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The Adventures of Tintin (2011)

Realização: Steven Spielberg

Argumento: Steven Mofatt, Edgar Wright, Joe Cornish

Elenco: Jamie Bell, Andy Serkis, Simon Pegg, Nick Frost, Daniel Craig
 

Qualidade da banha:

 

Aquando a estreia de Os Salteadores da Arca Perdida, em 1981, houve quem comparasse Indiana Jones a Tintin e com razão, já que as aventuras do arqueólogo emulavam na perfeição o espírito da banda desenhada de Hergé com os seus artefactos místicos, voltas ao Mundo, personagens carismáticas e um sentido de diversão contagiante. Assim, nada mais justo que seja o próprio Spielberg a comandar a produção que leva o jornalista loiro e de poupa inconfundível de volta ao grande ecrã, ainda mais com produção de Peter Jackson (que dispensa apresentações) e argumento de Steven Mofatt (das séries britânicas Sherlock e Doctor Who), Edgar Wright (dos óptimos Shaun of the Dead e Hot Fuzz) e Joe Cornish (do pouco visto, mas elogiadíssimo, Attack the Block). Além disso, demonstrando imenso respeito pela obra original, Spielberg optou por manter a estética de Hergé ao recorrer à técnica do performance capture, já usada em filmes como a trilogia O Senhor dos Anéis, Polar Express, Beowulf eAvatar. Tanto talento junto e o resultado é frustrante. Comparações com Indiana Jones só se for com o lamentávelReino da Caveira de Cristal.

 

Combinando elementos dos álbuns O Caranguejo das Tenazes de Ouro, O Segredo do Licorne e O Tesouro de Rackam, o Terrível, As Aventuras de Tintin traz o personagem-título (Bell), sempre acompanhado do fiel Milu, no encalço de um segredo que está relacionado com uma réplica de uma embarcação que ele recentemente adquiriu: o Licorne. O modelo é cobiçado pelo misterioso Sakharine (Craig) que o deseja para descobrir o tesouro de um pirata do século XVII, o que levará Tintin a conhecer o rabugento e ébrio Capitão Haddock (Serkis) e a ter a ajuda dos inseparáveis detectives Dupond e Dupont (Pegg e Frost).

 

Visualmente falando, o filme acerta ao respeitar o traço de Hergé e a situar a acção numa época que remete às décadas de 30 e 40, algo que traz uma aura de nostalgia, visto que esses anos foram férteis em histórias de acção e aventura tanto na Europa como nos Estados Unidos que fervilhavam as mentes de um povo a braços com uma nova guerra mundial. Dos cenários que oscilam entre o realismo e o cartoon às caracterizações das personagens, passando pelas texturas, luzes e sombras, e acabando na manipulação de elementos problemáticos como o fogo e a água, Tintin é tecnicamente irrepreensível - ou quase (e isto é o grande problema do filme), uma vez que a técnica do performance capture revela-se um defeito capaz de sabotar a narrativa. Nota-se um imenso avanço desde Polar Express e Beowulf, mas a técnica ainda tem muito caminho a percorrer no que ao fotorealismo diz respeito: as personagens continuam a demonstrar uma inexpressividade alarmante, com o olhar "morto" como se estivessem cegas e movem-se de forma mecânica e pouco fluida.

 

Isto, obviamente, compromete o envolvimento emocional do público: há algo naquelas acções e naqueles olhares que não bate certo e dificilmente alguém se preocupa com o perigo que um ser digital corre ao envolver-se numa luta ou numa perseguição. Tomem, como exemplo, a cena em que um cartaz anuncia o espectáculo da cantora de ópera Bianca Castafiore: vemo-la de perfil, em pose, igual aos desenhos de Hergé e, logo de seguida, somos apresentados à personagem real que mais se assemelha a um boneco de cera ambulante no qual os movimentos da boca parecem não responder adequadamente aos músculos da cara. Apesar de contar com tecnologia digital de ponta, O Segredo do Licorne falha redondamente onde não podia falhar; tirando alguns momentos do Capitão Haddock e do encantador Milu, o filme não consegue injectar vitalidade naquela gente – e até o pobre Tintin é deixado a debitar pensamentos em voz alta, um recurso que faz sentido na banda desenhada, mas que no cinema só acentua o carácter expositivo de uma arte distinta.

 

Esta falta de vida contagia tudo o resto: Spielberg vê-se obrigado a mexer a câmara de um lado para o outro, talvez para mostrar as potencialidades do novo brinquedo que tem em mãos e a investir em objectos apontados e atirados para a objectiva, sem que isto tenha alguma função narrativa e surja mais como justificação rasteira para o irritante 3D. No entanto, a sequência inicial do carteirista comprova a inventividade do realizador em trabalhar com animação e alguns raccords (passagens de cena) visuais são imaginativos. Noutros casos, Spielberg atira qualquer noção de ritmo e espaço pela janela, como na perseguição pelas ruas de uma cidade marroquina que, composta por um longo plano sem cortes, transforma-o automaticamente no anti-Michael Bay na forma, mas não no conteúdo, já que o caos visual toma conta do ecrã e não se percebe nada do que acontece.

 

Costurando com relativo sucesso partes de três livros diferentes, O Segredo do Licorne é uma obra emocionalmente oca e há alturas em que lembra um videojogo tal é o virtuosismo que os produtores querem imprimir à força toda, algo que só torna a condução da narrativa cada vez mais robótica e amorfa, sendo ainda pontuada por uma das piores partituras que o grande John Williams já compôs. Não há emoção, nem a sensação de que algo ou alguém está em risco, muito menos o arrebatamento de um entretenimento à altura dos escritos de Hergé. Apenas a tecnologia digital ao (des)serviço do cinema e criaturas que são a cara chapada da banda desenhada, sim senhor, mas que não têm um décimo do charme e da alma que os desenhos proporcionam.

 

E isto é algo que os computadores simplesmente não conseguem capturar.

 

publicado às 01:03

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 


Entourage - temporada 8

Esta já foi a minha comédia preferida. Talvez ainda seja. Mas o sabor deixado por esta temporada final é agridoce – e não afirmo isto com aquele espírito de "contente por que acabou e triste por não haver mais", mas sim pela decepção que foi a mesma comparada com tantos momentos altos proporcionados em oito anos, principalmente nas brilhantes terceira e quinta temporada (esta última comentada neste mesmo espaço há longos três anos). Foi tudo muito apressado, feito em cima do joelho e sem muito nexo. Parecia uma novela em que as coisas importantes levam 50 episódios a acontecer para tudo se resolver nos dois últimos por que, bem, depois não há mais tempo para amarrar tudo. Nem na pachorrenta sexta temporada, quando Vince era um quase secundário na dinâmica do grupo, se viu tal: o desfecho de Entourage desilude não pelo que mostrou, mas sim pelo que não mostrou. Nem a um trecho de Johnny's Bananas, a animação que levaria Drama à glória, tivemos direito. Uma vergonha, de facto.

 

Além de repetir histórias já vistas na série (os negócios de Turtle, as relações desastrosas de Eric), a temporada, composta por oito capítulos, não parece possuir estrutura aparente, apresentando novos arcos narrativos no penúltimo episódio e apenas por que estes têm uma função imediata a desempenhar: falo da gravidez de Sloan que a levará de volta aos braços de Eric e ao estapafúrdio casamento de Vince, decidido em menos de um dia e logo com uma jornalista sofisticada e madura que, horas antes, resistia aos avanços do astro.

 

Se antes tínhamos uma história principal que percorria a temporada e cada uma das personagens circulava em volta dela, agora os argumentistas atiram para todo o lado. Vince chega da reabilitação, tem de mostrar que está saudável, assiste a um suicídio, tem de fazer uma despistagem de drogas à qual (não) reprovará, faz uma introspecção acerca da vida amorosa, atira-se a uma jornalista e faz toda a gente feliz no fim. Turtle volta aos investimentos por conta própria após deixar os negócios da tequila para se dar mal e ser ajudado por Vince, depois de ter recusado veemente a ajuda deste. Eric ressente-se da falta de Sloan, parece ter atritos com Vince que nunca chegam a lado nenhum, envolve-se com a ex-futura-que-voltará-a-ser-futura-sogra, descobre que vai ser pai e tudo acaba bem.

 

Drama e Ari, nas histórias que salvam a temporada do desastre, debatem-se com problemas distintos: o meio-irmão de Vince vê a carreira por um fio quando Dice, o co-protagonista da série animada, boicota a produção e o agente vê-se mergulhado num divórcio que o levará a ter um caso com a ex-arqui-rival Dana apenas para descobrir a falta que sente da família. Tudo bem construído, mas resolvido às três pancadas: basta ver a ridícula cena em que o produtor de Johnny's Bananas ameaça Drama pelo telefone caso não volte ao trabalho e este não lhe assiste para, segundos depois, o primeiro ligar a Dice a informar que as suas exigências tinham sido aceites. Enfim, dão-lhes tanto que fazer para tudo ficar na mesma.

 

Atenção: eu sei que estamos a falar de uma comédia e desenvolvimento de personagens nunca foi o forte de Entourage (nem teve de ser). Só que acabar uma história que sempre mostrou uma garra e uma vitalidade imensas com um amontoado de clichés é lamentável. Aquele grupo de amigos merecia bem melhor, o que talvez possa vir a acontecer na já anunciada longa-metragem e que a cena pós-créditos no último episódio pode desvendar em parte. Apesar dos pesares, aquele grupo de amigos vai deixar saudades ainda que a despedida não tenha sido a ideal.

 

publicado às 00:20

Fringe: o regresso

por Antero, em 19.10.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 


Fringe 4x04: Subject 9

Quando Olivia foi "atacada" pela aquela entidade de raios, o meu pensamento imediato foi do que se tratava de uma manifestação de Peter na sua luta para regressar. Mais tarde, Walter relembra um dos miúdos dos testes de cortexiphan e logo tirei essa ideia da cabeça. A cena, aliás, serviu para nos dar mais detalhes da nova realidade: sabemos que Olivia (agora toda BFF com Nina Sharp!) fugiu antes da conclusão dos experimentos (e, provavelmente, não terá as habilidades de viajar entre os mundos tão apuradas como sabíamos); Walter nutre ainda um grande ressentimento pelas experiências que levou a cabo, tornou-se numa espécie de eremita três anos depois de ter saído do hospício e cabe-lhe provar a Olivia que está mentalmente são e não necessita de novo internamento.

 

A relação entre os dois foi um dos pontos altos do episódio: se antes Walter e Olivia eram próximos, com o primeiro a colmatar a ausência de uma figura paterna, agora apresentam laços meramente profissionais com a Agente a ressaltar que deve ponderar bem sobre a decisão médica acerca de Walter (o que não significa que ela não se preocupe com ele; apenas não nutre o carinho de outros "tempos"). Ponto para Anna Torv e John Noble que souberam reinventar as suas personagens nos mínimos pormenores e toda esta nova dinâmica, aliada às descobertas sobre a nova realidade, têm compensado a falta de interesse nos casos semanais.

 

No entanto, é claro que o grande destaque do capítulo é o regresso de Peter, a emergir no mesmo local onde, um dia, morreu a criança que nunca cresceu para se tornar homem. E abre-se toda uma nova janela de possibilidades em Fringe, os Observadores terão muito para explicar e corrigir e a série faz um intervalo de uma semana com um cliffhanger matador, já que ninguém se recorda de Peter ou da sua importância na história de cada um deles.

 

publicado às 02:02

Contágio

por Antero, em 16.10.11

 

Contagion (2011)

Realização: Steven Soderbergh

Argumento: Scott Z. Burns

Elenco: Matt Damon, Laurence Fishburne, Marion Cotillard, Kate Winslet, Elliott Gould, Jude Law, John Hawkes, Enrico Colantoni, Bryan Cranston, Jennifer Ehle, Gwyneth Paltrow
 

Qualidade da banha:

 

O que aconteceria se uma pandemia de um vírus mortal deflagrasse nos dias de hoje? Contágio debruça-se sobre esta questão, começando na origem da infecção, a corrida desesperada por uma cura pelas autoridades médicas internacionais e mergulhando nas implicações políticas e económicas – e, neste aspecto, o filme é bastante detalhado e interessante por abordar como o planeta reagiria à crise e os efeitos da mesma na população. Contudo, ao investir em várias histórias paralelas, Contágio mal consegue aprofundar as suas personagens e perde-se em clichés à medida que a devastação toma conta do planeta.

 

Iniciando-se no "Dia 2" da epidemia, Contágio não perde tempo a enfocar a rápida disseminação da doença: Beth Ehmoff (Paltrow) é uma empresária que regressa doente da China para os Estados Unidos e, pouco tempo depois, morre bem como o seu filho infectado, ao contrário do seu marido, Mitch (Damon), que ficou imune. A partir deste ponto, acompanhamos as tentativas do Centro de Controlo de Doenças em conter a propagação do vírus e as acções da Organização Mundial de Saúde na descoberta do ponto de partida da epidemia e de uma forma de erradicá-la. Ao mesmo tempo, vemos a reacção mundial numa escalada de paranóia e medo alimentada pelos meios de comunicação, nomeadamente a Internet e o blogger e teórico da conspiração, Alan Krumwiede (Law).

 

Com um sensacional elenco a dar vida a todas estas narrativas, Contágio prefere debruçar-se sobre os aspectos científicos da questão e os melhores momentos da projecção são aqueles nos quais seguimos os esforços para isolar o agente patogénico, a exaustão destes processos e os avanços e recuos de todos os envolvidos. Além disso, o argumento faz questão de conferir verosimilhança à história ao citar outras pandemias como a recente Gripe Suína, a Gripe das Aves ou a Gripe Espanhola e apontar dados como o facto de um vírus ser um organismo em constante luta pela sobrevivência pela busca de um novo portador, visto que o actual infectado eventualmente morrerá, e também enfocar as diferentes formas de propagação e eventuais comportamentos de risco. Por outro lado, o filme mete os pés pelas mãos ao retratar a Televisão como mediadora entre as classes científicas e políticas e a população e a Internet como força destrutiva e causadora do pânico que toma conta dos seres humanos, algo que não só é redutor, mas provavelmente falso, como comprovam as atitudes recentes aquando a Gripe Suína.

 

Outro problema de Contágio é a sua inabilidade na componente humana da narrativa – e bem que eu poderia usar a expressão "descaso" sem qualquer conotação negativa, já que grande parte da película descarta (e bem, a meu ver) os dramas pessoais das personagens que, convém referir, têm pouco tempo de antena e são vividos por actores aos quais facilmente atribuímos certas particularidades (a autoridade de Fishburne; o profissionalismo de Winslet; a simpatia de Damon; e por aí fora...). Assim, quando a narrativa vira o seu foco para o mundo pós-apocalíptico a braços com uma catástrofe, os lugares-comuns deflagram mais depressa que o vírus em si e o esforço em encerrar o filme numa nota mais positiva e sentimental surge deslocada e sem o envolvimento necessário para que o público se comova.

 

Dono de uma carreira interessante (porém, irregular) que mistura o cinema comercial com o mais experimental, Steven Soderbergh poderia ter aqui mais uma obra à altura do espectacular Traffic – Ninguém Sai Ileso (com o qual Contágio divide algumas semelhanças nas narrativas paralelas) e a montagem faz um bom trabalho ao manter todas as histórias em andamento e com fluidez, sendo ainda bem sucedida ao retratar a passagem do tempo. Por outro lado, os planos de ruas destruídas, cidades mergulhadas no caos e populações assustadas nunca deixam de lembrar dezenas de outras produções.

 

Desta forma, Contágio acaba por não fazer melhor que tantos outros disaster movies, embora também não faça pior; o que em tempo de vacas magras já é bem meritório.

 

publicado às 22:59

Como todos saberão, não nutro especial simpatia pela nossa classe política (a começar por Aquele que Habita em Belém e a acabar no Presidente da Câmara de Espinho – coincidentemente ambos do PSD), tanto que votei em branco nasúltimaseleições. Na altura, dividiram-se as trincheiras políticas em pró-Sócrates e pró-Coelho como se o futuro imediato do país estivesse em jogo.

 

Pois bem, esse "futuro" foi-nos atirado à cara em 19 minutos num discurso imponente onde Passos Coelho traçou um cenário medonho da situação actual, embora sem citar razões para tal (não que precisássemos de ser lembrados da incompetência deles), que o buraco é muito mais fundo do que eles pensavam (embora tivessem "estudos" que comprovassem tudo o que prometeram em campanha - logo, estavam errados!) e escudam-se na pesada herança que receberam do anterior Executivo, o típico comportamento do homo politicus para o qual já tinha alertado na altura em que Coelho se tornou o paradigma do "futuro" (ainda que pouco risonho).

 

Se isto faz de Sócrates melhor? Isto não faz nem do Cavaco melhor, pá! E olhem que o velho já deixou a Assembleia há 15 anos. Sem o lençol de medidas que escondia a cabeça e destapava os pés que valia ao nosso Licenciado Domingueiro, Coelho pegou na enxada que tão bem ficava àquela senhora e foi tudo a eito. Vão-se os subsídios, os feriados, as pontes, as deduções, os medicamentos, as ajudas e menos meia hora para a vida social; não há cá investimento que o dinheiro é emprestado e já tem dono; as reformas estruturais na função pública ficam na gaveta e tudo aquilo que ele prometeu na campanha é atirado pela janela por que, lá está, estamos muito mal (e porquê?), não devemos olhar para trás (o quê?!) e para a frente é que é o caminho (mesmo que a Luz seja um estádio e não um símbolo de salvação).

 

E, no meio disto tudo, eu até compreendo certas medidas (apesar de não justificar o assalto de mão armada que vai ser daqui em diante): é melhor cortar nos salários que despedir. Perde-se poder de compra, mas mantêm-se os empregos. No privado, que vai levar por tabela forte e feio, não há cá cortes: despede-se e adeus. Admiro que Coelho pinte o cenário tão negro como ele realmente é, embora apele para justificações tão vagas como "a situação é desesperadora" e num esforço de criar um inimigo comum que faria Bush Jr. roer-se de inveja. O que não me conformo são gestores de topo em empresas públicas receberem balúrdios seja em serviço ou em reformas (que acumulam!) e, muitas vezes, fazem gestão danosa e seguem incólumes e de bolsos cheios. Que as classes médias sejam chupadas até à exaustão; que as pequenas e médias empresas (a espinha dorsal da economia) estejam afundadas de encargos que mal dão para investirem nelas próprias, o que, obviamente, leva a meios ilícitos de facturação.

 

Andámos anos a chular a Europa para darmos o salto e nem o trampolim comprámos. Conclusão: sujeitamo-nos a tudo o que eles exigem para estancar uma ferida que não pára de sangrar. Passos Coelho corta a torto e a direito na esperança que ela estanque (ainda que momentaneamente) e, o mais deprimente, é que ele não parece ter noção do que o que está a fazer tem maior probabilidade de correr mal do que resolver tantos problemas em tão pouco tempo.

 

E Portugal já passou da hora de andar a dar tiros no escuro.

 

publicado às 00:46

Fringe: a solidão

por Antero, em 10.10.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 


Fringe 4x03: Alone in the World

O caso da semana não foi grande coisa e até me causou uma certa impressão como a equipa Fringe toma o primeiro contacto com o fungo no local do crime completamente desprotegida (um erro pouco usual numa série tão atenta a detalhes), mas deu para John Noble dar mais uma prova do seu imenso talento e profundo conhecimento de todas as nuances de Walter. As cenas em que este relembra a duas mortes de Peter e quando tenta desesperadamente efectuar uma lobotomia a si próprio revelam toda a angústia reprimida pela saudade do filho falecido e também a culpa de ser directamente responsável por todas as catástrofes que já conhecemos. No entanto, é pena ver que Fringe volta à velha fórmula dos casos isolados quando deveria explorar mais a fundo a interacção entre os dois universos partindo da narrativa levantada no episódio anterior. Afinal, a união dos Mundos abriu novas possibilidades e é frustrante perceber que a série não as aproveita.

 

Fica assim resolvido um dos grandes mistérios deixados pela temporada anterior: na actual linha temporal, Peter realmente existiu e morreu precocemente da doença que o vitimava e, mais tarde, afogou-se no lago após o seu sequestro do Lado B (e sem a intervenção do Observador). Aliás, uma das questões que está a irritar os espectadores por essa Internet fora é a de que nos foi dito que Peter "nunca existiu", algo que sabemos agora não ser verdade o que pode revelar uma grande falha por parte dos argumentistas. Quanto a isto, algumas considerações:

  • o Peter que os Observadores afirmaram nunca ter existido pode ser o Peter adulto, aquele que conhecemos ao longo de três anos e que nunca deveria ter sobrevivido;
  • no primeiro episódio da presente temporada, Setembro afirma veemente que ele foi apagado da existência, mas que traços dele continuam inexplicavelmente a surgir na nova realidade. Podemos assumir, então, que o Observador tinha plena certeza da afirmação que fez e que estava errado. Mais tarde, o próprio hesitou numa tarefa que, pensamos nós, teria como objectivo devolver a estabilidade à não-existência de Peter.

Nenhum destes cenários entra em contradição com aquilo que nos foi mostrado até agora; é apenas uma questão de interpretação. Fica agora mais acentuada a dúvida de onde se encontra Peter. Preso na anterior realidade? Num limbo qualquer? Nas mentes dos indivíduos com quem firmou um elo intenso (Walter, Olivia)? E como será quando ele voltar? A realidade alterar-se-á novamente? E como os Observadores lidarão com este problema?

 

publicado às 23:17

As Serviçais

por Antero, em 08.10.11

 

The Help (2011)

Realização: Tate Taylor

Argumento: Tate Taylor

Elenco: Viola Davis, Emma Stone, Octavia Spencer, Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain, Sissy Spacek, Allison Janney
 

Qualidade da banha:

 

É difícil não gostar de As Serviçais. É um filme certinho, beneficiado com grandes prestações do seu elenco, enriquecido por uma reconstituição de época competente e que, no seu núcleo, debruça-se sobre uma história humana e com contornos reais. Em contrapartida, trata-se de uma obra convencional, académica, formatada para atacar a próxima temporada de prémios e, quiçá, com uma mensagem desgastada para com os assuntos que pretende discutir. Aí, porém, voltamos às prestações dos actores que dão um verdadeiro espectáculo e são a maior virtude do filme.

 

Baseado no best seller de Kathryn Stockett, As Serviçais passa-se em Jackson, capital do Mississípi, no início da década de 60 e no epicentro da questão dos direitos civis entre brancos e negros. Aibileen (Davis) é uma criada afro-americana de uma família abastada e que se dedica às tarefas do lar bem como à criação dos bebés, tendo já um longo currículo nesse aspecto. A sua melhor amiga é a também criada Minny (Jackson), reconhecida pela sua frontalidade e bons cozinhados. Ambas dividem o esforço de um trabalho árduo e, muitas vezes, sofrem na pele os efeitos da segregação racial em vigor no estado sulista. É então que a jovem Eugenia (Stone), mais conhecida como Skeeter, regressa a Jackson depois de acabar o curso e decide escrever um livro sobre as experiências das criadas afro-americanas, algo que revelará mais obstáculos que aquilo que ela suponha.

 

Centrado nas relações entre patrões e criadas, As Serviçais pinta um retrato nada glamoroso do trabalho das segundas: além do desgastante emprego que as obriga a estar longe das suas famílias (já para não falar de ser mal pago e sem regalias como segurança social), as criadas ainda têm de suportar comentários e atitudes racistas das senhoras que servem por anos. Num contexto social dominado pelas infames Leis de Jim Crow que, seguindo o lema hipócrita "separados mas iguais", dividiam os espaços entre brancos e "pessoas de cor", ditavam comportamentos e definiam castas sociais numa nação que apregoava a igualdade entre seus indivíduos, as criadas eram umas quase escravas sem protecção eficaz da Lei e cujos focos de indignação eram violentamente retraídos. Por outro lado, o argumento deixa bem claro que o que as afecta não é o trabalho em si, mas sim o ambiente de medo e repressão que as rodeia, já que Aibileen, Octavia e restantes companheiras gostam do que fazem, chegam a demonstrar carinho pelas famílias que as empregam e até falam condignamente de antigos chefes.

 

Depois de ter conseguido a proeza de ofuscar Meryl Streep nos poucos minutos que aparece em Dúvida, Viola Davis volta a revelar todo o seu talento na pele da sofrida Aibileen, seja no sorriso contagiante com que recebe as amigas e cuida dos bebés da casa ou a retratar a angústia pelo filho perdido e o ressentimento pelo tratamento reservado pela patroa e as suas colegas superficiais. E mais: ao lado da óptima Octavia Jackson, elas criam uma amizade plena de empatia, bom humor e autenticidade – e é a relação entre elas que conduz o filme, além de proporcionar excelentes momentos de comédia a cargo da debochada Minny. Já a carismática Emma Stone perde força devido ao facto do roteiro tentar fazer dela a protagonista absoluta do filme quando a sua (fútil) trajectória rumo ao sucesso, ao entendimento com a mãe e a arranjar um marido empalidece em comparação com as de Aibileen e Minny (e As Serviçais ganha vida com estas em cena). No entanto, a química entre as três é perfeita e mesmo Bryce Dallas Howard e Jessica Chastain defendem bem as suas personagens unidimensionais, levando-nos a odiar a primeira como uma patroa racista e a comovermo-nos com a segunda como uma dona de casa solitária e carente.

 

Pontuado por factos verídicos como a Marcha sobre Washington ou o assassinato do activista Medgar Evers (o que traz veracidade e urgência à narrativa), As Serviçais tem o seu maior problema na realização convencional, sem identidade e que permite que a história se arraste no terceiro acto, deixando pontas soltas que mereciam ser abordadas (como a prisão das criadas acusadas pelos chefes). Ao preferir concentrar-se na questão de Skeeter e a sua ex-criada e fazer disto o conflito-mor a ser resolvido, o filme perde força, descamba para o que o melodrama tem de pior e acaba tão frívolo como as donas de casa que criticou por duas horas e meia. Vai abocanhar muitas nomeações, isso é certo (e Davis e Jackson merecem), mas é de lamentar como se dilui o imenso potencial de uma mensagem por dramas simplórios e romances da treta.

 

publicado às 01:47

Steve Jobs (1955-2011)

por Antero, em 06.10.11

Imagem gentilmente "roubada" daCátiaque, por sua vez, pediu "emprestada" ao site da Apple.

 

O homem pode ter sido um dos que contribuiu para tornar o computador pessoal não só tecnicamente possível, mas também economicamente viável. Os inventos da empresa que co-fundou marcaram várias gerações e marcarão as que ainda estão por vir. Uso bastante o iTunes, o iPod já acho um desperdício de dinheiro, o iPad não gosto mesmo nada, acho piada ao iPhone, e, quando tiver dinheiro, hei-de investir num Mac jeitoso. Tenho pena que tenha seguido um paradigma comercial um tanto elitista para a sua empresa e para os produtos que fabrica, mas tenho que dar a mão à palmatória quanto ao design e ergonomia dos mesmos (afinal só compra quem quer e pode, certo?). Além disso, as suas criações levaram a que outros seguissem as suas ideias e, mesmo que não possua nada da marca Apple, o mais certo é que esta tenha exercido alguma influência naquilo que utilizamos hoje em dia (como os sistemas operativos com ambientes gráficos, praticamente uma instituição em cada computador e que já passa despercebida).

 

Mas isso agora não interessa nada.

 

O que me leva a fazer esta singela homenagem a Steve Jobs é o facto deste, lá nos idos anos 80, ter comprado e investido num pequeno departamento da Lucasfilm que dava prejuízo e que tinha o sonho de tornar a animação por computador uma realidade: a Pixar. Sem ele, não haveria Toy Story, Ratatouille, WALL-E, The Incredibles e tantas outras obras que me proporcionaram maravilhosos momentos. Só por isto, o homem já deve ser louvado eternamente.

 

E, desculpem lá geeks aí desse lado, não há gadget que se compare a isto.

 

publicado às 02:41

Fringe: a marca

por Antero, em 03.10.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 


Fringe 4x02: One Night in October

Um dos aspectos mais fascinantes e prazerosos no universo "renovado" de Fringe é como os produtores estabelecem as diferenças entre a nova realidade sem Peter e as três temporadas anteriores: através de detalhes como diálogos que se referem a eventos subtilmente alterados ou aparições como o Broyles do Lado B que, não havendo um Peter que obrigasse à guerra dos Mundos, nunca morreu. Tal como Altivia nunca teve um filho de Peter e permanece com o "ex"-namorado (que gosta delas ruivas); que Walter terá invadido o outro lado, mas sem a intenção de salvar o filho; que Olivia terá morto o padrasto (quando ele havia sobrevivido ao disparo); que Charlie namora com a Bug Girl; e que Altivia raptou a sua contraparte para substitui-la e roubar partes da Máquina do Apocalipse – o que, claro, leva ao maior enigma de todos, já que a mesma teria de ser activada por Peter e foi à volta dele que ela foi desenvolvida. Ou então a correcção da linha do tempo permitiu que as circunstâncias que rodeavam o dispositivo fossem alteradas significativamente por que, até ver, sem Peter não há Máquina, sem Máquina não há fusão das realidades, sem fusão não há o universo unificado que acompanhamos agora. E Peter nunca existiu realmente ou morreu aquando a infância?

 

As possibilidades são imensas (note-se que até William Bell pode estar vivo) é com satisfação que a série começa a potenciar o facto de as realidades estarem ligadas. O caso da semana trouxe um serial killer do Lado B que é um professor do Lado A e cabe a este ajudar a Divisão Fringe a capturar o assassino sem que perceba o imbróglio dos dois Lados. O grande trunfo do episódio foi a análise de dois seres essencialmente iguais, mas que as escolhas em momentos-chave levou-os a seguir caminhos diferentes (numa idealização de uma figura feminina que me lembrou o magníficoA Árvore da Vida) o que, de certa forma, reflecte a condição de Olivia e Altivia, obrigadas a deixar as diferenças de lado em prol de um objectivo comum e que, aos poucos, começam a perceber que há muitos pontos em comum entre as duas (e Anna Torv é competente a retratar a frieza e perspicácia da primeira por oposição à descontracção e profissionalismo da segunda). No final, as aparições de Peter a Walter tornam-se mais intensas e frequentes, numa alusão de que não faltará muito para o regresso deste. E como ficará a linha do tempo depois disto?

 

PS: o Lado B tem gasolina a 99 cêntimos?! É já!

 

publicado às 23:39


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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