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  • tratarem-me por "puto": sei que é moda, mas acho deselegante. Se for mais novo que eu, então é um sacrilégio!
  • pessoas que não se sabem comportar no cinema: no último Harry Potter foi um fartote. Pontapés nas cadeiras, comentários sobre o filme em alto e bom som, telefonemas atendidos a meio do filme, enfim...
  • criticarem-me pela maneira como caminho: eu não pouso totalmente os calcanhares no chão, o que faz com que ande aos "saltinhos". É uma coisa muito subtil e muitos só se apercebem passado algum tempo, o que gera logo comentários e sugestões sobre "como andar". Para futura referência: eu caminho assim vai para 26 anos e acham mesmo que é agora que me vou "tratar"?!
  • spam na minha conta de email: só em procedimentos para alargar o pénis já lhes perdi a conta.
  • a ventania de Espinho: sério! Nos últimos dias, tem sido impossível! Não há dia de praia que resista a tamanho vendaval.
  • derrotas do Benfica: uma noite (mal) dormida e passa, mas o rescaldo do jogo não é para corações fracos.
  • smartphones: touchscreen num ecrã tão pequeno é algo que faz perder as estribeiras (escrever uma SMS é um martírio). Porém, é só até ter um.
  • malta que não quer escrever bem: uma coisa é não saber, outra é não querer. Cabe na cabeça de alguém escrever com 'k', 'x', diminutivos, acentuação inexistente ou, pior ainda, maiúsculas e minúsculas sem qualquer critério?! Se nas SMS's ainda dou de barato dada a limitação de caracteres, por essa Internet fora acho simplesmente deplorável como as pessoas escrevem tão porcamente. Erros com formas verbais são o pão nosso de cada dia.
  • pessoal que não comenta no blog e depois escreve-me no Facebook ou no Twitter. Só por isso, este texto foi sem ligação nas redes sociais.

publicado às 20:15

A Melhor Despedida de Solteira

por Antero, em 21.07.11

 

Bridesmaids (2011)

Realização: Paul Feig

Argumento: Annie Mumolo, Kristen Wiig

Elenco: Kristen Wiig, Maya Rudolph, Rose Byrne, Wendi McLendon-Covey, Ellie Kemper, Melissa McCarthy, Chris O'Dowd, Jon Hamm
 

Qualidade da banha:

 

Quem depositava as suas esperanças emA Ressaca - Parte IIpara ser a comédia deste Verão, infelizmente apostou no cavalo errado. Depois de realizar, escrever e produzir uma série de comédias que deram novo alento ao género bromance, Judd Apatow patrocina uma variação do tema, agora com um enfoque feminino, mas sempre com o mesmo clima de camaradagem, humor de casa de banho, situações constrangedoras e diálogos afiados. Tudo o que funciona em comédias como Knocked Up - Um Azar do Caraças e Virgem aos 40 Anos, obras que muitos apelidam de machistas por relegarem as personagens femininas a meros enfeites castradores da rotina masculina, funciona perfeitamente em A Melhor Despedida de Solteira, um filme com os ditos cujos no sítio e uma sensibilidade enorme. Filme de gaja ou não, o certo é que diverte e muito.

 

Annie (Wiig) é uma trintona com vários problemas: a sua pastelaria faliu devido à recessão, a vida amorosa está em frangalhos e ela partilha a casa com dois peculiares irmãos britânicos. O seu escape é a melhor amiga, Lilian (Rudolph), que anuncia que irá casar com um rico banqueiro e deseja que Annie seja a sua dama de honor. Falida e angustiada, Annie tem de organizar os preparativos para um típico casamento norte-americano (leia-se cinematográfico: cheio de pompa e circunstância) e encontra na rica e sofisticada Helen (Byrne), esposa do patrão do noivo, uma possível ameaça não só para a sua missão, mas também para a sua longa amizade com Lilian.

 

Pela sinopse, qualquer um poderia pensar que estamos na presença de um "A Ressacapara elas" e até o infeliz título em Português engana nesse sentido – e o nome original, damas de honor em Inglês, acerta por desviar as atenções para o núcleo de mulheres que acompanhamos ao longo da película, que além das três principais, inclui ainda Becca (Kemper), uma recém-casada ingénua em relação à vida a dois; Rita (McLendon-Covey), uma cínica dona de casa farta da rotina do lar e dos três filhos ("a minha casa está cheia de sémen!", reclama ela a certo ponto); e a destravada Megan (McCarthy) que, à primeira vista, serve como contraparte feminina do Alan de Zach Galifianakis, mas cuja confiança e ímpeto sexual levam-na a criar uma identidade própria que recusa comparações. Além disso, o filme é eficaz ao estabelecer uma relação duradoura entre Annie e Lilian que soa genuína e plena de cumplicidade – e bastava o argumento falhar neste ponto para arruinar tudo, já que dificilmente aceitaríamos o envolvimento de Annie em tamanhas confusões e mal-entendidos bem como o seu temor com a intromissão de Helen entre as duas amigas.

 

Escrito por Annie Mumolo com a colaboração de Wiig, A Melhor Despedida de Solteira também ganha pontos por inverter as nossas expectativas em relação à história: quando o grupo se junta para celebrar a despedida em Las Vegas, seria de esperar que elas se envolvessem em situações embaraçosas nessa localidade tão fértil para obras deste tipo – e não demora muito para elas serem recambiadas para casa por razões que não pretendo desvendar. Ao mesmo tempo, Mumolo e Wiig sabem as regras do jogo e percebem que uma comédia destas funciona melhor se os problemas forem aumentando de dimensões gradualmente, começando com pequenos incidentes (um discurso que parece não ter fim), passando por um violento jogo de ténis, uma inacreditável e indigesta prova de vestidos, e culminando numa grandiosa cerimónia com imensos presentes. Isto, claro, faz com que a narrativa esteja sempre em crescendo e cada uma das situações seja ainda mais hilariante e espectacularmente vergonhosa que a anterior.

 

Com um elenco composto por vários integrantes do Saturday Night Live, o casting também acerta no alvo ao dar a oportunidade a actores reconhecidos como Rose Byrne e Jon Hamm de brincar com as imagens normalmente associadas a eles: se Byrne abandona a figura inocente e manipulável da série Damages por uma sujeita desprezível que chega a dar pena, Hamm praticamente ofusca quem o acompanha em cena com o seu egocêntrico e patético Ted, longe do melancólico e recatado Don Draper de Mad Men. No entanto, quem ilumina o filme é Kristen Wiig: bonita sem ser estonteante (o que lhe dá um charme natural), Wiig faz de Annie uma heroína relutante, quase sem forças para lutar contra as adversidades, e que contém uma doce vulnerabilidade de quem carrega o Mundo às costas, algo com que facilmente nos identificamos. Além disso, o seu interesse romântico, personalizado pelo adorável Chris O'Dowd, é construído com sensibilidade e ternura e os diálogos entre os dois resultam não só por ressaltarem a química entre eles, mas também por servirem como janela para os desgostos da insegura protagonista.

 

Ainda assim, no meio dos abundantes risos, é possível encontrar um coração em A Melhor Despedida de Solteira, uma vez que o filme não tem medo de discutir nas entrelinhas tópicos como a solidão da mulher moderna, o fracasso profissional, a mudança de hábitos que um casamento acarreta, a constante busca por um parceiro ideal (mesmo que momentaneamente) e a força dos laços de amizade. São pequenos detalhes nas interacções entre aquelas mulheres que fazem deste filme mais do que um entretenimento passável – e mesmo que todos os problemas de Annie não estejam resolvidos no final da projecção, foi um prazer segui-la na sua demanda em, pela primeira vez em muito tempo, tentar fazer algo acertado.

 

publicado às 21:25

 

Harry Potter and the Deathly Hallows Part 2 (2011)

Realização: David Yates

Argumento: Steve Kloves

Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Ralph Fiennes, Alan Rickman, Matthew Lewis, Evanna Lynch, Tom Felton, Michael Gambon, Helena Bonham Carter
 

Qualidade da banha:

 

Há exactos dez anos, era eu um jovem de 16 anos quando fui ao cinema ver Harry Potter e a Pedra Filosofal plenamente consciente do crescente fenómeno mundial que rodeava os livros (na época, eu já devia ter lido os três primeiros volumes) e se preparava para saltar para o grande ecrã – e estaríamos todos longe de imaginar que a saga manteria a sua coerência interna e externa por ao longo de uma década e oito filmes, nos quais acompanhamos o crescimento físico e artístico do seu jovem elenco. O facto é que Harry Potter entrou na História do Cinema graças ao mastodôntico esforço criativo de uma produção esmerada que encantou gerações em todo o Mundo e é com enorme ansiedade e um certo saudosismo que estreia o último tomo, Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2, uma satisfatória e emocionante conclusão da saga que nos apresentou ao Mundo da Magia de Hogwarts.

 

Começando a partir do instante em que aParte 1se encerrou, esta Parte 2 traz Voldemort mais poderoso do que nunca agora na posse da Varinha de Sabugueiro, um dos talismãs da morte que fornece poder único a quem o possui. Na busca pelo horcruxes que poderão enfraquecer o vilão, o trio formado por Harry (Radcliffe), Ron (Grint) e Hermione (Watson) é levado até Hogwarts que agora tem como director o sombrio Snape (Rickman) e está cercado de dementors. É na escola de magia que se formará uma última réstia de esperança na revolta contra Lorde Voldemort e os seus aliados, num combate intenso e violento que será o culminar da guerra entre o Bem e o Mal.

 

Sem perder tempo com explicações, o guionista Steve Kloves (argumentista de todos os filmes excepto A Ordem da Fénix) mantém a história sempre em alta rotação, onde cada informação desempenha um papel fundamental – e se é verdade que isto torna a narrativa um pouco mecanizada, o certo é que há muito que a saga fala para os fãs e não para o espectador ocasional e ainda menos para as crianças: se antes tínhamos divertidas e inconsequentes partidas de Quidditch para dar mais emoção a tudo, agora temos sangrentos confrontos naquele que é o mais violento capítulo da série. Desta forma, referências ao Mapa do Salteador, à Sala das Necessidades ou ao Pensatório já se tornaram comuns àqueles afectos à saga, bem como as mortes e o sofrimento infligidos às personagens, uma vez que a narrativa soube ganhar maturidade e crescer com os seus leitores/espectadores.

 

Pela quarta vez atrás das câmaras, David Yates encerra o ciclo iniciado no quinto filme (não por acaso logo aquele que iniciou os preparativos para o épico desfecho) e, mais uma vez, volta a empregar o clima sombrio e tenso dos anteriores e onde qualquer traço da doce inocência de outrora é simplesmente inexistente: Hogwarts funciona agora como uma fortaleza sob ataque contínuo e não deixa de ser triste e arrepiante vermos a destruição de locais marcantes como o campo de Quidditch, a cantina ou as imponentes torres e escadarias numa lembrança de que estamos próximos do fim. Além disso, Yates (e Kloves) inteligentemente contornam alguns dos obstáculos da escrita de J. K. Rowling, nomeadamente as sequências da acção que no livro soam anti-climáticas e aqui praticamente não deixam o público respirar. Por outro lado, as mortes vistas não causam grande impacto devido à frieza e distanciamento com que são filmadas, o que não deixa de ser uma pena já que este também é um dos males da escritora britânica e o realizador tinha uma oportunidade única para remediar este erro.

 

Triste e emocionante, esta Parte 2 mergulha os seus heróis num ambiente de guerra com consequências sérias para cada um deles e o filme parece parar por momentos para que as personagens vejam e analisem o caos e a dor que os rodeia, numa bem-vinda carga dramática que atinge o auge quando Harry acede às memórias de determinado indivíduo: a cena serve para desmistificar essa personagem, bem como acrescentar mais ambiguidade ao mesmo, conseguindo ainda tornar o falecido Dumbledore ainda mais fascinante, apesar de falho. Além disso, o elenco mostra-se sempre seguro de si, principalmente os trio de protagonistas, mas a surpresa vem mesmo com um renovado e corajoso Neville Longbottom, nada a fazer lembrar o inseguro e trapalhão adolescente de antes e, claro, Alan Rickman, cuja maleficência e sensibilidade numa sequência fulcral comprovam como o casting inicial da série foi certeiro numa saga que se dá ao luxo de meter gente como Emma Thompson, Maggie Smith, Gary Oldman e tantos outros monstros sagrados em papéis minúsculos.

 

No entanto, o desfecho também peca em não explorar apropriadamente algumas das ideias que já vinham do livro – e não estou a falar da rábula da varinha que encerra o duelo final da maneira mais brochante possível (que até ficou interessante no grande ecrã), mas sim uma "ressuscitação" metida a martelo ou o facto demasiado conveniente de Harry vislumbrar o horcruxes restantes sempre que destrói um deles. Isto, porém, são pecados menores numa obra que faz justiça aos seus antecessores e finaliza toda uma jornada de dez anos de uma forma emotiva, espectacular, madura, arrebatadora e – a avaliar pelo epílogo – nostálgica.

 

Parabéns, miúdo. Vais deixar saudades.

 

------

 

E agora, como bónus, as minhas rápidas impressões sobre todos os filmes da saga:

 

Harry Potter e a Pedra Filosofal

Harry Potter and the Philosopher's Stone (2001)

A fidelidade ao livro é, simultaneamente, o ponto forte e fraco do filme. Apresenta eficazmente os alicerces do maravilhoso universo saída da mente de J. K. Rowling, ao mesmo tempo que consegue evocar um sentimento de fascínio e doçura digno dos melhores filmes da Disney.

Qualidade da banha:

 

Harry Potter e a Câmara dos Segredos

Harry Potter and the Chamber of Secrets (2002)

O livro é mais fraco que o primeiro e o filme ressente-se disso: mais palavroso e menos interessante, vale pelas sequências de Quidditch, a realização segura do normalmente fraco Chris Columbus e, claro, os efeitos especiais.

Qualidade da banha:

 

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

Harry Potter and the Prisoner of Azkaban (2004)

Alfonso Cuarón só esteve na cadeira de realizador uma única vez, mas o seu legado faz-se sentir até hoje: a ambientação mais sombria, a ampliação dos espaços fora de Hogwarts, o crescimento do elenco como actores e o peso da entrada na adolescência. Pena é que a história tenha sido retalhada quase até à incompreensão dos não-iniciados.

Qualidade da banha:

 

Harry Potter e o Cálice de Fogo

Harry Potter and the Goblet of Fire (2005)

É o meu livro preferido da saga e a adaptação é primorosa: os momentos de maior dramatismo e complexidade são bem doseados com um misto de diversão e aventura trepidante e a narrativa, ainda que bastante cortada em relação ao livro, é eficiente na sua fluidez.

Qualidade da banha:

 

Harry Potter e a Ordem da Fénix

Harry Potter and the Order of the Phoenix (2007)

O clima conspiratório invade Hogwarts naquele que é o primeiro passo para o grande final. David Yates faz um bom trabalho, embora a sua inexperiência com efeitos especiais e na condução da história seja notória, o que torna-o bastante irregular. Além disso, um dos pecados do livro é mantido no filme: a morte de determinada personagem surge do nada e não causa impacto algum.

Qualidade da banha:

 

Harry Potter e o Príncipe Misterioso

Harry Potter and the Half-Blood Prince (2009)

Devo ser dos poucos que não gosta do livro: acho-o secante e enrola demasiado na sua preparação para o último tomo. Como tal, o filme sofre com essa falta de interesse, embora deva ser aplaudido por incluir sequências que não fazem parte do livro (e mereciam lá estar) e por carregar na dualidade entre as trajectórias de Harry e Draco Malfoy.

Qualidade da banha:

Crítica

 

Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 1

Harry Potter and the Deathly Hallows – Part 1 (2010)

Dividido em duas partes por razões claramente comerciais, esta Parte 1 acaba por beneficiar com a divisão, já que dá a oportunidade de desenvolver certas situações e tornar a narrativa menos episódica. O mais atmosférico e calmo de toda a saga deposita sobre os ombros do trio principal a tarefa de carregar o filme às costas e estes podem mostrar como amadureceram, enquanto as cenas de acção são maravilhosamente orquestradas (estou-me a lembrar da invasão ao Ministério da Magia). Provavelmente é o melhor filme da saga.

Qualidade da banha:

Crítica

 

publicado às 21:22

A Guerra dos Tronos

por Antero, em 10.07.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Game of Thrones - temporada 1

Game of Thrones, o épico da HBO baseado no primeiro dos livros de fantasia de George R. R. Martin, As Crónicas de Gelo e Fogo, é uma boa série, mas não é a grande série deste ano (cargo esse que pertence à minha amada Fringe). Com tanto alarde por parte dos fãs e críticas positivissimas de todos os lados, não há como evitar uma ponta de desilusão. Há personagens e histórias paralelas a mais para tão poucos episódios (apenas 10) e a tarefa não é facilitada para quem não está familiarizado: quando começamos a perceber as ligações entre eles, quem é o quê, quem fez o quê, quem matou quem, a temporada simplesmente acaba. Há todo um clima de preparação para a ocorrência de algo grandioso e nunca somos devidamente recompensados. Tomem como exemplo a morte de Ned Stark, um dos protagonistas da série (excelente Sean Bean): acontece no penúltimo episódio e é daquelas coisas que vai abalar todos os núcleos, nomeadamente os familiares. Chegamos ao último episódio e em vez de uma resolução épica que nos levará para a próxima temporada, temos apenas uma introdução do que acontecerá mais à frente. Isto ocorre praticamente em todos os episódios.

 

Houve capítulos que me chegaram a irritar: o filho mais velho da Casa Stark decide criar um exército. Chega a mãe que o questiona: "filho, tens a certeza que queres criar um exército?". Os colegas preparam-se: "o filho de Stark vai criar um exército!". Os inimigos acautelam-se: "cuidado, o filho de Stark vai criar um exército!". Irra! E fica-se pela criação, já que a execução vem no próximo ano. Os filhos mais velhos de Stark, diga-se de passagem, passam a maior parte da temporada em branco e os actores que lhes dão pele também não fazem muito para os tornar mais interessantes. As partes da Muralha, com Jon, o filho bastardo, são uma chatice à parte: tendo de mostrar o seu valor, o guião até lhe dá um companheiro gordinho e desprezado por todos para revelar a boa índole do rapaz – e, para mal da série, o tempo reservado a estas personagens é completamente desnecessário, já que a Muralha só ganha o devido destaque lá para o final quando, do nada, a Patrulha da Noite decide enfrentar os White Walkers que deram as caras no início do primeiro episódio e cuja história é resgatada apenas no último episódio. Simples assim.

 

A passagem do tempo é outro problema: as coisas acontecem com tanta rapidez que dá a impressão que tudo ocorre em poucas semanas. Aí a Daenerys engravida do marido brutamontes e leva a gestação quase até ao fim – e estes súbitos saltos no tempo apanham o espectador desprevenido. A duração dos treinos na Muralha (que, deduzo, deve ser muito) também não fica bem clara. E que dizer do tal "inverno" que toda a gente anuncia e nunca mais chega? O mais estranho é que eu percorro a Internet a ler críticas dos episódios e só leio comentários do género "nos livros isto, nos livros aquilo..." e eu, que não os li nem sequer os conhecia, acredito que lá seja melhor explorado e explicado, mas no pequeno ecrã fica corrido demais. E quando fica bom, acaba, adeus e até à próxima.

 

Deixando o azedume de lado, convém dizer que Game of Thrones impressiona nos aspectos técnicos, ainda para mais numa produção televisiva. Também gosto da violência explícita da série, perfeitamente de acordo com a brutalidade daquela era: ela não choca por chocar e tudo – desde decapitações, mortes com ouro fundido, incesto, violações e crianças de oito anos a mamar nos seios da mãe (a sério, que trauma!) – está devidamente contextualizado. Além disso, o argumento faz bem em relegar a fantasia para segundo plano e apostar nas relações entre as personagens, as intrigas políticas e questões como honra, traição e amizade – e os diálogos, na sua maioria, são escritos e debitados com imensa elegência e cinismo. Também é de realçar o destaque dado às figuras femininas e à exploração de mulheres fortes (ainda que condicionadas pela aquela sociedade extremamente masculinizada), desde a manipuladora Cersei Lannister à compreensiva e astuta Catelyn Stark, passando pela rebeldia de Arya e acabando na corajosa Daenerys, cuja trajectória emocional é um dos pilares da série. E não há como deixar de elogiar o talentoso Peter Dinklage como o anão Tyrion, um sujeito que compensa a sua falta de estatura com uma inteligência e perspicácia que o tornam num aliado valoroso ou um inimigo a temer (ainda que a sua personagem não tenha o devido destaque, algo que deverá ser corrigido no futuro).

 

Sem medo de apostar na morte das personagens principais, num seguimento do lema "ninguém está a salvo", e em personagens que antes eram meramente secundárias como seguimento lógico da narrativa, Game of Thrones promete muito para a segunda temporada e eu acredito que pode vir a cumprir. E aí poderá ser a série do ano. Do ano que vem.

 

publicado às 23:18

Carros 2

por Antero, em 08.07.11

 

Cars 2 (2011)

Realização: John Lasseter, Brad Lewis

Argumento: John Lasseter, Brad Lewis, Dan Fogelman

Vozes: Larry the Cable Guy, Owen Wilson, Michael Caine, Emily Mortimer, John Turturro, Eddie Izzard, Joe Mantegna
 

Qualidade da banha:

 

Haveria de chegar o dia em que a Pixar iria escorregar e esse momento chegou. Depois de subir bem alto com o maravilhosoToy Story 3, a empresa dá um tombo valente com a sequela daquele que, até à data, seria o elo mais fraco da imaculada carreira da companhia, Carros, e que, ainda assim, conseguia ser um divertimento adorável e com sequências espectaculares. Assim, não se pode dizer que a desilusão não fosse totalmente esperada; o que impressiona mesmo é a fraca qualidade narrativa de Carros 2, já que a Pixar parece baixar os braços e entregar-se a tudo aquilo que eu reclamo na concorrência: histórias previsíveis, lições de moral enfiadas a martelo e personagens nada cativantes. Com tanta obra da casa a pedir continuação (The Incredibles, Ratatouille), é de lamentar que o apelo comercial de Carros tenha falado mais alto.

 

Visualmente espantoso (e só), Carros 2 traz Faísca McQueen (Wilson) e seu melhor amigo Mate (Larry the Cable Guy) numa viagem pelo mundo enquanto o carro de corrida participa num torneio espalhado por três países para comprovar a eficiência de um combustível alternativo, limpo e renovável. No entanto, Mate acaba por ser confundido com um espião norte-americano e passa a encabeçar várias aventuras ao lado do agente Finn McMíssil (Caine) e sua assistente Holley Shiftwell (Mortimer) enquanto tentam descobrir a identidade do vilão que tenta sabotar as corridas para desacreditar o novo combustível.

 

Realizado por John Lasseter (o mago por trás do lançamento da Pixar) juntamente com o novato Brad Lewis, o filme comete a asneira de fazer de Mate, uma personagem esporadicamente engraçada, o protagonista desta nova aventura e relegar o também pouco interessante Faísca McQueen para segundo plano – o que poderia ser uma bem-vinda mudança de foco, mas acaba por se tornar num enfado, uma vez que somos obrigados a ver os dois amigos desentenderem-se de maneira forçada (o reboque envergonha o amigo em eventos públicos) só para determinar que o filme tenha um arco dramático a ser resolvido com diálogos pastosos como "acredita em ti mesmo", "não interessa o que os outros pensam de ti" ou a inacreditável pergunta que alguém faz a Faísca, "por que irias pedir a Mate para ele não ser ele próprio?". Isto atinge o pico da artificialidade quando Mate deduz quem é o autor por detrás dos ataques às corridas e, na urgência da situação, tem uma crise de confiança e faz uma birra por ser gozado por todos e lá vem McQueen com um dos seus discursos motivacionais para restaurar a auto-estima do companheiro.

 

Além disso, a parte de espionagem não tem ponta por onde se lhe pegue e tudo parece uma justificação para sequências de acção eficazes, ainda que bem mais violentas do que seria de esperar: com explosões, mortes e torturas, Carros 2 exibe um sadismo nada apropriado para uma obra totalmente voltada para um público infantil e a revelação do vilão é absurda e deixa um rasto de buracos ao longo do argumento. Também o que poderíamos esperar de um filme que contém situações absolutamente ilógicas, como aquela em que Mate tem uma bomba pregada a si e um dos capangas afirma – após o cronómetro ter avançado um minuto com o seu comando de desactivar – que apenas quem instalou a bomba pode desactivá-la com a voz e o filme parece esquecer-se que segundos antes o próprio Mate gritava em desespero "desactivar!" umas três vezes sem que a contagem do tempo sofresse alterações.

 

O facto é que Carros 2 é somente aquilo que realmente é: uma feira internacional de bonecos prontos a atacar as prateleiras das lojas e as carteiras dos pobres pais que levarão os seus filhos ao cinema e, neste aspecto, o filme cumpre o que promete. Com detalhes deliciosos e um apuro visual estonteante, os veículos têm as suas formas e peças como indicadores da sua personalidade, o que pode ser comprovado pela dianteira de McMíssil que remete a um bigode canastrão de um agente secreto britânico seguro de si ou os carros japoneses com características do anime. Além disso, os cenários da fictícia Porto Corsa em Itália e de Tóquio cheia de cores e vida são de tirar o fôlego, as corridas continuam trepidantes e o universo do filme já não se limita a automóveis, investindo em aviões e barcos embora isto não seja aproveitado ao máximo.

 

Contudo, ainda que seja digno de aplausos pelos seus aspectos técnicos, é triste constatar que estes estão ao serviço de uma narrativa frouxa e poucas vezes a Pixar surgiu tão preguiçosa em estabelecer a temática de uma obra sua que, além de pouco ambiciosas, ainda parecem virar o bico ao prego consoante as exigências do momento: de início há a questão ecológica das energias alternativas por oposição ao petróleo, depois passam a ideia que o crude já é mais fiável; há o tema da diferença e aceitação pelos pares (Mate) e, mais tarde, dá a impressão que os renegados da sociedade são uns potenciais terroristas cheios de ressentimento para com o Mundo, enfim... tudo inserido aos pontapés como se o filme tentasse desesperadamente mergulhar nas temáticas adultas que diferenciavam a Pixar das suas concorrentes.

 

Fraco até como comédia, Carros 2 é uma mancha no currículo antes imaculado da Pixar. Até os génios têm direito a falhar.

 

PS: a costumeira curta-metragem que precede a sessão de Carros 2, intitulada Férias Havaianas, tem uma certa piada pela nostalgia em rever as personagens de Toy Story, mas é tão fraca e sem graça como o filme que se lhe segue. Pareciam que estavam a adivinhar.

 

publicado às 16:16


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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