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Comentários que fui fazendo no Twitter antes e durante a cerimónia dos Oscars deste ano (informações que adicionei posteriormente em itálico):
Certo, já dormi duas horas para que as outras duas que irei dormir mais tarde não me lixem (muito) o trabalho amanhã. Bora lá aos Oscars!
Com que então na SIC? Seria boa altura para inovar: sem locutores portugueses e... Hummm, mas não. Lá estão eles que não se calam.
Bom, mas temos um rodapé com informações em português e até hashtag no Twitter. Embrulha, TVI, sua estação parada nos anos 90.
Mas pior que ter comentadores durante a cerimónia é ter comentadores durante a porcaria do Red Carpet.
Ainda falta meia-hora para arrancar?! Aiiii, bem que podia ter dormido mais um pouco.
Ver o Red Carpet ou o The Master - O Mentor na RTP? Hummmmmmmmmmmmmmm...
Com Neil Patrick Harris, é garantido que teremos um anfitrião mais virado para o espectáculo (ex: números musicais) do que para o humor.
É o estilo de Harris e não é propriamente desagradável. Mas já sabem que, para mim, era Ricky Gervais (aliás, repito isto todos os anos).
Anteriormente, não me importava muito com a atribuição dos Oscars, mas hoje não me importo mesmo nada. Pode ser honesto, mas não é justo.
Bem, bora lá começar isto. É como uma prova de resistência, tipo 24 horas de Le Mans.
Pumba! Primeiro número musical ainda nem passou um minuto.
Porra, pá! Calem-se lá!
Ok, estes comentadores são ridículos. Acho que até um relatador de futebol fazia melhor figura.
J. K. Simmons está electrizante em Whiplash. Nunca uma frase como "Not quite my tempo" soou tão ameaçadora.
Harris está a safar-se muito bem. E acho que vou ficar a ver o feed da mala do que a cerimónia inteira. Deve ser mais interessante.
Grand Budapest Hotel é muito bom. E isto digo eu que não sou nada maluco por Wes Anderson.
Adam Levine a cantar no palco. Tempo da mijinha!
(Jennifer Lopez e Chris Pine entram em palco)
"- E também apresentam as nomeações.
- Verdade!".
Ai, estes comentadores...
Lembro-me de ler um editorial de João Lopes sobre o valor perdido do silêncio na Televisão, o que só torna tudo mais irónico.
Ish, primeiro falhanço. Pensei que Foxcatcher apanhava esta. (Se Neil Patrick Harris pode falhar nas piadas, eu também posso!)
Os comentadores estão tão desalinhados que até tenho receio de os ouvir durante os intervalos.
Ida obviamente que era o favorito. A Academia tem sonhos molhados com a Segunda Guerra Mundial.
Oh pá, O Filme Lego só estar nomeado para Melhor Canção é revoltante.
Gostei da tirada sobre o facto do espectacular David Oyelowo não ter sido nomeado por Selma.
Ups, momento musical já sabem: casa de banho. Ou cigarro.
Ai, já vou em três falhanços.
Isso, Emma Stone, contenta-te aí com o Oscar de lego.
Yeah! Primeiro prémio para Boyhood! -- mal sabia eu que seria o único.
E pensar que CSI: Cyber vai ser agora publicitado como tendo uma vencedora de um Oscar. o.O
Se na SIC Caras está a passar com áudio original, quer dizer que a SIC está a passar a versão dobrada?
Vá lá que Interstellar ganhou alguma coisa ou os fanáticos do Nolan iam pirar.
Só por Como Treinares o Teu Dragão 2 não ter ganho já fico satisfeito. E vão 4 falhanços.
Que saudades da Pixar de outros tempos, mas a Disney tem compensado. Quem diria?
Minto: 5 falhanços. Também errei na Curta-Metragem de Animação.
No fundo, eu quero é que este domingo passe rápido e chegue logo o próximo com novos episódios de The Good Wife.
Idris Elba tem a puta de uma presença em frente às câmaras, é qualquer coisa de hipnótico.
Não é discussão nova e está carregada de polémica estúpida, mas Idris Elba daria um óptimo Batman ou James Bond.
Quando Meryl Streep falecer (após atingir as 50 nomeações), vai ter uma cerimónia dos Oscars só para ela.
Então o filme que tem elipses de um ano não leva Melhor Montagem? Ai, ai... (6 falhanços e a coisa está a ficar preta).
J. K. Simmons devia perguntar à Academia "are you rushing or are you dragging?".
Ainda estou para perceber como Idina Menzel passou a "Adele Dazeem". Mas gostei de ver o desportivismo de Menzel e Travolta.
Belíssimo discurso de John Legend. O Oscar devia dar sempre para isto: uma audiência mundial de milhões, então digam algo de jeito.
Sei que já falei nisto, mas não me conformo: Nightcrawler devia ocupar o lugar de O Jogo da Imitação em Filme, Realização e Actor.
Por mais que adore Cumberbatch, reduzir o fascinante Alan Turing a um Sheldon Cooper de segunda é imperdoável. O Jogo da Imitação é "nhé".
Lady Gaga a cantar Julie Andrews? Estranho, mas aparentemente resulta.
Os britânicos fazem sempre os melhores discursos. Pura classe. -- no discurso de Julie Andrews.
Ai, sétima categoria que erro. O que vale é que não deverei falhar nenhuma das principais. -- não, claro que não...
Eu queria muito já estar a dormir às 5 da manhã, mas por este andar vai ser impossível.
Ok, este ano a pontaria está desafinada e começo a temer por Boyhood.
Aaaarghhhh!!!! Melhor Argumento para O Jogo da Imitação?! Minha nossa, que falta de gosto. E já vou com 9 falhanços!
Faltam 4 categorias e há anos que não falhava tanto. E achava eu que isto ia ser muito previsível.
Excelente discurso do argumentista de O Jogo da Imitação, já agora. Atenuou um bocado a raiva.
É agora: Boyhood versus Birdman, round 1!
Puta que pariu! 10 erros, metade das previsões ao lado. E a Academia premiou um mexicano pela segunda vez. Wow!
Preferia Michael Keaton, mas Eddie Redmayne merece. E a euforia dele é contagiante.
Ah, finalmente Julianne Moore!
Bom, Boyhood não vai ganhar Melhor Filme. Um vencedor máximo só com dois prémios seria algo inédito nas últimas largas décadas.
Vai dar Birdman e seja! Vou entrar em modo de antecipação para o encaixe ser mais fácil.
"Não vou interromper." - diz João Lopes com quatro horas de atraso.
Aí está: Birdman é o grande vencedor da noite. Óptimo filme, mas o meu coração chora por Boyhood.
Lembram-se quando disse que isto iam ser uns Oscars previsíveis? Pois bem, errei 11 em 21 previsões. Sou um embuste.
E daqui a 4 horas pego ao serviço. Ninguém merece.
A minha ordem de preferência para Melhor Filme:
Boyhood - Momentos de Uma Vida
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Whiplash - Nos Limites
Grand Budapest Hotel
Selma
Sniper Americano
A Teoria de Tudo
O Jogo da Imitação
MELHOR FILME
Vai ganhar: Boyhood
Devia ganhar: Birdman tem papado tudo o que é prémio e é o grande rival do filme de Linklater. No entanto, eu acredito que a Academia vai premiar o esforço de 12 anos, até porque Boyhood é menos experimental e mais humanista e sensível. E, quanto a mim, melhor filme também.
MELHOR REALIZAÇÃO
Vai ganhar: Richard Linklater (Boyhood).
Devia ganhar: O hábito recente de dividir os prémios principais não deverá acontecer hoje devido principalmente a um infeliz acaso: depois de Alfonso Cuáron, não me parece que a Academia dê o Oscar a um mexicano dois anos seguidos. Além disso, Linklater é querido pela indústria e esteve doze anos neste projeto.
MELHOR ATOR
Vai ganhar: Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo)
Devia ganhar: A disputa é entre Redmayne e Michael Keaton (meu favorito), mas a Academia ama interpretações que requerem transformações físicas e a verdade é que a Redmayne eleva-se acima do mediano filme que o rodeia.
MELHOR ATRIZ
Vai ganhar: Julianne Moore (O Meu Nome É Alice)
Devia ganhar: Não há grande discussão aqui: mesmo sem ver o filme, o favoritismo de Moore sente-se a quilómetros. Numa categoria a que só torço o nariz a Felicity Jones, não ficaria desagradado se Rosamund Pike ou mesmo Reese Witherspoon vencessem.
MELHOR ATOR SECUNDÁRIO
Vai ganhar: J. K. Simmons (Whiplash)
Devia ganhar: Vocês viram Whiplash?!?
MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA
Vai ganhar: Patricia Arquette (Boyhood)
Devia ganhar: Sem perceber o que fazem Emma Stone e Keira Knightley ali (embora adore as duas atrizes), o meu prémio iria para Arquette ou Laura Dern.
MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
Vai ganhar: Grand Budapest Hotel. Para compensar a tareia que vai levar nas outras categorias principais.
Devia ganhar: Provavelmente a categoria mais bem servida da cerimónia já que a qualquer um ficaria bem entregue o prémio, embora eu adorasse que Nightcrawler - Repórter na Noite levasse alguma coisa para casa.
MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
Vai ganhar: A Teoria de Tudo
Devia ganhar: Aqui admito que é um tiro no escuro já que estou completamente às cegas: A Teoria de Tudo e O Jogo da Imitação são convencionais como a Academia gosta, Sniper Americano é o sucesso do momento e Whiplash e Vício Intrínseco são menos comerciais e, normalmente, encontram aqui algum tipo de consagração. Por mim, ficaria com Whiplash.
MELHOR FILME LÍNGUA NÃO-INGLESA
Vai ganhar: Ida, da Polónia. É o favorito.
Devia ganhar: Não vi nenhum dos nomeados.
MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Vai ganhar: Como Treinares o Teu Dragão 2
Devia ganhar: O Filme Lego. Ai não está nomeado? Errrr... então Big Hero 6.
MELHOR DIREÇÃO ARTÍSTICA
Vai ganhar: Grand Budapest Hotel
Devia ganhar: Grand Budapest Hotel
MELHOR FOTOGRAFIA
Vai ganhar: Birdman
Devia ganhar: Birdman
MELHOR MONTAGEM
Vai ganhar: Boyhood
Devia ganhar: Boyhood
MELHOR BANDA SONORA
Vai ganhar: A Teoria de Tudo
Devia ganhar: Grand Budapest Hotel
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Vai ganhar: 'Glory' (Selma)
Devia ganhar: Não faço ideia.
MELHOR GUARDA-ROUPA
Vai ganhar: Grand Budapest Hotel
Devia ganhar: Grand Budapest Hotel
MELHOR CARACTERIZAÇÃO
Vai ganhar: Foxcatcher
Devia ganhar: Guardiões da Galáxia
MELHOR MISTURA DE SOM
Vai ganhar: Sniper Americano
Devia ganhar: Sniper Americano
MELHOR MONTAGEM DE SOM
Vai ganhar: Birdman
Devia ganhar: Birdman
MELHORES EFEITOS VISUAIS
Vai ganhar: Interstellar
Devia ganhar: Planeta dos Macacos: A Revolta
MELHOR DOCUMENTÁRIO
Não vi nenhum dos nomeados
MELHOR DOCUMENTÁRIO (curta-metragem)
Não vi nenhum dos nomeados
MELHOR CURTA-METRAGEM
Não vi nenhum dos nomeados
MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Vai ganhar: The Bigger Picture
Devia ganhar: The Bigger Picture
Fifty Shades of Grey (2015)
Realização: Sam Taylor-Johnson
Argumento: Kelly Marcel
Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Jennifer Ehle, Eloise Mumford, Victor Rasuk, Luke Grimes, Marcia Gay Harden
Qualidade da banha:
Uma grande amiga minha passou-me, certa vez, uma cópia de As Cinquenta Sombras de Grey. Ninguém diria que se tratava desse livro já que ele vinha encapado em papel para, segundo ela, "não ser julgada pela sociedade ao ler em público". Achei piada, mas não consegui deixar de pensar que ela tinha a sua razão: numa sociedade que ainda trata tópicos sexuais como tabu ou com indignação, o simples ato de ler um livro poderia ser encarado como algo condenável. Agora que vi a adaptação cinematográfica, creio que quem deveria andar em público encapado em papel são os envolvidos nesta porcaria embalada por puro marketing e hype. Mesmo retirando as revoltantes questões morais da equação (já lá vamos), As Cinquenta Sombras de Grey é um filme muito, muito, mas mesmo muito mau.
Adaptado do best-seller de E.L. James que, por sua vez, originou-se como um fan fiction da saga Twilight (parem um minuto e reflitam sobre isto), a história começa com Anastasia Steele (Johnson), uma finalista universitária que, a pedido de uma amiga, vai entrevistar o jovem milionário Christian Grey (Dornan). Imediatamente atraída por ele e disparando frases de psicologia barata minutos depois de o conhecer, Anastasia vê-se cortejada por Grey e como não cair em tentação? Ele é rico, bonito, veste-se bem e tem gosto refinado. É também arrogante, possessivo e controlador - e quando não está ocupado a ser tudo isto, Christian mantém um "segredo": fetiche por práticas BDSM.
Este fetiche é provavelmente a razão do imenso sucesso do livro e simultaneamente um dos maiores problemas da narrativa: abordado como um desvio comportamental pecaminoso e que deve ser reprimido e não como uma expressão diferente dos impulsos sexuais de Christian, os jogos sexuais praticados pelo casal demonstram o conservadorismo da proposta de E.L. James que pinta o milionário como um individuo que tem de ser salvo da "perversidade" que o rodeia. E não deixa de ser estúpido e contraditório quando é o próprio Christian a pedir que a amada tenha uma "mente mais aberta" quando o filme onde se insere não a tem. Além do mais, é óbvio que Anastasia entrega-se aos abusos físicos e psicológicos de Christian para não o perder, já que a moça nunca parece tirar o mesmo prazer que ele das práticas BDSM - e sempre que ela hesita e se afasta, o rapaz oferece-lhe presentes caros, na mais pura lógica de prostituição gourmet, e persegue-a para todo o lado, embora o filme ache que ele é doente por ter fetiches e não pelo seu comportamento obsessivo.
Claro que Christian encontra a presa perfeita em Anastasia: com uma falta de amor próprio gritante e desconfortável até na presença da melhor amiga, a rapariga deslumbra-se e anula-se por ter tamanho bom partido atrás dela - e o facto de insistentemente morder os lábios é o pico de complexidade que a personagem alcança (eu espero sinceramente que aqueles lábios tenham recebido o devido cachet). Anastasia é tão boa onda, tão pura e virginal que mantém-se perdida de amores ao ouvir coisas como "És minha" e "Agora não vais fugir" sem fugir a sete pés que é o que faria qualquer mulher minimamente sensata. Daí que não seja surpresa vê-la no início com roupas feias que a tapam por completo (incluindo, duh!, uma blusa florida) e, mais tarde, com vestidos mais sensuais que revelam as suas curvas, pernas e decote num claro indício da mentalidade tacanha e perigosa de que a influência de Grey acaba por ser positiva.
Entretanto, As Cinquenta Sombras de Grey sabe o que faz e para quem faz: aos dez minutos de filme já vimos Anastasia enquadrada com um símbolo fálico (um arranha-céus), um lápis na boca, olhares apaixonados e 238 mordidas de lábio. Já as esperadíssimas cenas de sexo são de uma frustração atroz: há uns gemidos, enquadramentos estratégicos para que se veja alguma coisa, mas não muita coisa, há música romântica no fundo e demasiado glamour e pasteurização para uma situação de sexo extremo. Num mundo com Ninfomaníaca, Vergonha e A Vida de Adèle, As Cinquenta Sombras de Grey é tão inofensivo que podia, por comparação, passar na televisão nacional num domingo à tarde para toda a família.
Por outro lado, quando não inspira revolta ou irritação, o filme é somente entediante. Entregues a um cabrão e a uma sonsa que estão duas horas presos à tortuosa dinâmica de "quero-te/deixa-me/volta aqui/vai-te embora/não me abandones" digna de Stephenie Meyer, o espectador até pode encontrar algum conforto na comédia involuntária que quase explode no ecrã graças aos péssimos (e hilariantes) diálogos, à falta de carisma do elenco, ao desfecho que é um autêntico anticlímax (ups!) e, claro, à mordida de lábio que até tem direito a um grande (enorme!) plano.
Deprimente, contudo, é o facto desta fantasia sexual machista ter sido criada, adaptada ao cinema e realizada por três mulheres que incrivelmente não percebem que relegam o género feminino a algo que deve ser objetificado, controlado e humilhado em nome do "amor verdadeiro".
E pensar que ainda há mais dois livros disto para adaptar. Ugh!