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Rei na barriga

por Antero, em 31.08.11

(quem acredita que eu comento de má fé tudo o que esteja relacionado com a Selecção Nacional pode ter aqui uma grata surpresa)

 

Ricardo Carvalho abandonou o estágio da Selecção a poucos dias do importante jogo com o Chipre e, consequentemente, renunciou à mesma. Muito se tem comentado sobre as razões que o levaram a – em português correcto – "pôr-se na alheta" e todas elas passam pela sua indignação em constatar que não seria titular nesse jogo. Pode ser só isto como também pode ser o escalar de situações desagradáveis que o próprio tenha vivido ou assistido nos últimos meses e, quanto a isso, só o próprio poderá responder.

 

Acredito que Carvalho se tenha fartado e quanto de nós, em diferentes contextos, já não explodimos e batemos com a porta sem dizer "água vai!". Até ver, nada contra. O problema é que, levando em conta o seu notório e elogiado profissionalismo, a condição de subcapitão e a provável consciência do seu mediatismo e da Selecção como um todo (provável por que eu não penso pela cabeça dos outros), tudo isto mais parece uma birra de adolescente a quem lhe negaram umas sapatilhas de marca. Que Carvalho tome a sua titularidade como dado adquirido e torça o nariz para o contrário, é perfeitamente natural e aconselhado. Que não goste da famosa teimosia de Paulo Bento, isso é lá com ele. Que se tenha saturado do antro de víboras que é a Federação Portuguesa de Futebol, só lhe posso dar os parabéns.

 

Ao menos que esperasse pelo fim do próximo jogo. Ou até pelo final da fase de apuramento daqui a pouco mais de um mês. E depois ia à sua vidinha principesca no Real Madrid. Assim, abre-se uma racha no idílico reinado de Paulo Bento à frente da Selecção e logo num momento importantíssimo. Isso era tão escusado...

 

Enquanto isso, o falido Saragoça espeta mais uns pregos no seu já de si volumoso caixão ao contratar Roberto e Hélder Postiga, duas criaturas que, façam o que fizerem, não há maneira de acertarem entre os postes.


publicado às 23:41

Cowboys & Aliens

por Antero, em 21.08.11

 

Cowboys & Aliens (2011)

Realização: Jon Favreau

Argumento: Damon Lindelof, Alex Kurtzman, Roberto Orci, Mark Fergus, Hawk Ostby

Elenco: Daniel Craig, Harrison Ford, Olivia Wilde, Sam Rockwell, Paul Dano, Clancy Brown, Keith Carradine
 

Qualidade da banha:

 

Cowboys & Aliens é tudo aquilo que o título promete: uma subversão do western típico... com alienígenas! Isto, porém, não o torna mais interessante e se há aspecto que irrita na produção é como a mesma foi capaz de juntar tanta gente talentosa e tornar-se numa obra tão pouco imaginativa. Ora vejamos: Jon Favreau realizou o óptimo Homem de Ferro e é um bom director; Damon Lindelof comandou a maior parte de LOST; Kurtzman e Orci são responsáveis pela fantástica Fringe (embora tenham cometido Transformers); junta-se o James Bond, o Indiana Jones e a Thirteen de House no velho oeste e só poderíamos esperar boa coisa. Bem, nem tanto.

 

Passado em 1873, no Arizona, Cowboys & Aliens começa com Jake Lonergan (Craig) a acordar no meio de nenhures, sem lembranças de seu passado e com uma entranha pulseira agarrada ao seu pulso. Ele acaba por ir parar à desértica e pequena cidade Absolution, onde o medo impera e as pessoas não são acolhedoras. Tudo se complica para quando criaturas vindas do céu passam a atacar a cidade, desafiando tudo o que a população já conheceu. Jake, rejeitado pelos habitantes, é a única esperança de sobrevivência e um grupo é formado para combater a ameaça extraterrestre.

 

Esse grupo, convenhamos, não passa de um bando de clichés ambulantes: há o amnésico que se recorda de tudo aos poucos; o valentão mal-humorado que domina a cidade (Ford); o medricas que parte em busca da esposa e abomina a violência (Rockwell); a mulher misteriosa que nem parece fazer parte daquele contexto (Wilde), o indígena que, empregado do valentão, é ostracizado por este; o médico/pregador que tenta ajudar toda a gente; o xerife bem intencionado; e o miúdo que deve ser protegido das ameaças que enfrentam. Depois há os índios mal encarados e pouco dispostos a colaborar com o "homem branco" e gangues de saqueadores que vêm nos aliens uma nova forma de lucrar. Não que haja algum problema em trabalhar com estereótipos; é preciso que estes sejam bem trabalhados, o que prejudica não só as personagens (cuja profundidade é nula), mas também a própria história que, em pouco tempo, torna-se um exercício de paciência tamanha a sua previsibilidade.

 

No entanto, isto seria até expectável num filme com cowboys... e aliens! O grande trunfo do argumento (baseado numa banda desenhada pouco conhecida) é mesmo a variação sobre o tema "cowboys versus índios" ou "cowboys versus gangues", embora estes apareçam lá para o meio sem nada que os distinga de outras obras do género. O que interessa realmente aqui são os extraterrestres e é neles que o filme aposta todas as fichas – apenas para perder a jogada. Com um design confuso e sem personalidade, os alienígenas decepcionam a nível visual e narrativo, já que nunca chegam a ser aquele perigo todo que as primeiras aparições sugeriam e Cowboys & Aliens funciona melhor antes de os mostrar em todo o seu (pouco) esplendor. Além disso, as suas motivações desapontam por serem mal exploradas, apesar de estarem devidamente enquadradas com a época e o estilo cinematográfico em questão.

 

Por outro lado, é sempre um prazer ver Harrison Ford em cena (ainda que no piloto automático) a brincar com o seu cinismo crónico e constatar a segurança que Daniel Craig imprime a Jake, além de admirar a beleza estonteante de Olivia Wilde, não obstante o anacronismo da sua "donzela". O que já não é nada mau num filme em que a dinâmica daqueles indivíduos é desenvolvida de maneira formulaica e cujas sequências de acção são pura fanfarra visual e auditiva. Tendo em conta os envolvidos, esperava-se mais do que um simples e derivativo passatempo ligeiro.

 

publicado às 23:35

Lanterna Verde

por Antero, em 19.08.11

 

Green Lantern (2011)

Realização: Martin Campbell

Argumento: Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim, Michael Goldenberg

Elenco: Ryan Reynolds, Blake Lively, Peter Sarsgaard, Mark Strong, Angela Bassett, Tim Robbins
 

Qualidade da banha:

 

Hal Jordan (Reynolds) é um piloto de testes da aviação militar norte-americana e, como sempre em Hollywood, é o melhor naquilo que faz. Ele é arrogante, imaturo e imprudente, mas isso até eu, pois se me pusessem a conduzir veículos com um chroma-key tão foleiro ao fundo também arriscaria manobras perigosas. Contudo, o rapaz até tem bom coração e bons motivos para a sua irresponsabilidade – motivos esses que surgem sob a forma de súbitos ataques de memória em situações extremas, como, por exemplo, quando Hal deve ejectar o seu assento antes que o seu jacto se despenhe, embora isso não tenha acontecido minutos antes quando ele decidiu pilotar até à estratosfera. Selectivos e momentâneos que são, estes ataques poderiam levar à descoberta de uma nova patologia, mas creio que esta foi a melhor maneira que os quatro argumentistas arranjaram para mostrar os conflitos internos do protagonista.

 

Adiante. Uma nave alienígena cai na Terra e o seu ocupante moribundo ordena que o seu anel procure um sucessor. Hal é o escolhido e torna-se no Lanterna Verde, integrante do Corpo dos Lanternas Verdes, protectores e vigilantes de todo o universo que, para evitar burocracias, está dividido em 3600 sectores (o nosso é o 2814). Cada um deles tem um anel que é carregado por uma lanterna que, por sua vez, é alimentada pela Bateria Central do planeta Oa com a energia verde, o poder da vontade (se a EDP descobre isto, é um ver se te avias). O nosso herói parte para Oa onde será submetido ao típico treino hollywoodiano, no qual duas ou três lições chegam para a duração do filme, já que o herói não deverá usar as restantes técnicas que, deduzo eu, compõem o treino dos Lanternas. Obviamente que Jordan é mal visto pelos colegas e terá de provar o seu valor - e quando digo o seu valor, o sentido é literal, visto que após pedir auxílio na protecção da Terra aos Guardiões que gerem o Corpo, estes viram-lhe as costas e logo num problema que eles indirectamente causaram. Com tantos sectores para administrar, é o cada um por si e fé no anel!

 

Depois temos a bela Carol Ferris (Lively), uma daquelas criações cinematográficas que fazem de mulheres estonteantes não só uma pilota de testes, mas também uma competente executiva. Apesar de repudiar os modos de Hal, ela derrete-se toda com a sua vivacidade, o seu sorriso e o seu corpaço (das poucas coisas no filme que não devem ter sido geradas por CGI e, mesmo assim, tenho dúvidas), embora isto não seja devidamente aproveitado pelo ranhoso efeito 3D. Carol só existe para ser salva pelo herói e para lhe dar discursos motivacionais e, neste aspecto, ela cumpre a sua função como quase toda a gente que aparece no filme, uma vez que Hal torna-se num autêntico poço de depressões sempre pronto a ouvir uma palavra amiga e uma lição de vida. E não podemos esquecer o compincha engraçadinho do nosso herói que manda umas piadas e nunca mais é visto, até por que o duração é curta e entre Hal e a sua missão, mais o interesse amoroso, o Corpo que desconfia dele, o treino e ameaça de dois vilões, não dá para enfiar tudo no tempo regulamentar.

 

E por falar nos vilões, um deles, Parallax, é uma nuvem destruidora de mundos amarela (a cor do medo) que me fez lembrar o Galactus de Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado; e se eu já pensava que Lanterna Verde não tinha por onde piorar, perceber que este filme estaria ao nível daquela "maravilha" do grupo de heróis da Marvel foi o fim da picada (e, vamos lá ser sérios, poucas coisas são tão tensas como ver uma nuvem amarela a perseguir um homem de fato verde pelo espaço fora, né?). O ridículo é que o filme tinha um vilão bem melhor que o Parallax para ser usado: Hector Hammond. Ok, a sua apresentação não é famosa: o pai sempre lhe facilitou a vida, ele é um geek por excelência e basta vermos que ele guarda uma foto de Carol para sabermos que ele será um rival de Jordan pelo coração da moça. Porém, a prestação intensa de Peter Sarsgaard salva-o do desastre e é uma pena que mais tempo não lhe seja dedicado. O mesmo vale para Sinestro (Strong), um Lanterna Verde capaz, nobre e poderoso que tem ressalvas para com Jordan, mas não deixa que isso lhe tolde a razão.

 

Há muito a aprender com Lanterna Verde e uma das lições é como não usar efeitos especiais. Eles praticamente são uma personagem dentro da história tal é a atenção que reclamam para si - no mau sentido – e, de tão pouco especiais, ainda se dão ao luxo de contrariarem a própria definição. Outra lição é a de que o que funciona nos comics não tem necessariamente de funcionar no ecrã e eu, fã de comics e consciente que estes são absurdos por natureza, vi-me incomodado como conceitos como "o anel responde à vontade do dono" eram atirados para o espectador sem o mínimo de esforço. Quando Hal cria uma metralhadora, eu só pensava como ele saberia todos os pormenores da arma para ela funcionar correctamente. E como o Corpo pode deixar que Hal abandone o treino a meio e deixam-no ir com uma arma poderosa e sem experiência alguma? Até o próprio compositor James Newton Howard parece confuso com a incoerência do filme e mistura partituras leves em momentos dramáticos e outras mais pesadas em situações cómicas.

 

O certo é que a Warner e a DC tentam repetir aqui o sucesso de Homem de Ferro da concorrente Marvel, só que Ryan Reynolds, que tem carisma para dar e vender, não é nenhum Robert Downey Jr. e o ritmo do filme não ajuda: as piadas não funcionam, as personagens passam em branco e Lanterna Verde não tem peso dramático algum – isto é, tirando os faustosos efeitos especiais. O beijo da morte chega na cena que passa durante os créditos finais com a sugestão de uma sequela metida a martelo, quando nada do que aconteceu antes valide o que ali é mostrado. Tivesse eu um anel daqueles e a minha vontade era sair da sala de cinema.

 

publicado às 16:49

Planeta dos Macacos: A Origem

por Antero, em 17.08.11

 

Rise of the Planet of the Apes (2011)

Realização: Rupert Wyatt

Argumento: Rick Jaffa, Amanda Silver

Elenco: Andy Serkis, James Franco, Freida Pinto, John Lithgow, Brian Cox, Tom Felton
 

Qualidade da banha:

 

De todos os Planetas dos Macacos só vi o original (hediodamente traduzido em Portugal como O Homem que Veio do Futuro) e a espectacular e mal-amada versão de Tim Burton. No entanto, considero a saga como um produto instigante que, para lá do aparato técnico, providencia saudáveis discussões sobre questões sociais como racismo, preconceito, integração, hierarquia, aceitação e liderança – e, como nunca é demais repetir, a aplicabilidade destas discussões no nosso quotidiano a partir de conceitos absurdos é algo que só está ao alcance dos melhores exemplos da ficção científica. Deste modo, é reconfortante perceber como um "recomeço" claramente desenvolvido com intenções comerciais como é este Planeta dos Macacos: A Origem aborda todos os tópicos acima referidos e preocupa-se mais em abordar a moralidade das suas personagens do que em pavonear os seus efeitos especiais que, impressionantes, pertencem à categoria de "cair o queixo".

 

Situado nos dias actuais, o argumento traz Will Rodman (Franco), um promissor e talentoso cientista que procura uma cura para a doença de Alzheimer fazendo experiências genéticas com um vírus em macacos. Este provoca uma mutação nos primatas, aumentando-lhes a inteligência, e, após um acidente com uma das cobais durante a apresentação da cura para um comité de investidores, Will decide adoptar uma das crias que, com o passar do tempo, desenvolve uma inteligência e personalidade únicas. Isto desencadeará uma série de trágicos eventos que levarão a que César (a tal cria) se rebele contra a raça humana.

 

É impossível falar de Planeta dos Macacos: A Origem sem começar por César que é, sem dúvida, o protagonista da história: criado pelos técnicos da Weta Digital com o auxílio de Andy Serkis, o primata é um assombroso progresso na técnica do motion capture (aquela em que os movimentos dos actores são capturados e depois trabalhados) e que já nos havia dado figura marcantes como Gollum, King Kong,  Davy Jones e fartamente usada emAvatar. O esmero na criação de César não passa só pela fluidez dos seus movimentos animalescos ou pela textura do seu corpo peludo que reage com naturalidade às mudanças de luz e ao contacto com superfícies. O que realmente o difere de outras criaturas é o seu olhar e como ele serve de janela para uma infinidade de sentimentos: da pureza mais infantil ao receio do perigo, passando pelo rancor e acabando no amor que sente por Will e o pai deste (que o acolheram e criaram como se fosse da família), César é mais do que um ser bem realizado por CGI – ele é aquilo que muitos actores de carne e osso não conseguem: uma personagem tridimensional.

 

A manifestação destas dualidades é mais do que adequada à proposta do filme que, acima de tudo, funciona como uma parábola sobre a paternidade (Will torna-se indirectamente pai de César para ajudar o seu progenitor), o papel da família e a velha questão do que é ser humano. César torna-se mais inteligente, mas não é nenhuma máquina: tem instintos protectores em relação aos seus, revela certa desconfiança/ciúmes para com novos integrantes no seu círculo e revolta-se contra as restrições que a sociedade lhe impõe, numa trajectória que encontra reflexo na de um adolescente comum que questiona a autoridade paternal e molda o seu carácter através do conflito. O problema (para nós) é que ele é um chimpanzé e, ao ver-se no meio dos seus semelhantes, encontra a força que nunca teria sozinho para ultrapassar as adversidades, numa típica reacção de uma minoria que tenta lutar pela igualdade e aceitação na sociedade.

 

O resto do elenco faz o que lhe é pedido: James Franco é competente no dilema moral de um Will dividido entre a conduta profissional e o dever de pai, John Lithgow é sensível como um pai enfermo, Freida Pinto é bonita que chegue para esquecermos que o seu papel não é mais do que um simples interesse amoroso (embora seja a única a confrontar Will) e Tom Felton (o Draco Malfoy de Harry Potter) encarna o tratador de animais que despreza o que faz como um vilão meramente uniforme. No entanto, o filme é mesmo de Andy Serkis e o seu César: é comovente ver a sua entrega ao choro após uma acção particularmente dolorosa para com Will ou assistir ao seu olhar orgulhoso e confiante após ser aceite pelos seus pares.

 

Oriundo do Reino Unido, o realizador Rupert Wyatt mostra-se perfeitamente à vontade a lidar com milhentos efeitos especiais e a conduzir a narrativa num crescendo de tensão que culmina na espectacular sequência da ponte Golden Gate, na qual as cenas de acção são orquestradas com elegância e impacto. O trabalho de Wyatt (aliado ao roteiro) é tão eficiente que não permite que a previsibilidade da história (ainda mais para quem conhece a série) comprometa a experiência do espectador e merece aplausos pela subtil ironia dramática que atravessa todo o filme: a de que a ruína da Humanidade virá através dos seus próprios actos e não como consequência da revolta dos macacos. Desta forma, Planeta dos Macacos: A Origem revela uma faceta ambiciosa, inteligente e intrigante debaixo da sua capa de blockbuster de Verão.

 

Que mais se pode pedir a uma boa ficção científica?

 

publicado às 01:54

Quem matou Rosie Larsen?

por Antero, em 15.08.11

 

Sem spoilers, minha gente!

 

The Killing - temporada 1

A melhor estreia da fornada 2010/2011 não é um épico comoGame of Thrones, mas sim algo minimalista como The Killing. Adaptada de um original dinamarquês, a série acompanha as repercussões do cruel assassinato da jovem Rosie Larsen, uma rapariga bonita, de boas famílias e com um futuro promissor pela frente, mas, claro, com certos esqueletos no armário que acabaram por ser a sua ruína.

 

Twin Peaks? Bem... mais ou menos. Enquanto a série de David Lynch e Mark Frost preocupava-se mais com a pequena comunidade habitada por indivíduos peculiares (para dizer o mínimo) e relegava o mistério para segundo plano, The Killing adopta outra abordagem e cada episódio restringe-se a cada dia da intensiva e desgastante investigação do homicídio. Suspeitos são acusados e descartados para, mais tarde, voltarem aos holofotes da dupla formada por Sarah Linden (brilhante Mireille Enos), uma detective traumatizada com um caso anterior mal resolvido e uma vida pessoal prestes a implodir, e Stephen Holder, um policial mal-amado por acções passadas e que pode ter obscuras intenções na investigação. Ao mesmo tempo, acompanhamos o choque e o consequente colapso do núcleo familiar de Rosie e seguimos a campanha de um promissor político que, indirectamente, vê-se envolvido no caso e com as eleições à porta.

 

Atmosférico e repleto de interpretações viscerais, The Killing é o anti-CSI: os detectives deparam-se com obstáculos de todos os quadrantes, há avanços e recuos no processo, erros são cometidos e tudo acontece com relativa lentidão – e quando a série vira o seu foco para os dramas pessoais, fá-lo de maneira subtil e eficaz e assim entendemos facilmente a dedicação profissional quase obsessiva de Linden, o facto de Holder ter de provar a sua competência para aqueles que o rodeiam (ainda que por portas travessas) ou o receio dos Larsens de que a morte da filha desperte algo mais que já estaria enterrado no passado. Além disso, a narrativa é mergulhada na pouco solarenga e chuvosa Seattle, num clima sombrio e depressiva que rima com o luto da morte de um familiar e com o carácter ambíguo de todas as personagens. Compreendo a desilusão de muita gente com o desfecho da temporada, mas como eu já sabia o que não iria acontecer, pude relaxar e embrenhar-me na morte da doce e enigmática Rosie Larsen e sentir os efeitos naqueles que a rodeavam.

 

publicado às 23:34

Capitão América: O Primeiro Vingador

por Antero, em 04.08.11

 

Captain America: The First Avenger (2011)

Realização: Joe Johnston

Argumento: Christopher Markus, Stephen McFeely

Elenco: Chris Evans, Tommy Lee Jones, Hayley Atwell, Hugo Weaving, Toby Jones, Dominic Cooper, Stanley Tucci
 

Qualidade da banha:

 

Com o sentimento actual anti-EUA, não admira que a Marvel Studios tenha acrescentado o subtítulo de O Primeiro Vingador, como se descaradamente quisesse dizer que o filme dedicado ao Capitão América prepara o terreno para o mega-evento do próximo ano, Os Vingadores (embora, a rigor, o primeiro deles seja Tony Stark, o Homem de Ferro). Esta constatação ganha mais força lá para o final da projecção, uma vez que, no restante do tempo, o filme dedica-se a uma convencional história de origem sobre o super-herói – e se isto é algo positivo a apontar, também não deixa de ser verdade que Capitão América não se beneficia muito como narrativa "isolada" e empalidece em relação aos filmes dos seus colegas (Homem de Ferro,O Incrível Hulk,Thor).

 

Iniciando-se na actualidade com a descoberta do corpo congelado do Capitão América, o argumento logo salta para a década de 40 e para uns Estados Unidos mergulhados na Segunda Guerra Mundial. Steve Rogers (Evans) é um indivíduo franzino e cheio de problemas de saúde que deseja alistar-se para combater, sendo rejeitado a cada recrutamento. É então que o cientista Abraham Erskine (Tucci) decide dar-lhe uma oportunidade numa experiência que o transformará num “supersoldado” através de um soro que, no passado, gerou o Caveira Vermelha (Weaving). A partir daí, Rogers, já como Capitão América, torna-se um símbolo nacional e passa a ser o principal obstáculo do Caveira e os seus planos devastadores para a humanidade.

 

Um dos problemas de Capitão América reside naquilo que deveria ser um dos destaques: as sequências de acção. Curtas e sem o mínimo de tensão, elas são encenadas por Joe Johnston com uma apatia tremenda, sendo ainda prejudicadas por efeitos especiais irregulares e que abusam do chroma key (em contrapartida, aqueles usados para "emagrecer" Evans são irrepreensíveis). Para piorar, o Caveira Vermelha surge como um vilão lastimável, pesem os esforços de Hugo Weaving em dar-lhe algum carisma – e os seus planos, que incluem a destruição de várias metrópoles, soam ridículos por serem executados durante uma guerra mundial, quando seria mais acertado esperar que os Aliados e os Nazis combatessem entre si até ao limite e só depois atacar em força. No entanto, o que lhe falta em astúcia sobra-lhe em discursos de treta sobre "criar um mundo sem bandeiras" e a sua demarcação com os métodos de Hitler (apesar da ideologia ser praticamente a mesma).

 

Com uma banda sonora irritante e espalhafatosa do antes confiável Alan Silvestri, Capitão América tem uma estrutura previsível à superfície, mas isso não impede que o filme guarde algumas surpresas: quando Rogers transforma-se no "supersoldado", ele não ganha confiança na hora e nem os seus superiores passam a vê-lo como uma mais-valia nos seus objectivos. Em vez disso, o Governo usa-o como propaganda de alistamento, o que dá a justificação perfeita para o uniforme patriótico que a personagem enverga. Idealista e humilde ao extremo, Rogers não sofre uma mudança abrupta com o soro e tem sempre noção de que tem de provar o seu valor – e Chris Evans, tão contestado aquando a sua escolha como protagonista, retrata todas estas facetas de maneira competente e digna.

 

Enquanto isso, a lindíssima Hayley Atwell faz um pequeno milagre com a oficial Peggy Carter, surgindo forte e decidida à sua maneira numa personagem criada apenas para ser o interesse romântico do herói e claramente fora daquele contexto, ao passo que Tommy Lee Jones e Stanley Tucci destacam-se mesmo com pouco tempo de ecrã ao incutir autenticidade aos seus papéis – e é uma pena que o filme não se dedique mais a estas personagens (e ao companheiro do Capitão, Bucky) que certamente teriam mais a acrescentar à trajectória de Rogers do que Howard Stark, que apenas está lá para fazer a ponte entre este filme e Os Vingadores (apesar de, claro, servir como curiosidade para inserir o Capitão naquele universo). E por falar nos Vingadores, usar o Hipercubo (ou Cubo Cósmico) visto em Thor como artefacto místico a recuperar por ambas as facções revela-se como um enorme logro, uma vez que o objecto tem tanto poder que nem sabemos o que ele faz ao certo ou o que acontece no final do filme ao Caveira Vermelha. Até as circunstâncias da hibernação do Capitão são deixadas ao acaso, o que é um erro grave pois foi assim que a narrativa se iniciou.

 

(adenda: eu sei as respostas para estas questões por que sou ávido leitor de comics, mas o filme, como obra autónoma e direccionada para as massas, deveria sustentar-se sozinho.)

 

Mesmo com estes percalços todos, Capitão América revela-se um entretenimento razoável graças ao seu protagonista e à ambientação retro que percorre toda a película. Joe Johnston pode ter realizado algumas porcarias ao longo da sua carreira, mas não esqueçamos que foi o responsável pelo óptimo As Aventuras de Rocketeer, com o qual Capitão América divide algumas semelhanças – e mesmo com o desfecho podre e insípido, resta-nos esperar por Os Vingadores e que este faça jus a toda esta ansiedade construída por cinco longas-metragens.

 

PS: passa o teaser trailer de Os Vingadores no final dos créditos.

 

publicado às 20:02

Super 8

por Antero, em 01.08.11

 

Super 8 (2011)

Realização: J. J. Abrams

Argumento: J. J. Abrams

Elenco: Joel Courtney, Elle Fanning, Kyle Chandler, Ron Eldard, Riley Griffiths, Zach Mills, Gabriel Basso, Ryan Lee
 

Qualidade da banha:

 

De vez em quando, dá-me para jogar velhos jogos de vídeo da Mega Drive através de um emulador instalado no computador. Há qualquer coisa de nostálgica e inocente naqueles gráficos ultrapassados, naquela jogabilidade mais simples, no limitado número de recursos e opções ao nosso dispor. O problema é que nada substitui a experiência de jogar com uma consola, em televisores cuja última inovação era o Stereo Nicam, a sensação de arrebentar os dedos naqueles "ergonómicos" comandos e rezar para que o cartucho não falhe e o jogo não encrave. De certa forma, é isto que J. J. Abrams tenta fazer em Super 8: emular o cinema de Hollywood dos anos 80 (principalmente de Steven Spielberg, um dos produtores) e levar-nos num exercício de nostalgia cinematográfica na qual histórias fantasiosas misturavam-se com as descobertas e agruras da (pré-)adolescência – e a empreitada é relativamente bem sucedida. Isto é, até o próprio filme admitir que os tempos são outros e que a sofisticação deve imperar sobre a "inocência" e Super 8 descamba ladeira abaixo.

 

Escrito e realizado por Abrams com claras influências da filmografia em questão, Super 8 situa-se num cidadezinha no interior dos Estados Unidos da América, na efervescência do final da década de 70, onde um grupo de adolescentes fascinado por cinema resolve ir filmar para perto de uma linha de comboios usando uma câmara Super 8. Enquanto filmam, testemunham o terrível descarrilamento e consequente explosão de um comboio. Mas, quando revêem o acontecimento em filme, o que de início parecia um mero acidente afinal é algo mais sinistro do que eles poderiam supor. E, quando vários desaparecimentos começam a suceder-se na cidade, eles compreendem que algo os associa ao acontecimento daquela noite. Decididos a desvendar o mistério, os adolescentes juntam-se e, em segredo, começam a investigar por conta própria.

 

Para perceberem como Super 8 vai beber a temas tão caros a Spielberg, resta dizer que o protagonista, o jovem Joe Lamb (Courtney), perdeu a mãe num trágico acidente de trabalho e o pai, o policial Jack Lamb (Chandler), mantém com ele uma relação distante e fria. Ao mesmo tempo, Joe é apaixonado por Alice (Fanning), cujo pai foi indirectamente responsável pela mãe de Joe e que também mantém um relacionamento pouco amistoso com a filha. A relação pais-filhos, sempre tão presente na maioria dos filmes do realizador de ET - O Extraterrestre, é aqui mais uma vez usada para aprofundar as personagens e, mais do que traçar-lhes o perfil psicológico, serve também para conduzir as suas acções. Assim, é natural que Jack se sinta desconfortável com o papel que foi obrigado a abraçar após a morte da esposa e Joe se ressinta da ausência de uma figura superior que o guie (função reservada à falecida mãe), enquanto Alice surja mais revoltada e activa que os restantes companheiros devido à presença de um pai rígido e alcoólico.

 

Cheio de referências à época em questão e com um agradável clima de aventuras juvenis, Super 8 falha naquele que deveria ser o grande atractivo do terceiro acto: a criatura que assola a região e que faz com que as forças governamentais invadam a região. Enquanto a maior parte do filme evoca primorosamente os filmes nos quais se inspira (Os Goonies, Encontros Imediatos de Terceiro Grau, Gremlins,...), quando o monstro dá as caras e conhecemos a sua origem, não há como evitar a desilusão tal é a forma tão precária como tudo é apresentado. Para dar um exemplo, Joe e os amigos ficam a saber do passado da criatura através de um velho filme e de uma gravação – e não deixa de ser ridículo que ambos sejam passados com a mesma sincronia, como se os rapazes soubessem o momento ideal para carregar no botão play. A própria estrutura narrativa, aliás, é afectada com isto: quando alguém é informado sobre o "toque" do monstro, este dado chega cedo demais e mata qualquer tentativa de suspense criada posteriormente.

 

Além disso, Super 8 deixa algumas perguntas em aberto e se posso ser acusado de racionalizar demasiado uma obra que pede desconto da nossa parte por causa da sua aura de "inocência", lamento discordar, mas J. J. Abrams não devia ter plantado e investido em questões para deixá-las ao acaso. Afinal, para que serviram os desaparecimentos dos habitantes da cidade? Como o Professor Woodward consegue sobreviver ao embate e à explosão do seu veículo? E como este conseguiu preservar tantos registos sobre a criatura ao longo dos anos sem que o Governo lhe pusesse a vista em cima (até por que foi a sua conduta problemática que o levou ao despedimento)? Em vez de limar as arestas da narrativa, Abrams rendeu-se a um festim de efeitos especiais que não distinguem o seu filme de tantas outras obras do género.

 

Em contrapartida, é impossível não elogiar o olhar de Abrams para os detalhes, como a projecção de uma cena importante numa t-shirt ou o momento simbólico e poético quando um determinado colar é levitado, e a exemplar direcção de actores em ocasiões mais emocionais (o elenco é perfeito), em que o minimalismo das acções contrasta com as emoções que as personagens estão a sentir. Pena é que todo este trabalho vá desaguar num final desinteressante e que não faz justiça a tudo o que assistíramos anteriormente – um fraco desfecho como tantos outros que caracterizam a carreira de Spielberg.

 

Se calhar, a homenagem era mais extrema do que eu estaria à espera.

 

publicado às 20:06


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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