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Uma outra ilha misteriosa

por Antero, em 28.02.10

 

Muitos consideram que este último decénio fez mal ao bom velho Marty, que se deixou acomodar no lado mais comercial de Hollywood e deixou de ser o autor de outros tempos. Da minha parte não concordo: é certo que Gangs de Nova Iorque esteve aquém das expectativas, mas O Aviador e The Departed - Entre Inimigos deram novo fôlego a Scorsese (não vi, ainda, Shine a Light) e, em muito tempo, os seus filmes começaram a aliar boas carreiras nas bilheteiras com os elogios da crítica. Para todos aqueles que consideram que o mestre já não é o mesmo, é bem provável que o comercial Shutter Island seja mais lenha para a fogueira, levando-os a ignorar os méritos da produção e a passar um pano sobre o facto de que, mesmo a conduzir obras pouco pessoais, Scorsese já teve bons resultados como comprovam A Cor do Dinheiro ou O Cabo do Medo.

 

Em 1954, dois U.S. Marshalls são chamados para a remota ilha Shutter, onde funciona uma instituição psiquiátrica, com o objectivo de investigar o desaparecimento de uma paciente. A instituição alberga criminosos com doenças mentais e a desaparecida tem tendências homicidas. Para piorar, a mesma desapareceu sem deixar rasto e tudo indica que ainda estará na ilha, da qual se aproxima uma tempestade que a deixará isolada por uns dias. Um dos Marshalls é Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) que tem traumas de guerra para superar e depara-se a relutância do pessoal do hospital em colaborar nas investigações. Aos poucos, o clima de paranóia adensa-se e Teddy será obrigado a confrontar os seus fantasmas para resolver o caso.

 

Mergulhando o espectador numa atmosfera claustrofóbica, opressora e desconfortável, Scorsese deixa o público às cegas tal como o seu protagonista, o que se revelará importante para a compreensão da sua trajectória, algo salientado pelo própria situação social da altura, com a guerra às bruxas e ao comunismo promovida pelo Senador McCarthy. Teddy perdeu a esposa há uns anos e ainda não superou o choque da violência e degradação humana que presenciou no campo de extermínio de Dachau e como ele comprovou o pior que a natureza humana pode realizar, nada mais acertado que este se encontre dividido entre o que é irreal ou não compartilhando essa experiência com a plateia. Sonho e pesadelo, realidade e ficção andam de braço dado ao longo da projecção e Scorsese parece divertir-se imenso ao brincar com as expectativas e os receios do público, ao mesmo tempo que evidencia o seu típico amor pela Sétima Arte que vão de referências a filmes de terror dos anos 40, 50 e 60, passando por Hitchcock e Brian DePalma, onde a ambientação contava muito.

 

Para isso contribui a própria ilha Shutter que parece ganhar vida na objectiva de Scorsese: local deprimente tanto nos interiores do hospital como na vastidão florestal ou nas imponentes falésias, tudo contribui para a constante sensação de perigo que aflige o protagonista e, consequentemente, o espectador. Porém, nada disso valeria a pena se a personagem principal não levasse o público a identificar-se com ela e, neste aspecto, o filme só sai a ganhar com a actuação cuidada de Leonardo DiCaprio que há muito deixou de ser uma carinha laroca para se transformar num actor maduro e inteligente. O elenco secundário também não faz feio: Mark Ruffalo transmite confiança como o agente Chuck Aule, Sir Ben Kingsley demonstra todas as nuances e dualidades do afável e misterioso Dr. Cawley, ao passo que Michelle Williams desperta a nossa pena como a sofrida Dolores e o veteraníssimo Max von Sydow é a autoridade em pessoa como o Dr. Naehring.

 

Contando com uma fotografia belíssima de Robert Richardson que deprime e fascina na mesma medida e uma montagem precisa de Thelma Schoonmaker, ambos colaboradores habituais de Scorsese, Shutter Island até pode ter um desenlace mastigado demais para o público, mas o mesmo funciona porque acompanhamos toda a turbulência interior do momento e as razões que levaram até lá. E, como tantas vezes na sua filmografia, Scorsese oferece-nos a dissecação de um protagonista trágico, numa batalha consigo mesmo e com o seu habitat, tal como Travis Bickle, Jake La Motta, Robert Pupkin, Jesus Cristo, Frank Pierce e Howard Hughes.

 

Qualidade da banha: 16/20

 

publicado às 18:50

LOST: a vigília

por Antero, em 25.02.10

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

LOST 6x05: Lighthouse

Muitos não gostam dos episódios centrados em Jack e confesso que também não sou grande fã dos mesmos, apesar de considerar a personagem uma das mais bem construídas da série, algo que nem todos concordam. O Doutor é, antes de mais, uma personagem trágica: o facto de ser um cirurgião e de curar os "defeitos" de outros não o impede de ver a sua vida pessoal em cacos, impossível de ser arranjada. De líder relutante, a homem da Ciência, passando a crente desesperado por algo maior, Jack sempre foi o centro de LOST e, numa clara ironia, ele foi apenas feliz e sentiu-se completo na Ilha mesmo que a contragosto e desejando abandonar a mesma (sentimento oposto ao de Locke). Na realidade paralela, vemos Jack e os seus daddy issues por um novo prisma: ele agora é pai e tenta salvaguardar uma relação sadia com o filho, algo que nunca conseguiu com o seu progenitor. Isto é um prato cheio para Matthew Fox que volta a dar uma interpretação detalhista e comovente, ainda que muitos tendam a subvalorizar o actor.

 

Por outro lado, não há como negar que a realidade paralela tem-se revelado nada empolgante e, estando nós a tão poucos capítulos do final da série, é complicado envolvermo-nos com uma linha narrativa que parece não levar a lugar algum e que gasta tempo precioso que podiam ser usados na resposta de tantas e tantas perguntas (apesar de eu achar este universo alternativo bastante do curioso do ponto de vista narrativo). Ainda assim, nem mesmo na Ilha estamos bem servidos e toda a parte da Claire e da "tortura" ao membro dos Outros revelou-se dispensável. Melhor mesmo foi acompanhar Hurley e Jack e perceber muita da natureza dos infames Números: 360 para formar todos os ângulos de um círculo, cada um deles se refere a um potencial substituto para Jacob que os vigiava através de um farol e, numa metáfora bem sacada, "iluminava" os caminhos destes até à Ilha (lembrar o que o Falso Locke referiu no episódio anterior sobre Jacob mexer os cordelinhos na vida de cada um dos potenciais suplentes).

 

De qualquer forma, a impressão é que as respostas vêm a conta-gotas e que o ritmo poderia ser mais trepidante para uma temporada final. E nisto pensei numa teoria maluca que já vi discutida nalguns blogs: a realidade alternativa pode ser o verdadeiro final da série e todos os eventos que acompanhamos na Ilha culminarão num reset de toda a série e repõe a linha do tempo como se ela nunca tivesse existido, onde Jack tem um filho (porque não se lembra ele da apendicite?), Ben está fora dela, Shannon não quis voltar para Los Angeles, Kate continua fugida, Desmond está no voo 815 e não havia nenhum motivo para que todos iniciassem a jornada que agora caminha para o fim.

 

7 potes de banha

 

publicado às 01:33

Atraso tecnológico

por Antero, em 23.02.10

É um pouco impensável que, com o curso superior que frequentei, eu esteja tão a leste no que às "novas" tecnologias diz respeito. Eu brinco sempre com a situação e digo que estou 1 ano atrasado em relação aos meus colegas. Criei um blogue quando já muitos o tinham, a conta no Twitter já foi muitos meses depois da malta aderir, resisti ao Hi5, não uso NetVibes ou outros agregadores de feeds e só recentemente me inscrevi no Facebook. Muitos podem chamar-me "Maria vai-com-as-outras" ou mesmo preguiçoso, mas eu prefiro deixar que os outros experimentem as incontáveis redes sociais que nascem como coelhos (a nova onda é o Formspring) a depois atiro-me de cabeça. A curiosidade só surge depois de muita pressão. Se não gostar, adeus e obrigado por nada.

 

O pior é quando me vicio.

 

Que é o que está a acontecer com o Facebook. Achava eu que aquilo seria outro Hi5 populado por conversas, fotos e assuntos sem interesse, mas não; aquilo é outro pedigree (embora os assuntos sem interesse continuem lá, mas - a um nível mais extremo - qual o interesse de um Twitter ou de um blogue?). E não tenho Farmville e sou pouco dado a quizzes, mas que a coisa vicia, lá isso vicia. Por isso tenho tanto medo: o tempo já é tão curto para o meu blogue, o meu Twitter, o meu Facebook, mais ver os dos outros, ler, analisar, comentar, discutir e repetir o processo ad infinitum.

 

O povo pensa que estas coisas nos vêm facilitar a vida, quando não é bem assim: ver o que outros andam a fazer passou a ser um objectivo, dizer o que andamos a fazer passou a ser uma meta, é a cultura da cusquice e da tertúlia ao mais alto nível. Se é assim, mais vale ser tecnologicamente retardado e vivermos analogicamente felizes. E os geeks não terão a sua vingança. Fica o aviso para os demais que eu já não tenho salvação.

 

publicado às 12:13

Ladra mas não morde

por Antero, em 19.02.10

 

Nas décadas de 30, 40 e 50, a Universal investiu numa série de filmes série B que apresentavam ao público seres monstruosos que fizeram as delícias dos espectadores e a fortuna do estúdio. Nos últimos anos, a onda de refilmagens tomou conta de Hollywood e a Universal foi ao fundo do baú acordar os seus Monstros Clássicos que agora contam com as mais recentes tecnologias de efeitos especiais para lhes dar mais realismo e acção. No entanto, o estúdio não sabe tratar bem a prata da casa: depois do divertido A Múmia, seguiram-se as inevitáveis (e intragáveis) sequelas chegando ao fundo do poço com o pavoroso Van Helsing. O Lobisomem não chega ao nível deste último, mas é uma diversão descartável. Não adianta refazer as coisas para o público do século XXI se não se vai acrescentar algo de novo a não ser efeitos digitais (que nem são nada por aí além).

 

Após uma fraca e dispensável introdução, O Lobisomem começa com a chegada de Lawrence Talbot (Benicio Del Toro) à sua terra natal, para o enterro do irmão que foi assassinado em circustâncias estranhas. O ano é 1891 e estamos na Inglaterra vitoriana. Talbot decide investigar a morte do irmão apesar dos avisos do distante pai (Anthony Hopkins) e da aproximação à ex-futura cunhada (Emily Blunt) e depara-se com... um... vejam lá se acertam... lobisomem. Tão óbvio como aparecer um lobisomem no filme é o desenrolar da trama e com 10 minutos corridos eu já antecipava todos os acontecimentos que iriam ocorrer dali em diante - e qual não foi o meu espanto quando as revelações surgem a meio da película e não no final, o que poderia abrir novas possibilidades narrativas.

 

O que não acontece. Benicio Del Toro passa ao lado dos 100 minutos do filme: o seu Lawrence Talbot não percorre nenhum arco dramático envolvente, nem consegue se tornar numa personagem trágica, amaldiçoada (para além do óbvio claro). Nunca sabemos muito sobre ele nem o filme parece querer aprofundá-lo e não é de admirar que o seu romance com Gwen seja tão artificial e cliché. Por falar nela, Blunt faz figura de corpo presente numa mulher fraca que, em período de luto, não hesita em atirar-se aos braços do irmão do noivo após uma embaraçosa cena em que Lawrence lhe ensina a atirar pedras na água, ao passo que Anthony Hopkins não parece levar muito a sério o que está a fazer à frente das câmaras.

 

E é uma pena que ninguém tenha aprendido com Hopkins que o descompromisso só favorecia O Lobisomem e, em vez disso, temos uma obra que cai no ridículo com diálogos fracos ("Só o amor o salvará!") e cenas estúpidas como o inquérito do detective Alberline (ele desconfia imediatamente de Talbot porque este é...um actor consagrado!) ou quando determinada personagem rasga a camisa sem motivo aparente antes de uma luta feroz (resposta: para que o público pudesse identificar os intervenientes. Fica a dica para Michael Bay.). Assim, os pontos fortes de O Lobisomem são os seus aspectos técnicos como a fotografia escura e a fazer bom uso das sombras e dos tons cinzas e o design de produção que retrata a propriedade dos Talbot como um lugar decadente, sujo, sombrio, mas majestoso.

 

Quanto à maquilhagem usada para criar o lobisomem, esta é boa mas nada de excepcional, enquanto que a transformação (usando efeitos digitais e próteses) não causa impacto algum, embora nada se compare ao efeito do lobisomem a correr sobre 4 patas que é quase amador de tão artificial. Mais impactantes são os efeitos sonoros, mas pelas piores razões: nada como saber dar acordes altos em alturas fulcrais para que o espectador salte da cadeira, o que acaba por se tornar quase um exercício de sadismo tantas são as vezes que este recurso é usado para oferecer um susto falso (por outro lado, o filme não faz cerimónias quanto ao gore nas cenas mais violentas, o que é de louvar). Como se pode ver, O Lobisomem é um filme inconsequente e pouco envolvente, deixando ainda uma porta aberta a uma sequela de forma pouco subtil, o que me leva a pensar que não é a prata que mata esta fera mas sim a falta dela.

 

Qualidade da banha: 7/20

 

publicado às 16:57

LOST: o candidato

por Antero, em 17.02.10

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

LOST 6x04: The Substitute

John Locke era um zé-ninguém antes da Ilha e a sua verdadeira jornada espiritual começou no momento em que o voo 815 despenhou-se. Lá encontrou um objectivo e é lá que ficará enterrado, negando a sua existência patética fora da mesma. No entanto, na realidade paralela, Locke continua a ser um zé-ninguém, mas mais conformado e, talvez, mais feliz (é insinuado que até se dá bem com o pai - logo como ficou ele paraplégico?), embora ainda frustrado com a sua condição. A procura de uma existência melhor do que mundana continua a ditar os rumos da sua vida, enquanto que Rose nunca curará o cancro que a afecta. Só não percebi como Ben pode estar vivo na realidade alternativa, uma vez que ele se encontrava na Ilha no momento da explosão da bomba e que apagou toda a linha temporal vigente até então.

 

No "nosso" tempo, o Falso Locke recruta Sawyer para a sua missão de escapar da Ilha e é interessante perceber a dualidade do "novo" Locke para o nosso velho conhecido, como o golpista bem aponta ao dizer que o careca estava sempre assustado, mesmo quando parecia saber o que fazia. Ponto para Terry O'Quinn que acrescenta nuances distintos ao interpretar a mesma personagem. E nada mais justo que o Falso Locke tente chamar Sawyer para o seu grupo, uma vez que eles partilham do mesmo laço familiar - foi o pai de Locke que originou Sawyer e fez desaparecer James Ford - é quase como se eles fossem irmãos. Fascinante também é perceber como o sempre sereno Richard Alpert surge agora fragilizado e ansioso num sinal inequívoco do perigo que se aproxima, algo que também pode ser dito da postura de Locke que de confuso passou a um ser ciente das suas acções. O episódio ainda ofereceu muitas pistas sobre os infames Números que estão relacionados com a lista de Jacon para a sua sucessão, mesmo que eu não perceba a omissão de Kate, já que esta também esteve e foi tocada por Jacob anos atrás.

 

8 potes de banha

 

publicado às 13:15

Reverso da medalha

por Antero, em 16.02.10

Em Setembro passado, após o FC Porto ter ganho ao Sporting no Dragão e enquanto o Benfica despachava o Leixões na Luz com 5 batatas, uns colegas meus exclamavam "este ano vai dar pica!". A previsão estava correcta, a gama cromática da mesma é que não: a disputa deste campeonato não tem sido vermelho-azul como se previa, mas sim vermelho-vermelho. A emoção deve-se mais ao Sp. Braga e menos ao FC Porto (e nem vale a pena falar do Sporting que desaba a olhos vistos). No próximo Domingo, portistas e bracarenses encontram-se no Dragão e, pela primeira vez na minha vida, vejo-me tentado a torcer pelo FC Porto para benefício do meu clube. É complicado, mas eu sabia que, mais tarde ou mais cedo, uma situação do género iria acontecer (só nunca pensei que fosse com o Braga, mas adiante). Este dilema é como um desafio às leis da Física: eu nunca torço pelo FC Porto, nem quero torcer, e agora vejo-me na iminência disso.

 

Mas se isto é um martírio, digamos... confortável para mim, que será para os milhares de portistas que se espumam contra o Benfica? Entregar a liderança isolada da Liga ao Satanás? Ou saltar fora da disputa do título - e, provavelmente, da Liga dos Campeões - para que o Jardim do Éden, onde não há pecado porque não há castigo, continue saudável e em família como antes? Claro que até chegar a esta encruzilhada muita coisa aconteceu. Agora, o anti-jogo já não é "cultura defensiva" ou "conduzir o ritmo do jogo", penálties não marcados, foras-de-jogo mal assinalados e golos anulados influenciam resultados e classificações. A desculpa do "no final do campeonato, entre benefícios e prejuízos, o campeão é sempre justo" já não cola e é tudo uma cabala para prejudicar o próprio clube quando este, em muitos jogos, se encarregava de disparar sobre os próprios pés. E, desta forma, um fenómeno estranho ocorreu: benfiquistas e portistas trocaram de lugar e de papéis.

 

Quanto ao Sp. Braga, eu poderia reclamar do árbitro assistente que não viu a bola fora do campo, mas prefiro desancar na defesa do Marítimo por não saber aliviar uma bola. Não são nenhumas máquinas a jogar à bola, mas merecem muito mérito até porque tornaram para mim um Olhanense-Braga ou um Braga-Rio Ave num encontro aliciante. Porém, espero que percam. O FC Porto ainda tem a Liga dos Campeões e a Taça de Portugal para se chatear; o Braga já só tem a Liga e isso conta muito. Mas não desminto que me daria um certo gozo ver o FC Porto a perder e ficar fora da Liga dos Campeões (dificilmente serão campeões de qualquer fmaneira). Platini decerto concorda comigo e sem se dar ao trabalho de penar por tribunais, onde escutas não são aceites e os processos desafiam a passagem do tempo.

 

publicado às 16:51

LOST: a infecção

por Antero, em 10.02.10

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 


LOST 6x03: What Kate Does

Na estreia da sexta temporada, ficou definido que há duas linhas temporais paralelas: uma em que o plano de explodir a bomba resultou, e outra em que os esforços foram em vão e os losties regressaram a 2007. Utilizando elementos da mecânica quântica (como oGato de Schrödinger), os produtores de LOST acabam por dar um bombom ao espectador oferecendo a possibilidade de acompanhar as consequências do facto do voo 815 ter aterrado em Los Angeles (mesmo que, a rigor, certos factos tenham sido alterados). Se as realidades paralelas se irão cruzar ou se alguma delas se revelará "infundada" é algo que ninguém pode responder para já. Assim, continuamos a assistir aos eventos da fuga de Kate do aeroporto, sequestrando Claire, ao mesmo tempo que vemos o desenrolar da súbita ressureição de Sayid e o abandono de Sawyer do templo dos Outros onde, supostamente, todos estariam protegidos.

 

Ao contrário de muita gente, eu gostei deste episódio embora reconheça-lhe pouca relevância. Depois da electrizante estreia, é confortante dar uma relaxada e se o ritmo parado como as coisas acontecem no templo irritam qualquer um (incrível como ninguém fala com ninguém, nem fornecem respostas numa situação de perigo iminente), ao menos podemos acompanhar as acções de Kate dentro e fora da Ilha e perceber, através de rimas narrativas tão características da série, que a essência da personagem está toda lá. Na mesma medida que Kate foge também não deixa de prestar auxílio a uma Claire prestes a parir e não seria de todo impensável ela estar presente novamente no parto de Aaron (e a aparição de Ethan foi mais uma daquelas coincidências fenomenais que a série costuma desenvolver). Na Ilha, um Sawyer abalado com a morte de Juliet volta a fechar-se sobre si mesmo numa belíssima interpretação de Josh Holloway.

 

No entanto, é no final do episódio que começam a ser lançadas algumas pistas sobre o arco a percorrer nesta temporada e ela refere-se a uma possível "infecção" que Sayid terá sofrido (de Jacob?) e que a mesma terá afectado a desaparecida Claire que não se encontra com os Outros como eu tinha previsto. Nos últimos segundos, dá para perceber que Claire será uma reencarnação da defunta Rousseau. Se na realidade "paralela" a história da loira parece ter terminado com o indício que ficaria com Aaron, na Ilha toda uma série de questões novas acabam de pipocar nas nossas mentes.

 

8 potes de banha

 

publicado às 15:01

Ahhh, o belo do cinema português...

por Antero, em 09.02.10

 

"Já ninguém liga aos clássicos!" - diz a personagem de Nuno Markl na primeira cena de A Bela e o Paparazzo, mas eu vou mais longe e reformulo: já ninguém liga ao cinema português. Acusado de ser demasiado intelectual, recheado de 'panelinhas', asneirento, que nunca é comercial e, quando o inverso ocorre, oferecer ao grande público exercícios trash e amarrado a dispositivos televisivos, é certo que o cinema cá do burgo já viu melhores dias. Porém, ainda há um indivíduo a remar contra a maré (Joaquim Leitão parece ter desistido de tentar e Leonel Vieira foi areia atirada aos nossos olhos): António Pedro Vasconcelos, um dos poucos que ainda consegue aliar o cinema dito 'inteligente' a uma vertente mais popular, sem resvalar para a chungaria digna de objectos como Corrupção, O Crime do Padre Amaro ou Contrato. Vasconcelos sabe contar uma boa história, sabe dirigir actores e, o melhor de tudo, sabe como utilizar o contexto social a favor da sua obra. Uma pena que a sua filmografia seja tão escassa: apenas três longas-metragens nos últimos dez anos.

 

Escrito por Tiago Santos, que já se aliara ao realizador no anterior Call Girl, A Bela e o Paparazzo pretende ser uma comédia romântica sofisticada, em que o mundo das celebridades e da imprensa cor-de-rosa são objecto de sátira. Mariana Reis é uma actriz à beira de um colapso nervoso: a sua personagem perde espaço na novela em que participa e a sua vida pessoal é sempre motivo de capas nas revistas sociais. A culpada é Gabriela, nome fictício de João, um fotógrafo que a persegue para todo o lado para satisfazer os objectivos da sua ávida editora, sempre disposta a publicar o próximo escândalo. Um dia, devido a uma série de mal-entendidos, Mariana e João envolvem-se sem ela saber a profissão dele. A partir daqui o óbvio acontece: promessas de amor, desentendimentos, obstáculos que atiram no caminho do casal, enfim... nada que alguém que já tenha visto comédias românticas não saiba.

 

O final é conhecido, mas é o percurso que interessa nos filmes do género e é aqui que A Bela e o Paparazzo começa a marcar pontos: a direcção e a fotografia são elegantes, aproveitando os cenários de uma Lisboa glamurosa, romantizada, mas ao mesmo tempo palpável; as afinetadas aos bastidores da fama são certeiras (embora pudessem ser mais ácidas); e a galeria de secundários é excelente, destacando-se o realizador agastado de Nicolau Breyner e a viperina editora de Maria João Luís que merecia um filme só dela. No entanto, todas as cenas da narrativa paralela da independência do prédio só servem para desviar o foco principal, uma vez que parecem saídas de outro filme e nunca se enquadram organicamente na história do casal. Percebem-se as boas intenções deste arco (recuperar a tradição das comédias clássicas do cinema português) e as personagens são bem defendidas por Nuno Markl e Pedro Laginha, mas tudo parece caído do céu e pouco desenvolvido.

 

Tão importante como o percurso é o casal de protagonistas e Soraia Chaves e Marco D'Almeida exibem uma óptima química e, principalmente no caso dele, um bom timing cómico como pode ser atestado na sequência do restaurante japonês. É de lamentar que o seu talento tenha que ser desperdiçado em telenovelas sem expressão. Quanto a Soraia Chaves, continua a percorrer um bom caminho depois da surpresa de Call Girl e vem-se revelando como uma actriz cada vez mais madura, inteligente e menos um corpo escultural a passear no ecrã. Mesmo não estando ao nível denso d' Os Imortais, A Bela e o Paparazzo é um filme agradável de acompanhar, com boas piadas e bons actores. Longe dos objectos deprimentes direccionados para o grande público que o cinema português nos tem brindado, posso afirmar que este é o feel good movie que Portugal precisava. Pode ser que outros aprendam.

 

Qualidade da banha: 13/20

 

publicado às 15:10

Levanta-te e anda

por Antero, em 04.02.10

Finalmente tirei a tala do pé, o osso recuperou bem e não precisarei de fisioterapia. Cinco semanas que tornaram a minha perna esquerda numa potencial candidata à fila da sopa dos pobres, que envelheceu a minha pele uns 70 anos e fizeram das minhas unhas a inveja de qualquer felino. Custa pousar o pé no chão: a sensação de desconforto é terrível, mas nada que umas caminhadas valentes não resolvam. Agora terei de "reaprender" a conduzir e já poderei ir ao cinema, ao café pelo meu próprio pé ou mesmo à Luz no próximo fim-de-semana. E começar a tratar de vida que isto de estar parado tanto tempo foi um suplício. Adeus muletas, adeus tala pesada e desconfortável, adeus banho sentado e com saco de plástico enrolado, adeus boleias do pessoal e piadas óbvias, adeus horas passadas na cama (ok, desta não terei tantas saudades...).

 

publicado às 12:34

LOST: paralelismos

por Antero, em 03.02.10

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

LOST 6x01 e 6x02: LA X

Nos primeiros minutos da sexta temporada, logo após a explosão da bomba provocada por Juliet, voltamos ao voo 815 da Oceanic onde vemos Jack meio atordoado. Aparece a hospedeira de bordo, tal como na primeira temporada, que lhe serve uma bebida (em vez de duas). Após uma série de turbulências, é Rose quem acalma Jack, quando foi o contrário que assistíramos anteriormente. O avião não se despenha. O acto de Juliet resultou? A linha temporal foi reposta? Sim e não. Porque logo a seguir quem se senta ao lado de Jack é Desmond e a Ilha aparece submersa no Oceano Pacífico. Pouco depois, passamos a acompanhar os eventos a seguir à detonação da bomba que, pelos vistos, fez os losties regressar a 2007, bem como as incidências no templo de Jacob depois deste ter sido morto por Ben.

 

Confuso? Pois, preparem-se que este é o mote do acto final de LOST: há duas linhas temporais paralelas e vemos a sucessão de acontecimentos que poderiam ter ocorrido caso o voo 815 não tivesse caído na Ilha ao mesmo tempo que seguimos a proclamada guerra entre Jacob e o seu arqui-rival. Nada de idas e vindas no tempo, o assunto agora são realidades paralelas. Ficamos a saber que o monstro de fumo é uma manifestação deste e que todas as suas maquinações têm como objectivo a sua saída da Ilha. Aparentemente, esta seria uma prisão e não é de excluir que ambos sejam representações do Bem e do Mal em constante oposição. Vemos o verdadeiro templo dos Outros, no qual se refugiaram desde o final da terceira temporada, e percebemos de que forma Ben foi "curado" do tiro disparado por Sayid. Aposto que Claire foi raptada e ficou lá com os Outros este tempo todo. E que a "morte" de Sayid não foi mais do que um esquema para que Jacob pudesse tomar o corpo dele. Ou que Richard Alpert foi parte activa no aprisionamento do inimigo de Jacob, o falso Locke. Todos parecem ser peões nesta guerra.

 

Porém, é na linha temporal alternativa (chamar-lhe "normal" parece, ainda, imprudente) que o episódio resgata todo o espírito da primeira temporada, principalmente com as aparições de Boone, Charlie, o xerife que perseguia Kate, entre outros - e o pormenor mais chocante da estreia foi perceber que a hospedeira que servia Jack também faz parte dos Outros. Foi nostálgico ver as personagens a interagir sem se conhecerem e com uma mão cheia de alusões a eventos que já presenciámos (deu-me um aperto no coração quando Boone disse que ficaria com Locke caso o avião caísse). Emocionante é também ver comportamentos antagónicos em personagens familiares como Jin (o bruto contra o afável), Sawyer (o cínico contra o nobre), Sun (a submissa contra a decidida) ou Jack (o confiante contra o confuso) e perceber que estes paralelismos só contribuem para que percebamos toda a complexidade e evolução delas ao longo das temporadas. O diálogo final entre Jack e Locke (o verdadeiro) foi maravilhoso e, desde já, um dos grandes momentos da série. Com ou sem acidente, todos eles estavam destinados a cruzarem-se e até Desmond, sem Ilha nenhuma para onde ir parar, estava no avião.

 

É óptimo ter LOST de volta e triste ver o seu término tão perto. Outro paralelismo angustiante que nos acompanhará até ao dia 23 de Maio, data assinalada para o final deste marco da Televisão.

 

9 potes de banha

 

publicado às 06:38

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Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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