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A temporada em série (2011-2012)

por Antero, em 30.05.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

Foi a temporada das despedidas, das poucas descobertas e, no geral, marcada pela negativa no que à qualidade das séries que acompanho diz respeito. Os segundos anos de Game of Thrones e The Killing serão analisados quando terminarem.

 

 


Desperate Housewives: temporada 8

Oito anos. Eu acompanhei esta série por oito anos. O-I-T-O! Foi a série que me apresentou aos downloads pela Internet e criou o bichinho que perdura até hoje. A combinação entre o humor mordaz e o drama das donas de casa de Wisteria Lane foi como amor à primeira vista – e a primeira temporada de Desperate Housewives foi um furacão que arrasou a televisão em 2004/2005 e permanece como uma pérola do meio televisivo contemporâneo. De lá para cá, a série foi tendo altos e baixos, com histórias repetitivas e absurdas, o que até se compreende uma vez que a criação de Marc Cherry é, acima de tudo, uma sátira às soap operas.

 

Esta temporada sofre do mesmo mal das anteriores: entra-se a matar com o mistério da ocasião, escalam-se os eventos até ao tal episódio "especial" (que, abençoado seja, não trouxe desastres absurdos) e depois entra tudo em ponto morto até ao desfecho. Tem sido assim: na obrigação de dar, no mínimo, quatro narrativas diferenciadas às protagonistas, Desperate Housewives enrola mais do que devia e ousa menos do que seria recomendado. Quantas vezes vimos Andrew a atazanar a vida de Bree? Lynette a meter o nariz no trabalho de Tom? Ou Gaby a superar o seu egoísmo? O que vale é que tivemos um mistério que as envolvia a todas quando encobriram o crime de Carlos ao ter assassinado o padrasto de Gaby – e como a série brilha mais quando as quatro cruzam as suas histórias, foi uma delícia ver o plano delas (encabeçado por Bree) desmoronar a passos largos.

 

Para cada boa história, porém, levámos com outras de pouco interesse: as aulas de arte de Susan; os mafiosos que ameaçavam o empreendimento de Ben; a morte de Mike não teve impacto algum, não se relacionou com nada e a história do mafioso acabou por ali mesmo; a bebé de Julie foi um bocejo (estava na cara que ela nunca a abandonaria e tiveram de espetar à força um segredo de Mike para ela mudar de ideias). Por outro lado, Renee destacou-se bem mais que no ano anterior (e com muito mais piada) e algumas sequências relacionadas com o divórcio de Lynette e a nova paixão de Tom foram comoventes (e Felicity Huffman volta a provar que é mais talentosa do elenco e o quanto foi desperdiçada ultimamente). O final foi o feliz entre o possível: Bree foi absolvida; só Susan ficou sem marido, mas com uma neta para criar; Karen McCluskey morre; e mudam-se todas de Fairview ao som da mítica narração da defunta Mary Alice e do regresso de algumas personagens que por lá passaram (e morreram).

 

Fica a memória de uma sensacional primeira temporada, uma terceira e quarta também de alto nível e o restante já é mais do mesmo. Ainda assim, as intrigas, os mistérios e o humor de Wisteria Lane vão deixar saudades.

 

Melhor episódio: 8×09 – Putting It Together: o plano de Bree em encobrir o homicídio de Alejandro deixa-a completamente desgastada e isolada, pelo que ela tenta o suicídio.

 

Pior episódio: 8×18 – Any Moment: Andrew regressa "desomossexualizado" e Susan lida com o rescaldo da morte de Mike e a agressividade do pequeno MJ, o pior ator infantil de qualquer série!

 

 

 

Dexter: temporada 6

Pior era improvável, mas Dexter superou-se na sua mediocridade. Está tudoaqui.

 

Melhor episódio: 6x07 - Nebraska: uma lufada de ar fresco. Dexter é dominado pelo seu lado mau personificado pelo seu irmão. Pena que durou um mísero episódio.

 

Pior episódio: 6x09 - Get Gellar: a reviravolta mais previsível de sempre é apresentada com incrível amadorismo.

 

 

 

Homeland: temporada 1

Inteligente, adulta, provocante e absurdamente tensa, Homeland é um soco no estômago de uma América a lamber as feridas do 11 de setembro e a expurgar os fantasmas da última década. Mas os questionamentos que a série levanta vão muito além das fronteiras norte-americanas e vão ao âmago de cada um de nós: qual o preço a pagar pela nossa segurança? Liberdade? Família? Qualquer hipótese de redenção? Como se não bastasse este fabuloso estudo de personagens imersas nas suas convicções, Homeland ainda oferece um duelo de intepretações (Claire Danes e Damian Lewis nos papeis das suas vidas) simplesmente magistral. Sem mais,a melhor série do ano!

 

Melhor episódio: 1×07 – The Weekend: a meio da temporada de estreia, a série vira o jogo de maneira chocante e abre toda uma janela de possibilidades.

 

Pior episódio: 1×02 – Grace: escolha difícil e injusta numa temporada marcada por uma qualidade altíssima, mas empalidece um pouco em relação ao brilhante capítulo de estreia.

 

 

 

House: temporada 8

Outra que acompanhei por anos a fio (embora não tão religiosamente) e que este ano também se despediu, House atingiu um nível insuportável no início da derradeira temporada – e foi por isso que a abandonei por não conseguir assistir a um cadáver em composição de um produto outrora excelente. Regressei para os três últimos episódios e fiquei satisfeito com o que vi. Não por que a série havia melhorado muito, mas sim por que vi um esforço em dar-lhe um enterro digno, o que, vistas as coisas, já foi o suficiente. Deixei de ver com a entrada daquela irritante médica chinesa e depois da despedida da Thirteen, uma personagem que detestava e que passei a acarinhar com o tempo (ou então o nível baixou tão drasticamente que a beleza de Olivia Wilde ofuscou-me). O que mais me irritava nem era tanto o esquematismo da narrativa (era a fórmula da série e não havia muito a fazer): o que me chateava era a forma como os argumentistas inseriam acontecimentos ditos "bombásticos" aqui e ali para dar a impressão que as personagens "evoluiam" para, logo a seguir, voltar tudo ao mesmo. A estreia, com House na prisão em modo Prison Break, foi a gota de água: depois do desfecho miserável do ano anterior, isto foi o melhor que conseguiram arranjar? Daí até ao abandono foi um tiro - daí que não ache justo apontar qual o melhor e pior episódio, já que não os vi todos. Nem o enorme talento de Hugh Laurie me levou a superar a tortura que era assistir House, maneiras que não posso deixar de estar satisfeito com o fim da série. Metade dela valeu a pena; a outra metade não merece ser recordada.

 

 

 

How I Met Your Mother: temporada 7

Eles conseguiram! Fizeram a pior temporada de How I Met Your Mother! Eles conseguiram arrastar a questão menor da noiva de Barney por um ano inteiro! E ainda por cima é a Robin! Bolas, eu sou dos poucos defensores da altura em que eles foram um casal, mas apenas por que durou pouco tempo e renderam a situação ao máximo. Também não me importo que as coisas estejam mal resolvidas entre os dois e que, de quando em vez, se toque no assunto (como na possível gravidez dela), mas – porra! – apresentam Quinn que pega de estaca com Barney e, pouco depois, volta tudo ao mesmo. Inacreditável! E Ted? Até quando teremos de aturar a chatice crónica da personagem? Ele não se decide: ora está bem sozinho, ora deseja alguém ou então ainda está apaixonado pela Robin e exprime-se de maneira impossivelmente piegas – e estas narrativas circulares tornam-se ainda mais ridículas quando... sabemos que Robin não é a mãe dos filhos dele! O pior ficou guardado para o fim: o regresso de Victoria quando... também sabemos que esta não é mãe! (e, outra coisa, incomodou-me como Ted decide levá-la ao altar por já ter sido lá deixado e, numa questão de minutos, muda de ideias -  que carácter!). Quanto a Marshall e Lily não me lembro de uma única situação memorável envolvendo os dois, o que só mostra o degredo que foi este ano.

 

Melhor episódio: 7×12 – Symphony of Illumination: Robin narra a sua triste história para os filhos... que nunca irá ter.

 

Pior episódio: 7×15 – The Burning Beekeeper: uma história de caca (Lily organiza uma festa que corre mal), tentativas deprimentes em fazer rir e um lamentável desperdício do grande Martin Short.

 

 

 

Fringe: temporada 4

É ler as reviews semanais. Não esteve à altura da temporada anterior, mas foi criativa, empolgante e recheada de momentos memoráveis como se pede a Fringe. É fazer figas para que a última temporada de 13 episódios encerre a série com chave de ouro e apague o sabor amargo deixado pelo final.

 

Melhor episódio: 4x14 - The End of All Things: a origem dos Observadores!

 

Pior episódio: 4x21 - Brave New World (Part 1): apressado e tosco, a primeira parte daquele que esteve para ser o final da série é tudo aquilo que Fringe, bem ou mal, foi sabendo contornar. E nunca pensei que o regresso de William Bell fosse tão insípido.

 

 

Descobertas: Sherlock; Happy Endings

Depressões: Alcatraz, Terra Nova, Falling Skies, Spartacus, Touch, New Girl, The Big Bang Theory

 

Série que tenho mesmo de começar a ver: Breaking Bad


publicado às 23:32

A final "menos" desejada

por Antero, em 19.05.12

 

Quem diria? Numa época em que o foco da maioria das discussões futebolísticas passavam por memoráveis duelos entre Real Madrid e Barcelona, a final da competição de clubes do Velho Continente é disputada entre o vice-campeão alemão e o sexto classificado da Premier League. E o que fizeram estas? Somente eliminaram as duas melhores equipas da atualidade, aquelas que caprichosamente toda a gente esperava ver no derradeiro jogo em Munique. Com muita sorte (no caso do Chelsea) e muito brio (o Real nunca pareceu superior ao Bayern nos dois jogos), ambas as equipas chegam a este ponto depois de uma época dececionante a nível interno, diria desastrosa para o Chelsea apesar de ter vencido a Taça de Inglaterra, fazendo valer a tradição de que não há campeões europeus seguidos desde que a prova mudou de formato em 1991/92.

 

[Atualização 20/05/2012, 03h35]

Um campeão europeu que sobreviveu a tudo: a uma aposta falhada num treinador em ascensão; a uma eliminatória que parecia perdida em Itália e recuperada em casa num jogo espetacular; contra um trabalhador Benfica e onde não convenceu ninguém; a uma meia-final com o super-Barcelona que aparentava estar perdida à partida; contra um fortíssimo Bayern a jogar em casa e uma equipa recheada de baixas. O Chelsea é o novo campeão europeu contra todas as previsões, mesmo as mais otimistas. Fez o jogo esperado: defendeu até ao limite das forças, atacou pouco e pela certa, jogou com as suas limitações e teve um coração e uma sorte enormes. A partida só ganhou emoção nos últimos 10 minutos e no prolongamento: até lá, só a aselhice dos alemães e o acerto defensivo dos londrinos foi mantendo o Chelsea agarrado ao troféu. E, no final, tudo isso compensou. Após uma época aos trambolhões, o Chelsea encontra a glória numa Liga dos Campeões repleta de emoções e surpresas, relegando o Bayern à desilusão da equipa que lutou até ao limite das suas forças sem sucesso – e ainda por cima como anfitrião.

 

publicado às 14:59

Fringe: um novo mundo

por Antero, em 15.05.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x21/4x22: Brave New World

Se este fosse o final da série, eu ficaria frustrado. Como final de temporada não foi dos melhores e deixa um sabor amargo na boca, mas há razões para olhar para os 13 episódios finais com esperança e pensar que isto foi apenas um acidente de percurso num produto tão inventivo e atento aos detalhes. Temo que a indecisão da FOX quanto à renovação deixou os produtores com uma enorme bota para descalçar e, assim, tentaram agregar tudo num desfecho que satisfizesse o público fiel, até por que os dois capítulos fecham várias pontas e poderia, sim, ter sido o encerramento previsto. O tal episódio em 2036 ficaria como um sinal do que eles teriam feito caso a machadada final fosse dada pela estação, o que não aconteceu e ainda bem. O que me irritou foi a maneira corrida e trapalhona como tudo foi encadeado.

 

Na primeira parte, vemos que é William Bell a figura por detrás dos planos de David Robert Jones e este era um mero peão das suas maquinações. Primeira escorregadela: uma temporada inteira a desenhar Jones como o grande vilão e traçam-lhe uma despedida inglória numa das maquinações mais absurdas que já acompanhei (sim, até mesmo para Fringe): uns nanorobots disseminados num espaço público que matam por combustão espontânea todos aqueles que se encontram em movimento. Os sobreviventes ficam ali parados à espera de ajuda da Divisão Fringe e estes levam APENAS UMA pessoa como amostra (Rebecca Mader, mais uma a fazer-me suspirar por LOST) quando o FBI facilmente arranjaria meios para ajudar todos os outros que se mantinham imóveis (quanto mais não fosse para deitá-los). Jessica, a cobaia, tem um peripaco enquanto Walter sintetiza o antídoto e é Olivia, com os seus superpoderes, que a estabiliza numa ótima cena que antecipava um excelente rumo para o final.


Nada disso: um raio de luz solar projeta-se sobre Boston e ameaça destruir um reservatório de petróleo sob a cidade. Peter e Olivia seguem no encalço de Jones que estava a controlar o fenómeno e deparam-se com duas antenas no topo dois prédios e que devem ser desativadas AO MESMO TEMPO! Olivia para um lado, Peter para o outro e este é atacado por Jones num mano a mano indigno de uma inteligência superior como o nosso vilão que, certamente, deve ter uma mão cheia de ajudantes mais habilitados para o confronto. Eis que, no outro prédio, Olivia superpoderosa controla o corpo de Peter a ajuda-o a eliminar o "grande vilão" numa cena tão mal conduzida que pensei que estava a assistir Heroes. E tudo isto para quê? Ora, para desviar Peter e Olivia do caminho de Bell e fazer com que Walter reencontrasse o cientista. Como Bell conseguiu planear e executar cuidadosamente tantas variáveis em jogo é um mistério para mim, mas talvez ele já contasse com a inépcia jamais vista de Jones que nem um jogo de xadrez sabe interpretar (era óbvio que o bispo seria ele) e recebe o sermão sobre o jogo como uma lição divina, quando aquilo não é mais do que baboseiras incorretas sobre algo milenar (a peça mais valiosa é o rei e nunca, em momento algum, se sacrifica – ou o jogo termina por desistência!).

 

A segunda parte não foi tão fraca; foi apenas mediana. Começamos com Astrid baleada sabendo que ela estará viva e de boa saúde no futuro, mas ao menos não tentaram criar tensão com o assunto. Talvez desagradado com as escolhas da FOX, o grande plano de Bell é ter uma segunda temporada de Terra Nova à força toda, nem que para isso tenha de destruir dois universos e criar um novo. A tal de Jessica pede ajuda a Olivia, mas era tudo um logro e ela trabalha para Bell. Aqui temos a melhor cena de ambos os episódios: Setembro encurralado a intercetar as balas disparadas por Jessica. No entanto, não consegue evitar o disparo de uma arma mais sofisticada (obra de Bell), o que explica como ele apareceu ferido no laboratório de Walter há uns capítulos atrás. Mais uma vez é Olivia, a Mulher-Maravilha, a conseguir fazer ricochete com as próprias mãos e mata a aliada de Bell. O Observador desaparece depois de declarar a Olivia que a conversa que tiveram sobre o facto de ela estar destinada a morrer de qualquer maneira ainda não havia ocorrido, numa daqueles maravilhosos nós no cérebro que só as viagens no tempo proporcionam.

 

A seguir, tivemos direito à sequência mais bizarra de toda a série e olhem que a concorrência é enorme: o cérebro de Jessica é brevemente reativado através de equipamentos da Massive Dynamic e revela de forma enigmática a localização de Bell e Walter. Estes têm uma conversa onde o primeiro tenta convencer o segundo sobre a validade dos seus planos, afinal a ideia inicial era de Walter antes de este ter removido partes do seu cérebro por temer a pessoa que se estava a tornar. Os universos começam a entrar em colapso e Peter e Olivia chegam mesmo a tempo de impedir Bell, só que este assegura que o processo é irreversível graças aos poderes "cortexiphianos" de Olivia – então, Walter dá-lhe um tiro em cheio na testa e interrompe a destruição das realidades. O resto foi previsível: Bell desaparece ao tocar num sino (momento vergonha alheia) e Walter acaba por "ressuscitar" Olivia, vide as capacidade regenerativas do medicamento vistas no episódio anterior lá com o bolo de limão. Apesar de tudo, a cena foi bem conduzida e deu para sentir o desespero de Peter e o pragmatismo de Walter.

 

A encerrar, a Divisão Fringe recebe um aumento de verbas pelos serviços prestados e Olivia descobre no hospital que está grávida (nas séries, toda a gente descobre que carrega um feto depois de passar por perigo de vida). Seria o desfecho satisfatório se Setembro não aparecesse de rompante no laboratório a avisar que "eles estão a caminho" – "eles" são, naturalmente, os Observadores que preparam-se para tomar conta do Mundo. Nota-se que esta é a cena que distingue o desfecho planeado caso a série fosse cancelada e aquele que faria a ponte para a quinta temporada.

 

No geral, gostei muito da temporada e deram bem a volta à situação do "desaparecimento" de Peter. Abriram novas possibilidades, puseram os dois universos em colaboração total (e todo o elenco foi formidável neste aspeto) e responderam a um monte de perguntas. Já o final foi apressado, mal trabalhado (os poderes de Olivia cresciam consoante os intervalos comerciais) e muito previsível. Brochante seria o termo ideal. Assim, Fringe despede-se este ano abaixo daquilo que nos proporcionou na estupenda terceira temporada, mas é de acreditar que, com 13 episódios, não deverá haver espaço para enrolações nem margem de manobra para soluções enfiadas a martelo.

 

Vemo-nos em setembro!

 

publicado às 17:55

Sombras da Escuridão

por Antero, em 13.05.12


Dark Shadows (2012)

Realização: Tim Burton

Argumento: Seth Grahame-Smith

Elenco: Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Eva Green, Jonny Lee Miller, Helena Bonham Carter, Jackie Earle Haley, Bella Heathcote, Chloë Grace Moretz
 

Qualidade da banha:

 

CARTA A TIM BURTON

 

Caro Tim,

 

Daqui é um fã que te escreve. Um fã que se deprime ao perceber que muitos intitulados fãs não conhecem ou não apreciam a tua melhor obra (Ed Wood) e rasgam-se em elogios ao meramente divertido Marte Ataca!. É certo que os teus Batman não são grande espingarda, mas nada como um Joel Schumacher para dar outro brilho aos filmes alheios. Já me emocionaste com Eduardo Mãos de Tesoura e O Grande Peixe, divertiste-me a valer com Beetlejuice – Os Fantasmas Divertem-se e Charlie e a Fábrica de Chocolate, patrocinaste duas fabulosas animações como A Noiva Cadáver e O Estranho Mundo de Jack e deslumbraste-me com A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Até hoje sou olhado de lado por dizer que adorei a tua incompreendida versão de O Planeta dos Macacos, só para veres como sou teu fã!

 

Dito isto, é com pena que admito que estou um pouco farto dos teus filmes. Tenho notado que se tornaram festins visuais sem qualquer substância: Sweeney Todd já não me havia encantado ("I feeeel youuuu, Johaaaaana") eAlice no País das Maravilhasé uma porcaria sem pés nem cabeça onde a direção artística absorve tudo e se torna um fim em si mesmo. Infelizmente, Sombras da Escuridão vai pelo mesmo caminho. Os cenários e os efeitos são tudo o que se espera de ti (fantásticos), mas que é feito do teu humor negro cortante? Aquele que define a ambientação e desenvolve as personagens? Ou aquelas histórias envolventes polvilhadas com indivíduos fascinantes?

 

Dá para perceber o que te atraiu em Sombras da Escuridão: originalmente uma telenovela norte-americana de contornos góticos dos anos 60 e 70, ela tornou-se um objeto de culto graças à figura do vampiro Barnabas Collins que era despertado após 200 anos e decide restaurar a antiga glória do seu clã. Chamaste o teu colaborador habitual para o papel principal, um excêntrico numa carreira já sobrelotada deles, e bem podes dizer ao Johnny que as suas composições já soam a preguiça. Enfiaste a Helena no papel de uma psiquiatra incompetente que se mantém com os Collins há três anos sem razão aparente que não seja a da atriz ser a tua companheira e teres de inclui-la no filme a bem da diplomacia conjugal. Raios! Até da talentosa Chloë Grace-Moretz conseguiste extrair uma prestação desastrosa na adolescente enfadada que só me fez lamentar que a década de 60 não contasse com métodos contracetivos mais eficazes.


Antes que me atires à cara, posso adiantar que percebi a tua proposta: pegar numa soap opera e convertê-la para uma comédia, realçando os seus absurdos, as personagens estereotipadas e as narrativas mais do que gastas. O problema, caro Tim, é a tua notória indecisão sobre o que diabo é Sombras da Escuridão. Uma paródia? Um conto gótico? Um melodrama? A tua ideia era, creio eu, juntar isto tudo, e no prólogo fazes um trabalho eficaz ao estabelecer o sofrido Barnabas e a lânguida e vingativa Angelique (a linda Eva Green e das poucas que se salvam), mas, como realizador experiente que és, não reparaste que o filme vai ladeira abaixo quando salta para 1972? Que as piadas são disparadas sem chama alguma e limitam-se ao batido contraste entre épocas? Que a história anda aos trambolhões com a roda-viva de personagens que entram e saem sem dizerem a que vieram? Ou que a governanta é contratada para cuidar do jovem David e, em pouco tempo, já o acha "especial" sem que a tenhamos visto interagir com o rapaz?


Sim, o filme é belíssimo para os olhos, mas entediante para a mente. Se fosse dada tanta atenção ao argumento como foi dada aos aspetos técnicos, talvez Sombras da Escuridão não tivesse tão gritante falta de energia. Toma como exemplo a cena de sexo entre Barnabas e Angelique: dois seres poderosos que destroem tudo por onde passam e desafiam a gravidade extravasando os dois séculos de separação. Esta minha descrição é mais empolgante do que a sequência em si: ela é tão cansativa, tão pouco original e tão prolongada que eu não via a hora de acabar. "Cansativa" e "pouco original" – aqui estão duas expressões que eu nunca pensei vir a usar sobre uma obra tua; porém, elas resumem na perfeição a bagunça que é este filme.


Venha de lá Frankenweenie e que te traga de volta para bom porto. Alguém tão talentoso como tu não se pode acomodar com estes recentes tiros ao lado – e não me parece que venha por aí um Joel Schumacher capaz de redimir-te.

 

publicado às 20:06

Fringe: futuro sombrio

por Antero, em 03.05.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x19: Letters of Transit e 4x20: Worlds Apart

Para uma série com baixas audiências e que vive no limiar do cancelamento, é um prazer ver que o produto de ficção científica exibido num meio avesso ao tema (leia-se: canal aberto nos EUA) insiste em sair da zona de conforto que provavelmente lhe traria um público estável ainda que à custa de um esvaziamento narrativo da forte mitologia e dos dramas pessoais que sustentam a série. Todo este esforço compensou e a FOX renovou Fringe para uma quinta e última temporada de 13 episódios, o que denota imenso respeito pelos espectadores que acompanham a criativa história ao permitir-lhes um fim planeado com antecedência. A FOX de outros tempos não hesitaria em cancelar Fringe mal os números caíram a pique na terceira temporada e só isso é algo a ser comemorado nos dois universos.

 

Esta introdução serve para declarar que seria um crime Fringe acabar precocemente sem termos a possibilidade de voltar ao futuro visto em Letters of Transit: em 2036 existe um regime totalitário comandado pelos Observadores que aparentemente cansaram-se do livre arbítrio mal usado pelos humanos num futuro ainda mais distante e, como remédio, voltaram no tempo para tomar as rédeas de tudo e estabelecer um mundo onde a liberdade é uma miragem e a opressão é uma realidade. É neste cenário que Desmond, perdão, Simon e Etta (só alguém muito distraído não topou logo que era a filha de Olivia e Peter), agentes de uma Divisão Fringe que funciona como uma força policial de recursos precários, desempenham um papel fulcral na resistência rebelde ao resgatar Walter da sua prisão de âmbar autoimposta.

Sem qualquer relação com a trama central que vinha sendo apresentada, este episódio levanta várias questões: o que levou os Observadores a tornarem-se parte ativa nos rumos da raça humana? Menciona-se um cataclismo em 2015 e vários pontos estão devastados (o Central Park, por exemplo), mas não chega para afirmar se o Lado B foi destruído e ou se foi, de alguma forma, fundido ao Lado A (o café em rebuçados e algumas tecnologias são claramente do outro Lado)? E como Walter pode ter despistado as autoridades ao aprisionar-se em âmbar? Será que sabiam da sua localização e deixaram estar ou perderam-lhe o rasto? E William Bell? Vai aparecer vivinho da silva? O que fez ele a Olivia? Matou-a? Será ele a grande mente a comandar os planos de David Robert Jones?

 

Worlds Apart traz-nos de volta para o presente e a para o centro das maquinações de Jones que, depois de recrutar os antigos colegas de Olivia dos testes de cortexiphan, começa a fundir as duas realidades com o objetivo que estas entrem em colapso e daqui surja um novo universo onde o vilão será rei e senhor. É curioso notar que na temporada anterior víamos os dois universos em conflito (devido ao desejo de vingança de Walternate), e agora acompanhamos um cenário de cooperação e consequente cura do Lado B que só foi possível por causa da mudança de perspetiva daquelas personagens, o que nos leva à maravilhosa e reveladora cena onde os dois Walters conversam lado a lado sobre o sentimento redescoberto pela reaparição do filho perdido e que motivara as ações destrutivas de ambos.

 

Aqui, além de vermos as personagens e respetivas contrapartes em momentos que revelam conexões inesperadas (com destaque para aquela entre as Olivias), o episódio liga de forma objetiva vários pontos-chave da narrativa de Fringe (as cobaias; a zona segura que permitirá a sobrevivência à destruição; as criaturas de Jones) e realça a culpa que Walter sente em relação ao trabalho desenvolvido com William Bell, levando a uma ameaça extrema que requer uma solução radical: desligar a Máquina do Apocalipse e encerrar a ponte que faz a ligação entre os dois universos separando, efetivamente, os dois Mundos – e as consequências desta medida poderão estar relacionadas com o futuro de 2036.

 

Mais dois episódios e siga para a quinta temporada! Abram o champanhe!

 

publicado às 00:39


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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