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Transformers 3

por Antero, em 30.06.11

 

Transformers: Dark of the Moon (2011)

Realização: Michael Bay

Argumento: Ehren Kruger

Elenco: Shia LaBeouf, Josh Duhamel, John Turturro, Tyrese Gibson, Rosie Huntington-Whiteley, Patrick Dempsey, John Malkovich, Frances McDormand
 

Qualidade da banha:

 

Nem à terceira foi de vez. Depois do medonhoTransformers: Retaliação, Michael Bay volta à carga com mais um atentado ao bom gosto e à paciência do espectador num filme com tortuosos 155 minutos e que serve como mera desculpa para distrair o público enquanto os produtores contam os dólares ganhos com a exposição de marcas como a Mercedes, a Chevrolet, a Hummer ou a Ferrari. Os únicos pontos positivos referem-se aos aspectos técnicos (efeitos visuais e sonoros), mas, convenhamos, isso é o mínimo exigível a uma obra orçada em 200 milhões de dólares e, mesmo assim, com algumas ressalvas: a direcção de Bay é tão caótica (o costume...) que mal percebemos o que acontece no ecrã – o que, ironicamente, acaba por reflectir o filme em si, que poderia ser adjectivado numa única palavra: caos.

 

Escrito pelo irregular Ehren Kruger (O Suspeito da Rua Arlington e The Ring - O Aviso do lado bom; Jogo de Traições e o já citado segundo Transformers no extremo oposto), Transformers 3 recua até à década de 60 para nos mostrar a queda de uma nave de Cybertron (a Ark) em território lunar, facto este que despoletou a corrida espacial entre os EUA e a União Soviética. Na actualidade, os Autobots continuam a aliança militar com os norte-americanos que tão bons resultados não deram anteriormente e tomam conhecimento da existência do que resta da Ark, uma vez que os russos e os ianques foram colectando vários componentes ao longo dos anos, e lançam-se numa missão para travar os cruéis Decepticons que pretendem usar o mecanismo para subjugar a raça humana. Enquanto isso, o nosso herói Sam Witwicky desespera por não encontrar trabalho apesar de ter ajudado a salvar o Mundo por duas vezes e ter sido condecorado pelo Governo (algo que ele não se cansa de repetir!) e embarca num novo emprego até ser arrastado (de maneira bem absurda) para o seio da guerra entre os poderosos robots.

 

Concebido única e exclusivamente com os efeitos visuais em mente, Transformers 3 até tem uma história menos elaborada e mais directa que o monte de bosta que o antecedeu, embora isso não signifique que ela seja necessariamente melhor: não há aqui piadas infames com os testículos de um robot e os pais de Sam têm menos tempo de antena (mas quando aparecem dá vontade que algum Decepticon os esmague), mas as tentativas de humor surgem sempre deslocadas e infantis, principalmente aquelas que estão a cargo da irritante dupla Brains e Wheelie. Da mesma forma, Bay tenta carregar pesadamente no drama e de forma desajeitada: em vez de explorar as baixas civis da destruição que toma conta do filme (que devem ascender aos milhares), ele prefere novamente fazer de Bumblebee o protagonista de cenas mais emocionantes e só me apraz dizer que se o esquema não funcionou nos dois filmes anteriores, talvez não seja conveniente recorrer ao mesmo outra vez.

 

Sempre disposto a mostrar o seu talento em explodir coisas, Bay encena tudo com uma grandiosidade que acaba por cansar o espectador, já que falha em criar um sentimento de urgência que nos leve a temer pelo destino das personagens que, como já é usual na filmografia do realizador, são unidimensionais e estupidamente desenvolvidas. De que adianta contar com as vozes poderosas de Peter Cullen, Hugo Weaving e Leonard Nimoy se tudo que lhes sai da boca são frases de efeito regadas a muita lamechice? Alías, os diálogos escritos por Kruger variam entre ordens ("disparem!", "segurem-se!", "sai daqui!", "fica aqui!", "vem comigo!") e pérolas como "não vou permitir armas de destruição maciça na nossa atmosfera!" dita pela Secretária da Defesa interpretada por uma Frances McDormand que só podia estar bêbada quando aceitou participar nisto.

 

Quem realmente faz má figura, porém, é Rosie Huntington-Whiteley, uma modelo promovida a actriz por um executivo que raciocina com o pénis, que serve como óptima substituta da péssima Megan Fox: pãozinho sem sal e com zero de presença em cena, a manequim empresta todos os atributos da desaparecida Micaela, desde a maquilhagem que não borra no meio do campo de batalha ao vestido curto (claro!) que não se suja, passando pela boca entreaberta e uma pose supostamente sedutora quando tudo à volta está em ruínas, sem contar que, como indivídua, a nova namorada de Sam (por que ele tem de ter uma namorada, ora essa!) tem um carácter materialista e coactivo para com as opções do amado. Obviamente que ela é linda e nós sabemos isso logo na sua primeira aparição, já que Bay foca primeiramente as pernas e o traseiro da moça, num rasgo machista tão característico dele. No entanto, o que pode fazer a pobre Whiteley quando o filme não tem qualquer problema em arrancar prestações embaraçosas de gente do calibre de John Turturro, Patrick Dempsey, Shia LaBeouf e John Malkovich?

 

Contando com todos os vícios conhecidos do realizador (os travellings circulares, os filtros amarelos, as câmaras lentas, os planos inclinados a demonstrar o heroísmo dos envolvidos, a exaltação das forças armadas), Transformers 3 avança aos trambolhões de sequência em sequência mesmo que tudo não faça muito sentido (porquê esperar tanto tempo para pôr o plano da Ark em acção?) e, pior do que isso, já não bastassem os exasperantes mil cortes por minuto (os únicos planos que duram mais que dois segundos são aqueles em slow motion), ainda temos de levar com rápidos fade ins e fade outs que tornam tudo ainda mais confuso. Mais confuso ainda é tentar perceber seja o que for dos duelos entre os robots: quem atinge quem ou a posição de uns em relação aos outros exige um esforço considerável – e, lamentavelmente, isto é o mais próximo de complexidade que o filme atinge. Por outro lado, sempre temos a oportunidade de assistir a uma perseguição pelos céus de Chicago entre máquinas voadoras e militares que planam (!) ou assistir aos laivos de patriotismo de Bay, com as bandeiras norte-americanas sempre presentes e a destruição do Lincoln Memorial por Megatron, o que, para o realizador, deve representar o ápice de humilhação e tragédia nos EUA.

 

Há que dizer, portanto, que eu descobri finalmente por que Michael Bay insiste num ritmo tão acelerado e praticamente incompreensível da sua narrativa: que outra forma haveria das personagens sobreviverem à longa e entediante destruição que assola Chicago? Elas estão num prédio que desaba e sobrevivem; Sam vai agarrado a um robot que se despenha violentamente e não sofre um arranhão; o sujeito também é pendurando e arrastado ferozmente por um Decepticon e sai ileso; há explosões das quais as personagens são protegidos por um pilar! Não dá para entender como tal acontece por que tal não é mostrado.

 

Um paradigma que aplicado a Michael Bay resume bem a sua carreira como realizador.

 

publicado às 03:05

X-Men: O Início

por Antero, em 10.06.11

 

X-Men: First Class (2011)

Realização: Matthew Vaughn

Argumento: Ashley Edward Miller, Zack Stentz, Jane Goldman, Matthew Vaughn

Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Rose Byrne, January Jones, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult
 

Qualidade da banha:

 

Quando Bryan Singer assinou o primeiro X-Men, em 2000, as adaptações de comics (salvo raras excepções) vinham sendo tratadas como meros depósitos de infantis batalhas entre o Bem e o Mal onde nada era levado muito a sério. Com esse filme, o género deu o salto qualitativo que precisava: com uma abordagem adulta e inteligente (que foi seguida, em maior ou menor grau, nos dois capítulos seguintes) e sucesso de público, Singer cimentou o paradigma a ser acompanhado por outras obras e os comics nunca estiveram tão em voga no cinema como nos últimos dez anos.

 

Criados na turbulência de uma América mergulhada nas questões raciais, os X-Men servem como metáfora para qualquer minoria da sociedade: geneticamente diferentes do Homo sapiens, os mutantes possuem habilidades extraordinárias e são excluídos e odiados por muitos daqueles que juraram proteger, os humanos. Assim, Charles Xavier (Professor X) e Erik Lehnsherr (Magneto) surgem como forças antagónicas neste tabuleiro. Enquanto o primeiro age como um diplomata crente na convivência pacífica entre humanos e mutantes, o segundo, sobrevivente do Holocausto, já experienciou o pior da natureza humana e prega o domínio da sua espécie através do uso da força. A dinâmica de respeito/ódio entre os dois indivíduos e as suas ideologias era um dos pontos altos da trilogia original e é resgatada com brilhantismo nesta semi-prequela/semi-reformulação (há detalhes cronológicos que não batem certo, mas isso não é importante) da saga que se dedica aos primeiros tempos da equipa e como Xavier e Erik se conheceram. E, claro, como se desentenderam.

 

Iniciando-se na década de 40 ao trazer o jovem Erik (Fassbender) num campo de concentração polaco, X-Men: O Início investe boa parte da sua introdução a apresentar a juventude sofrida de Magneto às mãos do inescrupuloso Sebastian Shaw (Bacon) em função dos seus poderes – uma adolescência que é o oposto da do adolescente Charles (McAvoy), cuja família abastada lhe proporcionou estudos e diversão, o que obviamente reflecte-se na postura vivaz de Xavier por contraste ao carácter amargurado de Lehnsherr. Este passa os anos do pós-guerra fixado na ideia de encontrar o seu antigo carrasco e matá-lo, o que o levará a conhecer Xavier e a encetarem, com o apoio da CIA, uma busca por outros mutantes que possam ajudá-los a perseguir Shaw, cujos objectivos passam por inflamar as relações entre os EUA e a União Soviética.

 

Ao ambientar a narrativa nos anos 60, Vaughn encontra a desculpa perfeita para abraçar a estética comum aos comics, com as suas cores berrantes, salas com designs devidamente retro e uniformes absurdos e pouco práticos. Além disso, o realizador emprega acertadamente um clima que deve muito às primeiras aventuras de James Bond, seja pelo vilão de excelência representado por Bacon e os seus recursos (que submarino de luxo é aquele?) ou pelos diversos países que Erik atravessa na sua vingança pessoal (e Fassbender daria um óptimo 007). Hábil ao lidar com imensas personagens que têm o devido tempo de antena, Vaughn até pode sacrificar a acção a certo instante, mas o que perdemos em adrenalina ganhamos em complexidade das relações das personagens, o que se tornará vital para quando as espectaculares cenas de acção aparecerem, uma vez que o nosso envolvimento emocional nunca é comprometido.

 

Encarnando um Xavier jovial que certamente não estaríamos à espera, McAvoy transforma-o repleto de ternura, bon vivant e astuto, ainda que inexperiente, como se o seu carácter mais pacato que conhecemos (e esperaríamos ver) fosse moldado com eventos futuros. Por outro lado, Fassbender injecta rancor e ódio em Magneto, mas não o torna num vilão: impulsivo e pragmático, ele é unicamente direccionado pela sua raiva e é o seu receio em ver a História repetir-se que dita os seus actos cada vez mais violentos e impensados. Ele sabe como a humanidade pode ser cruel com aqueles que julga diferentes, ao passo que Xavier acredita na capacidade de aceitação dos humanos – e é do choque entre estas faces da mesma moeda (um simbolismo fartamente usado no filme) que vêm os melhores momentos de X-Men: O Início.

 

Mas não é só: recentemente nomeada ao Oscar por Despojos de Inverno, a jovem Jennifer Lawrence compõe Raven (ou Mística) como uma rapariga insegura e dividida entre viver com a sua verdadeira aparência ou resguardar-se perante a sociedade. Uma trajectória que encontra paralelo na do precoce Hank McCoy, cuja deformidade leva-o a ressentir-se de comentários alheios e a procurar desesperadamente uma cura que o encaixe naqueles que o rodeiam. Desta forma, X-Men: O Início analisa as suas personagens com sensibilidade e cuidado para que nada saia gratuito: quando Xavier se arrisca por Erik, é por que ele sabe o potencial do amigo na sua luta e, mais tarde, quando o futuro líder dos X-Men suplica ao colega para que não ceda aos seus instintos assassinos, percebemos como aquele discurso soa trágico por todo o abalo que aquela amizade sofrerá.

 

Divertido e recheado de personagens fascinantes, X-Men: O Início usa a crise dos mísseis de Cuba como estratégia para ancorar aquele universo na realidade e conta com um terceiro ato intenso, da qual se destacam duas cenas: a visão de dezenas de mísseis em direcção ao mesmo alvo, o que expõe a índole destruidora da Humanidade, e o belíssimo plano que acompanha o movimento de uma moeda que retrata tristemente a cisão de valores entre os envolvidos. Envolvente do início ao fim, o filme é um bom exemplo de como as malfadas prequelas não têm necessariamente de ser previsíveis (basicamente já sabemos como tudo se desenrolará) e que podem, de certo modo, providenciar novos olhares sobre acontecimentos posteriores.

 

Uma lição que não pode nem deve ser ignorada.

 

publicado às 03:19

A temporada em série (2010-2011)

por Antero, em 08.06.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

The Big Bang Theory: temporada 4

Eu sei que elogiei a série há uns meses atrás mas, após ver esta decepcionante temporada cheguei à conclusão que The Big Bang Theory é divertida, sim, porém sem nada que a faça distinguir de tantas e tantas outras comédias que andam por aí. A série entrou numa espiral de convencionalismo e de ideias mal exploradas, com as personagens a ultrapassarem todos os limites do aborrecimento. Leonard não cativa minimamente e o romance com Priya perde qualquer noção de simpatia já que sabemos que aquilo não vai durar; Sheldon só esporadicamente tem genuína piada e tornou-se previsível; Penny andou o ano todo perdida em ter muito o que fazer e acabar na cama com Raj foi o cúmulo da idiotice. Surpreendentemente, quem brilhou mais foi Howard e o seu namoro com Bernadette, uma vez que a personagem é das mais inspiradas do núcelo e com o seu universo pessoal (a mãe diabólica e o facto de ser o menos habilitado do grupo) levou a que ganhasse o devido destaque. Para aproveitar a série ao máximo convém juntar uma mão cheia de episódios e vê-los de seguida: o embalo que ganhamos com a sequência faz com que tudo pareça mais divertido; vê-los isoladamente só denota as fragilidades da comédia.

 

Melhor episódio: 4×02 – The Cruciferous Vegetable Amplification: Sheldon robot, num dos raros momentos de inspiração da personagem e uma ideia espremida até ao limite das suas possibilidades.

 

Pior episódio: 4x15 - The Benefactor Factor: inacreditavelmente, este capítulo deixou-me de mau humor.

 

 


Desperate Housewives: temporada 7

Gostei do regresso de Paul Young e da forma como o mistério da temporada foi, aos poucos, envolvendo todos os residentes de Wisteria Lane. Lamentavelmente, decidiram virar o foco para Susan e Mike (mais o inútil retorno de Zach) e as restantes donas de casa foram deixadas meio que ao abandono: Bree sempre às voltas com novos namorados, Gaby e a história da filha que nunca rendeu o devido e Lynette quase sem ter que fazer. Já a tão publicitada nova personagem, Renee, não é mais do uma cópia da Wilhemina Slater de Ugly Betty com a mesma actriz e que aprofunda ainda mais o vácuo deixado por Edie e Katherine. Pontos positivos: resolverem pegar na morte da mão de Carlos e fecharem essa página; separarem o casal mais forte da série, o que, após tanto tempo, abre novas oportunidades para Lynette e o episódio final com uma morte às mãos de Carlos e o grupo como cúmplice. Seria óptimo que o próximo ano envolvesse um grande arco a incluir todos os protagonistas, uma vez que a necessidade de criar pequenos arcos narrativos para cada uma delas está a desgastar a série.

 

Melhor episódio: 7×10 – Down The Block There’s a Riot: o já tradicional evento da temporada mais uma vez voltou a apelar a acontecimentos triviais (não há cá tornados megalómanos) e tornou a vingança de Paul Young implacável e marcante.

 

Pior episódio: 7×15 – Farewell Letter: Lynette às voltas com os gémeos, Susan a aproveitar-se da diálise, Gaby volta à terrinha, Bree fica solteira (outra vez...), Paul expulsa Beth, eu bocejo.

 

 

 

Dexter: temporada 5

A grande desilusão. Depois de uma brilhante quarta temporada, as expectativas estavam nos píncaros e tudo parecia encaminhar-se para que as mesmas não fossem defraudadas: Dexter a lidar com a morte de Rita, a descobrir a sua humanidade nos piores aspectos que ela reserva, o descontrolo emocional, os filhos e o amadurecimento de Debra (das poucas coisas realmente boas deste ano) que cada vez mais se torna a sua tábua de salvação. Depois aparece Lumen e as coisas começam a descambar. Tanta coisa com a ama de Harry para nada. LaGuerta e Batista em crise. O caso Santa Muerte cujas repercussões foram zero. Um vilão inicialmente promissor que se torna uma autêntica caricatura ensandecida. O envolvimento amoroso de Dexter com Lumen. A ridícula cena em que Debra está prestes a apanhá-los em flangrante e sai de cena. Quinn ser ilibado da morte de Lundy de maneira apressada e pouco credível. E, no final, Lumen abandona o nosso "herói" por já não sentir o instinto assassino que os unia (ugh!). Enfim, uma temporada tão esquecível que nem é mencionada nos anúncios do sexto ano, a começar em Setembro.

 

Melhor episódio: 5x01 - My Bad: um início promissor e o momento mais vulnerável de Dexter.

 

Pior episódio: 5x12 - The Big One: um desfecho que expõe tudo o que a temporada teve de pior e nós tentávamos não perceber na ânsia de um final bombástico.

 

 

 

The Event

Esta é o FlashForward da temporada. Mais uma potencial sucessora de LOST, o que, invariavelmente, já a condena ao fracasso, The Event junta pitadas de 24, The 4400 e - pasme-se! - Heroes numa salada indigesta que até poderia funcionar, mas cujos esforços em atingir o fundo do poço transformam-na numa espécie de divertidamente estupidificante recheada de humor involuntário. Seja pela conspiração dos extraterrestres que quanto mais se revela, mais o sentimento de dèja vu se instala; pelas personagens chatíssimas (Leila, a namorada de Sean, é inacreditavelmente robótica; o presidente canastrão; a líder sem sal e de voz arrastada; o vice-presidente cobarde e chorão); pelas fracas cenas de acção e erro de não criar o mínimo de sentimento de urgência que nos leve a temer pelas personagens (quanto a isto, é rever a hilariante sequência do "brutal" terramoto em solo norte-americano que parece afectar apenas o Washington Monument). Após a pausa natalícia de três meses para salvar a série, os produtores, que até vinham construíndo com alguma competência a mitologia da narrativa, erram ao investir na acção descerebrada numa tentativa falhada de conquistar uma audiência há muito perdida. E dá-lhe cenas como aquela que encerra a temporada (e a série) e da qual só me apraz perguntar: um corpo de massa enorme (digamos, um planeta) teletransportado para um ponto entre a Terra e a Lua não deveria afectar, de forma bem catastrófica, o nosso campo gravitacional?

 

Melhor episódio: 1×01 – I Haven’t Told You Everything: demonstra todo o potencial que a série não soube aproveitar.

 

Pior episódio: 1×20 – One Will Live, One Will Die: uma sucessão de imbecilidades e erros grotescos que, eventualmente, torna-se divertidamente estúpido.

 

 

 

House: temporada 7

Eu sempre digo que House passou a ter 7/8 bons episódios por temporada: o primeiro, o último e uns espalhados pelo meio para os espectadores perceberem como a série pode ser realmente boa e não desistam da mesma. Este ano nem a isso tivemos direito. Começando com o namoro de House e Cuddy, a temporada atinge níveis de interesse deploráveis: aos sete anos de vida não podemos exigir que os casos médicos surjam frescos e inovadores, mas a dinâmica de House e a equipa médica está tão desgastada que tudo parece forçado, desde as bocas, as epifanias e as conversas com Wilson. Assim, é mau perceber como a série mal aproveita a nova vida do seu protagonista: comprometido e logo com a chefe, House está retraído numa suposta felicidade repentina e porcamente desenvolvida. Numa série de fórmula como House é, ver o protagonista alegre foi um passo arriscado e pouco trabalhado (mesmo o rompimento por parte de Cuddy parece caído do céu) e tudo piora quando a relação termina. Mantém-se a desinteressante toada de dissecar um relacionamento que já não existe e que nunca resultou (nem para os espectadores), trazem uma estagiária para servir como a nova Cameron, investe-se na vida privada do aborrecido Taub, regressa Thirteen (já gosto mais dela) e é o vira o disco e toca o mesmo no infeliz House e a sua demanda pela felicidade quimérica, com supostos eventos bombásticos (agora foi esbarrar um veículo na casa de Cuddy... uau...) que nunca levam a nada. O próximo ano, já sem a actriz Lisa Edelstein que recusou renovar contrato, precisa urgentemente de ser o último.

 

Melhor episódio: 7×11 – Family Practice: explora com eficiência a dinâmica da relação amorosa entre House e Cuddy e traz a grande Candice 'Murphy Brown' Bergen de volta ao ecrã.

 

Pior episódio: 7×17 – Fall From Grace: House casa-se com uma bimba qualquer para fazer ciúmes a Cuddy. Preciso dizer mais?

 

 

 

How I Met Your Mother: temporada 6

Outra que anda extremamente irregular, notou-se uma tentativa de aprofundar emocionalmente os elementos do grupo, com resultados medianos: se Marshall atravessa uma fase mais complicada (desemprego e morte do pai) e Barney conhece o progenitor causador de várias nunaces da sua personalidade (brilhante John Lithgow), Ted continua entediante com o seu cariz apaixonado e meloso, Lilly só serviu de apoio ao marido e Robin também andou desperdiçada por episódios a fio (o máximo que conseguiram foi trazer de volta o seu velho colega, o egocêntrico Sandy Rivers). Viu-se logo que Zoey não seria a Mãe (já pouco ou nada se fala dela) e chegou a ser uma tortura acompanhar os esforços de Jennifer Morrisson pela comédia e não se percebe tanto alarde dos produtores em afirmar que esta seria a melhor temporada de todas, mais focada no lado pessoal e com acontecimentos importantes. O que eles não devem entender é que a série funciona melhor quando todos são inseridos no mesmo contexto e o choque de personalidades faz com que as piadas fluam naturalmente. Ficamos a saber que Barney é o noivo do casamento anunciado no primeiro episódio e resta saber como irão lidar com a situação, já que deu para ver que prender Barney numa relação não dá lá grande resultado (e eu duvido que a noiva seja a Robin; ela tem de ficar para tia).

 

Melhor episódio: 6×10 – Blitzgiving: todas as personagens na mesma história, Dia de Acção de Graças, Jorge Garcia, referências a LOST e mais um "mito" social que a série resgata: a do indivíduo que se ausenta mais cedo e perde acontecimentos de arromba.

 

Pior episódio: 6×07 – Canning Randy: a prova que Jennifer Morrisson não tem muito jeito para a comédia.

 

 

 

Fringe: temporada 3

Já tudo se falou sobre Fringe, já lhe concedi os mais rasgados elogios e resta-me agradecer o pequeno oásis que a série se tornou nesta decepcionante temporada. Onde todas as outras jogam pelo seguro, Fringe não tem medo de ousar e investir para levar a narrativa sempre além das nossas expectativas, num festim de inteligência e coesão que poucos dramas se podem gabar.

 

Melhor episódio: 3x01 - Olivia: entrada a pés juntos na temporada com um capítulo que dá continuidade à descoberta do Lado B ao mesmo tempo que carrega no drama da agente Dunham.

 

Pior episódio: 3x12 - Concentrate and Ask Again: não é um desastre, mas veio encalhar a sequência de óptimos episódios que vinha até aí.

 

 

Descobertas: The Middle; The Good Wife; Private Practice

Depressões: Smallville; Glee; 90210


publicado às 23:14

Virar à Direita

por Antero, em 05.06.11

O Partido Socialista, com José Sócrates à cabeça, acabou de levar uma tareia nas Legislativas 2011 e não ficou por aí: mesmo o Bloco de Esquerda e a CDU levaram um forte abalo e uma nova coligação PSD-CDS é iminente. Isto numas eleições carregadas pelo peso das medidas que o FMI irá implantar nos próximos anos e numa campanha mergulhada em acusações de todos os lados sobre culpabilidade e omissão. Sabendo como é o povo português, não era de todo improvável uma nova reeleição de José Sócrates, seja pela inexperiência e/ou ineficácia da oposição ou pela postura do próprio Sócrates, cuja eloquência e retórica desarmavam os opositores e a sua habilidade em trazer a si os louros de "pequenas" conquistas e alhear-se dos prejuízos.

 

Nada disto serviu (nem as sondagens que pintavam um cenário renhido) e eu, simpatizante socialista e plenamente consciente do mau serviço prestado pelos representantes do PS, estou surpreso e - diria até - moderadamente satisfeito. Porque o povo não foi nas lérias do Zé, na sua constante vitimização à qual os adversários ainda davam mais lenha e não caiu na mesma asneira uma segunda vez (segunda por que a primeira eleição foi contra Santana Lopes, então não conta). Por outro lado, dá para perceber que Sócrates não só minou o Partido Socialista, mas também teve efeitos colaterais em toda a Esquerda: o BE, que vinha em crescendo no mapa político nacional, viu-se relegado à quinta posição.

 

Eu votei em branco e andei toda a semana a ouvir mil e uma aberrações sobre essa decisão. Ia ajudar o Sócrates, para isso mais valia nem ir, que votasse num dos partidos sem expressão, enfim. Pois bem, eu votei em branco por que me preocupo: se estivesse nas tintas para isto, nem punha lá os pés. Li (por alto) as principais medidas propostas por TODOS os partidos e, quanto aos chamados pequenos, era cada um pior que o outro. Se eu não vejo capacidade e não deposito confiança naquela gente, simplesmente não voto em ninguém. Se isso favorece X ou Y, problema deles. Sejam mais eficientes da próxima vez. Eu não vou por "males menores".

 

Outra coisa que me deixou agastado: o facto de eu não apoiar Passos Coelho não faz de mim automaticamente pró-Sócrates, tal como o inverso não se aplica. Não gosto de Passos Coelho, de quem o rodeia, acho que perdeu tempo a falar de imbecilidades e acusações, de fazer joguinhos com o Governo na altura do PEC, acho que ele é inexperiente e não poderá fazer muito com a herança que terá em mãos (cuja culpa também tem de ser repartida com o PSD e - vejam só! - com aquele sujeito que reside no Palácio de Belém). Daí a adorar o Sócrates vai uma distância e tanto e não convém diabolizar nem um nem outro. Por isso é que eu entendo a postura dos meus pais em votar PS por que realmente houve coisas bem feitas e acham que há margem de manobra para pôr isto nos eixos, assim como percebo o meu irmão que engoliu o orgulho esquerdista e votou na Direita por que crê que necessitamos de uma mudança.

 

E isto escreve-vos um tipo de Esquerda, avesso à Direita, liberal, que acha que o Estado deve ter um papel minimamente regulador, que as preocupações máximas de um Governo deveriam ser educação e saúde, que concorda com as privatizações da TAP, Correios e CP; que as parcerias público-privadas devem ser revistas, defensor dos direitos dos homossexuais, que acha que o Ministério da Cultura é essencial ao país (mas que será o primeiro a levar cortes), que a RTP deve ser pública, que a Assembleia é maioritariamente composta por inúteis, que é a favor da despenalização do aborto, ateu, alérgico ao conservadorismo, que acredita que o grande mal deste país é a falta de fiscalização. Em tudo! Que admira a pluralidade da Esquerda por oposição a uma certa rigidez da Direita, mas com uma ponta de inveja do carácter reaccionário e singular para o qual tende a Direita que contrasta com uma certa passividade da Esquerda (alguém vê o CDS atacar o PSD como o BE e a CDU atacam o PS?).

 

Que Passos Coelho e restante executivo façam um bom trabalho e me surpreendam. De bom grado morderei a língua, se for caso disso.

 

publicado às 20:51

A Ressaca - Parte II

por Antero, em 02.06.11

 

The Hangover Part II (2011)

Realização: Todd Philips

Argumento: Scot Armstrong, Craig Mazin, Todd Phillips

Elenco: Bradley Cooper, Zach Galifianakis, Ed Helms, Ken Jeong, Paul Giamatti, Justin Bartha
 

Qualidade da banha:

 

EmA Ressaca, para comemorar o casamento de Doug, os seus melhores amigos (Phil, Stu e Alan) organizam uma ida a Las Vegas, onde a promessa de muitas tentações embalam os desejos dos últimos dias de um solteiro. Depois de uma noite de arromba, o noivo desaparece e cabe aos restantes três encontrá-lo e tentar perceber o que se passou na noite anterior, uma vez que eles não se recordam de nada. O quarto está virado do avesso, há um tigre na casa de banho, uma galinha, um deles esteve no hospital, outro perdeu um dente e há um bebé também perdido pelo meio. Ao longo do filme vamos sabendo o que realmente aconteceu durante a noite, o que envolve situações absurdas como gangues asiáticas, Mike Tyson, uma prostituta e muito mais.

 

Agora vejam a premissa de A Ressaca - Parte II: para comemorar o casamento de Stu na Tailândia, os seus melhores amigos (Phil, Doug e Alan), acompanhados pelo jovem irmão da noiva, organizam uma ida a Banguecoque, onde a promessa de muitas tentações embalam os desejos dos últimos dias de um solteiro. Depois de uma noite de arromba, o irmão da noiva desaparece e cabe aos restantes três encontrá-lo e tentar perceber o que se passou na noite anterior, uma vez que eles não se recordam de nada (Doug, entretanto, havia regressado ao hotel). O quarto está virado do avesso, há um macaco à solta, um deles fez uma tatuagem na cara, outro perdeu um dedo, outro rapou o cabelo e há um gangster asiático (Chow, do filme anterior) também pelo meio. Ao longo do filme vamos sabendo o que realmente aconteceu durante a noite, o que envolve situações absurdas como gangues americanas, monges budistas, uma prostituta e muito mais.

 

Como dá para perceber pelos dois primeiros parágrafos, A Ressaca - Parte II está mais para uma refilmagem do que uma continuação, mudando apenas o cenário, alguns dos papeis e empolando os melhores momentos do original. E quando afirmo que o filme é praticamente uma cópia do original, não estou a exagerar: a própria estrutura é exactamente a mesma. Começa com um telefonema de Phil para um dos convidados impacientes da cerimónia e a narrativa recua no tempo para nos mostrar como chegaram eles àquela situação. Não faltam nem as fotografias durante os créditos para explicar alguns dos acontecimentos e que, obviamente, carregam no grafismo e na escatologia. Ampliando as situações do primeiro filme em escala e crueldade, o argumento escrito a seis mãos não se furta nem mesmo de martelar a repetição de tudo em diálogos como "não acredito que isto aconteceu outra vez!" ou "já sabem como isto funciona".

 

Para além disso, o realizador Todd Philips comete um erro crasso ao investir na violência que permeia toda a narrativa. Se antes a leveza e o absurdo dos acontecimentos eram bem doseados com o perigo de que algo realmente grave poderia ter acontecido ao noivo desaparecido, agora temos "mortes", membros decepados e tiroteios que não encontram compensação nas gags que, além de repetidas, surgem com menos frequência. Sem ter mais do que fazer do que filmar Banquecoque (ou qualquer outra metrópole asiática) como tantos outros já o fizeram, Philips entrega-se ao comodismo digno de alguém que recebeu um cheque volumoso para viajar enquanto filmava a mesma longa-metragem.

 

Não me interpretem mal: esta Parte II é divertida, sim, mas a maior parte da graça vem de referências ao antecessor, o que é um péssimo sinal. Por outro lado, a interacção das personagens continua impecável e muito disso deve-se à energia que o elenco imprime a elas: do deslocado e inconveniente Alan ao boémio Phil, passando pelo certinho-à-beira-de-um-ataque-de-nervos Stu e acabando no tresloucado Chow, todos eles se mantêm um degrau acima das desinspiradas situações nas quais se envolvem – e não fossem as personagens tão cativantes, o filme estaria condenado ao desastre total.

 

Sem sequer explorar o facto de o grupo estar num país totalmente desconhecido (todos falam Inglês fluentemente, o que facilita imenso a tarefa deles), A Ressaca - Parte II resulta num esforço preguiçoso de tentar repetir a fórmula sem perceber que uma piada contada pela segunda vez não terá tanta graça como da primeira. Já estou a imaginar o terceiro capítulo, onde Alan decide convidar os amigos para o seu casamento num local exótico como a Amazónia e todos acordam num bairro carioca em pleno Carnaval, com uma arara perdida pelo meio, envolvidos em confusões com gangues brasileiras e participação especial de Roberta Close.

 

publicado às 18:52


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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