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Hereafter – Outra Vida

por Antero, em 26.01.11

 

Hereafter (2010)

Realização: Clint Eastwood

Argumento: Peter Morgan

Elenco: Matt Damon, Cécile de France, Frankie McClaren, George McClare, Jay Mohr, Bryce Dallas Howard

 

Qualidade da banha:

 

Hereafter Outra Vida inicia com uma reconstituição do maremoto que devastou o sudeste asiático no final de 2004. É uma sequência poderosa, capaz de deixar qualquer catástrofe encenada por Roland Emmerich no chinelo, e onde acompanhamos a repórter francesa Marie LeLay a lutar pela sua vida e que representará um evento traumático, uma vez que ela passa por uma experiência de quase-morte. A partir daí, temos mais duas histórias paralelas: a dos irmãos gémeos, Marcus e Jason, que tentam evitar que os assistentes sociais percebam as recaídas da mãe no alcoolismo e nas drogas, até que um deles morre num acidente trágico e o irmão passa a tentar estabelecer algum tipo de contacto com ele. A outra narrativa (a pior das três) traz Damon como o médium George Lonegan que, após abandonar a sua actividade paranormal, tenta dar outro rumo à sua vida com aulas nocturnas de culinária. Assim, num filme que lida com a morte, os seus efeitos nos que ficam e a obsessão dos mesmos em saber se existe algo mais que o mundo térreo, é uma pena que as partes mais intensas estejam confinadas aos primeiros cinco minutos.

 

Escrito pelo experiente Peter Morgan (A Rainha, Frost/Nixon, Maldito United) e realizado pelo ainda mais experiente Clint Eastwood, Hereafter Outra Vida revela-se uma obra trôpega na condução das suas histórias paralelas que, com o avançar da projecção, irão cruzar-se de maneira absurda e forçada – e, por muito má que seja a fluidez da narrativa, o que irrita mais no filme é a sua incapacidade de transmitir uma mensagem que seja. Não que Morgan e Eastwood não tentem desenvolver uma: aliás, eles disparam para todos os lados e acabam por deixar temáticas a meios, desde "conspirações do silêncio" (?) acerca do Além ou se os espíritos influenciam o nosso mundo ou se estão a aguardar o contacto de algum George (ou da Melinda Gordon) para que os mais chegados continuem as suas vidas.

 

Correctamente mergulhadas em sombras, as cenas de Hereafter Outra Vida sucedem-se sem o mínimo de coesão temporal (a percepção que temos é que dias ou poucas semanas se passaram até percebermos que o tempo avançou meses) e, quando a história de determinada personagem parece engatar de vez, passamos a acompanhar outra, num exercício de frustração agravado pelo ritmo glaciar (leia-se aborrecido) com que Eastwood conduz a película. Para além disso, há cenas que variam entre o constrangedor (o desfecho é péssimo) e o involuntariamente cómico. Toda a sequência do hospício é um mimo: cada quarto parece ter um paciente às portas da morte e rodeado de familiares e, quando um deles falece, surge uma médica a cumprimentar Marie com um comentário divertido sem que apareça alguém para, no mínimo, declarar o óbito.

 

Enquanto isso, Matt Damon, um actor talentoso, faz das tripas coração para que o seu George Lonegan surja mais interessante aos olhos do espectador, desde que este ignore o facto de que o seu isolamento auto-imposto está fadado ao fracasso, já que, ao tocar noutra pessoa, ele estabelece a conexão com os mortos que deseja evitar (o que o torna numa espécie de Rogue, dos X-Men), ao passo que Marie, supostamente uma jornalista famosa e talentosa, perde a reputação em menos de nada, chegando ao cúmulo de ser dispensada por comentários públicos embaraçosos para a estação, algo que ela nunca fez. O descaso para com as personagens é tanto que, após reclamar veemente com Marie por esta falhar os objectivos do livro sobre François Mitterrand, o seu editor liga-lhe quase a pedir-lhe desculpas e a indicar-lhe duas editoras interessadas nos seus escritos sobre o Além (convenientemente, uma Americana e outra Inglesa), referindo até o potencial da obra. Então se o livro tem potencial, por que não publicá-lo? Porque Marie deve ir para o Reino Unido, onde estarão as outras personagens à sua espera ou o filme não acaba!

 

Já com 80 anos, é natural que Clint Eastwood comece a focar a morte e as suas consequências na sua filmografia, como comprova o acto final de Million Dollar Baby ou a encenação do ocaso do ícone do homem duro e de poucas palavras no medíocre Gran Torino. No entanto, Hereafter Outra Vida está tão cheio de equívocos que me leva a pensar se não teremos aqui outro Woody Allen: aquele realizador estabelecido e com uma vasta carreira que, para cada bom filme que produz, tem de lançar uma ou duas produções frágeis que em nada dignificam o seu historial.

 

publicado às 20:16

Perdições #7

por Antero, em 24.01.11

CHOCOLATES GUYLIAN

publicado às 15:18

Presidenciais 2011

por Antero, em 21.01.11

 

Ia escrever um discurso todo eloquente e raivoso sobre não votar em Cavaco ou Alegre (por agora...) no próximo Domingo, mas basicamente é isto!

 

[Actualização 23/01/2011, 20h30]

Aconteceu o que a maioria esperava: Cavaco reeleito à primeira. Confesso que acalentava esperanças numa segunda volta, mas subestimei o fascínio que o velhadas (sem conotações negativas) exerce no povo português. Também convém dizer que Cavaco ganhou folgadamente por que a concorrência surgiu tarde, despreparada e totalmente dispersa nas suas intenções: enquanto que a Direita concentrou-se no actual Chefe de Estado, a Esquerda andou às aranhas com Manuel "o meu tempo já passou há muito" Alegre, com um Partido Comunista que faz da solidão a sua força... e fraqueza, e com candidatos independentes que pouco ou nada se diferenciavam entre si. Além disso, prevalece a velha tradição do candidato a segundo mandato consecutivo ganhar sem margem para dúvidas.

 

No entanto, o que mais impressiona e deprime são os valores da abstenção. Cerca de metade do corpo eleitoral não compareceu às urnas, o que demonstra, mais do que descontentamento com a classe política, um profundo descaso para com a situação do país. Se não confiam no "sistema" (como já ouvi por aí), digam-me uma alternativa que seja democraticamente mais justa. E assim se perde uma bela oportunidade de começar uma valente vassourada de cima a baixo neste pobre, solitário, depressivo e alienado Portugal.

 

publicado às 20:25

Tron: O Legado

por Antero, em 17.01.11

 

Tron: Legacy (2010)

Realização: Joseph Kosinski

Argumento: Adam Horowitz, Edward Kitsis

Elenco: Jeff Bridges, Garrett Hedlund, Olivia Wilde, Michael Sheen, Bruce Boxleitner

 

Qualidade da banha:

 

Vou ser honesto: não gosto do Tron original. Actualmente, qualquer realizador, por muito consagrado que seja, será alvo de uma reprimenda sempre que usar efeitos especiais como mero artifício, sem uma história minimamente decente que os sustentem. É isso que acontecia com esse filme: apesar dos inovadores e impressionantes (para a época) efeitos visuais, com o uso em massa dessa novidade da altura (o computador), a narrativa de Tron não tem pés nem cabeça e tudo parece ser uma mera desculpa para exibir a tecnologia de ponta que havia à disposição. Sim, o filme foi pioneiro nos seus aspectos técnicos, mas o conceito que o movia era mal explorado, o que não o impediu de se tornar um objecto de culto. Vinte e oito anos depois (!), surge a inevitável sequela com uma narrativa mais elaborada e o último grito em efeitos especiais (mais o irritante 3D) que, por pouco, salvam o filme de um desenvolvimento rasteiro e personagens em 1D.

 

Depois dos eventos do primeiro filme, Kevin Flynn (Bridges) entregou os destinos da Encom ao seu amigo Alan Bradley (Boxleitner, ressuscitado do limbo das produções televisivas e série Z) e dedicou-se à melhoria do sistema operativo que o absorvera. Um dia, desaparece sem deixar rastos e, duas décadas depois, o seu filho, Sam (Hedlund) é um revoltado hacker informático contra as grandes corporações, das quais se inclui a Encom, da qual é herdeiro e accionista, e que se prepara para lançar no mercado um produto defeituoso. É então que Sam recebe uma mensagem do pai proveniente da desactivada casa de jogos explorada por ele antes do desaparecimento. Pouco depois, ele é transportado para dentro da Rede criada pelo seu pai, onde terá de lutar pela sobrevivência, já que os programas vêm com maus olhos a presença de utilizadores naquele meio e também pelo seu grau de parentesco com Kevin.

 

A primeira hora de Tron: O Legado é também a melhor. A partir do momento em que Sam invade a Rede, acompanhamos o seu fascínio com as descobertas que este vai fazendo. Embalados pela fantástica banda sonora dos Daft Punk, tudo no filme é uma evolução do que víramos no anterior: desde os cenários ao guarda-roupa, passando pelos veículos e pelo jogo de cores entre o azul e o laranja, é como se a Rede sofresse progressos ao longo dos anos (ou ciclos, se preferirem). Neste aspecto, os efeitos especiais têm a difícil tarefa de actualizar o que já conhecemos previamente sem abrir mão dos detalhes que os caracterizavam e o desafio é passado com distinção. Além disso, sequências emblemáticas como a corrida das motos de luz e a batalha dos discos ganham novos níveis e contornos mais perigosos, o que torna tudo mais dinâmico e divertido.

 

Depois Sam reencontra o pai e o filme começa a perder gás. Quando tem de desenvolver novos conceitos e situações, Tron: O Legado revela uma falta de originalidade gritante com a sua temática de pais-filhos (mas sem a profundidade e o engenho de umStar Trek) e a típica “fuga do planeta X”, no caso um sistema informático. Desta forma, o único destaque vai para Zuse, a personagem de Michael Sheen, o vivaz e sombrio dono de um bar mal frequentado, (num papel que, a existir no original, poderia ser interpretado por David Bowie), já que o filme enfraquece sempre que tenta investir em novas ideias, como o ADN digital (errr…).

 

As personagens também não ajudam nada a esconder estes defeitos: Garrett Hedlund é um desastre como protagonista, uma vez que a sua inexpressividade permanece intacta num filme que lida com… entradas em mundos virtuais e reencontros com pessoas após vinte anos! Olivia Wilde, belíssima, pouco pode fazer com uma personagem criada só para esbanjar estilo, ao passo que Jeff Bridges imprime carisma e uma certa loucura a um indivíduo isolado do mundo real por duas décadas (só Bridges para sair de cabeça erguida depois de uma fala como “estás a estragar a minha cena zen!”), ao mesmo tempo que tem a oportunidade de encarar uma versão mais jovem de si próprio, naquele que é a única falha dos efeitos especiais de Tron: O Legado, pois Clu exibe aquele olhar “cego” e aparência de boneco de cera que aflige a maioria dos seres humanos criados por computador (ainda assim, consegue transmitir mais emoção que o insosso Hedlund).

 

Obviamente mais preocupado com os aspectos técnicos do que com a condução da narrativa, Joseph Kosinski tem a ideia de adicionar a dimensão extra quando Sam entra na Rede, uma decisão acertada que cria um contraste ainda maior aos olhos do espectador, embora a sensação de imersão não seja das mais apuradas. Ainda que falhe na tentativa de estabelecer a “mitologia” de Tron como algo interessante ou até relevante, Tron: O Legado é suficientemente divertido e visualmente estimulante para compensar a falta de ambição do argumento. Neste particular, é uma boa homenagem ao original.

 

publicado às 22:41

O Turista

por Antero, em 10.01.11

 

The Tourist (2010)

Realização: Florian Henckel von Donnersmarck

Argumento: Florian Henckel von Donnersmarck, Christopher McQuarrie, Julian Fellowes

Elenco: Johnny Depp, Angelina Jolie, Paul Bettany, Timothy Dalton, Steve Berkoff

 

Qualidade da banha:

 

Então temos dois actores bonitos e estabelecidos, capazes de atrair multidões às salas, uma história de intrigas onde nem tudo é o que parece, deixando o espectador às cegas e interessado no que virá a seguir, e uma cidade (Veneza) cuja beleza é inatacável e que servirá de cenário para uma potencial história de amor e muitos mistérios? Pensamentos como este devem ter invadido a mente dos executivos que deram luz verde a este pavoroso O Turista que não só abre o ano, como também inaugura a lista de piores filmes de 2011. E vamos apenas na primeira semana.

 

Escrito por seis pessoas (nunca um bom sinal), a narrativa abre com a tentativa de captura de Elise Clifton-Ward (Jolie) por parte da Scotland Yard. Ela é a ligação com um indivíduo que desviou 2 bilhões de dólares de um mafioso e é perseguido por fuga ao Fisco sobre o montante que roubou (?!). Elise, seguindo instruções do seu contacto, decide apanhar um comboio para Veneza, onde deverá encontrar e travar conhecimento com o sujeito que ela achar mais parecido com o fugitivo de forma a despistar as autoridades – e a escolha recai sobre Frank Tupelo (Depp), um pacato turista norte-americano a viajar pela Europa para ultrapassar um desgosto amoroso. Logo o par chega a Itália, onde a confusão de identidades trará inúmeros perigos, até por que o mafioso em questão quer o dinheiro de volta. Ah! E um romance entre os dois começa a desabrochar.

 

Num argumento com claras inspirações em Hitchcock (a troca de identidades, o inocente perseguido, as belas localizações como pano de fundo para um romance), é até surpreendente como O Turista não consegue aproveitar a sua mais do que batido história para criar um entretenimento minimamente passável. Claro que Depp e Jolie têm carisma, mas estão no piloto automático e revelam uma falta de química embaraçosa, algo fatal para uma produção do género. Ela passeia o seu corpo e o seu rosto bonito, ele está mais contido no papel do indivíduo vulgar arrastado para uma situação caricata e potencialmente perigosa. Porém, o filme afunda de vez quando os dois estão juntos em cena, já que o romance pedestre, aliado aos diálogos formulaicos, retiram toda e qualquer tensão sexual que poderia existir entre os dois.

 

Se o romance falha em toda a linha, a parte de espionagem é uma hecatombe. Para além de previsível (a “reviravolta” final é tão chocante como saber que Clark Kent e o Super-Homem são a mesma pessoa), tudo é realizado com uma falta de tacto tremenda, como a (sonolenta) perseguição nos canais de Veneza ou a insistência do agente da Scotland Yard em perseguir Elise mesmo depois de o seu superior informar que a operação seria terminada – o que me leva a perguntar como ele consegue os usar os recursos do departamento, mais a Interpol, sem ninguém lhe apontar o dedo. Isto, obviamente, até à ofensivamente estúpida resolução de um impasse, onde o suposto superior parece materializar-se em Veneza apenas para salvar o dia.

 

Por falar em Veneza, convém dizer que cidade é belissimamente fotografada, mas aí os méritos terão de ser dados aos directores da segunda unidade, uma vez que ela é tão mal aproveitada pela objectiva de Florian Henckel von Donnersmarck (o uso de chroma-key é uma constante) que, após o reconhecimento com A Vida dos Outros, junta-se à longa lista de realizadores inexpressivos sempre que são absorvidos por Hollywood. E se isto não seria o suficiente, o que dizer de momentos em que o vilão (que, para mostrar como é mau, mata um dos seus capangas por que fica sempre bem, não é?) está a experimentar um fato novo e rola a seguinte conversa com um dos seus subordinados:

 

Fica-me bem?

Sim… como sempre.

O que é sempre?

 

Ao contrário de películas superficiais, mas divertidas, como Dia e Noite (com o qual divide algumas semelhanças), o grande problema de O Turista é levar-se demasiado a sério e mesmo os seus esforços para fazer piadinhas – como o facto de Tupelo não distinguir o Espanhol do Italiano – nascem frustrados graças a uma narrativa frouxa, personagens unidimensionais e sem motivações que nos levem a preocupar-nos com elas, e a sequências de acção sem qualquer noção de ritmo. Assim, o filme falha como comédia, romance e thriller, o que não deixa de ser um feito e tanto, tendo em conta os envolvidos.

 

Da próxima vez que decidirem visitar Veneza, falem de O Turista. Talvez tenham descontos.

 

publicado às 23:34


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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