

Homeland estreia em janeiro na FOX e prepara-se para arrebatar vários prémios nos próximos meses.

 

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

 

publicado às 23:11


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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